segunda-feira, novembro 30, 2009

Sou um adepto ferveroso do boicote, enquanto forma de protesto: pode ser eficaz e tem a vantagem acrescida de exigir de nós um minimum, se não de sacrifício, de disposição para arcar com consequências que, mesmo que consistam numa mera incomodidade, sempre lembram que não há convenientes sem inconvenientes, uma verdade simples que em Portugal não é uma verdade evidente.
Tudo isto para dizer que deixei de ler o Público - como, antes, já tinha deixado de ler o DN, ouvir a TSF, ver os telejornais da TVI ou ver o Eixo do Mal.
Deixei, por isso, de ter acesso às crónicas de Vasco Pulido Valente, uma maçada importante.
No entanto, sei que irei encontrar as mais importantes.
E a de ontem é do melhor que tenho lido nos últimos tempo, com o aliciante especial de constituir puro e simples bom senso.

sábado, novembro 28, 2009

«Com este Estado, talvez o Dr. Salazar não tivesse precisado de PIDE e de censura. Há trinta anos que andamos a fingir que pode haver direito e pluralismo onde quem fala corre o risco de ser castigado e onde para fazer negócios é preciso pôr dinheiro em envelopes. A democracia portuguesa vive com uma víbora sobre o peito. Só não nos morde se estivermos muito quietinhos e formos bem comportados. É assim que queremos viver, quietinhos e bem comportados?»

Rui Ramos, CM (via ABC do PPM)
O estatismo português - e VPV julga-nos mais estatistas do que os franceses - continuou depois do 25 de Abril a ser um desígnio nacional. É o estado-mãe, que alimenta e o estado-pai, que castiga.
Quando castiga mais do que alimenta - e não estou sequer convencido que estejamos nessa fase - há murmúrios ligeiros contra o divino.
Reparo que não reli uma linha que fosse de Moby Dick este Novembro. Idem para o Monte dos Vendavais, que também gostei, durante anos, de reler no regresso do frio. Sinto-me vagamente desagradado com estes desleixos, interpreto-os como sinais certos da morte de outro daqueles que somos ao longo do tempo.
Este ano, acabo o mês preocupado e ocupado - além da história do Rui Ramos - apenas com o Dubai e a exposição do HSBC, temor pouco insólito, que guarda de outros tempos um sempre estranhado mas persistente gosto pela sobriedade (que fez de mim, durante muito tempo, um leitor de um só livro).
Pouco sei ainda deste parvenu que veste um velho hábito.

quinta-feira, novembro 26, 2009

A meio de considerações em francês, muito francesas, muito smart-doutas sobre a violência na revolução francesa, o cerveau malade de Robespierre.
Eis-nos chegados ao ensaio de aeroporto.
Já a ideia, que perpassava e repassava, de ser a cultura europeia intrinsecamente perversa (um continuum, das perseguições aos albigenses a Auschwitz), era servida com o requinte e elevados padrões de desonestidade habituais da boa cuisine française que se dedica às idées.

quarta-feira, novembro 25, 2009

E também faz hoje anos que tive a experiência única de estar sob recolher obrigatório. Não foi desagradável: não tencionava sair. E o fim do projecto comunista (que, entre nós, era sublinhado por visitas constantes de grupos folklóricos de escusas repúblicas da ex-URSS) foi uma feliz coisa.
Antes de mais: faz hoje 164 anos que nasceu Eça de Queiroz.

terça-feira, novembro 24, 2009

segunda-feira, novembro 23, 2009

Em Novembro, duas mortes. A de Kennedy, da minha infância, a de Proust, uma morte da minha idade adulta.
Não me esqueci de nenhuma delas e andei até à procura do espargo de Manet (para pôr aqui a ilustrar um post que não escrevi). Não do molho que Swann sugere ao Duque de Guermantes que compre (um molho inteiro pareceu-me excesso de diligência, coisa de clube de leitura dos confins da Manitoba) mas aquele que o pintor deu ao comprador do molho. Este.

sábado, novembro 21, 2009

Para d. Para K; e também para Fr. - lembrar imprevistas descobertas

A alegria de exclamar, «mas é isso, é exactamente isso!», também já a julgava prescrita por não uso. Mas não: quando encontrei aqui isto de de Ayn Rand: «A civilização é o progresso em direcção a um sociedade de privacidade. Toda a existência do selvagem é pública, governada pelas leis da sua tribo. A civilização é o processo de libertação do homem relativamente aos homens- em itálico o âmago da coisa - relembrei como difusamente sempre pensara que os actos públicos dos soberanos eram, mais que impositivas e ameaçadoras encenações de poder, uma dádiva paternal, a renúncia dessa intimidade (por muito apenas moderna que possa ser a militância consequente nela) - que eles poderiam ter e não tinham - com especial destaque para os monarcas portugueses, com um péssimo serviço de mesa que sofriam em público - e para a ambição desmedida do viver recolhido que Mme. De Maintenon - que vinda das ruas onde mendigou publicamente - impôs em Versailles (ainda que sob o disfarce de excesso barroco).

sexta-feira, novembro 20, 2009

Sobre processos, verdades formais, & outras coisas atinentes à justiça:

Al Capone foi um comerciante de móveis de Chicago que teve um problema com o fisco.

Tudo o mais que se diga não tem o menor suporte legal (não foi condenado por qualquer outro delito por qualquer sentença transitada em julgado).

quinta-feira, novembro 19, 2009

Outro orçamento rectificativo, desemprego nos dois dígitos, tudo aquilo que a oposição, Dra. Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas, tinha previsto e avisado há muito.
Um governo pouco sério e medíocre, este que os portugueses quiseram escolher.
O déficit previsto atingiu oficialmente 8%.
A realidade tem uma vida obscura e espinhosa em Portugal - agravada com o actual governo.

quarta-feira, novembro 18, 2009

Chegou hoje a História de Portugal coordenada pelo Rui Ramos. Estou a folhear.

«Chegarem-me livros pelo correio» é um prazer que se mantém intacto. Um dos poucos.

terça-feira, novembro 17, 2009

Adriano Moreira usa o termo estado exíguo para designar um estado incapaz de satisfazer as suas atribuições.
É um termo infeliz. Um estado pode ser exíguo, no sentido de diminuto, e ser muito eficaz. Pense-se na Confederação Suiça.
O termo seria mais estado-gangrena, já que estão na moda as metáforas com origem na patalogia.
Gangrena parece-me muito acertado. Segundo o Priberam, gangrena é : 1. Med. Extinção da acção vital em parte determinada, seguida de decomposição e apodrecimento.
2. Fig. Corrupção moral.
3. Doutrinas perniciosas.
4. Doença das árvores que lhes destrói a casca e a madeira.
gangrena dos ossos: necrose.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Enquanto isto (as emanações pútridas do lameiro em que isto se tornou), os USA preparam-se para deixar cair o pacto sobre o clima. O interessante é que, quando Obama toma medidas que não agradam aos fiéis do politicamente correcto, transforma-se no impessoal e quase incógnito "Presidente dos EUA".
Encontrei a palavra num post do Abupto e era dela que tinha andado à procura para tentar definir a situação que vivemos aqui: subserviência. A subserviência, lembremos, é qualidade de quem se presta servilmente às vontades de outrem.

domingo, novembro 15, 2009

Indícios da prática de um crime de atentado ao estado de direito, numa conversa entre o Sousa e o Vara?
Certamente, erro dos auditores, que não perceberam que os escutados especulariam sobre problemas do Rechtsaat, muito provavelmente, a influência dos conceitos expensidos no Die deutsche Polizeiwissenschaft nach den Grundsätzen des Rechtsstaates por Mohls no Naturrrecht und Deutsches Recht de Gierek. Pouco habituados a discussões deste jaez e à questões hipotéticas, tomaram a discussão filosófica e histórica por coisas reais de agora...
Assim se armam as confusões!
Lia-se Le ballet royal, Versailles.
Os habitantes de Versailles foram massacrados: assassinados o Rei e a Rainha, massacrados impiedosamente, apenas por serem quem eram, muitos dos que seriam os naturais espectadores do ballet - o genocídio abre a história contemporânea -, a que vem este royal possidónio?

quinta-feira, novembro 12, 2009

quarta-feira, novembro 11, 2009

segunda-feira, novembro 09, 2009


O muro de Berlin: importante contributo do pensamento da esquerda e dos governos progressistas para a história do mundo.
Era um regime moderno, relativista, ateu, sem crucifixos nas paredes das aulas.
Infelizmente, caiu há 20 anos, às mãos da populaça ignara.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Ao que Strauss disse, da gente a mais, de um mundo que não reconhece, acrescentaria a estranheza da luz a mais e a proximidade a mais. As trevas escapam-nos, com elas se vai o indistinto que nos retempera; e quase tudo e quase todos estão demasiado próximos, participam da tortura da instantaneidade.

quarta-feira, novembro 04, 2009

terça-feira, novembro 03, 2009

8% de déficit orçamental?????!!!!!
Quem diria! - aquela campanha analfabeta e pateta para acabar com os pontos de exclamação não era inocente.
8% e a subir?!?!?!?!?!
Tsc... tsc...
Coisas que ajudam bastante em momentos de desânimo: redescobrir, com a pobre Hilda, a pintura de Canney-Letty.
Parece que a caloraça acabou e já posso ler.
O primeiro livro da minha reading season*? After Virtue, A Study in moral Theory do Alasdair MacIntyre, uma pequena homenagem à devassidão triunfante (pelo menos, entre nós, portugueses).
* Porque escrevo reading season? Lembrei-me Eça sobre as season em Inglaterra, lembrei-me do artigo dele e gosto de seasons, um modo agradável de organizar a monotonia.

domingo, novembro 01, 2009

"É a golpadazeca do ordinareco que faz umas jogadas, umas burlas, umas corrupções, umas porcarias, umas porcarias, condenando o país"
Ernâni Lopes sobre o estado em que estamos
O artigo de Vasco Pulido Valente no Público de ontem, «A carreira de um corrupto» é, poucas horas depois de publicado, um texto de referência para a história da falência da 3ª república portuguesa.