quinta-feira, dezembro 27, 2007

Lembro-me do ambiente acolhedor do restaurante-bar do expresso de Hamburgo: algumas pessoas jantavam, outras tomavam apenas uma bebida, havia ainda as que liam os jornais. Ah e havia quem fumasse. Passados uns tempos, num comboio matutino, na Dinamarca, lembro-me de ver algumas mães que entretinham os filhos pequenos no micro jardim-infantil da carruagem (com jogos e brinquedos do combóio...). Lembro-me de sorrir com a pergunta que me fiz: daqui a quantos anos seria assim em Portugal? Na carruagem seguinte, uma parte com uma maquina de café e alguns sofás e mesas. Lembro-me (já o terei dito por aqui?), lembro-me do passageiro, com ar de um velho professor, vestido de escuro, com uma gravata preta esguia, que lia o Coração das Trevas de Conrad (uma edição antiga). Ah, e fumava.
Triste, pensava no longe que estávamos de tudo aquilo...

Agora, aqui, nestes tristes antípodas da Europa desenvolvida e civilizada, entre maus hospitais, péssimo ensino, governo medíocre, atraso geral, pobreza e fome (fome, em Portugal passa-se fome hoje e convém não esquecer nunca isso) sai a cretina lei do fumo, irritante, extrema, insensata, a roçar a crueldade no que vai tornar de mais difícil o já difícil quotidiano de um país cada vez mais pobre. Será para, com a irritação, esquecermos o cada vez mais longe que estamos da Europa, o mais pobres e sem futuro que agora somos?

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