A pretexto de pôr as duas tomadas eléctricas, duas simples tomadas de parede, está ali há uma hora a e coisa está longe, muito longe de estar acabada. A obra mete calhas e, para elas, creio que dezenas de buracos na parede, tudo feito com uma minúcia tão vagarosa quanto supérflua. Se não ficasse tudo tapado - mas ele não sabia que era para ficar tudo tapado - teria sido a catástrofe.
Catástrofe que se anunciava, desde logo, pela abundância de ferramentas e material, uma desmesura rocaille que, ao invés de me sossegar sobre a eficiência do serviço, me deu um primeiro lampejo de mau agoiro sobre a imensa conta que me vão apresentar. Ah sim, porque a conta vai ser imensa, disparatada, asiática: a modernidade e a europa tornaram-se em portuguesíssimos pretextos para ganhar a não merecida brioche de cada dia; agora que o juro secou o crédito e, com ele, a geral indiferença pelo dinheiro, a bulimia extorsora voltou-se para a clientela mais antiga, durante decénios condenada a um snob ostracismo.
Foi de ontem para hoje, num ápice ansioso, quando dantes demoraria semanas.
Entretanto, depois de hora e meia para o assunto das tomadas, e já noutra tarefa eléctrica, o desgraçado (é empregado de um dos nababos locais da electricidade a quem eu suspeito vidas duplas de yatchs em Portofino e longas estadas no Connaught) tendo-se apercebido que incorrera no desagrado do cliente - mal ele sabe que eu já resolvi (e me conformei) com o ser roubado de uma vez só - a cada pequeno passo pede à empregada que vá lá chamar o sr. dr. - que se encontra refugiado no gabinete a escrever posts com um ar de quem redige um parecer grave.
Chegado ao local da ocorrência, de ar grave e levemente agastado - o cliente exigente finge meditar e e depois aprova, seguindo a política do mal menor.
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