quarta-feira, outubro 20, 2004

"Vou descansar no cinza húmido destes dias" Isto não é uma frase, é um lugar comum, trivial, um sintoma dessas sensibilidades que andam por aí nas promoções da metáfora pronto-a-vestir e que há trinta anos faziam "efeito". Estão gastas, felizmente, mas são baratas e não se resiste à pechincha.
Não descansei nada, estive irritado e preocupado, farto da ventania. Outro dia medíocre, folheei o TLS que chegou e mais nada. E agora reparo nesta outra pechincha, mais dvdosa(1) e modernaça mas que vai dar no mesmo, é o ar confessional hodierno, a gente finge confessar nadas em má prosa e que sim, que é assim mesmo, muito spleen, busca-se aquiescências e, vá lá, já adivinharam, cumplicidades, ainda se diz, sem tremolos. Que desonestidade, que falta de vergonha na cara, este fingir que se disse tudo, que se desabafou, oh o culto da fragilidade, do "eu sou isto" ou o mais sofisticado naif e oculto, o compungido: "se eu fosse apenas isto", outra impostura bondosa quando se é pouco mais, segundo tudo leva a crer, que esse lamento fingido e verdadeiro. Enfim, o que me tem animado é o Gilgamesh. Não fora o Gilgamesh, em boa hora comprado, e estaria a contas com um Outubro muito desagrádavel. Sério.

1 - é da interioridade, o dvd ainda é uma novidade. Há muito que não se pergunta, "Já há em dvd?" que há sempre, se não da zona 2, da zona 1, - a famigerada zona 1... -mas eu fiquei com esta no ouvido. E há, de facto: "Comprei o pack do Dreyer". Tem de se convir: é dvdoso. Eu acho.

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