sexta-feira, setembro 29, 2006

quarta-feira, setembro 27, 2006

Agradeço os parabéns e o Hopper ao Anarcoconservador.

A Charlotte, agradeço os parabéns, o toast e a citação de Beckett sobre Proust

terça-feira, setembro 26, 2006

Minuciosa formiga

Minuciosa formiga
não tem que se lhe diga:
leva a sua palhinha
asinha, asinha.
Assim devera eu ser
e não esta cigarra
que se põe a cantar
e me deita a perder.
Assim devera eu ser:
de patinhas no chão,
formiguinha ao trabalho
e ao tostão.
Assim devera eu ser
se não fora não querer.

Alexandre O’Neill

sábado, setembro 23, 2006

sexta-feira, setembro 22, 2006


anos de impensável...
Muito tempo, muito tempo!
Agradeço ao meus amáveis leitores a persistência, porque, como já deverão ter notado, isto não dá mostras de melhoras.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Tenho de convir que

O dr. Fernando Rosas, uma das minhas queridas antipatias de estimação, foi oportuno ao lembrar o escândalo do envelope (que motivou uma intervenção especial do então presidente da república) e que, apesar do pedido de celeridade feita pelo Dr. Sampaio, não está concluído, esgotados embora todos os prazos legais.

quarta-feira, setembro 20, 2006

- É, é o Brancusi, em 1925 no atelier dele. Fotografia do Steichen, sim. Uhm? Empoleirado num escadote, com certeza. Mas o que eu estava a dizer é que o Impensavel está um bocado seca.
- Está uma coisa soturna e o streap-tease não ajuda.
- As confidências?
- As confidências, os queixumes, tudo aquilo. Lá em casa já ninguém lê.
- Estive com ele no almoço da tua prima. Achei-o tristonho.
- Ele foi?
- Foi?
- Ao almoço.
- Foi.
- Ora essa, triste porquê?
- As coisas da Escandinávia. Parece que não lhe chegou... É a melancolia das latitudes.
- ?
- Aquela coisa do Gould, do pianista. O Norte e não sei o quê...
- Sagas? A Wallhala?
- Não... é mais brancos e buréis, frio.
- E vai no Verão?
- Fiquei com a impressão que no próximo, ao Canadá, não percebi bem. Não faz muito sentido. Agora, que ia a Londres, no princípio do mês. Olha, disse-lhe que também talvez fosse.
- E ele?
- Que sim.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Uma boa notícia nunca vem só: além do aniversário de Charlotte, a esquerda sofreu uma derrota histórica na Suécia!
Os maometanos continuam a exigir perdão depois do Santo Padre ter lamentado a interpretação (nem podia lamentar outra coisa senão isso). Esta exigência dos muçulmanos parece-me puro capricho e gosto por humilhar, embalados que vão com a vitória alcançada com o assunto das caricaturas.
Espero sinceramente que o Vaticano não ceda.
Pergunta em noite de insónia:

Mas afinal o que trouxe de bom e de novo o islamismo?
"Entre as religiões, o islão deve ser comparado ao bolchevismo e não ao cristianismo ou ao budismo. O cristianismo e o budismo são antes de tudo religiões pessoais, com doutrinas místicas e o amor da contemplação. O islão e o bolchevismo têm uma finalidade prática, social, material e o seu único objectivo é estender a sua dominação sobre o mundo"
Lord Bertrand Russell, lógico, filósofo pacifista, Prémio Nobel 1950

domingo, setembro 17, 2006

O ruído de uma civilização no seu fim - refiro-me ao Islão - aliado às estridências de uma esquerda senil não são suficientes para estragarem a suavidade deste domingo.

P.S. Se tudo isto não ocasionasse muitas vítimas, podíamo-nos rir um pouco da estranha aliança entre o relativismo europeu e norte-americano e o absolutismo islâmico.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Depois de ter lido o discurso de Sua Santidade o Papa Bento XVI vi um senhor na televisão, muito douto, a explicar que o Santo Padre citou o Corão a despropósito e mais não sei o quê. Fiquei com a sensação de que é preciso ser muito, muito culto, um erudito, para falar sobre o Islão sem ofender os muçulmanos que, ao contrário dos cristãos, são muito ciosos da sua crença e zangam-se - coisa que os cristãos não têm o direito de fazer (nem a necessária paciência).
Da próxima vez que ocorrer uma lapidação ou amputação, o que devo fazer de correcto face ao entendimento do Corão? Possso indignar-me, achar que tudo aquilo é uma terrrível selvajaria ou devo calar-me em respeito às especiais susceptibilidades dos maometanos, tentando compreender as vantagens da suposta desumanidade e admitir que a minha indignação que me parece tão natural é, afinal, toda ela feita de ignorância?
Espero que, nessa ocasião - que, como cristão, tenho a esperança que não chegue - os eruditos do islão expliquem como interpretar correctamente tais actos de que o meu cristianismo obnubila o significado ou me alegrem, afirmando claramente que apedrejar alguém até à morte ou até «meramente» amputar são medonhas coisas.

Leiam o discurso papal. E se tudo o que o Ocidente é de bom, da Magna Carta aos antibióticos, da democracia à genética - passatempo de monges -, digamos, apenas foi possível por ter entendido Deus do modo como o fez e o Santo Padre magistralmente explicou?
...mas convinha primeiro ler o discurso todo.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Ontem, com grande gosto e genuína saudade vi e senti chover - saudades curiosas, por extraordinarimente específicas do chover daqui, já que chuva foi coisa que não faltou nas minhas férias.
Aproveitei e adiantei a Paglia. Reli depois, já na cama, umas páginas do Comendador de Camilo. Hoje, dia sossegado, com saída para compras pacatas. É hoje que é o House? entre a Fox e a 4 (é a 4?) acabo por perder tudo. E tudo é as donas de casa, o da mafia e o house. Nunca sei os nomes.

P.S. Ah, o Sexual Personae lido em castelhano, que salero ganha!

quarta-feira, setembro 13, 2006

Bons momentos: aqui com FJV e aqui com vários post (destaque para João Miranda e os seus erros americanos e o Mundo de Mário).

terça-feira, setembro 12, 2006

Aquietam-se os sentidos, de novo é necessário o bom senso do sentir, ouvir velhos conselheiros da nossa mortal natureza; alija-se da pele o torpor tenso, do olhar a rapidez do monótono esplendor. É preciso, ao invés, agora, perscutar os bosques onde as ninfas (sabe-se isso, onde as ninfas se escondem) por entre a folhagem e a sombra se escondem.
É o Outono, é o Outono, Exceeding Glad Shall He [We] Be!
Rejoice!
Rejoice!

domingo, setembro 10, 2006

Renoir, O almoço dos remadores
Durante muito tempo associei este quadro - e um outro, muito idêntico - aos contos fluviais de Maupassant. Com o tempo, essa associação desfez-se (mas porquê, «com o tempo»? Tsc, tsc...) mas continuo a pensar nestes festejos aquáticos como domingueiras coisas de Verão.

sábado, setembro 09, 2006

Tomei ontem a 1ª dose, não da vacina da gripe, mas a da ligeireza: tinha tido os primeiros sintomas há dias, quando achei já não sei o quê muito interessante e mais não sei o quê muito bem achado e duas ditas já não sei de quem muito inteligentes e já não sei quem muito espirituoso e não ri quando, a crer em crónicas de jornais, artigos de fundo, blogs de fundo, confessionais et coetera, Portugal estaria necessariamente povoado por génios universais, deste novo tipo displicente, que parecem os seus membros tão geniais que nem dão por isso.
Esta 1ª dose terapêutica consistiu no «Lágrimas e suspiros» do Ingmar Bergman - um realizador inteligente e pouco dado a facilidades - vista ontem, às quatro da manhã (ignorando os meus próprios protestos).
Verifico, agora, que aquela dose de verdade sem complacências e desonestidades medíocres começou a fazer efeito e já hoje voltei a achar tudo mais comezinho e a rir dos problemas e achados (alguns dos meus, alguns outros alheios).

sexta-feira, setembro 08, 2006

Ninguém fala de Paul Valéry...

Les pas

Tes pas, enfants de mon silence,
Saintement, lentement placés,
Vers le lit de ma vigilance
Procèdent muets et glacés.
Personne pure, ombre divine,
Qu'ils sont doux, tes pas retenus !
Dieux !... tous les dons que je devine
Viennent à moi sur ces pieds nus !
Si, de tes lèvres avancées,
Tu prépares pour l'apaiser,
A l'habitant de mes pensées
La nourriture d'un baiser,
Ne hâte pas cet acte tendre,
Douceur d'être et de n'être pas,
Car j'ai vécu de vous attendre,
Et mon coeur n'était que vos pas.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Mas eu interesso-me por estas coisas? As Farc aqui, o governo, a gaffe, o outro que disse? Não.
Disso, quase apenas pela geografia do difícil arquipélago da boa e da má fé, dos ilhéus minúsculos que obrigam a rota a ser aquela ou soçobrar-se e pela condenaçao de qualquer partir, de qualquer ida, a uma supérflua coisa inquinada pela certeza.
A resposta do menino do pcp às questões levantadas na Assembleia da República sobre a presença de criminosos da Farc em Portugal é um notável exemplo de desonestidade e um exemplo ainda mais notável de honestidade.

Espero que tal honestidade reapareça no dia 11 de Setembro, tanto a propósito do ataque a NY quanto à deposição do grande democrata* Salvador Allende, o presidente chileno que recebia uns dinheiros do KGB.

* este itálico é "cotovelada & ahã? ahã?" mas fica.
O PCP convidou para a sua festa, que está na moda tratar de um modo que roça o sentimental kitsch, uma organização tenebrosa, de nome FARC que, entre outros crimes (tráfico de drogas em grande escala, coacção, maus tratos, assassinatos, etc.) mantém em sequestro, desde 2002, Ingrid Bettencourt, uma candidata à presidência da Colômbia na altura, para não falar de centenas de outros reféns menos conhecidos. De tudo isto, dos ataques homicidas das FARC contra a população civil e indefesa, têm conhecimento os responsáveis do PCP e o simpático Jerónimo e tudo isso não foi suficiente para evitarem o convite. Aliás, porque evitariam? E fazem-no com a cumplicidade de toda essa gentalha que anda por aí, a indignar-se.
Não esqueçamos isso e, já agora, atentemos na resposta do governo de Sócrates ao representante da Bolívia, o Embaixador daquele país e do seu governo democrático que protestou pela presença em Portugal dos assassinos e terroristas da FARC, classificada como tal pela UE.
Quando perguntei por Chestov, passei a ter direito a uma escolta amável e competente. "Malhereusemente, pas encore sur internet". De facto. Pensei, na altura, o estranho de ter sido ali que me lembrava, afinal, de comprar Chestov. Hoje reli sobre a onda de calor de há dois anos e das centenas de cádaveres que ficaram por reclamar nas morgues de Paris, e revi a minha breve guia, si rive gauche, seguramente tão laica quanto frequentadora da Av. Montaigne que, neste tempos, se volta para a analytical philosophy e textures de branco linho.

terça-feira, setembro 05, 2006



A propósito do calor, leia-se Júlio Dinis - que escreve admiravelmente e muito me permito recomendar a quem não o leu.
Este calor aqui descrito não é o de hoje e ontem, fora do seu tempo, excessivo e malsão. É um calor solisticial de Junho ou Julho, leal e franco.
Mas leia-se:

"Era meio dia, um meio dia de verão ardente, asfixiante, calcinador, a hora em que tudo repousa, em que as aves se escondem na folhagem, as plantas inclinam as sumidades, desfalecidas de seiva, e os ribeiros quase nem murmuram, de débeis e exaustos que vão.
Nem uma ténue viração fazia sussurrar as alamedas e os soutos nos vales ou os pinheiros dos montes.
Apenas pelas sarças volteavam, como em danças caprichosas, enxames de insectos alados, sendo o seu zumbido importuno, ou o cantar longínquo dos galos, os únicos sons a interromperem o silêncio daquela hora.
Os caminhos e os campos estavam desertos; povoadas e fumegantes as cozinhas, onde a família do lavrador se reúne para a refeição principal do dia.
Mas quem estendesse a vista pelo extenso lanço de estrada a macadame, que corta em linha recta a povoação, e onde, naquele momento, o sol batia em cheio sem ser impedido por a menor folha de árvore, ou beira de telhado, descobriria o vulto de um cavaleiro, caminhando a trote e envolto na densa nuvem de poeira, levantada pelos pés da cavalgadura.
Este cavaleiro era João Semana.
Trajava com toda singeleza o velho cirurgião. Um fato completo de linho cru, botas amarelas de solidez de construção, à prova de todo o tempo, chapéu de palha, de abas descomunais, tudo abrigado daquele sol canicular por uma enorme umbela de paninho vermelho, rival em dimensões de uma tenda de campanha, eis o vestido característico do nosso homem.
As rédeas flutuavam à solta, sinal evidente da distracção do cavaleiro e dos admiráveis instintos e superior discrição da alimária, que mostrava conhecer a palmos o caminho de casa e para ela se dirigia mais apressada que de costume.
Causava dó olhar para a fisionomia de João da Semana naquela ocasião. As faces de vermelhas, que naturalmente eram, quase se lhe haviam feito negras; o suor corria-lhe, como lágrimas pelas faces abaixo.
Mas o heróico octogenário não desanimava. Sorvia filosoficamente a sua pitada, assoava-se com ruído, e soltando depois um desses ahs, bem guturais - eloquentíssima expressão das delícias que o olfacto pode proporcionar a um mortal - dava mostras de consolado.
De caminho, ia João Semana lançando um olhar de comiseração para os milhos dos campos adjacentes à estrada, algum do qual o calor e a escassez das águas tinha definhado; e ao contemplá-lo parecia mais sentir por ele, do que por si, a insuportável temperatura daquele ambiente.
João Semana era também proprietário rural, e portanto, apaixonado pela lavoura, conhecedor das leis de cultura, e experiente prognosticador do futuro das novidades agrícolas; por isso, examinando com profunda curiosidade o aspecto dos campos, cujos donos pela maior parte conhecia, quase chegara a esquecer-se de que um ardentíssimo sol lhe dardejava sobre a cabeça raios ameaçadores, tentando em vão exercer naquela robusta constituição a sua influência maligna.
A égua é que não se esquecia assim facilmente disso, e, cada vez mais rápida, procurava furtar-se a tão incómodo calor, e ao seu inevitável cortejo de moscas, que a traziam impacientemente, não obstante os folhudos ramos de carvalho, com os quais João Semana lhe enfeitara o pescoço.
Depois de cinco minutos mais de trote acelerado, tomou o pobre animal, com manifesta ansiedade e sem esperar sinal do cavaleiro, por uma rua estreita, que abrindo-se ao lado esquerdo da estrada, seguia, sob espesso toldo de verdura por entre duas quintas fronteiras.
Era um oásis, depois do deserto."

As Pupilas do Senhor Reitor

domingo, setembro 03, 2006

Estes calores medonhos que têm assombrado os setembros dos últimos anos, retirando-lhes a subtileza macia que contrasta e sublinha* os laivos do mosto, deixam-me prostrado de indignação. Por isso, só hoje achei forças para blogar, sendo certo que cheguei aqui no sábado. O estado de estupor provocado por tanta e tão boa pintura também contribuiu para que me quedasse pelo folhear dos guias e catálogos das exposições, num estar manso de menino bem-comportado. Acabei por não ler o Chestov e comprei no Thyssen a tradução castelhana do Sexual Personae de Paglia que tenho lido, divertido, com el Amor brujo a acompanhar.

* É mesmo assim, não retiro nem uma palavra: contrasta e sublinha.