terça-feira, setembro 28, 2004

28º C a esta hora, em fins de Setembro, convenha-se que é demais. Por mim, a política está traçada: enquanto reinar esta insensatez não faço seja o que for. Repito: absolutamente nada.
Noite dedicada a La Rochefoucauld.
O pessimismo lúcido (porquanto também há o pessimismo ingénuo), parece-me o melhor ponto de observação para encontrar e estabelecer algumas dúvidas menos firmes, e nesse terreno alagadiço e moldável, erigir possibilidades, acreditar, apesar de tudo, em redenções - na sagrada, única, ou nas profanas.

segunda-feira, setembro 27, 2004

sábado, setembro 25, 2004

Novos Links

Linkaram o o Impensavel o Hardblog, o Portas de Santana, o Garfiar, o Classe Média, Babugem e o Contra a Corrente.
O Impensavel agradece, grato, e pede desculpa pela demora com que o faz.

Ao Contra a Corrente agradece ainda a simpatia com que se referiu ao Impensavel.

sexta-feira, setembro 24, 2004

La Rochefoucauld, Maximes (Écartées): "La ruine du prochain plaît aux amis et aux ennemis"

quinta-feira, setembro 23, 2004

O Anarca, a quem agradeço reconhecidamente os parabéns, está em maré grega ( honny soit, etc etc...) e polvilha o seu blog com imagens que muito devem agradar à Bomba, Mme. de Jouarre cibernética. Ambos parecem comungar do mesmo gosto pelas modernices supérfluas, sendo certo que depois de Gilgamesh nada de relevante aconteceu em literatura. Epopeia por epopeia, caro Anarca, é esta que deve ler, não a Odisseia que fontes bem informadas me confidenciaram, com desgosto, ocupar os seus magros tempos de leitura.
Caso partilhe do lamentável quase geral desconhecimento do acadiano, leia esta tradução que a livraria muito bem classifica como roman contemporain.
Perdi um longo post em que longa, respeitosa e afectuosamente agradecia a Charlotte os parabéns pelo dia de anos do Impensavel e o seu gosto pelo blog.
Dedicava-me, depois, a consideração desagradáveis sobre o tempo, a morte do antigo calendário de vilegiatura e acabava a gabarolar-me da minha decisão de em férias me considerar e nada fazer enquanto o calor não desaparecesse.
Ia iniciar algumas considerações (breves) sobre o Outono, quando decidi interromper e publicar o que estava. Sobreveio, então, a catástrofe e vi-me sem nada do que havia escrito.
Perturbado ainda, passo à parte pictórica da minha homenagem a este Outono de quente começo.



"Les bagneuses" de Fragonnard


quarta-feira, setembro 22, 2004

Pensei, primeiro, que era a 29, mas ontem fui ver e é hoje que faz um ano que iniciei o blog.
E cá está, como começou: sem um objectivo, um desígnio, uma intenção. Passados que são já os entusiamos do início - que passam rapidamente - e tendo pouco a festejar e nada a lamentar, seduz-me a ideia mesma de duração, que em Portugal - e em mim - se corporiza numa jactância leve: "por cá estamos, menos mal, mais um ano, sim senhor", o anúncio público de que, apesar de tudo - e esse "tudo" é um universo largo e presumidamente hostil, prenhe de coisas desagradáveis que podiam muito bem ter acontecido só para nos prejudicar e aborrecer- de que, apesar disso, dessa "má vontade" difusa, nos achamos não desprezíveis seres, por muito que o nosso maior empenho não seja outro senão o de irmos estando.
E por isso cá estou, cá vou estando.


terça-feira, setembro 21, 2004

"E nós os sete Portugueses que a este tempo, como ja disse, estauamos na praça para nos venderem em leylão, tomamos por remedio mais certo da nossa saluação tornamonos a meter na mazmorra, sem que ministro algum da justiça ou outra pessoa nos leuasse, ou fosse com nosco, ouuemos que em o Mocadão carcereyro della nos meter das porta a dentro, não nos fazia pequena mercê."

Fernão Mendes Pinto, Peregrinação

A estratégia surtiu efeito. Continua a ser aplicada.

segunda-feira, setembro 20, 2004

Regressado definitivamente a casa e disperso pelas temíveis tarefas do "mettre en train" de toda uma estação, só hoje me apercebi que há uma bolsa de blogs, que o Impensavel está lá cotado e que alguém named John comprou e vendeu acções. As características da operação levam-me a supor que este pobre blog faz parte de um recôndito e exótico mercado emergente de alto risco onde se aventura gente sem crédito nem ética. Farei, assim, todos os possíveis para que nada ganhem.

Charlotte do Bomba Inteligente, farta dos meus lamentos e choros sobre o destino pátrio resolveu pôr termo à falta de gosto e fê-lo do modo definitivo que as senhoras inteligentes têm para tratar desses assuntos e que consiste numa mistura infalível de bom-senso, ironia magnânima, "não me arruine o jantar, por tão pouco, vai quer um pouco mais de «oignon confit»?" e firmeza: "Mandei fazer por sua causa, vai querer!". Certo é que aqui estou, caladinho e enxuto, a cogitar, mas sem escrevinhar lamúrias, quase recomposto.
Infinitamente grato, apresso-me a dar-lhe os meus parabéns atrasados.

domingo, setembro 19, 2004

Revigorado pelo som primevo e primordial (sic) dos bombos das festas de Ponte de Lima e já convalescente do sarrabulho, tentarei retomar este blog. Certo é que, em Setembro, no post-férias, e este ano sob a ameaça de obras em casa, é difícil pensar em outra coisa que não seja dormitar na tepidez do tempo.

quinta-feira, setembro 16, 2004

Outro relatório: Portugal é 2º país mais rural da UE e seja isso o que for vou tomar a coisa ao pé da letra.
A ruralidade portuguesa não é uma característica tópica: difusa, existe em cada um de nós, o que, em sí, não é mau, convindo, no entanto, que disso se saiba e com isso se conte. O Portugal rural existe em A-de-Cima e em A-de-Baixo,mas também existe no CCB, no CAM, nos bares da moda. Está lá, esverdeado-transparente, musgoso, nas conversas, nas preocupações, no relato da última saltada a Londres a ver o Hopper. Não me refiro a provincianismo - uma atitude mental desse fiapo de gente que é a classe média citadina de 4ª ou mais gerações - mas a ruralidade com o que a coisa comporta de rústico e tosco e mesquinho e de receios, sem margem para poetizações, a proximidade do torrão magro, da enxada, da vidinha de sol a sol e nisso e com isso tudo, um começo rançoso de distância, no culto-esconjuro do "regresso às raízes" aos "saberes" e idades de oiro.
Ao menos, com o relatório, sempre a gente fica a saber que não temos que nos alarmar, que condiz, que é assim mesmo, daqui a século e meio passa.

quarta-feira, setembro 15, 2004

Pouco a pouco, nos relatórios de organismos internacionais, os dados vão aparecendo: somos pobres, somos iletrados, temos maus serviços, afastamo-nos da Europa. Este país tristonho não é já o país herdado do salazarismo, não é já, sequer, o país onde se projectavam as sombras do país pobre dos anos da ditadura, isto é, não é um credível espaço de lamentação ( e esconjuro) de culpas e erros passados. Este país pobre, quase diria falhado, é o que quisemos, o que, ao longo dos anos, já em democracia, fomos querendo e deixando que fosse, o que hoje em dia queremos e consentimos.
O resultado é mau? O resultado é muito mau, tão mau quanto geralmente desconhecido.
Mas a culpa é nossa, a responsabilidade é nossa, de mais ninguém.


domingo, setembro 12, 2004

Detesto sair aos Domingos.
Hoje, levado por uma infantil vontade de inovação, resolvi ir a casa de amigos, aventura dos seus quatrocentos e tal metros bem medidos. As ruas estavam desertas, pálidas e tépidas, o dão baladão do sino da igreja a chamar os fiéis para a missa da tarde manava do silêncio sonolento, provinciano, rural. Senti-me, de repente, em 1868. Arbitrariamente, já que nada sei de tal ano. Haveria, creio, mais gente nas ruas e a missa da tarde não existia, mas ainda assim foi nesse fim de decénio que me senti. Mas creiam-me - se tenho razão - que secante foi 1868! Tão secante como 2004. Pior não se pode dizer.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Ontem ainda foi suportável: o calor era franco e atlântico e o céu estava azul. Passeei-me pela minúscula baixa da cidadezinha, comprei livros. Entre eles, a "Arte de viajar" de Botton, que comecei a ler numa esplanada. A leitura fez-me pensar na utilidade de um"Arte do ficar", mas a empresa, para ser minimamente séria, obrigar-me-ia a deslocação desagradáveis.

Hoje, porém - volto ao tempo - o tempo está de aneurisma, de uma vez túmido e balofo. Com um tempo destes, resta-me "para aqui estar" a vogar pelos sofás, envolto em spleen. Volto a pensar - muito vagamente - em como seria agradável viver num clima jovialmente frio, onde os ares condicionados fossem um apetrecho excêntrico, inútil, e a sua compra motivo de falatório e exprobração luterana. Suspiro pelo longe desta tepidez de purgatório, mas é tudo tão difícil e a vontade, tal como a carne, fraca.
Enquanto em férias o Impensavel foi linkado pelo Amorizade, pelo Passadíssimo and also by the Leviathan and Republic
A todos o Impensavel agradece.

quinta-feira, setembro 09, 2004

Em Portugal, o número de analfabetos iguala o dos licenciados (partem do princípio que não há licenciados analfabetos - nem analfabetos licenciados - o que não me parece boa metodologia, mas enfim). Soube deste facto por um telejornal. O locutor usou um tom taciturno e dramático, como se anunciasse uma coisa grave. E é grave. Mas, gravíssimo e aterrador seria sermos todos letrados e estarmos como estamos. Assim, a esperança é possível para todos os que crêem que, através da melhoria da educação, se alcança a melhoria do país. Eu, que sou um tanto descrente que assim seja, acabo, em momentos exaltados de crença sebastiânica, por ansiar por essa manhã de nevoeiro alfabetizado e, enquanto ela não chega, por atribuir as culpas dos males pátrios à ignorância nacional, com a mesma elevação de pensamento com que, há cem anos, por tudo se atribuíam culpas à monarquia e tudo se esperava da república.

quarta-feira, setembro 08, 2004

terça-feira, setembro 07, 2004

Resumo da minha segunda-feira: agradável conversa de volta de férias com a minha empregada. Gostou do presente. Alguns assuntos domésticos resolvidos. Meditações sobre outros. Leitura do artigo sobre Berlin no TLS de hoje ao som - longínquo e calmante - do ferro de engomar. Saída a compras pequenas e nascimento de projectos de algumas maiores. Primeiras reflexões sobre o assunto. Encontro, antes do jantar, de alguns livros de Cioran que não via há muito e do Provinciales de Pascal, também desaparecido. Mais estantes, preciso de mais algumas estantes. Questão bicuda, passe o plebeísmo, mesmo que universitário.
Chegou a encomenda de Inglaterra (artefactos de barba, grooming products, dizia a encomenda). Demorou três dias úteis, desde o pedido. Regozijo-me com o progresso das comunicações e dos transportes, faria mesmo um discurso sobre o assunto, se fosse necessário. Sensação desagradável, sentir-me capaz de tal.
O sono chega, o post está feito, vou dormir.
Boa noite.



domingo, setembro 05, 2004

"What is a person to do who is tormented by daydreams, but bored sick with his daily life, or any likely variation of it? One possible solution is to turn it into a soap opera, with himself as the principal character. An endless succession of dramatic moments is a powerful substitute for a genuine purpose, and if pursued with enough tenacity will successfully disguise the fact that life is without purpose or even interest."

Aqui, na Spectator. O itálico é meu. Parece-me uma descrição perfeita da vida política em Portugal, nos últimos tempos, embora não tivesse sido essa a intenção do seu autor, Theodore Dalrymple.

sábado, setembro 04, 2004

Resultado da ida às compras, sector de tabacos, livros e revistas:
"Memórias traumáticas tão improváveis como a de raptos por extra-terrestres provocam reacções fisiológicas comparáveis às provocadas por memórias traumáticas verificáveis e mais convencionais, como as recordações de combate no Vietnam."
Tradução impensavel, "Science et Vie" de Setembro.
O estudo referido é da Universidade de Harvard.

sexta-feira, setembro 03, 2004

Confesso que, na praia, fiz projectos para o blog. Ou, pelo menos, uma listagem de indignações pitorescas com que comporia o "regresso" do Impensavel. Os deuses, porém, assim não quiseram - "as usual", aliás - e conduzido divinamente à lentidão destes dias construo sombras para mais tarde, para o Inverno, quando, caídas já as folhas, há delas carestia em dias soalheiros de Janeiro. E isto fazendo, tomo o meu chá, leio ou folheio os livros que comprei ultimamente e medito sobre alguns assuntos secantes de que não vou poder escapar, o que tudo me parece actividade tão bastante que blogar toma foros de excesso.