sábado, maio 30, 2009

Coisas para dizer aos sábados à tarde
Agatha Christie diz ou faz dizer a uma sua personagem indiferente às modas que ainda gosta de Alma Tadema. O tom é fier, um repto amável.
Li isto há anos, era pequeno, e lembro-me de achar muito bem achado que a escritora - ou mrs. Marple - gostasse de Tadema quando vi pela primeira vez, tempo depois, uma das telas dele. Um outro visitador - como Bulwer Lytton - do império romano soterrado ali mesmo, a jeito de servir de contraste e aviso à virtude e sentimentalidade britânicas na questão dos atributos morais e perigos dos excessos decorativos.
No Bomba, uma tela de John William Godward, que, tal como Alma Tadema, padecia da doença do mármore.

sexta-feira, maio 29, 2009

O Lopes foi alijado da presidência da Eurojust, no que, creio, constitui uma indicação do modo como a UE lidará com as indignidades deste país em camisa: sempre que a nossa falta de vergonha os afectar, ou a honorabilidade das instituições deles, acabam liminarmente com a situação, mandando-nos sair ou calar, sem mais, como os adultos põem fim às bulhas ou atabalhoadas pretensões de fedelhos mal educados.

quinta-feira, maio 28, 2009

Na tvi24, Vasco Pulido Valente, com a sua abominação por Manuela Ferreira Leite, começa a ser divertido. Villaverde Cabral tempera o destempero a golpes de evidência e bom senso (raridades nacionais), mas Pulido não se dá por vencido e é sempre um bom espectáculo ver alguém inteligente deixar-se levar pela paixão até ao disparate.

quarta-feira, maio 27, 2009

Como se vê por aqui a coisa é às claras. Tão às claras que referi-la é politicamente incorrecto. Neste caso é tão grave - é o princípio da divisão de poderes reduzido a pó e o reconhecimento de que os tribunais não aplicam, mas verdadeiramente fazem lei - que ponho a hipótese da nova juiz do supremo estar a reagir, ironicamente, a uma crítica cada vez mais frequente sobre o facciosismo esquerdista nas decisões de alguns tribunais - lá e cá.

segunda-feira, maio 25, 2009

domingo, maio 24, 2009

A desoras, o A torto e a direito, com algumas surpresas: sobre o «acordo ortográfico», tépidos óbices. A questão prévia - a da legitimidade - não é feita; a da degradação (sic) da língua idem, e é sempre triste ver pessoas inteligentes ignoraram questões tão pouco ignoráveis.
Viegas fala do «acordo» no Brasil, como se lá tivesse as repercussões que aqui teria...
Algumas «razões» aduzidas - o google(!!!) - por Teixeira da Mota levam-me a perguntar se aquele jurisconsulto alguma vez o utilizou: o google permite e facilita a existência de variantes! Ainda no território da fatalidade informática, Viegas referia que somos demasiado pequenos para os programas de computador possuírem as variantes. Já existem e até para línguas menos faladas que o português.

A surpresa da noite foi ver João Pereira Coutinho dizer que a Inglaterra nunca fez «a» revolução (presumo que com maiúscula). Não sabia que havia «a» revolução para fazer, mas houve por lá uma coisa qualquer, não sei quê industrial, que, a haver revoluções (não confundir com genocídios), foi «a» nos últimos cem séculos. Mais ano menos ano.

quarta-feira, maio 20, 2009

Alguém de nome Micael qualquer coisa dá neste momento na Sic notícias sobre o caso Lopes da Mota. Dizia ele que não sei quem «interviu».
Não ouvi mais, mas há-de ser rapaz de talento (e está muito bem como comentador numa estação de televisão portuguesa).
Os trabalhadores da Autoeuropa não aceitaram uma proposta da administração porque poderiam, por algum tempo, ter de trabalhar ao sábado sem receber horas extraordinárias.
A administração diz que irá, também ela, deliberar. A fábrica pode entrar em layoff ou haver despedimentos.
Cada um aceita as consequências dos seus actos. Por mim, o trabalho em alguns sábados, no actual estado das coisas, não me parece uma violência desmedida. Talvez na Saxónia concordem comigo e a empresa acabe por ser mudar para lá.

terça-feira, maio 19, 2009

Paulo Rangel não acha que os portugueses se importem muito com a falta do referendo europeu.
São os nossos políticos. Os que aprovam por quase unanimidade leis como aquela do financiamento dos partidos. Ou o crime do ocordo ortográfico. Ou... Que desânimo!
O meu hesitante voto não vai parar a Rangel.

sexta-feira, maio 15, 2009

Estou a ver a corrida no Campo Pequeno.
Nunca nada corre mal, apenas alguns azares, mas que não desfiguram a lide. O cavalo sofreu um toque? A pega foi à terceira? O que é isso? Nada, correu tudo bem no geral, música e volta à praça.
Não há que errar, é o virus portugaldagora: o muco produzido ataca o espírito crítico até nas pessoas mais decentes.
Esteja atento aos sintomas: arrepios e prostração moral, alternada com contentamentos sem motivo aparente. Seguem-se delírios e alucinações. Pode deixar sequelas.

quinta-feira, maio 14, 2009

Legislar com Staline:
Emenda - igual ao soneto - do PSD à proposta do PS sobre a educação sexual nas escolas:
«Outra das propostas de alteração apresentada pelo PSD prende-se com a questão da obrigatoriedade de frequência. "Mediante requerimento fundamentado, apresentado pelo respectivo encarregado de educação, o Conselho Pedagógico poderá isentar o aluno da obrigatoriedade de frequência da educação sexual, com base no respeito por convicções individuais e familiares manifestamente divergentes com os conteúdos curriculares adoptados pela escola", defendem os sociais-democratas.»

Ou seja, os pais, numa matéria do foro íntimo de cada família, estariam dependentes do poder discricionário (até em sentido técnico-jurídico) de um conselho pedagógico e cada um posto na situação de ter de explicar fundadamente a alguns funcionários o como e o porquê da educação dada a seus filhos.
Spleen.

quarta-feira, maio 13, 2009

Essa gente ainda está por aqui? Se não se demitem, demitam-nos.
O Conselho Superior do Ministério Público deliberou a instauração de um inquérito. O inquérito - que recaiu sobre matérias de extrema gravidade - já findou e parece ir dar origem a um processo disciplinar, mas o Procurador Geral da República não o divulga. E não o divulga sequer aos membros do Conselho que deliberaram que se efectuasse!
A evidência, em países sem tradição de democracia, tem as suas dificuldades, mas, no caso, qualquer pesssoa mediana perceberia que tal atitude é um insulto grosseiro à democracia.

sexta-feira, maio 08, 2009

Vasco Pulido Valente falava ontem da crispação e agressividade no discurso político português actual e para ilustar referiu umas declarações de... Pinho? Pinto de Sousa? Santos Silva? Algum dos serventuários menores? Nãoooo! Referiu-se a Manuela Ferreira Leite!
Vasco Pulido Valente, mesmo quando é menos feliz, ensina-nos sempre. Neste particular, elucida-nos sobre o ambiente de Lisboa, a pequenez de Lisboa, os miasmas e os saguões lisboetas que Eça já apontava como causas para o amolecimento cerebral lusitano.

quarta-feira, maio 06, 2009

Ontem fiz compras e descobri um tête d'achard e uns biscoitos de azeite, ambos supimpas.
Também descobri lâmpadas de poupança com um bom tom amarelo, longe do branco-laboratório das lâmpadas fluorescentes que faz mal aos olhos e à alma.
Nos blogs dos 30s, pesar pela morte de Vasco Granja.
Também tenho pena. Já era grande quando o programa apareceu (e os filminhos aborrecidos dos países de leste), mas ia vendo com gosto os de Norman McLaren, do Film Board of Canada. A lembrança não tem a magia das da infância, mas Vasco Granja falava do que verdadeiramente gostava, era muito simpático, e creio que se divertia por toda a gente - as crianças em particular - se exasperarem com as suas um pouco longas apresentações.

terça-feira, maio 05, 2009

Hoje, a propósito disto (clique mesmo), enviei mails a alguns deputados portugueses do Parlamento Europeu. Respondeu, em termos, de louvar, Carlos Coelho. O mail dele, automático, com um texto sobre o assunto, não me sossegou quanto ao fundo do problema, mas quanto à forma como um deputado deve tratar com os seus representados foi exemplar e, até agora, único!
De novo, as boas notícias económicas foram unexpected. A economia é a ciência da surpresa.

segunda-feira, maio 04, 2009

As tristes previsões que a Comissão Europeia tem para Portugal confirmam aquilo que ouvi a Manuela Ferreira Leite. São notícias preocupantes, mas saber que a chefe da oposição vive com os pés assentes na terra, longe do desvairio oficial, é reconfortante.
Vasco Pulido Valente escreve que Sócrates tem ar de primeiro-ministro. Pasmei. O que é um ar de primeiro-ministro? E dado que Sócrates é um mau primeiro-ministro, um muito medíocre primeiro-ministro, onde se vê isso exactamente na cara dele? No nariz? Nas orelhas? Nas olheiras? Na testa? No beiço?
A ler tudo.
Sampaio (Jorge) diz, com um ar aflito, que talvez seja necessária uma coligação que "nos permita sair disto".
Convirá lembrar que isto foi o desejo e a obra do Sr. Sampaio.
Aliás, julgava que isto estava muito bem. Pelo menos, é o que asseguram os colegas de partido do Dr. Sampaio que constituem o governo que ele empossou.

domingo, maio 03, 2009

Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, maio 02, 2009

Fui hoje a uma missa de acção de graças no colégio onde andei no jardim-infantil. A capela que pensava enorme, de chão rutilante, pareceu-me agora apenas desafogada e o aroma a cera de que me lembrava por todo o lado desapareceu: o chão de mosaico foi coberto por uma alcatifa estranha, cinzento anti-derrapante.
Terá ganho em conforto, para as devoções dos invernos frios, o que perdeu em aprumo e serena dignidade.