domingo, dezembro 30, 2007

Frio e as gentes ocupadas com a desmesura e o capricho, sinal seguro da presença e actividade de uma divindade pagã (e lusitana): entre o calafrio e o arrepio, as façanhas da ASAE com um imenso e aterrador futuro assegurado pela lei anti-tabaco são o que temos em matéria de religiosidade popular nos dias que correm.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Benazir Buttho era uma política corajosa que defendia a democracia.
Foi assassinada hoje.

O essencial está (muito bem) dito aqui, no Combustões.
O Cabalas linkou o Impensavel que, grato, agradece.
Lembro-me do ambiente acolhedor do restaurante-bar do expresso de Hamburgo: algumas pessoas jantavam, outras tomavam apenas uma bebida, havia ainda as que liam os jornais. Ah e havia quem fumasse. Passados uns tempos, num comboio matutino, na Dinamarca, lembro-me de ver algumas mães que entretinham os filhos pequenos no micro jardim-infantil da carruagem (com jogos e brinquedos do combóio...). Lembro-me de sorrir com a pergunta que me fiz: daqui a quantos anos seria assim em Portugal? Na carruagem seguinte, uma parte com uma maquina de café e alguns sofás e mesas. Lembro-me (já o terei dito por aqui?), lembro-me do passageiro, com ar de um velho professor, vestido de escuro, com uma gravata preta esguia, que lia o Coração das Trevas de Conrad (uma edição antiga). Ah, e fumava.
Triste, pensava no longe que estávamos de tudo aquilo...

Agora, aqui, nestes tristes antípodas da Europa desenvolvida e civilizada, entre maus hospitais, péssimo ensino, governo medíocre, atraso geral, pobreza e fome (fome, em Portugal passa-se fome hoje e convém não esquecer nunca isso) sai a cretina lei do fumo, irritante, extrema, insensata, a roçar a crueldade no que vai tornar de mais difícil o já difícil quotidiano de um país cada vez mais pobre. Será para, com a irritação, esquecermos o cada vez mais longe que estamos da Europa, o mais pobres e sem futuro que agora somos?

quarta-feira, dezembro 26, 2007

A janela está aberta. Entra o sol a rodos e ar fresco; oiço a passarinhada e, mais longe, um murmúrio de trânsito.
Lembro-me quando este dia 26 guardava o silêncio da bonança que sucedia à agitação do festim. Hoje há demasiado movimento.

Nota: os meus presentes foram geralmente estimados. A maior parte deles consistiu em coisas para cheirar bem em casa, com um pequeno soupçon de larme de movimento «hippie», heresia provençal e Alphonse Daudet. (Eram langue d'oc, a lingua dos bons sabonetes, como me tinham ensinado em pequeno). Eram coisas daqui, mas compradas na Borges Carneiro na Al Quadro da Luisa Calém. É um bocado publicidade? Peut-être, mas não foi encomendada e são mesmo bons. E há queimadores (é assim que se diz?) que eu recusei em nome da consabida sorumbatice das minhas amigas, boa gente do campo, tal como eu. Os presentes foram para elas, que, ultrapassadas e sensatas, vivem com os maridos com quem se casaram há eras, meus amigos, e que, por isso, aproveitam do presente. Dispensei-me, assim, de lhes dar outros a eles e aproveitei para dilatar os que - imerecidamente (penso que estava perto de merecer o carvão...) - me dei a mim mesmo.

domingo, dezembro 23, 2007

Fui a um hiper daqui. Muita gente e, creio, disposição festeira. Encontro quem não vejo nas minhas idas à baixa, transformada numa quase terra de ninguém. Aqui, tal como em Lisboa, a civilidade e a urbanidade recuaram nos últimos anos e os hábitos citadinos - mesmo os de uma cidadezinha de província - foram ou estão em vias de serem substituídos por outros, de arrebalde, e que consistem em résteas degradadas de ruralismo, arenito, anomia, boçalidade, dispersão, voracidade expelitiva.
Primeira noite de Inverno: quando vi a citação proustiana de Charlotte lembrei-me de fazer o que tinha decidido há muito: comparar a minha tradução, a de Mário Quintana (ou sob direcção dele), aquela em que li o RTP (En Recherche du Temps Perdu), com a de Pedro Tamen e ambas com o original. E entre les deux mon coeur balance: nenhuma se furta à rugosidade, ao atrito do fraseado de Proust que, deliberadamente, conserva muitas vezes asperezas de estaleiro, memórias do em bruto, marcas do escopro, da conceição e vida do pensamento do narrador: um dos numerosos prazeres de ler Proust reside em descobrir a geologia, os estratos do seu pensamento, os métodos de escavação que utiliza.

sábado, dezembro 22, 2007

Ceci n'est pas une corbeille à papier
Resolvi sair e tentar encontrar um cesto para os papéis, aqui para esta sala. Não encontrei, embora tenha procedido com diligência. A meio caminho das tentativas, lembrei-me da livraria da paróquia, que às vezes tem umas coisas dessas, «artigos de decoração». Entrei. Ninguém. Na sala ao lado, de exposição, encíclicas, imagens, uns réchauds e três senhoras com boa vontade natalícia que faziam crochet à braseira. Por todo o lado, presépios. Cumprimentei e perguntei se tinha cestos para papéis. «E de que editora?». Disse que se tratava da coisa em si. Não tinham. Tinham tido, mas já não tinham. Desejei-lhes um Santo Natal e agradeci a Quem de direito aquele momento Magritte.
Começou o Inverno. O dia está bonito - sol com alguma neblina - e muito calmo.

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Tenho um problema de percepção do tempo. Estou a 14 ou 15 de Dezembro, e os dez dias que faltam para o Natal são incomensuráveis imensidades. Por isso, o ter comprado já todos os presentes - menos um - é um prodígio de previdência e sensatez.
Não, não fui à Byblos. Detesto boas livrarias, as que têm tudo - ou que aspiram a. Gosto de livrarias com donas civilizadas ou donos vagamente excêntricos que saibam dizer que não, não temos com genuína pena de não terem, embora duvidoso seja que façam seja o que for para satisfazerem o nosso pedido. De qualquer forma, não ter conseguido ler senão uma pequeníssima parte do que queria é coisa de que me gabo e não cesso de agradecer ao Acaso. Sempre que não tinham - quase sempre - fincava os olhos nas lombadas e fazia menção de dali não sair até ouvir uma sugestão: «mas tenho aquela introdução ao pensamento dele. É interessante.» Também quase nunca comprava, eram volumes imensos sobre um quase desconhecido, sempre achei isso uma grosseria. Sabiam-no e não insistiam. Mas às vezes, comprava e era até ao tutano, e depois encomendas - sem perguntar sequer se tinha ou havia - de outros que, eles sabiam-no, nasciam da bibliografia daqueloutro que comprara.
O habitual, porém, era, depois de todos sabermos que não iria comprar nada, qualquer outro livro senão aquele que não tinham e eu queria, o ambiente distender - desaparecido o dolo eventual daquele não ter - e dedicar-me a artigos de papelaria, havendo-os, ou se não, ao manuseio esquecido dos livros mais próximos, até decorrer o tempo adequado a uma ida a uma livraria, versão deambulante ou deixa ver se pára de chover. Por vezes, enquanto isto, via gente a viver o estranho momento da revelação de que, ao contrário do que julgavam, não era ainda chegada, para eles, e apesar das suas rectas intenções, a hora da leitura.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Dia de grandes extravagâncias e dissipações em Lisboa.
Depois de uma volta pelos blogs, preparar-me para acordar amanhã com um grande, grande sentimento de culpa.
Afinal, fiz tudo para o merecer!

quarta-feira, dezembro 19, 2007

CONTRA A ESTUPIDEZ:

http://www.petitiononline.com/naoacord/petition.html


Mas, se considerarmos que ser contra o tratado é errado, ainda assim havia ele de ser assinado apenas após os actuais membros do governo e - porque não? - o Presidente da República, se terem sujeitado a um ditado, segundo as regras ortográficas vigentes.
Quando todos tivessem zero erros, falava-se então neste assunto - que, a sério, acho não existiria se os países que nele insistem não se contassem entre os mais ignorantes do mundo.
Sobre isto - que já é muito-, o que ainda mais me irrita é que toda esta insensatez é uma graçola francesa que começou em Voltaire - e dos positivistas franceses! -, a da ortografia como transcrição fonética, o que, claro está, eles não puseram em prática na douce France... A coisa começou a ser propangandeada aqui, nos finais do séc. XIX como meio para facilitar o ensino... e teve os graves resultados que hoje se vêem, a dilaceração de um idioma, da sua congruência.
O que farão eles com a matemática - onde Brasil e Portugal são vergonhosamente inaptos ? Ainda veremos o dia em que, por tratado, será decidido que, no espaço lusófono 2+2 poderá ser igual a valores de 3,5 a 4,5 ou outros julgados mais conformes com os interesses nacionais e altos desígnios dos signatários?

Agora, aqui para nós... compreendo que a ideia do tratado ortográfico tenha muitos seguidores: é um dislate que parece talhado à medida do desmiolamento e analfabetismo nacionais que combina o culto do gratuito com as crendices que do mau catolicismo rural se transferiram para a diva lei - conforme é de esperar de gente que não sabe nem contar nem escrever.
Estes pequenos sinais, por si mesmos insignificâncias (analfabetismos de locutores, calinadas ortográficas e de sintaxe de jornalistas), a par com os dados disponíveis sobre o estado geral do país, levam-me a crer que todos seríamos mais felizes se, ao invés de nos considerarmos gente do primeiro mundo - que apenas em parte somos - voltássemos à metodologia que esquerda e direita adoptavam para ver Portugal antes de 25 de Abril: considerar que somos um país pobre, muito atrasado, longe, muito longe dos restantes países europeus que o novo-riquismo e o contentismo nascidos após 25 de Abril nos levam a querer tratar tu lá, tu cá e com as mazelas e as chagas que, ainda hoje, os pobres exibem, como modo de vida, nas ruas da baixa de Lisboa.
Volte-se a olhar Portugal como aquilo que é, um país pobre, semi-analfabeto, de periferia, infeliz, cheio de desgostos, viúvo, de uma aventureira imperial, mas viúvo e todos acabaremos por nos sentir melhor.

Chove e está frio. Bom tempo para férias de chuva - que deveriam existir, para que se estivesse em casa, quente e seco, a ler ou preguiçar nas profundezas de um sofá.

terça-feira, dezembro 18, 2007

Mas (ver em baixo) quer dizer, isto de um locutor de um canal de televisão não saber que grama (unidade medida de massa) é masculino e que, por isso, é um grama e não uma grama... enfim, isto não aconteceria num país a sério, a sério, género Grã-Bretanha ou França, pois não?
Esta ignorância é mesmo de país atrasado, não é?
No noticiário da uma hora da Sic (no jornal nacional, da uma hora...) ouve-se falar, a propósito de livros escolares, de gramas (milionésima parte do quilo, um grama), no feminino.
Vou almoçar e meditar nestas tristezas.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Tea party há cento e alguns anos.

Hoje em dia seria difícil, quase impossível, reunir tanta gente, penso com desânimo enquanto tomo o meu chá.

domingo, dezembro 16, 2007

Ler e meditar, com a devida vénia, do Público:

De Vasco Pulido Valente:

Solidariedade europeia

Escreveu A. J. P. Taylor que o mal da Alemanha era ser muito grande. O mal da Polónia é estar entre o poder russo e o poder alemão, representado pela Prússia e pelo Império Austríaco ou representado pelo II e o III Reich. A Polónia viveu sempre cercada e sem aliados, tirando a simpatia formal da França, que depois de Napoleão (e mesmo com ele) não contava. Por isso, desde o século XVIII, a Polónia foi "partilhada" e tornada a "partilhar" por vizinhos, que a exploravam e desprezavam. O Tratado de Versailles (1919) reconstituiu uma Polónia independente. Mas logo em 1939 Hitler e Estaline a voltaram a dividir. Durante a guerra, morreu um quinto da população, a Wehrmacht arrasou Varsóvia e, no fim, o Exército Vermelho instalou pela força um governo comunista.Em 1945, as fronteiras da Polónia mudaram. Estaline ficou com o Leste, para "protecção estratégica", e compensou o novo Estado com territórios que tinham sido secularmente da Alemanha. Por assim dizer, Estaline deslocou a Polónia umas centenas de quilómetros para ocidente. Entre 9 e 11 milhões de alemães fugiram à frente do Exército Vermelho ou emigraram a seguir. Até agora, a guerra fria e a memória do nazismo não permitiram que se tocasse no assunto. Mas, com a reunificação da Alemanha e um certo "revanchismo russo", que Putin alimenta e a derrota de Bush encorajou, o "problema polaco" reapareceu em cena. Como sempre a Rússia quer reafirmar a sua influência na região e a Alemanha, desta vez, não quer esquecer a sua história.Putin pretende (e a Alemanha aceitou) construir um gasoduto directo entre a Rússia e a Alemanha, sem passar pela Polónia. O que evidentemente permite à Rússia fazer chantagem com a Polónia (como já fez, por exemplo, com a Ucrânia). O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, protestou. Angela Merkel tenta tratar o caso - um caso eminentemente político - como se fosse uma questão económica. Por outras palavras, solidariedade europeia ou não, a Alemanha prefere negociar com a Rússia à custa da Polónia. Pior ainda: planeia um monumento aos "deslocados" do Leste, garantindo que ele não "relativiza" a guerra do III Reich. Faz, de facto, muito mais do que isso: põe em causa a legitimidade da Polónia como ela hoje existe. Por enquanto, estas querelas não são graves. Mas servem para lembrar de onde vem o grande perigo para a "Europa".
E não vem da América.
O jantar e o depois de jantar foram agradáveis. Voltei cedo, perdi algum tempo ao meu modo (dar corda ao relógio, reler de viés duas cartas circulares que já se tinha lido, também de viés, demorar a escolher um livro para ler na cama). Já deitado, sem ter lido duas linhas do livro, adormecer e, minutos depois, ser acordado por um bipbip que, após alguma estremunhada indagação sobre de onde pudesse vir e o que poderia anunciar, se descobre ser um aviso de gelo. Desligar, voltar a preparar para dormir, adormecer de novo e, passados minutos, o palerma do bipbip. Pensar que se desligou mal o alarme, desligar de novo, procurar um mais seguro off , encontrá-lo e accioná-lo com orgulho. Readormecer. Ouvir de novo, ao longe, o bipbip. Desligar tudo, tirar pilhas, desligar da corrente. Pensar estar a ser vítima da maldição de algum amigo ou amiga em casa de quem tivesse prolongado, nos anos felizes e longínquos de muitos whiskies com castelo, the last one for the road. Achar tal maldição merecida. Adormecer com um suspiro de boas intencões. Acordar quatro horas depois e meditar sobre a deterioração do sono, até agora tão seguro e fiel e que, sem aviso, nos deixa com uma manhã de domingo pela frente.

Aquilo dos bipbip estava certo. Esteve muito frio, menos de zero.

sábado, dezembro 15, 2007

Sobre o tratado ortográfico escreveu, no DN, Pedro Lomba: «O Brasil criou uma cultura popular própria, espontânea e festiva, que tem exportado para o resto do mundo com apreciável sucesso.»
Com toda a simpatia que tenho pelo Brasil, o que me salta aos olhos é a taxa de analfabetismo e a perda da batalha da educação (adoptando um tom dramático) - resultados confirmados pelo PISA e que põem aquele país muito perto do fim da lista. E isso nada tem de festivo, nem de espontâneo (é resultado de arrastadas omissões).
Deste lado do oceano a coisa não é muito menos triste e escandalosa.
Resolva-se esse problema substancial e depois volte-se a pensar nas ortografias (que foram criadas artificialmente por medíocres académicos e políticos portugueses do início do séc. XX e que podiam inspirar um estudo sobre o fascínio que o supérfluo e a bizantinice exercem sobre o novo-riquismo das cachimónias nativas - persistência do culto rural da novidade?).
Até lá, não se tenha medo de se escrever de modo diferente, nem nos incomodemos muito com isso.
Acabe-se é com o analfabetismo (e pode-se começar pelos políticos que dizem há-dem, interviu etc, etc.).

sexta-feira, dezembro 14, 2007

quinta-feira, dezembro 13, 2007

..."antes de se meter no avião, Mr. Brown vai aos Comuns explicar que o Tratado não colide com a soberania do Reino Unido. Acho bem, mas devia ter feito isso ontem."

Ri com gosto. O Parlamento Britânico não tem por hábito mudar datas por dá cá aquela palha e muito menos abdicar o direito de ouvir, quando bem entende, o Primeiro-Ministro. De ouvir e de censurar. Churchill enfrentou uma moção de censura durante a II Guerra Mundial, a guerra que ganhou à Alemanha e à Itália. A guerra em que a França capitulou, a guerra que a Polónia, a Holanda e tantos dos que vieram hoje aos Jerónimos perderam.
Esses, os vencidos, os outros, estavam cá todos, com o «eng».
O Primeiro-Ministro britânico, esse, esteve a fazer o que deve: dar contas a quem lhas pede.
Estas verdades simples fazem ainda muito confusão...
Cheguei agora de jantar em casa de amigos. Muito agradável. A senhora com quem fazia par à mesa - e a quem eu resolvi advertir e advertir e advertir sobre alguns particulares perigos da benevolência em geral, tachou-me de chato. Assenti de imediato, no medo de uma mudança de opinião, de um sempre expectável passo atrás - la donna è mobile. Ah, mas, vulgarmente, com alguma razão, escorri virtuosamente sobre o strudel. E repetitivo, muito repetitivo, acrescentei enquanto, mentalmente, evocava com algum orgulho íntimo as algumas vezes em que levei de vencida sobre alguns notórios maçadores.

Apenas em épocas desagradáveis como a actual, o maçador é indesejado e o justo orgulho de ser um deles visto como exemplo de notável honestidade, ao invés de evidenciar uma culposa tendência para a bazófia.
Tempos frágeis.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

O meu destino evolui no passado - saudosista que sou - e estas manhãs que agora vivo com alguns vagares têm o exotismo do aroma velhissímo - e dele, o sillage de espantos e firmes propósitos - daquelas outras, muito frias e límpidas em que ia para a escola.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Ida a Lisboa.
Gente nas ruas, mas estive sozinho em algumas lojas e, julgado merecedor de ouvir um desabafo, dizem-me que as vendas estão más. Cometi algumas extravagâncias. Chegado a casa, mercados norte-americanos em queda. O apresentador da Bloomberg bebeu demais ou todo aquele frenesim e gesticulação são fazem parte da infantil reacção à novidade ( corte de taxas de juro abaixo do previsto)?
Mais uma vez paroveito a ocasião que me é dada para dizer que o senhor que tomou a decisão que provoca tanta comoção (quase -3%) ganha bastante menos do que o nosso estimado e relevante Dr. Constâncio

segunda-feira, dezembro 10, 2007

3 horas num tribunal gélido, em parte porque o equipamento de som se avariou.
(Esclareço que não sou arguido em qualquer processo).

Nota - Este post estava em tão áspero português que um leitor atento me propôs outra versão e é a que agora consta.
Da Agência Lusa:

«Natal: assaltantes roubam donativos para a festa de Natal dos sem-abrigo de Lisboa que será mais pobre.
Assaltantes roubaram grande parte dos donativos para a festa de Natal dos sem-abrigo de Lisboa, organizada pela Comunidade Vida e Paz, instituição de solidariedade social católica, revelou hoje a agência Lusa uma voluntária da instituição. »

Roubar o que se destina aos mais pobres, aos indefesos, faz dos autores deste roubo candidatos a figuras de ficção infantil para ilustração da malvadez. Aliás, há algo de cruamente infantil, de pueril, neste crime que parece desejar - para além do imediato ganho ilegítimo, desafiar a cumplicidade que, quase sempre, dedicamos ao absurdo, ao ameaçador, à transgressão e aí, nessa maltratada banlieu da alma, minar as nossas defesas, obrigando-nos a optar entre a justificação (impossível noutros termos que não os da pristina confissão da nossa condescendência com o mal) ou que nos confinemos, tão longe dos pobres seres presas fáceis de façanhas, medos e tramas que somos, ao desolado e insosso senso-comum desaprovador.

sábado, dezembro 08, 2007

Dia de Nossa Senhora da Conceição, Rainha de Portugal e protectora desta casa.


Virgem Santíssima,
que fostes concebida sem o pecado original
e por isto merecestes o título de
Nossa Senhora da Imaculada Conceição
e por terdes evitado todos os outros pecados,
o Anjo Gabriel Vos saudou com as belas palavras: "Ave Maria, cheia de graça";
nós Vos pedimos que nos alcanceis do Vosso divino Filho
o auxílio necessário para vencermos as tentações
e evitarmos os pecados e, já que Vos chamamos de Mãe,
atendei-nos com carinho maternal
e ajudai-nos a viver como dignos filhos Vossos.
Nossa Senhora da Conceição, rogai por nós.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Comprei ontem «O Código dos Wooster» do P.D. Woodhouse. A tradução deixou-me estupefacto: um aristocrata inglês da época eduardiana não falava assim (por exemplo,não trataria uma tia por tu, por mais amistosas e despreconceituosas, divertidas ou cúmplices - como se diz agora -, que fossem as relações entre tia e sobrinho.... e poderia citar muitos mais exemplos). A repetição das inverosimilhanças não apenas de tratamento mas de léxico acaba por fazer com que se instale no leitor alguma irritação e que acabe por se estranhar este Bertie, por não se chamar Alberto Lopes Silva, não morar na Avenida Almirante Reis (ou que tenha lá uma tia, não Dahlia, mas Adélia, não com mordomo, mas irmã de um).
"Chávez anuncia novo referendo"

Parece ter adoptado o método das democracias do velho continente no que toca à aprovação dos tratados da União Europeia: ir repetindo até que o povo veja a luz. A bem ou a mal.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Vantagens (duvidosas) do cedo erguer:

Abrir a televisão e ouvir dizer com convicção «pátina» e «isotópos» por patine e isótopos.

terça-feira, dezembro 04, 2007

Lembro-me do 4 de Dezembro e de Sá Carneiro e Amaro da Costa - dois dos responsáveis pelo único projecto político em que acreditei: pensava que a Aliança Democrática faria de Portugal o país modernizado que esperava fosse o meu.
O que em vez disso foi, o que tristemente somos, o que vergonhosamente seremos (post de baixo sobre o PISA) está à vista.
Tencionava tirar umas pequenas férias do blog, mas o PISA veio confirmar o que eu penso - e quero - infantilidades minhas - dizer: Portugal continua a produzir atraso e subdesenvolvimento.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Um bom dia: o tenebroso palhaço da Venezuela perdeu (mas é apenas uma batalha...).

OU, como melhorissimamente disse Henrique Burnay no 31 da Armada,

"O Rei de Espanha foi a votos
E ganhou."

Todavia, atente-se no que avisa FNV no Mar Salgado

"NESTAS CONDIÇÕES":
A resposta do povo, numa réstea de democracia formal, vai lançar a Venezuela numa guerra civil ou numa ditadura do proletariado ( sim, essa mesmo, basta ler os clássicos) . Chávez deu o tom: "Vocês obtiveram uma vitória de Pirro e, nestas condições, eu não a celebraria."Compreende-se: dispõe de dezenas de horas mensais na TV estatal, calou a outra, esticou a corda até onde foi possível. "Nestas condições", na linguagem da esquerda revolucionária - que respeita tanto a vontade do povo como o cão respeita a pulga - siginifica que em breve existirão outras condições.

Tenho, porém - hoje estou em dia de adversativas -, a esperança de que Chávez não terá força para aplicar a receita.


Um amigo meu lamenta, num mail recebido - e escrito - agora mesmo, que o meu maître a penser, Vasco Pulido Valente, confunda desprezível com desprezável e escreva dignatário por dignitário. Respondi já, dizendo que são erros de edição, desagradáveis, mas desprezáveis e que ainda não li o Ir pró Maneta, já encomendado, mas ainda não recebido.
O meu amigo quer, afinal, que eu admita que VPV não é perfeito, que é, por vezes, excessivo e que tem mau feitio. Ora, alguns dos motivos que me levam a gostar de VPV são exactamente esses - além de ser um muito bom historiador e um não menos bom prosador.

sábado, dezembro 01, 2007

Não seja miguel de vasconcelos e comemore este 1º de Dezembro ajudando mais gente a ser independente:
Veja bem: http://www.kiva.org/app.php
Aborrecidos, crispados, não foi para isto que numa manhã, há 367 anos, ali para os lados do Terreiro do Paço... Ou foi: para nos aborrecermos como quiséssemos, sem termos de pedir licença a ninguém.


...et, je dirais même plus: c'est la rose...

sexta-feira, novembro 30, 2007

A convalescer das impressões da véspera, com a melancolia baça das lonjuras do começo novo e esplêndido e encontra-se isto.
Não é, propriamente, um consolo.
Relia na quarta-feira à noite n'Os Pescadores a evocação da infância do narrador e sobre algumas das coisas lembradas dizia ele serem nada que farão sorrir os outros [...] É a própria vida com um encanto que não torna, é o abrir dos olhos para uma manhã deliciosa [...] Tudo é novo e esplêndido. «Tudo é novo e esplêndido».
Pensei , com uma certeza tristonha, que hoje em dia pouca coisa me é nova - e muito menos esplêndida.

Talvez a cozinha de fusão, quem sabe, me restitua esse sabor da novidade: é a minha única esperança. Mas levará anos até que produza alguma coisa consumível ao pequeno almoço.

quinta-feira, novembro 29, 2007

O acordo ortográfico, produto de burocratas provincianos, não deve ser assinado e nunca é tarde para evitar cometer uma asneira. No entanto, a ir avante, vai em bom tempo: Portugal e Brasil falharam abjectamente na educação e, deste lado do oceano, pela primeira vez desde há pelo menos dois séculos - de Bocage - não há um grande poeta maior (há alguns bons poetas - alguns contra o acordo - mas um grande poeta maior não existe, depois de Sophia) e a assinatura do acordo (quem sabe se por alguém que dá o seu errozito ortográfico ) é um bom monumento a esta ausência de grandeza.

Por mim, continuarei a escrever como escrevo, eu que tenho saudades dos lyrios que já não vi, dos lyrios que, lamentou Pascoaes, os lírios não dizem
Aforismo das três da manhã (levemente misógino):
Podem-se dividir as senhoras em dois tipos: aquelas que dizem convincentemente são rosas, senhor, e as que não.
Sofra-se às mãos das primeiras, temam-se as demais.

quarta-feira, novembro 28, 2007

Nada mais ridículo (e insípido e tristemente inútil) do que tentar dizer* o indizível, qualquer palavra* se torna num desastrado e incompreensível epitáfio. É o silêncio que resta, dizia Wittgenstein** e, antes dele, Psamenite**, rei do Egipto, prisioneiro de Cambeses, rei dos persas, coisa que soube, ainda novinho, através de Montaigne.

* Cabem aqui os «pequenos gestos, humildes porém sentidos que... e equivalentes, em coreografias actuais.»
** Embora não se trata bem dos mesmos indizíveis. Mas quase.
É difícil dizer seja o que for: quase palavra sim, palavra não maradona tem e não tem razão. U

terça-feira, novembro 27, 2007

Ça m'agace:

Cada vez que pego no Discours de la servitude volontaire acabar sempre, mas sempre, por ir fazer melhor as contas e chegar depois, também sempre, à mesma conclusão irritante - e vexatória e deprimente: sim, Étienne de La Boetie começou a escrever os Discours com 16 anos (e, sim, nos intervalos conversava com o seu amigo Montaigne).

Porém, por outro lado... sim, ajuda a manter a noção das coisas.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Quando vinha para casa, há uma hora, duas velhas amigas desejavam-se mutuamente, numa das praça da cidadezinha, uma «noite sossegada», a velha fórmula tão de longe, tão digna e sensata, polida, sapiente esconjuro dos males antiquíssimos e desusados que perturbavam as trevas intactas.
O que se há-de fazer com dias destes, com este azul tépido que, logo, no esfriar na lentidão alquímica, se transmutará em alucinações de oiro velho e beatitudes?
E respondo-me logo: passear - pelo menos até me passarem estas adolescências que me dão e me alteram os valores da sintaxe.

sábado, novembro 24, 2007

Acabei agora de ler a crítica que, no Público, Vasco Pulido Valente fez ao livro de Miguel Sousa Tavares.
Deve este último ficar imensamente grato ao ilustre historiador: se daqui a 100 ou 150 anos (a eternidade) alguém ler um livro ou souber de MST será por causa destas desandas de VPV, tal como hoje sabemos de Pinheiro Chagas pelas razias de Eça.
O Breviário, um blog brasileiro linkou o Impensával que agradece, grato.
Blimey! Thank yew a lot. Allways charming. Nuff said, yeah?

quinta-feira, novembro 22, 2007

Estava a ver umas coisas da Vivienne Westwood - estamos a um mês do Natal e há uma amiga que merece uma surpresa quase letal e mal comportada - e percebi que apenas em Inglaterra a eccentricity «cockney» é tão genuína e divertida quanto a da upper crust (ao contrário, nos outros sítios, as classes chamadas baixas acabam por adoptar imitações pobres, baças e empaturradas da descontraída boa disposição da crosta de cima. Westwood não se aristocratizou, nem é uma grande senhora da moda como por aqui se diria, mas uma turbulenta e demolidora boa alma cockney, com um irrepreensível sentido de humor que a virtude e honorabilidades próprias da idade, da fama e da fortuna todas juntas não conseguiram corromper.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Várias vezes ao mês sou acometido de doenças que podem exigir transplantes (bem sei que o médico diverge sempre do meu duagnóstico, quando lho comunico e me chama hipocondríaco: em compensação, chamo-lhe incompetente, um ser bafejado pela sorte (até agora, tenho recuperado, por mim e à minha própria custa dos meus achaques).
Bem, mas nesta coisa de transplantes, ter a família biológica ao lado é essencial: não há afecto de pai ou mãe do coração que valha um rim, um pedaço de fígado, uma xícara de medula. A minha simpatia está, por isso, com o possível dador, com o pai biológico - isto sem falar que não se pode legitimar a filiação por usucapião, também possível de ocorrer em casos de raptos, etc, e o que levaria a que, quem agora brame pela verdade afectiva pudesse ver-se afastado de um filho raptado em favor dos raptores, principalmente se estes forem partidários dos ensinamentos das primeiras e permissivas edições do Dr. Spock.
Aqui no fim, porque me perdi entretanto, deixo o argumento da falta de paciência (que era para pôr já não sei onde - o post estava para ser maior), que consiste em, como se deduz, não haver paciência para os sentimentais psicólogos e outros peritos em estados de alma que temem pela saúde mental da criança quando for devolvida ao seu verdadeiro pai. Muitas criancinhas são, pelos mais variados motivos, afastadas de com quem sempre conviveram para irem viver com outras pessoas que não conhecem bem sem que isso acarrete dramas insuportáveis.
Creio que, dos mercados de petróleo aos plúmbeos brinquedos chineses e destes aos pedopsiquiatras portuguesas, uma imensa onda de histeria percorre o mundo.
Momento de humilhação em directo: sigo um debate no Parlamento - no Parlamento britânico - entre o Primeiro-ministro e o Leader da Oposição. Afirmação, contestação, réplica. etc, tudo aquilo é vivo e rápido, pertinente, capaz e não posso deixar de pensar no que se passa para as bandas de S. Bento: uma coisa mortiça, vagarosa, pesadona, provinciana, lorpa. E depois, leio com espanto nos jornais que A triunfou, que B esteve bem...
Que miséria, que tristeza!

Eu sei que já me devo contado por aqui estes mesmos espantos e lamentos, mas que querem? A carne é fraca.

terça-feira, novembro 20, 2007

Franco achava os portugueses cobardes. Não creio que sejam: suportaram a guerra em África durante 13 anos, muito para além do razoável (e antes, daquela, muitas outras).
Acabada essa guerra e consumado o fim do império ficámos, como dizia o outro, sem emprego. E pelas coisinhas daqui, os ganhos, sejamos francos, não o justificam, não valem zangas, desconchavos, muito menos derramamentos de sangue. Há coisas que, já se sabe, acabam por mudar de mãos de tempos a tempos, mas é com recato, de forma ordeira, por decreto-lei e tudo feito por bem.
Por isso, se não há guerras, não é cobardia: é por não ser preciso (e ficava mal, podia ser ridículo, e o medo do ridículo, do que dirão, leva-nos a evitar os excessos que os espanhóis, ao contrário de nós, adoram).
E lido isto, quer passar V. Exia. aos outros posts? Ora, é favor, por obséquio, ora se faz favor, por obséquio...

segunda-feira, novembro 19, 2007

Frio, chuva, pequenas contrariedades domésticas, ridículas e incómodas como um furúnculo.

sábado, novembro 17, 2007

Oiço na Sic a locutora, a expender comentários de uma falta de gosto sem nome sobre o Príncipe de Gales e sua Mulher - que é comparada a uma múmia. A alarvidade do tom faria do Chavez um príncipe de elegância
A questão é tão mais insólita quanto aquelas baixezas não estavam a ser bolçadas num daqueles «programas-horror» de «humor» aptos a fazer corar um cocheiro de outrora, mas no telejornal... o que diz do ambiente reles em que vivemos neste país.
Entretanto, em rodapé, passavam notícias, onde se viam as habituais calinadas de português («interviram» por intervieram..).

Tudo a condizer, e a letra a dar com a careta, a boçalidade e a ignorância, mas que desmoraliza qualquer um, isso desmoraliza.

quinta-feira, novembro 15, 2007

O país já é, ou será em breve, o mais pobre da Europa dizia-se há uns anos neste impensável e os dados continuam a não desmentir, antes reforçam o que era perceptível já então ir acontecer. Os últimos dados dão-nos já como mais pobres que a Estónia: «Estudo da Ernst & Young revela que 20% dos empresários têm a intenção de deslocalizar a produção. Dados de Bruxelas mostram que Portugal já é mais pobre do que a Estónia»
Tout homme qui à quarante ans n'est pas misanthrope n'a jamais aimé les hommes.

Honoré de Balzac

quarta-feira, novembro 14, 2007

O primeiro-ministro Sousa fala com o ar ufano que lhe conhecemos num crescimento de 2% do PIB no próximo ano. Di-lo no dia em que se soube que a economia portuguesa estagnou no 3º trimestre - estagnar significa que não cresceu (nos tempos que correm todos os cuidados são poucos). E os 2%, número acima das previsões do próprio governo do Sousa está longe, muito longe, do que seria necessário para sairmos do atoleiro.
Entretanto, o tempo continua muito bonito, valha-nos isso.

terça-feira, novembro 13, 2007

Os juízes têm uma associação sindical, fazem greves (direito específico dos assalariados, dos trabalhadores ou funcionários de outrém) e depois admiram-se que lhes queiram aplicar o regime dos funcionários públicos...
E para fazerem valer a sua indignação vêm, pela pena do presidente (ou secretário-geral) da tal associação sindical escrever ao primeiro Sousa, reivindicando.
Os juízes portugueses transitaram, sem incómodo, do antes 25 de Abril para o depois. Se o antes do 25 de Abril era uma ditadura (o que, entre outras coisas, quer dizer que há uma confusão dos poderes do estado...) isso não obstou a que muitos, agora nos lugares cimeiros do poder judicial tivessem ingressado na carreira no tempo em que o Presidente do Conselho era o Prof. Doutor Marcello Caetano, o que, a ser o regime anterior ao 25 de Abril, de facto uma ditadura fascista, faria deles cúmplices dela... Não sei se terão pensado muito nisto... Mas enfim, por mim penso que o regime era atípico e que havia mesmo separação de poderes, talvez até mais do que agora, de uma e outra parte. E se os juízes associados-sindicalizados e grevistas em geral - o que quer dizer, em suma, que não perceberam o que é um juiz numa democracia - não mereceriam, talvez, por eles, o nosso incómodo, não podemos, por nós, enquanto cidadãos, deixar que ocorra tal funcionalização - se é que, verdadeiramente, existe esse perigo (não vi a proposta de lei).
Coisas que se podem fazer em roupão

segunda-feira, novembro 12, 2007

A propósito de arcaísmos, a quantos anos estamos disto (via 31 da Armada)?
Viver longe, ter saudades, eis um modo agradável de ser português.
Aqui, a coisa é desagradável.
Mas, enquanto cá estamos, aproveite-se.

De nos verem os outros mais lá de fora nascem situações interessantes e, se é certo que 20 anos de CEE e de UE não mudaram, no essencial, uma sociedade arcaica, rígida, autoritária, burocrática, que cultua os formalismos, o adjectivo em detretimento do substancial, começa-se a sentir, vinda de fora, alguma exasperação pela mesmice. Isto a propósito do puxão de orelhas dado pelo Santo Padre Bento XVI à Igreja portuguesa que padece de muito dos vícios que abundam no resto do país. Francamente, não vejo que o ralhete seja pelas causas apontadas por JPP (basta a formação do actual Papa para fazer do que JPP diz uma verdade, mas não suficiente, por si, para justificar a dimensão e a publicidade da coisa). Também o que se alega aqui, embora mais perto do que penso ter constituído por si a admoestação não justificaria, creio, o inédito gesto, apesar do escândalo de conformismo que presidiu à posição da Igreja no caso do referendo do aborto,
Uma e outra coisa são sintomas do que, a um atento observador não passará despercebido: a pecha, típica dos totalitarismo burocráticos (tão totalitários que neles cabem as boas intenções e propósitos firmes de reforma) de erigir realidades à parte do mundo. É assim o Estado português, é assim a Igreja Católica portuguesa e Bento XVI não está disposto a tolerar essa mansa esquizofrenia (tão mais indesculpável quanto é certo a Igreja conhecer o país melhor do que ninguém). Esperemos que de tudo isto contribua para uma Igreja melhor e, através dela, de um país mais dissonante. Por enquanto, os sinais são maus: o que li parece desvalorizar as advertências solenes do Papa. Esperemos que seja do choque e que a criatividade burocrática de que é exemplo a surpreendentemente muito clerical e autoritária carta do Cardeal-Patriarca Lisboa aos presbíteros do patriarcado de Lisboa e que tem o efeito - na prática - de derrogar o motu proprium «Summorum Pontificum Cura» do Santo Padre sobre a missa em latim seja substituída pelo esforço de evangelizar.

domingo, novembro 11, 2007

Nas legendas traduziram little rock por calhau. (Eu traduziria, naquela frase, por pedra ou pedrinha, era uma mãe que explicava a um filho pequeno como fazer ressaltar uma pedra na superfície da água). Foi o último calhau. Creio que, quem me estivesse a ver (mas estava sozinho) notaria na minha expressão embaciada um esgar de desagrado, ou do desanimado cansaço com que cobardemente vejo afluir, de todo o lado e sem tropeços, uma arrogante e triunfante boçalidade que faz de mim um aindaporcádico, um retardatário, um desgraçado viciado em ficar.
Hábito, inércia, preguiça de fazer as malas (detesto fazer malas), apegos pequenos e pegajosos. Mas já não demoro muito, já vou, também já decidi ir, podia responder.
'¿Por qué no te callas?'

Disse o Rei de Espanha ao ditador Chavez.

OLÉ!

Fica em roda-pé, post-scriptum e letra pequenina, mas a verdade é que o &$"#%$/=#! Zapatero também esteve bem.

sábado, novembro 10, 2007

ENCONTREI!
Isto, as arrumações, não há que ter dúvidas, proporcionam assombrosas epifanias. Todos se lembrarão do meu desgosto por não saber do paradeiro do dicionario da mitologia. Chorei-me do desaparecimento dele aqui.
Encontrei-o hoje, há meia hora!
É, afinal, o
Diccionario
Abreviado
da Fábula,
para intelligencia
dos
Poetas, Paineis, E Estatuas,
cujos argumentos são tirados
da
HISTORIA POETICA
POR MR. CHOMPRÉ
LICENCIADO EM DIREITO.
AGORA TRADUZIDO DO FRANCEZ EM PORTUGUEZ.
__
LISBOA,
TYP. DE MARIA DA MADRE DE DEUS, RUA DA VINHA Nº 38 (AO BAIRRO ALTO).
__
1858
______________________________________________
Vende-se no armazém de livros de Borel, Borel & C.ª
rua de S. Julião (vulgo dos Algibebes), Nº 23.
Em arrumações de estantes encontrei o "Champs d'honneur" de Jean Roualt. É um bom romance e lembro-me que o li com gosto. Comprei mesmo um outro exemplar (o que, na altura, sem internet, era difícil) para dar de presente a uma amiga.
Verifico hoje, quase aterrorizado, que tudo isto foi há 17 anos...

sexta-feira, novembro 09, 2007

Dizia um armador que, num caso de resgate de um marinheiro em perigo de vida, foi pedido pelos serviços que o iriam realizar pagamento antecipado ou garantia de que o mesmo se encontrava assegurado.
Elucidativo sobre aquilo que somos quando ninguém está a ver.
A LER

Vasco Pulido Valente no «Público» de hoje:
(os realces e itálicos são do blog)


"Quando a imprensa inglesa e americana anuncia que a proibição de fumar em restaurantes não teve efeitos visíveis na saúde pública, em Portugal essa mesma proibição entrará em vigor a 1 de Janeiro de 2008. O que me espanta nisto não é a extravagância do acto em si. Duas coisas me parecem muito piores. Em primeiro lugar, a facilidade com que em todo o Ocidente o Estado resolveu intervir na vida privada de cada um e negar radicalmente o direito de propriedade (impedindo, por exemplo, que se criem restaurantes de fumadores), sem um protesto sério em parte alguma. Em segundo lugar, a rapidez com que o fumador foi socialmente estigmatizado e o vício de fumar (há 20 anos, normal e aceitável) se tornou quase o que era antigamente uma blasfémia, uma profanação ou uma heresia. Isto não anuncia nada de bom. Por um lado, porque fatalmente à campanha contra quem fuma se vai seguir a campanha contra quem bebe e a campanha contra quem come o que não deve ou come demais. E talvez, mais tarde, a campanha contra o "sedentarismo" e a falta de exercício. Não custa nada argumentar com as doenças que o álcool e a gordura provocam (tantas como o tabaco), ou retirar do mercado "produtos de risco", ou vigiar o que os restaurantes servem. Por outro lado, já se viu que o poder do Estado para converter a populaça ao objectivo tenebroso de "melhorar o homem" é hoje ilimitado. A metamorfose das democracias do Ocidente em totalitarismos de uma nova espécie não incomoda ninguém. Não uso a palavra descuidadamente (não uso, de resto, nenhuma palavra descuidadamente): para Hitler (que não fumava, nem bebia), o alemão perfeito não andava muito longe do perfeito espécime do Ocidente contemporâneo.
Imagino muitas vezes quem, de facto, quererá este mundo sufocante e asséptico, obcecado com a "saúde"? Gente, como é óbvio, com pouca imaginação. Por mais forte que seja o culto e a idolatria do corpo, a velhice chega. E, com ela, a irrelevância, a obsolescência, a solidão. Esta sociedade de velhos trata muito mal os velhos. A ideia (e a propaganda) de uma adaptação contínua é uma grande e cruel mentira. Os velhos são um embaraço. Um peso que se atura, que se arruma num canto, que se mete num "lar". Setenta anos de esforço para durar acabam num limbo à margem da verdadeira vida, quando não acabam no sofrimento e na miséria. O Ocidente está a criar um inferno. Por bondade, claro."

quinta-feira, novembro 08, 2007

Usando o livro do Santo Padre «A Igreja e a Nova Europa», Editorial Verbo, matei agora uma aranha que vinha a descer a estante . É a terceira aranha que vejo em poucas horas e isto serve-me para preparar uma admoestação para de manhã, que comece, a título de ilustração, com o episódio da aranha letrada e daí me leve a conversas severas sobre poeira em geral.
Serões de província

Estou em crer que me resfriei: tenho espilrado.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Um quarto dos portugueses não lava as mãos antes das refeições («antes das refeições» que epxressão!).
Apenas posso dizer que não fico admirado.

Péssimo, no entanto, é saber que há quem não as lave depois de ir à casa de banho: um em cada dez lusitanos!
Mas, ainda pior do que isso é quando, vindos de mãos para lavar das casas de banho - que imagino repletas de fungos -, se sentam depois ao computador a escreverem os seus blogs...
A escrita ressente-se.

terça-feira, novembro 06, 2007

No Cinco Dias insurgem-se contra esta coisa de se dizer que agora não se vive tão bem como há uns anos.
Sem duvida que há melhorias materiais, pelo que esta percepção não deixa de ser inquietante. O que leva alguém a dizer que há 40 anos se vivia melhor do que hoje?
Primeiro que tudo, a idade: quem tiver hoje 65 anos lembra-se saudosa e selectivamente dos seus 25...
Mas adiante: nos anos 60, sob o governo de Salazar, Portugal cresceu espectacularmente, foi um dos países do mundo que mais se desenvolveu. A classe média existente consolidou-se e a ela afluía gente nova. O regime, visto como um obstáculo, mas percebido como perto do fim, iria com o seu desparecimento, julgava-se, propiciar um desenvolvimento ainda maior. Por outro lado, a ruralidade fornecia a estabilidade e o sossego a quem vivia ainda nesse país agrícola e, ao mesmo tempo, o ponto de apoio a quem protagonizava as primeiras mudanças (a fuga para as cidades, a emigração para a Europa). Por aqui e por ali, havia a esperança de melhores dias.
E é essa esperança que não existe agora: o fim da ditadura e do Império não trouxe desenvolvimento. As esmolas da UE - porque disso, essencialmente se trata - permitiram, a par com um aumento assustador de impostos, a proliferação do alcatrão e o welfare state mas, sem verdadeiras reformas, com a continuação da atitude de aguda descrença no sector privado e nas capacidades de cada um, proliferou a burocracia e uma nova espécie de devorismo de que se alimentou ainda outra camada de classe média.
Hoje, as esmolas estão a acabar e a realidade veio cobrar os juros da ilusão. E, de repente, esta gente habituada a viver de lugares supérfluos, percebe que à sua frente não tem nada de bom porque espere. E, em volta, vêem, e se não eles, os demais, um pais semi-desértico, megalómano, semi-destruído, imensamente medíocre e assaloiado, um reino do fake - até em coisas tão simples quanto a qualificação profissional dos ministros. E pior desesperantemente se sente, a classe média cada vez mais esquálida, obrigada a equilibrar-se entre os abismos de uma das maiores disparidades económicas e sociais do mundo ocidental, às vezes já na real pobreza, quando vai aqui ao lado, a Espanha, e vê a enorme diferença desse mundo próspero e verdadeiramente moderno. E é lá que vão, em viagens cada vez mais raras, não ao Portugal de 60. Desse Portugal, longe, intocado de há 40 anos, lembram-se, no entanto, da esperança, de quando tudo ainda era possível e eram novos. Viviam materialmente melhor? Bem, talvez não... Viviam mais esperançados.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Sentence relative...

Entretanto, os esforços de reformas do nosso código de processo penal dão os seus frutos: talvez por tanto pensarem e meditarem e reflectirem sobre a nossa realidade e em legislar para ela, na rectificação (sim, há já uma) publicada no Diário da República do dia 26 de Outubro pode-se ler o que será uma réstea desse labor imenso: um parte de frase ainda no original, digo, em francês, digo, no original não, é que o legislador pensa em francês, não foi esquecimento, é esta coisa terrível do copy and paste, traiçoeira como tudo... gato escondido, queue en dehors...
Que miséria!

O artigo de VPV ontem no Público? Não é a exposição exacta do problema e da ausência de soluções, dadas a cobardia, a pavorosa mediocridade nossa e dos políticos que elegemos?

domingo, novembro 04, 2007

Estou um pouco cansado deste blog. Continuo-o, com pouco gosto, por mera inércia.

quarta-feira, outubro 31, 2007

E acha que?
Nao, surgiu, apenas...
...
Pena?
Apesar disso, sempre lhe direi...
Sim, tem razao, por isso tambem
Nao se trata de ter razao, nao neste tipo de coisas...
E todavia...
Nao, nunca ,nao!
Sem certeza
Sim e nao, sim e nao...
pollcode.com free polls


Afrodite? Não


Aderga de agastura atabafada,

aterma barafusta e por betado

compeça batocante de chapado

numa cenreira a custo destrinçada.


Cuspido ao pai na lança definhada

se dissingula, esmera, escarmentado,

escafedendo-se elegante ao lado

na falcatrua, mística lufada.


Forfante de incha e de maninconia,

gualdido parafusa testaçudo.

Mas trefo e sengo nos vindima tudo

focinho rechaçando e galasia.


Anadiómena Afrodite? Não:

Apenas Duarte Nunes de Leão


Jorge de Sena

terça-feira, outubro 30, 2007

Foi ontem e foi oficial: o médico receitou-me termas. As mesmas onde passava uns dias em pequeno (apenas porque a geração acima ia). Chegou agora a vez de, por padecimentos meus, lá voltar.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Post que contém um link para o youtube, onde poderão ver como o Pinto de Sousa tem usos de mundo.
Este país está tão de menos que começo a ter saudades de quando se encontrava meramente de rastos
O link aqui
Já viram? Convenham que é de estadista, de um grandessíssimo estadista! É preciso grande presença de espírito, ousadia e capacidade de decisão para desfeitear daquele modo o único ministro a que os portugueses dão nota positiva.
Charmes do 3º mundo:

O Banco de Portugal emprestou dinheiro - isto é, concedeu um crédito - a administradores seus para a compra de segundas casas. O ministro das finanças diz que o Banco de Portugal não é uma instituição de crédito, pelo que não se lhe aplica a norma que proíbe aos bancos emprestarem dinheiro aos administradores. Mas, se não é uma instituição de crédito, porque empresta dinheiro?

A propósito, o Dr. Constâncio, director daquela benemerente instituição continua a ganhar mais do que o seu colega norte-americano?

domingo, outubro 28, 2007

Houve tempo que ambicionei não acontecesse nada senão o puro decorrer dele e por «puro» entenda-se limpo de novidades que se pudessem sobrepor à de algum azar com as torradas do pequeno-almoço. Tempos de pujança que já lá vão. Hoje em dia, gosto de novidades e o problema de acordar tão cedo é não ter acontecido nada ou, tendo, sermos nós a ter que as contar.
Hoje, a notícia da manhã, pelo menos no Sky news, é a de que um membro da Família Real terá sido vítima de uma tentativa de chantagem. O motivo seria um sexo & drogas, um clássico, sério e atendível motivo (embora sem a grandeza dramática da traição ou do homicídio), ligeiramente brejeiro, que não deixa de dar alguma - como diziam? - gaieté a esta manhã de domingo.

sábado, outubro 27, 2007

Um post curioso que li no Pastoral:

«Acrítica litrária (a partir de Ana Tureza do Mal)

A crítica literária de Pedro Mexia, raramente perfuntcória, é mesmo, quando adrega, de excepção.

Para ler aqui.
A esquerda e a liberdade nunca se deram bem - nem podem dar: a esquerda é determinista.

Por isso, o governo italiano do momento, que é de esquerda, tem preparada uma lei, de seu nome Lei Levy-Prodi, para acabar com a liberdade dos blogs e instaurar a censura.

Há mil razões sensatas para legislar sobre os blogs.

Há uma razão sensata para não o fazer: a Liberdade - com maiúscula e no singular - e essa anula todas as outras, enquanto não se descubra legislação sem severos efeitos laterais, que é como quem diz, a existência de vantagens sem desvantagens.

Leia aqui, onde cheguei por intermédio do Hoje há conquilhas

A resposta ao atrevimento do governo italiano deveria ser dada esmagadoramente (o poder medíocre assusta-se com o Número, embora a qualidade lhe seja indiferente) por blogs do mundo inteiro.

(Entretanto a escumalha que se incomodava muito com Berlusconi e as ameaças à liberdade está calada...)
Pelo Margens de erro soube a boa notícia: o medíocre Pinto de Sousa, vulgo «eng» Sócrates e o seu governo começam a perder terreno nas sondagens e de modo significativo.
Esperemos que demorem pouco a desaparecer. Embora não tenha esperança em que a substituição traga melhorias substanciais, pelo menos vemo-nos livres das faltas de educação do Sousa.
Adormeci a ler Tácito, e acordado, escolho Suetónio para despertar. Há almas a quem nada é poupado: a humilhação, o acabrunhamento são sempre possíveis, nunca uma hora de descanso ou um local de asilo.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Sobre Jardim Gonçalves e assunto da dívida dizia Ricardo Salgado que, embora aquele fosse um grande banqueiro, «o diabo tece-as».

Queria assim, talvez, dizer Ricardo Espírito Santo que não lembra a ninguém esquecer-se de controlar as ambições e ganâncias familiares.
Mesmo as ambições mais legítimas, ou não fosse Fernando Ulrich um próximo primo seu.
Ambos são Cohen, gente que sabe de dinheiro e poder há muitos, muitos anos...
E como estamos em Portugal, a coisa a pequena batalha entre Ulrich e Espírito Santo - porque disso se vai tratar - vai meter de permeio o estado, que os dois primos quererão usar, cada um a seu favor, o último através da intervenção da CGD, Ulrich porcurando a omissão estatal.
Vai ser interessante seguir os acontecimentos, agora que quase todos os amadores e parvenus estão afastados da cena.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Se o "Rogério Casanova" escreve em revistas e jornais, dir-me-ão quais? E se não escreve (por exemplo, nesta) dir-me-ão porquê?
Desde há uns anos que, vítima dos piores sentimentos, sorrio disfarçadamente quando vejo os meus amigos condenados à gesticulação ridícula que o presbitismo impõe.
Quando me pensei condenado a igual sorte, fui ao médico, num pânico e no maior sigilo, mas a minha súbita dificuldade em ler letra miúda era apenas o agravamento de um até aí desconhecido astigmatismo. Ontem, porém, mesmo com óculos, li com dificuldade o rótulo minúsculo de uma bolachas dietéticas, verdadeiro cilício gastronómico, que agora, com desgosto, compro. Tudo verificado hoje à lupa (sic...) as 12 calorias por bolacha revelaram-se 31 o que fez com que, restropectivamente, a noite de ontem, acabada pacatamente com a leitura da Nature de Ralph Waldo Emerson, tivesse sido, afinal, e com meu completo desconhecimento, uma noite de bolachas e dissipação que não aproveitei.

quarta-feira, outubro 24, 2007

O Ministro das Finanças diz que o endividamento dos portugueses atingiu o limite e que deve parar. O Ministro nada pode fazer, porém: é um assunto entre quem pede e quem empresta. Mas, já que 85% do endividamento vem de empréstimos bancários para compra de casa, poderia, talvez, começar a pensar em criar as condições para a existência de um verdadeiro mercado de arrendamento em Portugal.
O caminho passa pela derrogação das centenas ou milhares de normas feitas à custa da liberdade contratual dos proprietários das casas.
Céline comia nouilles dias a fio porque, sem cheiro, podiam ser feitas sem que as rendas que sua mãe fazia - ou usava nos vestidos que fazia - absorvessem os odores de cozinhados
A preocupação é tocante e Céline conta isso num tom situado entre o orgulho e a náusea.
A propósito de já não sei encontrei referências a pessoas que estavam na moda quando vivia em Lisboa. Têm hoje, passado já tanto tempo, uma idade respeitável, mas nessa altura, eram mais novas do que eu sou agora...

terça-feira, outubro 23, 2007

A pretexto de pôr as duas tomadas eléctricas, duas simples tomadas de parede, está ali há uma hora a e coisa está longe, muito longe de estar acabada. A obra mete calhas e, para elas, creio que dezenas de buracos na parede, tudo feito com uma minúcia tão vagarosa quanto supérflua. Se não ficasse tudo tapado - mas ele não sabia que era para ficar tudo tapado - teria sido a catástrofe.
Catástrofe que se anunciava, desde logo, pela abundância de ferramentas e material, uma desmesura rocaille que, ao invés de me sossegar sobre a eficiência do serviço, me deu um primeiro lampejo de mau agoiro sobre a imensa conta que me vão apresentar. Ah sim, porque a conta vai ser imensa, disparatada, asiática: a modernidade e a europa tornaram-se em portuguesíssimos pretextos para ganhar a não merecida brioche de cada dia; agora que o juro secou o crédito e, com ele, a geral indiferença pelo dinheiro, a bulimia extorsora voltou-se para a clientela mais antiga, durante decénios condenada a um snob ostracismo.
Foi de ontem para hoje, num ápice ansioso, quando dantes demoraria semanas.

Entretanto, depois de hora e meia para o assunto das tomadas, e já noutra tarefa eléctrica, o desgraçado (é empregado de um dos nababos locais da electricidade a quem eu suspeito vidas duplas de yatchs em Portofino e longas estadas no Connaught) tendo-se apercebido que incorrera no desagrado do cliente - mal ele sabe que eu já resolvi (e me conformei) com o ser roubado de uma vez só - a cada pequeno passo pede à empregada que vá lá chamar o sr. dr. - que se encontra refugiado no gabinete a escrever posts com um ar de quem redige um parecer grave.
Chegado ao local da ocorrência, de ar grave e levemente agastado - o cliente exigente finge meditar e e depois aprova, seguindo a política do mal menor.

segunda-feira, outubro 22, 2007

A mais pequena contrariedade serve, sobretudo, para desmoronarem sobre o próximo o que lhes vai pela alma: sentem-se no direito de gozarem de imediato os benefícios da modalidade rústica, tagarela e lamentosa, que lhes cabe dos 15 minutos de fama.
Ao contrário, as educações sem concessão à pieguice produzem exemplos de contenção e a conversa, edificada na elipse, sem botaréus, atinge, entre a ironia e a vertigem, as alturas da mais terna e impossível comoção.
Sei que é assim. Por isso, quando telefonei, não esperava senão o tom tranquilo e acolhedor da anfitriã experiente que aproveita a pausa no croquet para trocar duas palavras amáveis com um recém-chegado ao jardim. Mas, não me lembrava já da absoluta ausência de falhas, da perfeição dilettante e implacável.
"Sabe, não esperava estar tão bem disposta", disse-me, atribuindo ao acaso o que é a elegância da impessoalidade pura, aquela que é feita de partículas de vero e bem humorado desinteresse por tudo - ou grande parte - do que nos diz respeito.
Pourvu que ça dure, o subversivo, fatalista mote que adoptou, entre risos, há já tanto tempo.

domingo, outubro 21, 2007

António Barreto, no Público:

«O desastre de Lisboa ficará na história porque aqui se assinou um tratado que consagrou a não democracia como regime europeu e consolidou a burocracia e a Nomenclatura europeias. Ao fazê-lo, confirmou a caminhada futura para uma ilusão senil, irrealizável e não democrática. Ao tentar construir uma impossibilidade, prepararam a destruição do possível. Ao querer uma União federal, eliminam a hipótese de uma verdadeira Comunidade. »
Esta de querer obrigar a Ordem dos Médicos a mudar preceitos deontológicos conforme os apetecimentos do governo é de uma estultícia assustadora. Sendo hoje legal o aborto por mero capricho não tem aquela Ordem, por ser bem outra a missão dos seus membros, de acompanhar os ímpetos apalermados do medíocre Sousa e restante tropa fandanga governante. É preciso ter a noção dos limites dos poderes governamentais e legisferantes em geral, seja o governo (ou parlamento) de uma democracia murcha e amarelada como a daqui ou de uma democracia avançada de um país do 1º mundo, ou ainda de uma ditadura. Para se aquilatar da extensão do problema lembremos as particulares nazis ou comunistas no campo da medicina que foram traduzidas em leis...

Bem melhor seria que o governo concentrasse o seu autoritarismo na diminuição das listas de espera - que chegam a atingir 5 anos e são 10 vezes superiores às de Espanha (um escândalo sem nome, uma crueldade indescritível para os desgraçados que não podem atalhar caminhos para conseguirem o remédio para os seus males).

Mas não... E é evidente porquê: os problemas reais não se resolvem a golpes de atoleimados decretos. Exigem talento, destreza, coragem, tudo o que, com enorme abundância falta a esta gente.

sexta-feira, outubro 19, 2007

«"Porreiro pá!", disse José Sócrates a Durão Barroso, no final da confererência de imprensa em que os dois dirigentes anunciaram e comentaram o acordo sobre o novo Tratado europeu alcançado hoje na Cimeira europeia.» (Agência Lusa)

É pá, isso de ser porreiro ou não, a malta depois vê. Pra já, pá, o referendo, pá, que foi isso que a gente combinou.
Ontem, adormeci a ler Oliveira Martins. O último parágrafo que li fala da luta entre o país histórico e a modernidade imposta, as mais das vezes, através de ditadura.
Este país da resistência é o mesmo que produziu centenas e centenas de milhares de emigrantes que povoaram o Brasl, que encheram a Europa. Esta gente, que não se resigna, que desde a infância quer sair, quer ir daqui pra fora, que sonha com viagens, que vive de lonjuras detesta que a obriguem a fazer o que não quer, talvez por isso não ser necessário. Do necessário ocupam-se, afinal, eles, sem perguntarem nada a ninguém.
Depois disto, a política, os políticos, eram, são, para as pequenas coisas de torna viagem: para o calcetamento de um caminho ou as festas da terra. Das coisas sérias das suas vidas tratam sem eles, os que os querem modernizar. Esperam, apenas, um módico de decência que, infelizmente, raramente obtêm.

quinta-feira, outubro 18, 2007

Já não podia com o azul.
Fica este castanho fulvo, a condizer com a estação.
E não tenho sono! Queria ir ver o blog novo, o Gattopardo, e fui ver se a morada constava do antigo, o estado civil. Encontrei isto e vai aqui com uns itálicos que eu pus: «Conversava sobre literatura alemã com o senhor E. O senhor E., cultíssimo e (mesmo assim) quase nazi, discordava de tudo o que eu ia dizendo» Pensei qual o motivo pelo qual não o imagino a dizer que «conversava sobre literatura alemã com o senhor E. O senhor E., cultíssimo e (mesmo assim) quase comunista, discordava de tudo o que eu ia dizendo.»
Entre a invocação protectora da «aurea mediocritas» que, também, deu em Portugal Salazar, e o viver contentinho e ignorante de Sócrates e colegas, dos muitos colegas dele...

quarta-feira, outubro 17, 2007

Atendendo a que falhou o encontro de Portugal com a Europa e as coisas boas - mas, infelizmente, caras - dela, conviria ver o se pode aproveitar daqui:

Uma casa portuguesa

Numa casa portuguesa fica bem
pão e vinho sobre a mesa.
Quando à porta humildemente bate alguém,
senta-se à mesa co'a gente.
Fica bem essa fraqueza, fica bem,
que o povo nunca a desmente.
A alegria da pobreza
está nesta grande riqueza
de dar, e ficar contente.
Quatro paredes caiadas,
um cheirinho á alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos
dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!
No conforto pobrezinho do meu lar,
há fartura de carinho.
A cortina da janela e o luar,
mais o sol que gosta dela...
Basta pouco, poucochinho p'ra alegrar
uma existéncia singela...
É só amor, pão e vinho
e um caldo verde, verdinho
a fumegar na tijela.
Quatro paredes caiadas,
um cheirinho á alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos
dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa,
com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!

Reinado Ferreira
Dois milhões de pobres - e pobres apesar de terem emprego, muitos deles; um milhão de analfabetos, centenas de milhares de...

E tudo isto é clandestino, nunca é deste país que se fala.

terça-feira, outubro 16, 2007

Tem motivado o maior interesse e curiosidade a questão da autoria da oração que se reproduziu neste blog e que foi primeiro atribuída a Santo Thomas More.
O autor deste blog tem sido abordado seja na rua, seja em casa, seja já em blogs por pessoas de todas as idades e posições sociais ou com pertinentes teses sobre quem foi Thomas H B Webb ou com interessantes sugestões de linhas de pesquisa para as pequenas e discretas investigações feitas.
Hoje mesmo, tentando dar resposta a uma pergunta feita por e-mail, prossegui o meu desprensioso inquérito e estive, durante duas horas, no convencimento de ser o autor um mau clérigo inglês do Séc. XVIII. O pedido de uma boa digestão parecia indicar um glutão. No entanto, no restante poema parecia-me haver um self-restraint oriundo de uma sentimentalidade mais recente e um toque de melancolia post-romântica, estranhos a um abade bon-vivant de há duzentos anos atrás.
Prossegui, por isso, as buscas e encontrei. Encontrei a página onde, como se dizia em tempos mais felizes, está tudo.
Assim, posso dizer que o autor da oração foi Thomas Henry Basil Webb, que nasceu em 12 de Agosto de 1898 e foi morto em 1 de Dezembro de 1917, no Somme, em França
Fonte (um trabalho muito meritório de pesquisa): aqui.
Agradeço ao Autor desconhecido.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Joseph Beuys, Intuition, 1968
Estava à procura de uma coisa do Beuys para pôr aqui no blog e lembrei-me das revistas sobre arte e de ir ver se a «Art forum» tinha site. Claro que tem. Há uns 20 anos - engulo em seco quando faço contas destas - assinei ou comprava regularmente a «Art Forum». E a «Art in America», lembro-me agora. Não sei a que se devia tanto empenho de estar a par do que se fazia nas artes, talvez fosse apenas o medo provinciano de estar ou vir a estar outdated. Ontem, fiz umas compras na Amazon e vi que na wish list - onde ponho os para a próxima vez - tinha «Arguing About Art: Contemporary Philosophical Debates». Não comprei ainda desta vez: estou de dieta e janto pouco fora.

domingo, outubro 14, 2007

O défit nos 3%, conseguido à custa do fundo dos nossos bolsos, não deve fazer esquecer o essencial, como lembra o Doutor Vasco Pulido Valente hoje no Público: o Pinto de Sousa e governo actual falharam e é altura de lhes começar a pedir contas.
Este blog é um pouco palrador, por vezes. Contém, apesar disso, silêncios. Uns são omissões ditadas pela futilidade ou pelo desinteresse, mas há, também, passe a falta de modéstia, puros silêncios de contenção, de puro reconhecimento de ignorância. E outros ainda, virginais e inconscientes, oriundos de uma ignorância completíssima, já invulgar.

sábado, outubro 13, 2007

O blog Mais actual linkou o Impensavel e o Blogues em papel do Público transcreve, na edição de ontem, um post deste blog.

Agradece-se, a ambos, muito gratamente.
Charlotte gostou da oração e, por isso, parti em busca da fonte. Encontrei-a o meu livro de criança, que procurei com afinco e consegui encontrá-la na web, em inglês, atribuída a Thomas H. B. Webb.
Colo aqui a versão completa, em inglês:

Give me a good digestion, Lord, and also something to digest;
Give me a healthy body, Lord, and sense to keep it at its best.
Give me a healthy mind, good Lord, to keep the good and pure in sight;
Which, seeing, sin, is not appalled, but finds a way to set it right.
Give me a mind that is not bound, that does not whimper, whine or sigh.
Don't let me worry overmuch about the fussy thing called "I."Give me a sense of humor, Lord; give me the grace to see a joke,
To get some happiness from life and pass it on to other folk.

De um ou de outro Thomas, é uma belíssima oração e ao longo da minha vida tenho-me lembrado dela. Se é de Webb, que seja dito que dele é. O bom sense of humour de Santo Tomas More é por demais conhecido, não precisa que lhe atribuamos o que a outrém pertence.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Sobre os insultos ao Pinto de Sousa, actual primeiro-ministro, escreve o Doutor Vasco Pulido Valente no Público de hoje:

«Tudo isto obedece obviamente a um plano para suprimir, ou reduzir, a liberdade de expressão e de manifestação, com que o primeiro-ministro nunca se habituou a viver. O dr. Cavaco e o Parlamento tomam uma grave responsabilidade se não puserem expeditivamente fim a esta tentativa de transformar o regime num autoritarismo hipócrita.»

quinta-feira, outubro 11, 2007

Já se pode falar - com bastante precisão - da ditadura venezuelana e do seu ditador, Chavez:
«O Governo venezuelano impediu que fosse realizado o concerto do cantor espanhol Alejandro Sanz por este ter criticado o presidente Hugo Chavez há três anos.»
O argumento:
«Se um artista vem à Venezuela para criticar Chavez, como pensam que as pessoas iriam reagir se o Governo o autorizasse a usar um estádio que pertence ao Estado?», ministro da Educação dixit.
Por isto? - perguntarão.
Sim, por isto. Fácil, não é?
Estava eu a dizer - coloquialidades: estou dado a - que com a idade intelectualiza-se menos; as coisas, tudo é mais visceral. Não intelectualmente visceral como já não sei quando esteve na moda que fosse, mas viscerais, viscerais, das entranhas, com mucosas, veias, irregularidades, repetições e velhice.
Resta-me saber se é bom ou mau que um antiácido me corrija a um tempo o estômago e o pessimismo.
Que tarde! Mas que tarde fabulosa!
Da Casa Pia, de que não sabia nada, vou sabendo tudo: houve uma pessoa que, durante anos lutou e se não conformou com o que lá se passava: foi Meste Américo. Por isso, teve, antes, um processo disciplinar e, depois, uma acusação de participação em orgias e abuso de menores.
O habitual que acontece a quem se mexe, a quem incomoda verdadeiramente.
O resto, os outros funcionários... se sabiam, onde estão as participações que não podiam ter deixado de fazer? Esta Catalina Pestana, pessoa muito cheia de si e ciente do que serão, para ela, as suas extraordinárias capacidades, quantas vezes pegou no telefone para denunciar à polícia o horror que se passava? Agora, veio dizer que não tem «dúvida nenhuma de que existem abusadores internos na Casa Pia». Se não tem dúvida nenhuma, sabe, necessáriamente, quem são.... E se sabe quem são, deveria demiti-los de imediato. Se não o fez, é criminosamente incompetente.
Enfim... as palermices costumeiras de gente tola e vaidosa.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Andam para aí aos insultos a ofender o Sr. Primeiro-Ministro, que é tão boa pessoa e só quer o nosso bem e depois admiram-se que as causas dos santos portugueses sofram contrariedades e que a canonização tarde.
Não ofendam mais ao Sr. Primeiro-Ministro!
Tenho cá em casa, mas encontrei na net. É a oração em que São Thomas More pede a Deus lhe dê, também, sentido de humor. Creio que não está completa, mas o que está já é muito suficiente.
Tenciono usá-la fervorosamente.

«Dá-me um espírito jovial, que tenha sensibilidade para o bem e para os outros e que não se espante diante do pecado, mas encontre sempre um meio de tudo harmonizar.
Dá-me um coração livre de todo o aborrecimento, que ignore o murmúrio, o desabafo e as lamúrias.
Dá-me sentido de humor, Senhor.
Dá-me a graça de perceber uma zombaria, para que eu tenha um pouco de alegria na vida e possa transmiti-la aos outros.»

terça-feira, outubro 09, 2007

A administração da RTP fez o quê????
É a minha recente mania wireless - compro qualquer gadget - que me tem impedido de me tornar num entusiasta do desânimo. As alegrias dos sem fios são, todavia, tão etéreas - a falta de gosto deste trocadilho! - que, depois de alguns device no lixo, esmorecerei, de novo (não com demasiado desgosto - surtout pas trop de zèle).

Entretanto, no sensor 1, perto da sebe, a temperatura é de 15,8º enquanto no sensor 2 a temperatura é de 16, 3º. Que estranho! São 4 metros entre os dois, ambos os locais igualmente protegidos.

Irei investigar.

segunda-feira, outubro 08, 2007

O artigo é este. É recomendado por A causa foi modificada, que, creio, se intula de direita ou não esquerda, ou seja lá o que for.
Convido a uma leitura e análise (ou, como se dizia há uns tempos, à «desconstrução»). Serão publicados as falácias e pequenas desonestidades semeadas no artiguinho que forem descobertas pelos nossos leitores. Sei que é fácil, mas é o que há.

domingo, outubro 07, 2007

Árvores do Paseo del Prado

Há um ano, em Madrid, a Baronesa Thyssen - a do museu, sim, e a dona desta colecção - encabeçava a luta contra um projecto de Siza Vieira que implicava o corte de perto de 700 árvores do Paseo del Prado.
Nos jornais, a celeuma era grande. Lembro-me de ter lido uma entrevista com o decano dos arquitectos espanhóis em que este, embora muito educadamente, também discordava de tal corte. A luta continua ainda; a Baronesa, Dona Carmen, é uma formidável adversária, e espero que as árvores se mantenham.
O que sobressaía, em todo este assunto, era a reacção de Siza Vieira: pouco ou nada habituado a encontrar resistência, reagia com sobranceria, fruto do cruzamento do culto do mito romântico do artista criador com o autoritarismo português, que sempre gostou de se estribar no progresso e no moderno para cilindrar as tímidas oposições, aqui onde a opinião pública é um mero e passageiro incómodo. Em Madrid, porém, as coisas são diferentes, e mesmo que o alcaide socialista madrileno tenha acolhido as totalitárias soluções arquitectónicas de Siza, o projecto pode ficar no tinteiro do arquitecto-industria-pesada português. Espera-se que sim, para bem do tão bonito Paseo del Prado, onde é agradável passear para recuperar das emoções da vista de alguma da melhor pintura do mundo.

A sanha do arquitecto contra as árvores prossegue, entretanto e as próximas vítimas estão aqui.
Esperemos que estes arboricídios (termo de Churchill) parem.

sábado, outubro 06, 2007

A suavidade deste dia, a suavidade deste dia! Que perfeito dia de Outono!

Deixado o o meu agradecimento ao Irmão Outono - anteontem, 4, foi dia de S. Francisco de Assis - fale-se do nosso médico Dr. Menezes.
O Doutor Vasco Pulido Valente explica os perigos do populismo e, sim, com certeza que tem razão. Acontece, porém, que o perigo de uma ditadura está, por enquanto, afastado e o actual poder, o actual governo, tem como principal ocupação a publicidade, usando do pior populismo; e, incapaz de nos pôr a par com o resto da Europa, inábil, medíocre, limita-se a meter-nos a mão no nosso bolso em termos que se aproximam do insuportável.
O Dr. Menezes é perigoso? Talvez. Mas o Pinto de Sousa não o é menos. Para o nosso bolso e para a democracia.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Depois de discorrer sobre alguns motivos internos para a espantosa vitória de Menezes, escreve hoje o surpreendido Doutor Pulido Valente na sua crónica no Público sob o título «Menezes, por exemplo»

"Mas não será possível que a explicação para a vitória de Menezes esteja fora e não dentro do PSD? Comecemos pelo mais simples. É hoje óbvio que Sócrates falhou. O equilíbrio financeiro foi feito à custa do aumento da receita, que começa a pesar insuportavelmente sobre os portugueses de qualquer idade e rendimento, e não pela prometida, anunciada e glorificada reforma do Estado, que ninguém viu ou verá. A economia não cresce. O desemprego aumenta. E não se vê saída para este buraco a que nos levaram. Quem votou em Menezes não votou, no fundo, contra Sócrates? Não votou na mudança? Numa maneira, talvez não muito boa e até suicida, de agitar as coisas? Não votou por desespero?A pergunta não é frívola, porque, se de facto o PSD não escolheu Menezes pelo duvidoso mérito de Menezes, mas por execração a Sócrates, disso decorre que Menezes provavelmente ganhará em 2009."
(bolds meus).

Eu, francamente, o que me preocupa é que este óbvio não seja tão óbvio quanto devia ser. Mas, enfim, antes, por exemplo, o Dr. Menezes que Sócrates, "o Engenheiro". Por exemplo.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Simplificando: é mais ou menos isto, este esqueleto exquis, que se pode preencher com algumas vísceras e carnadura, ao invés do exquis cadáver exangue dos assisados que pululam por aí. Nada me irrita mais do que essa loucura mansa que imita o bom-senso e a gravitas. Aceitar que um governo com péssimos resultados económicos, num país em crise e à deriva, com um primeiro-ministro medíocre, não possa ser derrotado já nas próximas eleições é o mais assustador exemplo de fatalismo a que tenho assistido nos últimos tempos: talvez por isso, quando oiço ou leio o plangente Pacheco - agora dado a infantilidades próprias de criança de bibe no seu blog - oiço acordes tristes de guitarra.
E tudo isto existe e tudo isto é triste...

terça-feira, outubro 02, 2007

Tarde gasta em futilidades.
Encontrei o 3º volume da Paideia, a escassos centímetros do local onde tantas vezes me sentei para lamentar a sua perda, que dava por certa. Pequenas comemorações.

domingo, setembro 30, 2007


«..........................................
La vie est vaste, étant ivre d'absence,
Et l'amertume est douce, et l'esprit clair.
................................................»

Paul Valéry, Le Cemitière Maritime

sábado, setembro 29, 2007

Antes do almoço: oiço falar da psychologie e de uma psychologue num canal de televisão francês. Torna-se evidente tratar-se de um aspecto importante da vida religiosa actual - a psicologia e as psicólogas e os psicólogos - e não percebo porque se não diz isso mais aberta e francamente.
Algumas reacções pueris à eleição do Dr. Menezes.
Afinal, parece-me, ele está bem para o primeiro-ministro actual.
Ou não está?
Estive a ler e a tratar de umas papeladas e quando vim fechar o computador vi a notícia da eleição do Dr. Menezes. Sorri da alucinação e olhei de novo, de olhos esbugalhados, a conferir. Mas era verdade, lá estava! Inesperado. Fui ver ao Abrupto: sim, de facto.
Resolvi que tiraria o maior partido possível da questão e mudei para a pele do espectador enfastiado que, afinal, acha, se irá divertir com a representaçao do entremez e se acomoda à cadeira para ver.

Devo confessar que pouco sei do Dr. Menezes. Sei que é um daqueles autarcas do norte. Vi-o agora, em campanha, numas gritarias desgradáveis que me provocaram má impressão (em compensação, sei que foi ou é médico, o que, nos tempos que correm e depois das histórias do Pinto de Sousa convirão que é já saber muito).

Mas que queriam? Usando uma corruptela muito do gosto da minha empregada, a coisa - que é a oposição ao governo - não «sordia» (ela quer dizer surdia, de surdir, que significa render) nem desenvolvia - mesma fonte - como deveria.

Mais tarde:
Entretanto, fui informar-me sobre o nosso facultativo e da nova situação por esses blogs fora. Fiquei com a impressão que o Major Valentim poderá estar mais próximo de ser ministro do que eu pudera alguma vez supôr e isso, meus caros, é uma forte impressão a estas horas da noite.

sexta-feira, setembro 28, 2007

E já que percebemos todos, graças ao Dr. Pedro Santana Lopes, o estado de abjecção a que chegámos - os critérios editoriais praticados na Sic são apenas um sintoma - que tal começar a agir em conformidade?

Eu deixei de ver a Sic. Desagrada-me que me tratem malcriada e aviltantemente, que foi o que fizeram ao suporem que estaria mais interessado em ver um treinador de futebol chegar ao aeroporto do que me ouvir o Dr. Santana Lopes falar sobre a crise no maior partido da oposição.
Se todos falarmos esta linguagem, a do boicote - ia dizer, a da resistência - ou outra legal que igualmente os possa ferir no bolso, a coisa melhora.
Decididamente, em matéria de memórias começo a gastar das de João Távora.

quinta-feira, setembro 27, 2007

Pedro Santana Lopes (parabéns!) foi demasiadamente bem educado, deveria ter-se levantado e saído, sem mais explicações.
Acho, também, que o país está louco. Mas de uma loucura de subúrbio, boçal e medíocre, sem grandeza nem graça. O discurso e trejeitos da jornalista, a que não faltava o seu côté ofendido, a invocação dos critérios editoriais, tudo dá uma medida do grau de plebeidade atingido.

O inacreditável comunicado da SIC sobre o assunto trata o ex-primeiro-ministro como, informalmente, eu o trato aqui, por Pedro Santana Lopes. Mas o que é admissível e natural num blog não o é num comunicado de uma estação de televisão referindo-se a um caso com grande repercussão, passado com um antigo primeiro-ministro. Creio que em nenhum outro país europeu se desceu tão baixo nos modos de tratamento. É que isto não é informalidade moderna, é a generalização do pior e mais grosseiro igualitarismo, sinal certo de uma sociedade empobrecida e bloqueada.
Lua cheia, ar tépido (uns fios de frio), deixo-me estar, entre um ensaio de Berlin, um gin espantoso (espantoso não é o gin em si, que é o habitual: espantoso é ter-me dado ao trabalho de ir arranjar um gin tonic por ter encontrado, fruto do acaso, do mais honesto acaso, uma tónica quando procurava uma água das pedras) e o "Summer Place: Love Theme" que durante anos se ouvia na praia (primórdios da música ambiente) quando era pequeno, de que me lembrei sempre e só há pouco tempo soube como se chamava, o que era. Um arzinho de nostalgia na noite de província e, por causa do Love Theme, lembrança de, nessas épocas remotas................... fui buscar um gelo e perdi o fio à meada (hei-de ter um frigorífico com máquina de gelo, assim que perder o amor a 6,5 cm de bancada de mármore).

quarta-feira, setembro 26, 2007

A minha leitura antes de adormecer tem sido, nestes últimos dias, «Uma Casa em Portugal» de Richard Hewitt. É um livro amável e risonho, mas deixa-me sempre irritado. Não com o livro em si, mas com esta moda nova de levarmos o país a sério, pior, de acharmos que somos um país civilizado ou moderno e não o país muito atrasado que somos - e que se claramente se vê, a olho nu - como o viu, embora não o diga, o autor do livrinho - se não sofrermos da conjuntivite optimista provocada pelo pó de betão.
Os mais sofisticados e requintados olhares sobre Portugal não são - nem nunca foram - os do contentamento, mas os da angústia, desgosto, desespero ou mera pena pelo atraso em si do país e pelo medo das alucinadas tentativas de o superar: desde as reflexões ecianas sobre a recepção acrítica do futuro - e do utilitarismo oitecentista - enquanto avatar sebastianista, até ao hiper senso comum de Pulido Valente,como meio de análise e método de diagnóstico do delírio circunspecto (aqui tão cultivado, país de generalidades importadas).

Bom tempo, já outonal, ar tépido e dourado, etc.

terça-feira, setembro 25, 2007

In The Quiet Land
In the Quiet Land, no one can tell
if there's someone who's listening
for secrets they can sell.
The informers are paid in the blood of the land
and no one dares speak what the tyrants won't stand.
In the quiet land of Burma,
no one laughs and no one thinks out loud.
In the quiet land of Burma,
you can hear it in the silence of the crowd
In the Quiet Land, no one can say
when the soldiers are comingto carry them away.
The Chinese want a road; the French want the oil;
the Thais take the timber; and SLORC takes the spoils...
In the Quiet Land....
In the Quiet Land, no one can hear
what is silenced by murder
and covered up with fear.
But, despite what is forced, freedom's a sound
that liars can't fake and no shouting can drown.
Daw Aung San Suu Kyi

segunda-feira, setembro 24, 2007

Paula Rego em Madrid (80 telas, que não havia sítio em Portugal, diz ela, e eu concordo: nem sítio, nem disposição).
Viagem agradável em perspectiva.
Agradeço ao Bomba Inteligente e ao AnarcoConservador os parabéns pelos meus quatro anos de bloguices. Sim, gosto de Munch, bastante. Leia-se, sobre O Grito:

«I was out walking with two friends - the sun began to set - suddenly the sky turned blood red - I paused, feeling exhausted, and leaned on the fence - there was blood and tongues of fire above the blue-black fjord and the city - my friends walked on, and I stood there trembling with anxiety - and I sensed an endless scream passing through nature.»