quinta-feira, outubro 28, 2004

Declara-se, solenemente, que o signatário não tem quaisquer interesses económicos ou de outro jaez nas empresas envolvidas.
Dito isto:
Que o café é muito bom, é. E o design da máquina idem.
Começo o dia com um Livanto e...
Vejam...
O Rua da Judiaria fez um ano. Em nome da reciprocidade deveria abster-me raivosamente de mencionar a efeméride. Não posso, porém: o Rua da Judiaria tem-me fornecido informação interessante, fruto de trabalho onde se adivinha comprometimento, seriedade e interesse. O Impensavel, por seu turno, é um blog de impressões dilettantes. Perante situações tão diferentes, invocar a reciprocidade? Não! Parabéns!

O Impensavel ainda não descobriu onde está a informação das datas de fundação dos blogs. Cumprimentador por natureza, vê-se, por isso, afastado das comemorações. Agradece-se, sem alvíssaras, a quem elucide.

quarta-feira, outubro 27, 2004

Tenho seguido, desatentamente, as notícias da prisão de vários portugueses na Venezuela.
Não sei se estão inocentes ou culpados ,mas todos eles, inocentes e culpados, se os houver, tiveram sorte, muita sorte em serem presos na Venezuela, país do 3º mundo, e não no ridente Portugal de "brandos costumes"
Na Venezuela os interrogatórios apenas podem ser efectuados das sete da manhã às sete da noite - e não, como em Portugal madrugada fora, sem limite de tempo - os arguidos têm acesso a todo o processo e, desde que estejam presos preventivamente, a acusação tem de ser deduzida em 20 dias (1). Se não o for, serão libertados.
Ou seja, nada de semelhante à barbárie portuguesa.
Interessante é relembrar as vozes que, aqui, ainda recentemente, se levantaram para defender o nosso código de processo penal. Diz tanto sobre nós, este sereno convívio com a brutalidade e a desumanidade...

(1) Prazo em Portugal, normal 6 (seis) meses, mas pode chegar a 1 ano (um ano). E já agora, emendo "sereno". Leia-se entusiasta.

terça-feira, outubro 26, 2004

A noite passada tive frio, daquele frio agradável de se ter, por ser o remédio dele uma peripécia pequena e fácil. Antes, lá fora, tinha observado o nevoeiro. O silêncio é feito daquele mesmo granulado de penumbra e espera.

Desfaço-me do branco e adopto este azul para o que vem, o cair raso e macio, de passos lentos.

segunda-feira, outubro 25, 2004

Uma senhora deputada do PS que, penso, já foi secretária de estado de assuntos referentes ao arrendamento, quer introduzir modificações ao novo regime de forma a evitar "despejos por raiva". Acho que sim. E que, sendo a raiva uma nefasta emoção, deve a deputada apresentar projectos de legislação anti-raiva em todas as actividades económicas. Diria mesmo, a vacina anti-rábica deveria ser condição para se exercer qualquer actividade económica.
E empresa criada, negociação, novo produto lançado no mercado, tudo deveria sofrer o escrutínio de uma comissão - com algumas centenas de membros seráficos, de nomeação parlamentar, que certificasse as boas intenções das partes.
Linkou o Impensavel que muito obrigado, agradece, o Binoculista.

sábado, outubro 23, 2004

A previsão era de ventania, de temporal desfeito. Esteve um dia glorioso, uma tarde magnífica como só as têm Outubro e o Outono e a noite está muito calma, muito serena. Não tenho é ninguém com quem a partilhar, nem que seja para uma simples passeata. A culpa é minha, todavia. Confiado nas previsões do Intituto Nacional de Meteoreologia, bastante mais sombrias do que se podia prever pela observação destas, resolvi ficar por aqui, enquanto os incautos se derrramavam por concertos, jantares e passeios. O meu programa para este fim-de-semana era, em suma, a recolha sumarenta, amanhã, dos relatos das desditas dos desgraçados, a quem eu iria consolando, não sem lhes relembrar que bem lhes tinha dito, velho sábio avisado, que não estava tempo para sair.
Ao invés, ficarei a remoer, aborrecido e amuado, os relatos que não me diexarão de fazer em retaliação.
Que tire daqui uma lição: entre as previsões europeias e as norte-americanas, não hesitar, doravante, em seguir as últimas.

quinta-feira, outubro 21, 2004

Where I am, I don't know, I'll never know, in the silence you don't know, you must go on, I can't go on, I'll go on.

Samuel Beckett, The Unnamable



quarta-feira, outubro 20, 2004

"Vou descansar no cinza húmido destes dias" Isto não é uma frase, é um lugar comum, trivial, um sintoma dessas sensibilidades que andam por aí nas promoções da metáfora pronto-a-vestir e que há trinta anos faziam "efeito". Estão gastas, felizmente, mas são baratas e não se resiste à pechincha.
Não descansei nada, estive irritado e preocupado, farto da ventania. Outro dia medíocre, folheei o TLS que chegou e mais nada. E agora reparo nesta outra pechincha, mais dvdosa(1) e modernaça mas que vai dar no mesmo, é o ar confessional hodierno, a gente finge confessar nadas em má prosa e que sim, que é assim mesmo, muito spleen, busca-se aquiescências e, vá lá, já adivinharam, cumplicidades, ainda se diz, sem tremolos. Que desonestidade, que falta de vergonha na cara, este fingir que se disse tudo, que se desabafou, oh o culto da fragilidade, do "eu sou isto" ou o mais sofisticado naif e oculto, o compungido: "se eu fosse apenas isto", outra impostura bondosa quando se é pouco mais, segundo tudo leva a crer, que esse lamento fingido e verdadeiro. Enfim, o que me tem animado é o Gilgamesh. Não fora o Gilgamesh, em boa hora comprado, e estaria a contas com um Outubro muito desagrádavel. Sério.

1 - é da interioridade, o dvd ainda é uma novidade. Há muito que não se pergunta, "Já há em dvd?" que há sempre, se não da zona 2, da zona 1, - a famigerada zona 1... -mas eu fiquei com esta no ouvido. E há, de facto: "Comprei o pack do Dreyer". Tem de se convir: é dvdoso. Eu acho.

terça-feira, outubro 19, 2004



Goya, Caprichos

Estou de mau humor, noto ao ler alguns "posts" recentes. Talvez o Verão prolongado, talvez outra coisa qualquer. "Ninguém se conhece".
Vou descansar no cinza húmido destes dias.

segunda-feira, outubro 18, 2004

Gosto de ouvir Paula Rego "contar" as suas obras. No outro dia, na televisão, contava alguns das telas que estão em Serralves. Duas delas são inspiradas na vinda para o Estoril de algumas famílias reais europeias e acompanhantes, durante a II Guerra Mundial. Numa delas, contava, um rapaz, português, está de braguilha aberta, pronto a ser abusado por um estrangeiro, presumivelmente um aristocrata, pois então. Que asssim era, como, aliás se dizia e sabia, asseverava Paula Rego. É coisa que sabemos bem que assim era... se optarmos, como Paula Rego optou, talvez malgrè elle, pelo mito do Portugal rural, vivendo uma perene idade de ouro como o entendia o salazarismo: aqui imperaria o bucolismo virtuoso de todo um povo laborioso e feliz e, lá de fora, da Topia, vinham as ameaças, as perversões que contaminariam o bom povo português. Isto é xenofobia, preto no branco demagógico, mitificação primária. É que não era assim aqui, terra da branda violência, terra sem estatisticas - que são obra do diabo -, mas fica mal dizer, ou saber que situações de abuso infantil ocorriam naquela alegre casa aldeã, ou naqueloutra do operário neo-realista, talvez membro do partido.
Ah, falta dizer que os aristocratas estrangeiros abusadores da mocidade pátria, não fazem parte do círculo de grandes pensadores, intelectuais e artistas de esquerda a quem tudo é, foi, evidentemente, permitido. Que o irmão do Conde Balthus produzisse pornografia para consumo de Gide et coetera é assunto que apenas gente de somenos pode não perceber.
Ver Paula Rego, sempre. Ouvi-la? Tsc, tsc.


quinta-feira, outubro 14, 2004

A mudança de colónia mostrou-se desastrosa: estive todo o dia à espera que servissem o chá e sandwiches de pepino a lamentar-me por ser pouco original e honesto - se bem que, devo dizer, a minha desonestidade consista, maioritariamente, num atabalhoamento de propósitos - e ao lanche comi quantidades desusadas de pão com manteiga.
Verei, hoje à noite, "The importance of being Earnest". Aconselho esta versão, que frequento há bastante tempo.
Para aguçar curiosidades a quem possa não ter ainda lido ou visto, esta extradordinária fala de Lady Bracknell:

"LADY BRACKNELL: Well, I must say, Algernon, that I think it is high time that Mr. Bunbury made up his mind whether he was going to live or die. This shilly-shallying with the question is absurd. Nor do I in any way approve of the modern sympathy with invalids. I consider it morbid. Illness of any kind is hardly a thing to be encouraged in others. Health is the primary duty of life. I am always telling that to your poor uncle, but he never seems to take much notice . . . as far as any improvement in his ailment goes. Well, Algernon, of course if you are obliged to be beside the bedside of Mr. Bunbury, I have nothing more to say. But I would be much obliged if you would ask Mr. Bunbury, from me, to be kind enough not to have a relapse on Saturday, for I rely on you to arrange my music for me. It is my last reception, and one wants something that will encourage conversation, particularly at the end of the season when every one has practically said whatever they had to say, which, in most cases, was probably not much."


Linkaram o Impensavel, que agradece muito obrigado, o Sedentário, o Brain Damages, o Stand Up Comedy e o Blog do Marcelo.

quarta-feira, outubro 13, 2004

O Houaïss, que comprei contra vontade, não refere o vocábulo "sinecismo".
No Google a resposta foi imediata.

Justificava-se a minha relutância.

Ontem à noite, no "Dossier Bergman" revejo o acordar da irmã moribunda de "Lágrimas e suspiros". Os gestos matutinos, neutros, "físicos", e depois o pavor, o despertar para a morte que é o despertar para a nossa humanidade, o locus de onde concretizamos a nossa singularidade.

Depois disto, deitei-me, li umas páginas do Diccionario do Pinho Leal, e acordei para este dia sem sequelas, envolto na suave e agradável luz da rotina. Apesar de tudo, e por precaução, mudei de água de colónia. A de ontem - uma das preferidas por Churchill, the bully, criada em 1902, tornou-me estranhamente buliçoso e o Bergman às 3 da manhã não é para repetir. Optei, por isso, por uma outra que me parece propiciar um après dîner mais calmo.
Bom tempo, apesar do vento. Vou passear.

terça-feira, outubro 12, 2004

O Impensavel desfaz equívocos

Não, Caro Mia Pouco, este impensável não é o blog do diligente Jorge Reis com hífen Sá, dinâmico editor e admirador de não-sei-quem Tavares Rodrigues que foi entrevistado há dias por Ana Sousa Dias.
O autor deste blog nunca foi dinâmico ou promissor e embora não se congratule com essa falta de qualidades, não deixa de se orgulhar com o facto de que, daqui, nada há a esperar senão a velha portuguesa preguiça e a conservadora desconfiança pelas novidades, sejam elas instituições, ideias, ou pessoas.
Vou passear que o dia está muito bonito.

segunda-feira, outubro 11, 2004

Finalmente, uma temperatura decente. Tenho de aproveitar para pôr as leituras em dia e desbate dos montículos de papelada espalhados por aqui e acolá.

Logo, ouvirei a comunicação do primeiro-ministro. E já agora, esclareço a minha opinião sobre o governo actual, antes que se formem, sobre o assunto, incontroláveis correntes hermenêuticas: não é grande coisa, este governo. Mas os outros que o antecederam - e refiro-me a muitos outros - não eram muito melhores, ou sequer melhores: não me parece abusivo dizer que todos os governos da 3ª república se têm pautado pela cobardia, evitando reformas que, reconhecidas embora como fundamentais, não foram feitas pelo simples motivo de que não seriam populares. Infelizmente, não vi ninguém dedicar-se a denunciar esse populismo conformista e imobilista que nos foi empurrando para a cauda da Europa.
Por isso, estranho agora o afã, como se a pátria estivesse, hoje, mais em perigo do que esteve (e está) sempre que uma reforma foi e é adiada.

Subitamente senti-me mais desperto, exclamei: "mas eu tenho muita coisa atrasada para ler!" Revolvi livros, estabeleci prioridades, pu-los por ordem. Nem era preciso confirmar. Mas fui verificar. Era verdade: uns retemperadores 12º C, esta noite, agora! Passou o pesadelo das temperaturas saharicas, sinto os neurónios a mexer, oiço-lhes o ranger.
O Outono chegou, completo.

domingo, outubro 10, 2004

O Chiado já não é a "ladeira vaidosa" (Ramalho) de que eu, em criança, conheci os últimos resquícios, mas já não é, também, a velha senhora que já ninguém visita e vegeta desolada e de todos esquecida do início dos anos 90.Ontem, sábado à tarde, estive lá e se é certo que não encontrei ninguém meu conhecido, não deixava de haver gente e movimento. Comprei uma gravata, abasteci-me de café e, na Fnac, comprei os "packs" de Woody Allen e Ingmar Bergman. Quase contente, descia pela Rua do Carmo, o que, tal como a Garrett, fiz pelo lado errado, quando os petits-four da desaparecida Martins & Costa de boa memória, pela ausência, me restituíram ao desgosto do tempo perdido, por um mecanismo inverso, mas semelhante ao das madelaines.

sexta-feira, outubro 08, 2004

«Cada vez se percebe mais que o "PPD-PSD" não é o PSD, mas um pequeno grupo que se comporta como tal», escreve JPP citado no Blasfémias. Duas leituras: ou o pequeno grupo se comporta como o PSD e, nesse caso, é de a gente se perguntar como é que se percebe que não é o PSD, ou comporta-se como um pequeno grupo que finge - mal - ser o PSD, o que levanta o problema de saber o que é o "verdadeiro" PSD e se há possibilidades de começar a fingir mais eficazmente, (embora o problema resida em saber o que fingir, exactamente). Em ambas as hipóteses, parece que estamos, "mutatis mutandis", em face de uma tese idêntica à que assevera que o regime que vigorou na ex-URSS não era o "verdadeiro" socialismo e que, no fundo, demonstra as dificuldades da desilusão.
Mas aqui, no nosso caso, há, no entanto, um modo de saber se o pequeno grupo é, ou não é, o "verdadeiro" PSD: os ilustre deputados daquele partido, actualmente em funções, não foram escolhidos pelo "pequeno grupo", pelo que terão possibilidades de pertencerem ao "verdadeiro" PSD. Dado que é de crer que o verdadeiro PSD é constituído por homens de firmes convicções e princípios, não deixarão de demonstrar a sua têmpera, através de iniciativas parlamentares adequadas. E existem os congressos, onde estarão ainda outros homens de firmes de convicções e princípios que serão o "verdadeiro" PSD e mal será que não tomem as atitudes que os seus princípios exigirão.Parece que há votos por inerência. Sabia do problema. Espanta-me apenas que o "verdadeiro" PSD não tenha já corrigido esse mal, que tenha coexistido com ele ao longo de tanto tempo. É da gente pasmar, convenha-se.
Fico à espera do que se passará.

E esta ventania? Aqui, o vento começa a rodar para Sudoeste, depois de fortes rajadas de Sul


"Apolo's temple"
Roy Lichtenstein

quinta-feira, outubro 07, 2004

Acesso difícil ao blog, foi um post ao ar. Sem importancia: lamentava-me do calor e desditas da tarde e acabava por declarar que desejaria emigrar para um país mais frio. 21º agora, às onze e um quarto. Dentro de casa, um ar abafado e calor, inútil tentar ler ou fazer qualquer coisa.
Fui ver o que dizia conspirava JPP sobre o caso do dia. Encontrei o "rigorosos e especiosos"
É evidente que as palavras do ministro são, por si, uma pressão, e entendidas como tal num país onde ainda é possível o uso de argumentos tão imberbes e palermas como o do contraditório sem que se erga uma imensa gargalhada, onde existem orgãos com nomes saídos de uma opera burlesca (a Alta Autoridade), e todos os dias cria no seu seio novas atitudes inanes (a especiosidade de que fala JPP, tão típica num país de legistas), com tão mais entusiasmo quanto a sua observação conduziria à inacção legítima.
Mas isto tudo não quer dizer que o governo, para além do que em público fez - o que seria grave, se houvesse coisas graves em Portugal - tivesse feito mais em privado. Não creio que o tenha feito, já por medo, já por mera inépcia - e este pôr de lado as "hipóteses virtuosas" é já um mau modo de ser português, de que me penitencio.

Eu não creio que o governo tenha feito pressões sobre a TVI, descontadas as declarações e queixumes do ministro. E não creio, porque, quem pode ameaçar e ameaçar eficazmente, não se lamenta. Ora, ameaçar o Eng. Paes do Amaral, que além de engenheiro, é conde, rico, um membro do verdadeiro stablishement nacional não é coisa que caiba nas competências do actual governo, onde há ministros novos, com filhos, se não eles mesmos, ainda a precisarem de emprego - e com o futuro e a família não se brinca. Não! O que me parece é que, com a inépcia do ministro Silva, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que já andaria a pensar sair da TVI, encontrou maneira de o fazer do melhor modo possível, criando a suspeita de ter sido silenciado, de ser uma vítima do actual governo... Poucos o saberiam fazer tão bem e provocando tanto dano.
Também se pode ter dado, é claro, o caso de uma real pressão, mas desconfio... atendendo ao exposto.
A não ser, claro está, que se tivesse tratado de pura inconsciência.
Contudo, este "tudo é possível" circular, beneficia o Prof. Sente-se o golpe de mestre.
Uhm...
Se foi, de facto, um golpe dele...
Desse dia 7 de há muitos anos, primeiro de escola, nada lembro senão a recomendação ao professor: "Pulso forte, pulso forte", erupção da rudeza nacional numa educação que se pretendia "como lá fora", mas que não tolerava "rebeldias". Não precisava de pulso forte coisa alguma.

segunda-feira, outubro 04, 2004

Dia de S. Francisco de Assis

Cântico das Criaturas

I

Altíssimo, omnipotente,
Bom Senhor,
Teus são o louvor, a glória,
A honra e toda a bênção.

II

Só a ti, Altíssimo, são devidos;
E homem algum é digno
De te mencionar.

III

Louvado sejas, meu Senhor,
Com todas as tuas criaturas,
Especialmente o senhor
Irmão Sol,
Que clareia o dia
E com sua luz nos alumia.

IV

E ele é belo e radiante
Com grande esplendor:
De ti, Altíssimo, é a imagem.

V

Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formaste claras
E preciosas e belas.

VI

Louvado sejas, meu Senhor.
Pelo irmão Vento,
Pelo ar, ou nublado
Ou sereno, e todo o tempo,
Pelo qual às tuas criaturas
Dás sustento.

VII

Louvado sejas, meu Senhor
Pela irmã Água,
Que é mui útil e humilde
E preciosa e casta.

VIII

Louvado sejas, me Senhor,
Pelo irmão Fogo
Pelo qual iluminas a noite.
E ele é belo e jucundo.
E vigoroso e forte.

IX

Louvado sejas, meu Senhor
Por nossa irmã a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.

X

Louvado sejas, meu Senhor
Pelos que perdoam por teu amor,
E suportam enfermidades e
Tribulações.

XI

Bem-aventurados os que as
Sustentam em paz,
Que por ti, Altíssimo,
Serão coroados.

XII

Louvado sejas, meu Senhor
Por nossa irmã
A Morte corporal,
Da qual homem algum
Pode escapar.

XIII

Ai dos que morrerem em
Pecado mortal!
Felizes os que ela achar
Conforme à tua
Santíssima vontade
Porque a morte segunda
Não lhes fará mal!

XIV

Louvai e bendizei a
Meu Senhor,
E dai-lhe graças,
E servi-o com grande
Humildade.

domingo, outubro 03, 2004

Fui comprar cigarros, a uma "grande superfície", pensando poder passear, solitário, pela bucólica álea dos detergentes - já aqui disse e reitero: uma das mais interessantes - e encontro uma multidão, melhor, pequenos cardumes a disputarem iscos variados (software, dvds, mostra de vinhos e enchidos).
Voltei para casa.



sexta-feira, outubro 01, 2004

Hoje o vento que sopra vem do mar e do verão que já foi. Aqui, no vidro da janela, depõe as imagens do caminho longo: a voluta transparente de ar fresco, o flectir da ramagem, o gesto que se protege da poalha fresca, a lembrança daquele sítio, passadas as casas,lá sobre o mar, de que nos fala Emily Dickinson:

Contentamento é a ida
De uma alma do interior para o mar
Passadas as casas - passados os promontórios -
Até à profunda Eternidade

Criado como nós, entre montanhas,
Pode o marinheiro entender
A intoxicação divina
Da primeira légua longe da terra?