domingo, julho 31, 2005

Creio que já tinha falado de Churchill e da sua opção de resistir e lutar.
Hoje interrogar-nos-iamos ainda sobre os perigos dessa luta: podia-se lutar contra o nazismo mantendo-se a democracia? A opção pela guerra representava quantas mortes em ataques alemães que uma negociação evitaria? E etc, etc.

O interessante - embora dado habitual - é que os mais preocupados com a democracia e a sua preservação foram, geralmente, partidários activos das ditaduras do leste europeu , defenderam tais regimes e consideravam-nos, até, "avanços" em direcção ao futuro.
E pensam que a gente não tem memória.
O après-dîner acabou, saíram agora, e passei por "aqui" a caminho da cama.
Da leitura de interrogações - e doutas, algumas - sobre o comportamento da polícia londrina fica-me cada vez mais a sensação de que a certeza (agora pacifica - e rectrospectiva) de Churchill sobre a atitude a tomar por alturas da 2ª Guerra Mundial seria hoje uma incerta, rude, primária e atoleimada certeza de gente inculta, conflituosa e bulhenta. Tudo, mas tudo, menos a óbvia única coisa a fazer que hoje nos parece ter sido.
(Não era, no entanto, a "única" coisa a fazer, podiam ter capitulado, ou negociado com os nazis e os seus então aliados comunistas.)

sexta-feira, julho 29, 2005

Quase a bonança: partiram os barulhos, tudo está quase pronto e no silêncio das coisas já feitas.
Mas, "para depois das férias" ficaram algumas pequenas coisas para fazer que, estou quase certo, se transformarão, a seu tempo, em pequeninos entraves desagradáveis.

quinta-feira, julho 28, 2005

Martelos pneumáticos por todo o lado. Serve de consolo o estar fresco e a esperança de que o pior já tenha passado (frase audaz, já que ainda há pouco furaram inadvertidamente um tubo e uma pequena cascata cor de ferrugem escorreu pela parede acabada de pintar).

segunda-feira, julho 25, 2005

Seca extrema e incêndios.
Hoje, o céu está nublado, talvez chova um pouco. Num telejornal, entrevista com a proprietária de um café de praia, sobre os prejuízos cuasados pelo "mau" tempo. Noutro lado, era com optimismo que se prometiam melhorias, isto é, o regresso da seca e da canícula.
Que fazer desta gente apalermada que redige notícias? Que consistência de mau sorvete a daqueles cérebros!
Com gentalha assim não admira que o Dr. Soares seja a novidade da season.
O comissário espanhol Almunia fala da possibilidade de um processo de pobreza acelerada em Portugal. Depois da apreensão inicial, quase se simpatiza com a ideia, tanto mais que a pobreza purificada no crisol da perda faz ainda parte das nossas alquimias salvíficas que, ao contrário do resto do mundo, se não apoiam em felicidades e fins felizes por medo de tudo isso ser uma estafante coisa. A paralisia da miséria ancilosou-nos, moldou-nos o esqueleto à miséria e, por isso, tudo o resto nos dói.

domingo, julho 24, 2005

Domingo nublado. Choverá? Há dois meses que não cai uma gota de água.
Neura finis patrie a propósito do 24 de Julho e dias seguintes

sábado, julho 23, 2005

Ainda à volta da nova lei do arrendamento.
Cada vez mais será uma lei "fútil", já que grande parte dos actuais inquilinos são pessoas de idade. A gente mais nova foi empurrada para a compra de casa, com recurso a crédito. Políticas de habitação pouco terão a ver com a lei do arrendamento: a política de habitação está nas mãos dos bancos, do mercado e da crua lei das obrigações: quando as prestações deixarem de ser cumpridas, executa-se a hipoteca e... rua.
As famílias portuguesas estão sobreendividadas e os juros estão em mínimos históricos. Ou seja, se agora já há muitas situações de incumprimento dos empréstimos mais haverá quando os juros subirem, como não deixará de acontecer.
Nessa altura, talvez estejam reunidas as condições para que o governo se resolva a defrontar-se com a realidade e pense, então, numa lei do arrendamento a sério.
Ah!, parece que vão tentar obrigar arrendamento compulsivo, ou criar dificuldades a quem não queria gerir os seus bens de acordo com a vontade governamental. É muito desta gente.

Vou voltar para o meu sábado.

sexta-feira, julho 22, 2005

O governo sobrante resolveu dar largas ao kitsch das boas intenções na nova lei do arrendamento preparando-se para prover a todas as precisões dos inquilinos (mesmo as daqueles que têm confortáveis rendimentos e pagam algumas rendas-esmolas de poucas dezenas de euros por apartamentos imensos no centro de Lisboa). Ouvia isto enquanto à minha frente deparava com a notícia de que os leilões dos apartamentos executados pelos bancos aos proprietários por falta de pagamento eram uma boa oportunidade de comprar casa não muito cara. Os antigos donos, se ninguém os acolher, ficam na rua e a lei não os contempla com qualquer boa intenção legislativo-subsidiária. São apenas pobres e sem casa e estarão contemplados na rubrica "desemprego", realidade com que a gente que passa as tardes departamentais a brincar às legislações não sabe lidar.

O governo restante também está muito preocupado com a fuga de capitais. Diga-se, o que a notícia omitia, fuga ilícita de capitais ao fisco. Mas todos nós, nunca é demais dizê-lo, podemos fazer circular os nossos capitais, gordos ou magros sejam eles, através da compra de fundos internacionais, em bancos portugueses ou estrangeiros. Em todo o caso, longe das mãos desta gente (parece-me boa ideia).

quinta-feira, julho 21, 2005

quarta-feira, julho 20, 2005

Não fizeram nada, salvo algum helicóptero que tenham comprado ou outra bugiganga qualquer, não fizeram nada, sequer as medidas fáceis, populistas e populares de pôr o exército a patrulhar matas e pinhais. Nada! Depois é isto, esta tristeza desoladora e árida, esta ardente certidão de incompetência.

E eu, que podia estar nalgum lugar civilizado e fresco estou aqui, sei lá se "a ver". Como "eles" não faço nada. Mas o meu desejo absurdo de sofrer não afecta mais ninguém. É um fraco consolo, bem sei.

terça-feira, julho 19, 2005

O ser este blog oficialmente errático nestes tempos de calor e férias, não quer dizer que seja escasso.
No silêncio da tarde quente* lia as "Novelas do Minho" de Camilo e achei que devia deixar anotado no blog esta leitura, que me quero lembrar dela depois.

* os calores dos Junhos e Julhos dos meus tempos de criança eram silenciosos, calmos, no sossego das janelas semircerradas detinham-se as coisas todas naquelas horas.
Em férias, sem compromissos, os do blog incluídos.

sábado, julho 16, 2005

Brahma

If the red slayer think he slays,
Or if the slain think he is slain,
They know not well the subtle ways
I keep, and pass, and turn again.

Far or forgot to me is near;
Shadow and sunlight are the same;
The vanished gods to me appear;
And one to me are shame and fame.

They reckon ill who leave me out;
When me they fly, I am the wings;
I am the doubter and the doubt,
And I the hymn the Brahmin sings.

The strong gods pine for my abode,
And pine in vain the sacred Seven;
But thou, meek lover of the good!
Fine me and turn thy back on heaven.

Ralph Waldo Emerson

quarta-feira, julho 13, 2005

Muito opinativo, este blog. Calor e opiniões são coisas que juntas vão mal. Vou refrescar.
O Instituto da Inteligência diz, segundo o que ouvi num telejornal, que o jeito para a matematica depende de factores cognitivos e de personalidade que são geneticamente determinados. Será. Conviria que se soubesse se os resultados do antigo 5º ano do liceu eram semelhantes aos do actual 9º ano. É que, ou eram e caso resolvido, os portugueses são burros, ou não eram e, nesse caso querem fazer de nós estúpidos.
Em afirmações deste jaez o que me parece existir é uma ligeireza terceiro-mundista e um abuso da nossa paciência muito condenáveis.

P.S. Ponho de lado a hipótese de uma mutação genética.

terça-feira, julho 12, 2005

70% das criancinhas chumbam a matemática
70% das criancinhas chumbam a matemática
70% das criancinhas chumbam a matemática
70% das criancinhas chumbam a matemática
70% das criancinhas chumbam a matemática
70% das criancinhas chumbam a matemática
70% das criancinhas chumbam a matemática
70% das criancinhas chumbam a matemática

segunda-feira, julho 11, 2005

Desde as oito da manhã que vivo entre betume, massa, ladrilhos. Nas dúvidas, chamam-me para ir decidir. As decisões têm custos mas, como me lembrou o empreiteiro, "não há gosto sem desgosto" e o que é preciso é o "sr. dr. olhar e gostar" que depois se farão "os ajustes" - de preço, claro está. Atordoado pelo barulho, calor e obras, convenho, tristonho. Tal qual o país.

domingo, julho 10, 2005

Eis um sítio que há anos congemino visitar, por me parecer muito agradável para umas férias. Por pura inércia e preguiça tenho adiado essa visita e uma possivel alteração dos meus hábitos de férias (outra vez aquela praia délabré pela falta de gosto e ganância onde me aborreço até à vertigem barbitúrica).
Caloraça impossível, lá fora. O ar condicionado torna o dia suportável, mas espero que a temperatura baixe, que este ano seja normal, que acabe esta enfiada de verões excepcionalmente quentes.

Os britânicos comemoram o 60º aniversário do fim da II Guerra Mundial. Parece-me que, aqueles, ao menos aqueles, continuam vigilantes e com pouca vontade de soçobrar perante as dificuldades ou os esquecimentos ingénuos e catastróficos de que falava ontem Vasco Pulido Valente.

sexta-feira, julho 08, 2005

Hoje, uma "calma resoluta" - Spectator - reinava em Londres.
O contraste com o tom ofegante e histérico e quase desapontado da repórter portuguesa era confrangedor. O lugar daqueles "jornalistas" não é em Londres, é entre a gritaria da populaça, as correrias ao acaso e os palavrões das "forças da ordem" que se ouvem em qualquer reportagem de desgraças nacionais, nos incêncios que ninguém consegue parar ou em crimes diversos.
É isto tipo de coisas que me maça: a Al-Qaeda consegue vexar-me em minha casa.

quinta-feira, julho 07, 2005

Os atentados de hoje em Londres não fazem caducar a pergunta feita no Spectator e que aqui se trancreveu ontem. A preocupação que a motiva, a da liberdade, faz parte dos grandes valores da Europa que se tornaram universais e as acções cobardes desta manhã em nada modificarão tal.
Espero que os responsáveis sejam julgados e o facto de que terão um julgamento justo, com latos meio de defesa, é a resposta serena e esmagadora que a Grã-Bretanha e a democracia darão a todos fanáticos.

quarta-feira, julho 06, 2005

As perguntas que em Portugal não se põem, nunca se puseram e que desespero algum dia se venham a pôr e se pense sobre elas:

"And then, as the mother of all considerations, there is this: why should someone in this free country, and who is not apparently committing a crime, be forced to prove his or her identity? Too many forget that ID cards would alter the whole balance of the largely unwritten (and largely unwriteable) contract between the individual and the state."
Peter Oborne, The Spectator

Creio que em Portugal se pode ser presidente da republica ou juiz do supremo ou deputado ou... sem ter sido jamais atormentado por esta e outras perguntinhas pequenas.
Entre Londres e Paris não havia hesitação possível, hurrah por Londres, a cosmopolita, a tolerante Londres, a sensata Londres, a heróica Londres, a elegante e alegre Londres.

Em Paris a decepção foi grande. - Animem-se rapazes! Ó, pst, era mais uma rodada de lacan com gelo para aqueles senhores, pago eu, em nome dos velhos tempos.
Que sono a esta hora, quase humilhante para um noctívago!
De qualquer modo é apenas para explicar que me lembrei de Ruskin por ser ele um dos destinatários de Proust, que foi tradutor dele em francês. Nunca consegui obter essa tradução e, por isso, as minhas leituras de Ruskin são lacunares. E faz-me muita falta ler Ruskin a sério, por causa de umas "coisas" do Eça.
Será que tomo um cafezinho fraco?

terça-feira, julho 05, 2005



John Ruskin, A Courtyard at Abbeyville

Diz Ruskin desta sua fotografia : "in 1858 (by my own setting of the camera), in the courtyard of one of the prettiest yet remaining fragments of fifteenth-century domestic buildings in Abbeyville. The natural vine leaves consent in grace and glow with the life of the old wood carving; and thought the modern white procelain image ill replaces the revoluition-deposed Madonna, and only pedestals of saints, and canopies, are left on the propping beams of the gateway - and though the casque, and cooper's tools, and gardener's spade and ladder are little in accord in what was once stately in the gate and graceful in the winding stair - the declining shadows of the past mingle with the hardship of the present day in no unkindly sadness; and the little angle of courtyard, if tenderly painted in the depression of its fate, has enough still to occupy as much of our best thought as maybe modestly claimed for his picture by any master not of the highest order."
A gente não pode estar a par de tudo, juvenil afã, mas convenho em que me senti vexado por só agora ter sabido da publicação de uma recolha de "Lettres" de Proust, pela Plon.

segunda-feira, julho 04, 2005

Tempo magnífico (23ºC, vento noroeste). O FTSE sobe, o euro desce, boas notícias. Ao invés, as economias da França e da Alemanha não "descolam", o desemprego continua, o que, como dizia alguém, não se deverá a qualquer desregulamentação...

Tenho muitas saudades do mar, não da praia ou de "ir de férias" mas do mar em si, da água glauca. Água glauca, assim mesmo.

Ontem estive a ver fotografias. Actividade muito de evitar nesta crise de meia idade. Que seres eram aqueles que me antecederam? Como me tornei seu sucessor se não consigo engendrar qualquer plausível solução de continuidade -ou sequer de contiguidade?

sábado, julho 02, 2005

Noutros tempos por esta altura já a casa estava fechada, os movéis cobertos de panos brancos tudo pronto para suportar as grandes calmas do Verão e eu na praia entregue à construção de castelos de areia, consumo de sorvetes na Cassata, ali na esplanada, idas ao jardim e corridas de triciclo nas matinées infantis.O regresso aqui era só para fins de Setembro poucos dias antes da escola começar e quando já se ansiava por aulas (sic).

sexta-feira, julho 01, 2005

Creio que não me estou a esquecer de nenhuma regra de boa educação (nem das numerosas excepções aos princípios gerais) e que o dono da casa que venha à porta receber uma visita lhe deve dar a precedência na entrada.
É o que não faz Blair com Barroso: Blair vem à porta recebê-lo, cumprimenta-o para as câmaras dos fotógrafos e volta a entrar, deixando na rua um triste e embaraçado Barroso.
Eu não simpatizo por aí além com Blair (embora seja o menos mau que há por essa Europa), mas rio com gosto da cara de Barroso (a situação não é inédita).
Claro está que Barroso, tratado abaixo de cão, deveria simplesmente manter-se na rua e não entrar sem que o seu anfitrião caísse em si, voltasse a sair, e lhe desse a precedência devida na entrada do 10, Downing Street. Eu sei que isto é um "minus" mas é revelador sobre ambos.