segunda-feira, março 31, 2008

O Secretário do Tesouro do governo republicano dos USA, Henry Paulson, acaba de propor importantes medidas reformadoras para evitar outra crise semelhante à dos subprime. Algumas dessas medidas traduzem-se numa maior vigilância sobre as entidades não bancárias e o alargamentos das atribuições do FED.

Em Portugal, há uns tempos, um grande banco ficou em posição de grande fragilidade, sob suspeita de ter efectuado um grande número de operações ilegais ou de duvidosa legalidade envolvendo offshores e de ter ocultado a situação nas suas contas, podendo, com essa atitude, ter prejudicado milhares de accionistas.
O que fizeram, desde então, o governo socialista português e as intituições portuguesas? Ainda não há relatórios nem o Dr. Constâncio - o tal que ganha mais do que o seu homólogo norte-americano (mesmo antes da subida do euro) - deu um ar da sua graça, pelo que, tudo se ficou, até hoje, por uns lugares no conselho de administração para alguns amigos do governo. Muito menos a situação parece ter inspirado qualquer proposta de alteração do diplomas legais que regulamentam os assuntos ligados ao que se passou, da bolsa ao código das sociedades, etc.

A coisa, no entanto, tem a sua explicação simples: nos USA dá-se valor ao dinheiro. Aqui há o desprendimento própria da pobreza. Mesmo quando é dourada. Mesmo quando o dourado é de mau spray de carnaval
As acusações feitas por António Borges ao ministro Pinho seriam um imenso escândalo em qualquer democracia desenvolvida, até porque o assunto não está longe de poder ser matéria de investigação criminal.
Em Portugal, onde os pontos altos do regime são, cada vez mais, borbulhas purulentas e enquistadas, parece que nada vai acontecer senão aparecer outra. Outra borbulha.

O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa advertia sobre os perigos de transformar a professora da Caroloina Michaelis numa heroína. Bem, percebe-se o aviso sobre os heróis de tablóide, mas num país que nem anti-heróis consegue produzir, alguém que ainda está decidida a contrariar o «deixa ir» parece-me merecedora de alguma admiração pública.

domingo, março 30, 2008

Esta coisa dos estados de alma do Sousa é repugnante de paternalismo. O pai que, para bem deles, esconde aos filhos quanto os ama, etc, etc. A coisa põe-nos ao nível de país junta de freguesia e dos entremezes de aldeia, interpretados por curiosos como se dizia. Mas, sob a farsa esconde-se o horror, o puro horror do vazio.
Na historieta do piercing há uma coisa que me desilude um pouco: muita gente que acha todo o assunto um rematado disparate dá como exemplo disso a sua inexequibilidade, o não poder ser verificado o cumprimento da lei. Ora, a questão não é essa: a questão é que tal lei é inadmissível numa democracia, mesmo de má qualidade, como a nossa - ou até numa ditadura moderada -, por incidir sobre o que apenas a cada um de nós compete decidir e onde o estado não pode nem tem nada que entrar. Se aquilo passar - embora inconstitucional - ninguém a deve cumprir ou dar o menor valor e o estado português deverá ser posto em tribunal por atentado aos direitos humanos em tudo quanto extravaze a regulação das qualificações de quem executa e medidas sanitárias a observar nos local onde se fazem os piercings.
No resto,los muchachos do PS que vão mandar para casa deles, nas casas que terão comprado com os chorudos ordenados que entretanto se atribuíram. Mas seria nteressante saber se não poderiam ser processados e que o atrevimento pudesse traduzir-se, além do mais, em indemnizações saídas das algibeiras dos autores da medida.

Entretanto, convirá não esquecer nunca que continuamos num beco sem saída: a economia continua mal e não se vislumbram quaisquer boas notícias.

sábado, março 29, 2008

Achei alguma graça às tentativas de desvalorização das imagens da violência na Escola Carolina Michaelis. Na verdade, eram imbatíveis: a professora, pequenina, frágil, que ao contrário do lugar-comum, não se está nas tintas para o que acontece e luta corpo a corpo com a brutamontes que intimida e uiva ordens. É David e Golias e não há prosa que se possa bater com o poder alegórico daquelas imagens nem diminuir o estatuto heróico da Professora.

Alguns perceberam isso e adoptaram a táctica do sempre foi assim: durante esta semana a blogosfera de esquerda exemplificou a asserção com o seu próprios maus comportamentos de adolescência, mas a coisa correu mal, acabaram por fazer arcadia, tropeçando em saudosismos campestres e traquinices suaves de antanho - que apenas acentuaram a brutalidade de agora.

Ainda em tempo, embora já a 1 de Abril: via Origem das Espécies, acabo de ler isto. Que a Providência se amerceie de nós: pus já o heróico da Dra. Adozinda em itálico.

The miracle worker: Anne Sullivan e Helen Keller

sexta-feira, março 28, 2008

O site LiveLeak retirou o filme Fitna do deputado Geert Wilders.
Na Europa do Séc. XXI a liberdade de expressão está em perigo.
O relativismo cultural, o anti-semitismo e a ditadura do politicamente correcto tornaram possível o que ainda há 20 anos seria uma hipótese ridícula.
Aliás, vendo bem, há 20 anos ainda havia o império soviético e toda essa gente que agora se indigna com o bem-estar do fundamentalismo islâmico estava muito caladinha e convivia muito bem com a ditadura e a falta de liberdade em metade da Europa. Compreendem melhor um mundo com medo e censura.
Enquanto a indigência mental portuguesa se compraz com a nova amputação da língua portuguesa, em nome da sua «afirmação no mundo», a realidadezinha:
Lisboa, 20 Mar (Lusa) - Os portugueses residentes em Frankfurt e Estugarda, na Alemanha, vão manifestar-se no dia 06 de Abril contra a política de educação do Governo, que acusam de deixar dezenas de crianças naquele país sem aulas de português.
No crooked leg, no bleared eye,
No part deformed out of kind,
Nor yet so ugly half can be
As is the inward suspicious mind.

Rainha Isabel I de Inglaterra

quarta-feira, março 26, 2008

Há um continuum Sebastian-Julia, tem razão, são a seu modo two of a kind mas Sebastian demora mais e mais beblosamente - foi erro mas fica assim - a perceber o que Julia percebe, de imediato, com Rex: que perder é apenas um começo - entre outras coisas, do conhecimento da Graça Divina. Talvez os modos diferentes de ver, Sebastian, mais lento, Julia mais implacável salvem a narrativa do arbítrio de que me queixava. Eu vi tudo mais pelo lado da captação do regular guy por um mundo belo, periclitante e milagroso. Ambos tentam Charles, sim, um daqueles casos em que Adão e Eva tentam a serpente, mas Charles é por demasiado classe média, demasiado sensato para sucumbir à velha técnica do esteticismo. Reserva-se, poupa-se, apenas é tocado ao de leve e, golpe sujo, no passado.

Gosto muito do pai de Charles na adaptação para televisão (o Gielgud fazia fabulosos cabotinos) e gostei muito de Lord Marchmain e da sua amante Cora, a veneziana (Veneza podia cobrar uma taxa de alegoria e metáfora aos criadores do norte da Europa) que sabe, sensatamente, quando se deve chamar um padre para administrar a Extrema-Unção.

terça-feira, março 25, 2008

Eu não gosto muito de gostar de Waugh - mas gosto e é preciso aceitarmos as coisas como elas são

Sempre achei os seus narradores um pouco pretensiosos. Charles é trazido para o mundo dos Flyte , por um estranho «acto de Deus» - como chamam os anglo-saxónico aos acasos nefastos da natureza e da fisiologia - o vómito de Sebastian. Será sempre, até ao fim, um outsider. A sua história - aquela que podia narrar-nos, sentimos que está acabada com o seu afastamento de Sebastian e o resto ter-me-ia parecido um absurdo gasto de papel se Waugh himself não dissesse numa entrevista que estava acima de tudo preocupado com o destino das casas históricas inglesas nesses tempos de depois da guerra. Do passado, fica para Charles, coerentemente, a condenação ao charme, que é apenas a manifestação mais agradável da tautologia.

Gosto de comparar o narrador Charles com o Leo do The Go-Between. Com grandes vantagens para o segundo no que respeita à deontologia do narrador (até, levado por intuitos malévolos, fui ver qual livro tinha sido publicado primeiro, mas foi o Brideshead).

segunda-feira, março 24, 2008

Já em Fevereiro do ano passado me dava por contente com a justeza da observação de Nancy Mitford numa carta a Waugh sobre a tristeza do narrador em Brideshead que, julgo, me dá razão quando penso que o livro está às avessas. É que a corda, acho, devia partir para o lado do narrador, de Charles, que passa muito inverosimilmente impune pela desgraça quanto à Graça Divina (por vezes quase destruidora) e que essa inexplicável tristeza não passa da consciência pesada de Waugh por causa disso.
Não sei. Sei que Lady Nancy também achou estranho.
No entanto, permito-me discordar, Cara Lady Charlotte, quanto à salvação. Salvação há: até em demasia. Pus-me, aliás, até a hipótese de a tristeza, a melancolia poder originar-se desse excesso de oferta salvífico sobre os pecadores, com a consequente diminuição do risco hubriático (sempre desvantajoso em humanos) e consequente tédio narrativo, quando o pretendido seria que recaísse apenas sobre a pedra dos velhos solares ingleses que também desafiavam os tempos.
O Atribulações, o Afrodisíaco e o Insurgente linkaram o Impensável, o que muito gratamente se agradece.
O meu alvitre sobre o lamentável caso do Carolina Michaelis

A professora devia ter um processo disciplinar posto por aquela funcionária da dren (é assim?); a aluna brutamontes receber merecido auxílio psicológico e muito amor; o aluno que filmou e depois pôs tudo no youtube ser admoestado por não ter mantido a coisa longe dos olhares do público; a direcção do youtube ser informada de quem é o sr. Pinto de Sousa, o PS e o que lhes pode custar desagradarem-lhes. Serem punidos os articulistas, bloguistas e comentadores que malevolamente associam o ambiente das escolas portuguesas com o fato das crianças não atinarem, em percentagens extraordinárias para um país europeu, com a matemática nem perceberem o que lêem, como provam os testes internacionais a que, por uma lamentável distracção, Portugal aderiu.
Todo o assunto deve ser, de imediato, esquecido.

segunda-feira, março 17, 2008

Semana Santa



Sexta-Feira da Paixão de Cristo




Ich armer Mensch, ich armer Sünder,
steh hie vor Gottes Angesicht,
ach Gott, ach Gott, verfahr gelinder,
und geh nicht mit mir ins Gericht !
Erbarme dich, erbarme dich,
Gott, mein Erbarmer, über mich !

I, poor man, I, poor sinner,
stand here before God’s face,
ah God, ah God, deal with me gently,
and do not bring me to judgement!
Be merciful, be merciful,
my merciful God, to me

2
Wie ist mir doch so herzlich bange,
von wegen meiner grossen Sünd,
bis daß ich Gnad von dir erlange,
ich armes und verlornes Kind.
Erbarme &c.

Since I am so sincerely fearful
on account of my great sinfulness,
may I obtain grace twice from You,
I, a poor lost child.
Be merciful etc.

3
Hör und erhör mein seufzend Schreyen,
du allerliebstes Vaterherz :
wollst alle Sünden mir verzeihen,
und lindern meines Herzens Schmerz.
Erbarme &c.

Hear and hearken to my sighing cry,
most loving and compassionate Father:
may it be Your will to pardon all my sins
and ease my heart’s sorrow.
Be merciful etc

4
Wie lang soll ich vergeblich klagen ?
Hörst du denn nicht, hörst du denn nicht ?
Wie kannst du das Geschrey vertragen ?
Hör, was der arme Sünder spricht :
Erbarme &c.

How long must I lament in vain?
Do You not hear, do You not hear?
How can You endure these cries?
Hear what this poor sinner is saying:
Be merciful etc.

5
Wahr ist es, übel steht der Schade,
den niemand heilet, ausser du :
ach, aber, Vater, Gnade, Gnade !
Ich laß dir doch nicht eher Ruh.
Erbarme &c.

Truly I am in evil plight
that nobody except You may heal:
ah, Father, mercy, mercy!
I shall not let You go until there is peace.
Be merciful etc.

6
Nicht, wie ich hab verschuldet, lohne,
ach lohne nicht nach meiner Sünd.
O treuer Vater, schone, schone,
erkenn mich wieder für dein Kind !
Erbarme &c.

Do not reward me as I have earned by wrongdoing,
oh faithful Father, spare me, spare me,
acknowledge me again as Your child.
Be merciful etc.

7
Sprich nur ein Wort, so werd ich leben,
sag, daß der arme Sünder hör :
geh hin, die Sünd ist dir vergeben,
nur sündige hinfort nicht mehr.
Erbarme &c.

Speak only one word , and I shall live,
say so that this poor sinner may hear:
go on your way, your sin is forgiven,
from now on sin no more.
Be merciful etc.

8
Ich zweifle nicht, ich bin erhöret ;
erhöret bin ich, Zweifels frey,
weil sich der Trost im Herzen mehret ;
drum will ich enden mein Geschrey.
Erbarme dich, erbarme dich,
Gott, mein Erbarmer, über mich.

I have no doubt, my prayer is heard;
without doubt , my prayer is heard,
since consolation grows in my heart;
therefore I end my cries.
Be merciful etc.

Letra da ária e tradução em inglês retirada daqui.

domingo, março 16, 2008

O que Marcelo Rebelo de Sousa disse há pouco sobre o acordo ortográfico (concorda por motivos políticos, que vêm a ser a preponderância do Brasil... ele a quem ouvi, e muito bem, discretear sobre a inutilidade do acordo) inscreve-o bem dentro da produção nacional de políticos: pode não ser tão monotonamente bróculos quanto Pinto de Sousa é, mas não deixa de ser um produto normalizado, uma daquelas falsas trufas das lojas gourmet dos centros comerciais de arrebalde.
Ao contrário de Marcelo, creio que, daqui a uns anos, se o Brasil conseguir deixar de ser o gigantesco pântano cultural que hoje é, serão os brasileiros a pedirem conta aos analfabetos (literalmente falando) que os governam pelo que fizeram à sua língua. Quando os intelectuais, os cientistas brasileiros do futuro escreverem as suas comunicações científicas em inglês (ou em castelhano) serão obrigados a usarem duplas consoantes, aquilo que pensam ser meros vestígios do passado ou mesmo arcaísmos (poucos deles sabem que as suas atualíssimas palavras resultaram de uma ideia servilmente copiada de França - que, claro, não a aplicou... - e inventadas na Lisboa de 1911).
Creio que, nessa altura, tal como muitos de nós aqui, se revoltarão contra o atrevimento e a arrogância provincianas que desfiguraram a sua e nossa língua.
Assim é, de facto.

Já Domingo de Ramos!
A Páscoa é muito cedo, este ano.

sábado, março 15, 2008

Num país que foi trucidado por vários maus gostos, o veto do Presidente da República (para além de muitos outros recados e leituras que posssa ter) é um acto de defesa do que resta.
O litoral ribeirinho, aquela beleza toda, não devia estar dependente de uma entidade como a do Porto de Lisboa. Mas, dar a sua gestão a uma empresa e presidida por um hábil não me sossegava nada.
Deixemos a solução para depois, para tempos de menos urgências, que são pouco amigas da reflexão.

(Este post está tão sensato que estou até ligeiramente comovido)
Soothsayer
Caesar!

CAESAR
Ha! who calls?

CASCA
Bid every noise be still: peace yet again!

CAESAR
Who is it in the press that calls on me?
I hear a tongue, shriller than all the music,
Cry 'Caesar!' Speak; Caesar is turn'd to hear.

Soothsayer
Beware the ides of March.

CAESAR
What man is that?

BRUTUS
A soothsayer bids you beware the ides of March.

CAESAR
Set him before me; let me see his face.

CASSIUS
Fellow, come from the throng; look upon Caesar.

CAESAR
What say'st thou to me now? speak once again.

Soothsayer
Beware the ides of March.

CAESAR
He is a dreamer; let us leave him: pass.

Sennet. Exeunt all except BRUTUS and CASSIUS

Shakespear, Julius Caesar, Act I Scena II

Há 2052 anos.

sexta-feira, março 14, 2008

PS quer proibir colocação de “piercings” na língua

Esta gente enlouqueceu de vez.
Porque não proíbem as asneiras na ponta da língua, a burrice, os tiques ditatoriais, as tristes figuras, a possidonice... porque não se proíbem, e de uma vez para sempre, a eles mesmos?
Segredos Pérfidos ou as fraquezas humanas de um estadista:

«Sou um homem generoso, pelo menos é o que diz a minha mãe»

José Pinto de Sousa, actual primeiro-ministro.

quinta-feira, março 13, 2008

O 31 da Armada transcreve uma notícia do El Pais onde ser refere que sete jogadores cubanos de futebol sub-23 desertaram na Flórida.
O termo desertar está errado: quem desertou do respeito pelos direitos humanos, da democracia, da mais elementar decência foi o governo ditatorial de Cuba. Esse e os criminosos que o formam é que desertaram, não os sete jogadores. Os sete jogadores exilaram-se.
Leio no Público que um blogger da Arábia Saudita está preso há 3 meses sem culpa formada.
Perdi a notícia e não consegui saber porquê, única curiosidade a satisfazer, já que em Portugal se pode estar legalmente preso mais de 3 meses sem culpa formada - e sem que ninguém se sinta muito incomodado com isso.
Na rtp 1, paga por nós, vários minutos de publicidade grátis a um dicionário "actualizado" do português combinado entre os governos de Portugal e Brasil.
A coisa é apresentada como um facto consumado e como um "avanço" , esquecendo-se que as grandes linguas do futuro, o inglês, o castelhano, até o francês têm todas as as duplas consantes, todos os males, todos os c antes de t, todos os p antes de t que os dois países analfabetos funcionais, Portugal e Brasil querem festivamente eliminar, com a sua pobre crença na magia legislativa.

O que não se elimina por acordos é a vergonhosa realidade, e valha como exemplo do que ela é a situação da matemática nos dois países: o Brasil, está perto do último lugar no mundo quanto às aptidões dos seus alunos em matemática (matéria pouco dada a acordos e evoluções) e Portugal está, também, numa vergonhosíssima posição.
Essa realidade não se modifica com saloiicies e diz bem sobre a miséria dos dois falhados países (e dos seus medíocres políticos) que se alegram agora com a celebração, esperemos que sem efeito, dos acordos ortográficos.
Aliás, ninguém se pergunta sobre as vantagens trazidas pelas «reformas» ortográficas de 1911 - antes dessa não havia diferenças de ortografia entre Portugal e Brasil: as diferenças foram criadas artificialmente, via comissões - e 1945, para tentar o obviar aos males de 1911.
Eu, pelo menos, não vejo que benéficos frutos produziram.

quarta-feira, março 12, 2008

Não concebo que possa ser indiferente, ou que subscreva delírios irresponsáveis sobre um património com 1000 anos.
Por isso, peço-lhe que assine e que espalhe.
Ainda a propósito do post anterior

A el-rei D. João IV

Que logras Portugal? Um rei perfeito.
Quem o constituiu? Sacra piedade.
Que alcançaste com ele? A liberdade.
Que liberdade tens? Ser-lhe sujeito.

Que tens na sujeição? Honra e proveito.
Que é o novo rei? Quase deidade.
Que ostenta nas acções? Felicidade.
E que tem de feliz? Ser por Deus feito.

Que eras antes dele? Um labirinto.
Que te julgas agora? Um firmamento.
Temes alguém? Não temo a mesma Parca.

Sentes alguma pena? Uma só sinto.
Qual é? Não ser um mundo, ou não ser cento
Para ser mais capaz de tal Monarca.

Soror Violante do Céu*

* que é uma poetisa grande

terça-feira, março 11, 2008

Vi o programa sobre os regimes políticos.
Os monárquicos não levantam a questão simples de que a alternativa republicana ao Rei não é o presidente da república mas a não existência de chefia de estado. O presidente da república que existe nas assim ditas repúblicas é feito à medida dos poderes que o Rei possuía, ou seja, é um avatar monárquico. A democracia ateniense e a república romana não tinham presidente. Nem a francesa post 1789 que quis imitá-las.

Interessante sempre, também, é ouvir-se falar das virtudes republicanas quanto é certo que algumas das características que hoje consideramos intrínsecas da democracia moderna foram cunhadas na monarquia inglesa: o rule of law, para falar apenas da mais interessante.
E a gente está a lembrar-se disto e de que nenhum cidadão português nem de longe usufrui de direitos políticos comparáveis aos de um súbdito britânico - coisa que aquela gente também sabe - e não haver ninguém que os confronte com essas coisas simples faz-nos esmorecer. É que seria a partir daí que a conversa poderia ter mais interessante.

P.S. Gosto sempre daqueles pequeninos momentos de desonestidade intelectual sem os quais não passa qualquer republicano que se preze. Há pouco tivemos o representante da maçonaria a falar da 2ª república, referindo-se à actual. A ditadura republicana do estado novo parece que não conta. Daqui a 100 anos, em que ordinal esquecido estará omitida esta garbosa 3ª República?

segunda-feira, março 10, 2008

Dia de inverno muito bem comportado, chuvoso, tristonho. Agora, por estarmos a doze dias da Primavera, num depois da chuva de fim de tarde, há um chilrear infeliz de passarinhos.

domingo, março 09, 2008

Serviço Público

«Onde está o Sócrates decisivo, determinado, "duro", que não dobrava nem torcia? Onde está o Sócrates que punha os privilegiados na ordem, a bem do povo e do futuro? Onde está esse ferrabrás que varria a feira? Está hesitante, inseguro, sem saber se avança ou se recua e está, sobretudo, sozinho. As primeiras "reformas", que foram feitas contra a gente indefesa, como os reformados, pareceram provar que ninguém lhe resistia, excepto como de costume um PC inócuo. Mas, pouco a pouco, com a ajuda da estagnação económica e de um autoritarismo cada vez mais presunçoso e fátuo, as coisas começaram a mudar. A televisão e os jornais deixaram de o poupar e os portugueses saíram para a "rua". Às dezenas, primeiro, e a seguir aos milhares. Os comunistas, claro, mas também o cidadão comum que nunca na vida se "metera em nada".Imediatamente a íntima fraqueza da personagem ficou à vista. Por um lado, o primeiro-ministro deu em fazer a sua própria apologia, com a fogosidade e o exagero de um treinador de futebol: a vaidade é frágil. E, por outro, cedeu à berraria que vinha de fora, demitindo Correia de Campos. Não percebeu dois pontos de uma luminosa evidência: que o sacrifício de Correia de Campos se reflectia nele e o tornava vulnerável; e que não se concilia um adversário fugindo e, ainda por cima, fugindo em puro pânico. Os professores, que desceram ontem a Lisboa, traziam Correia de Campos na cabeça e, agora, quer a ministra fique, quer não fique, o tempo das "reformas" já passou. O "anti-Guterres" falhou como falhou Guterres. Pior ainda: falhou com muito menos dignidade. A manifestação do PS da próxima semana não é, como se disse por aí, uma resposta à "rua". É uma típica "manifestação de desagravo", essa velha missa de fiéis defuntos para gozo e glorificação do chefe, de que Salazar tanto gostava. Se fosse uma resposta seria com certeza uma entrevista na televisão (desta vez não negociada), em que Sócrates mostrasse um módico de força e de firmeza e, com sorte, conseguisse convencer o país que não tencionava governar para a hipotética maioria de 2009. Só que Sócrates, hoje provavelmente espantadíssimo com a ingratidão da Pátria e a irracionalidade dos portugueses, governa mesmo para a maioria em 2009. E para isso precisa de cultivar a fantasia do "anti-Guterres", de que aliás se orgulha, e fazer, de facto, o que Guterres fez. Não é possível.»

Vasco Pulido Valente

sexta-feira, março 07, 2008

Ah, esta gente começa a incomodar mesmo quem não depende deles e se consegue afastar-se um pouco, abstrair-se disto. Mas há o cheiro... e o cheiro espalha-se.
Noto nos blogs, com estranheza, a ausência de Chamfort. Fica uma citação: «On est heureux ou malheureux par une foule de choses qui ne paraissent pas, qu'on ne dit point et qu'on ne peut dire.»

E não menos acho intrigante a ausência de Comte-Sponville. Deixo, também, um citação dele: «La morale commence là où aucune punition n'est possible, là où aucune répression n'est efficace, là où aucune condamnation, en tout cas extérieure, n'est nécessaire.»

quinta-feira, março 06, 2008

... mas não há bom dia que resista a arrumações de papelada: do agradecimento de pêsames da família de um amigo que morreu há muito - afinal, o primeiro de nós a desaparecer, ainda quando a morte é uma intolerável intrusa, um escândalo - a cartas de família, tudo fez com que os bons ânimos soçobrassem.

"Oh What A Beautiful Morning"*

* "...e cedo erguer..."; vd, infra, hora do post.

quarta-feira, março 05, 2008

Sim, esteve aqui uma fotografia de Katherine Heigl, uma nuvem de mulheres perfeitas. Tirei-a por não ter conseguido encontrar uma legenda apropriada. Ainda me estou a documentar sobre ela: apoiará o McCain? Acreditará que o homem já chegou à Lua?

terça-feira, março 04, 2008

Marion Cotillard não acredita que o 11 de Setembro tenha existido, nem que o homem tenha chegado à Lua e isso parece desgostar alguns dos seus admiradores.
Comigo não se passa o mesmo: gostei muito de conhecer Marion, achei-lhe qualidades indesmentíveis e ser um bocadinho tolinha não a torna menos fabulosa. Até, perdoem-me, essas pequenas palermices, esse fazer beicinho perante factos si mal habillés, acentua o encanto.

Soube agora, agora, que ele está rapidamente a arrepiar caminho, no medo que tais crenças, tão francesas, a prejudiquem nos USA. Marion, não é, por isso, uma querida patetinha; é uma linda e adorável calculista, sensata e muito prática (um exemplo desse cepticismo francês, feito de crenças e ponderação), mas tudo isso não lhe tira o encanto (não confundamos tudo).
Chère petite Marion.

domingo, março 02, 2008

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...

Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...

Alberto Caeiro