Quem tem a minha idade poderia subscrever, com poucas adaptações, o que Eça escreve no seu ensaio famoso (1) sobre o Francesismo.
De inglês - ou anglo-saxónico - na minha infância, apenas me lembro dos padrões dos calções, de algumas camisolas, de um ou outro presente comprado em Londres, de alguns enfeites de Natal e do Peter Pan em discos da View Master. Liam-se, contudo, livros infantis ingleses, de Enid Blyton que, segundo uma Irmã Doroteia, continham alguns perigos para a formação das crianças (sic) e qualquer coisa de Dickens (Oliver Twist?).
Tudo o mais, posso dizê-lo, era francês. Em tenra idade fui iniciado em Dumas, Verne, livrinhos sobre a história de França - alguns ilustrando os horrores da Revolução Francesa. Eram franceses ainda os livros de divulgação científica - durante anos folheei "L'aventure de la terre" - e francesas eram as revistas que os adultos assinavam e parte dos livros nas estantes.
Da Inglaterra falava-se do "civismo" que o nosso povo - então mera paisagem - infelizmente não tinha, elogiava-se a educação, os jardins, a "excentricidade".
Foi, porém, com Eça, com o afrancesado Eça que, nos finais da adolescência, iniciei a minha deriva para o outro lado do canal e descobri a cultura e as instituições britânicas.
Hoje, um dos meus hobbies é não gostar da França, embirrar com a França, de Mallarmé a Voltaire - que digo? - a Froissart, uma atitude de rebeldia infantil que não deixo de estimar, menos pelo anti-francesismo em si do que pela pura inconsequência.
Isto tudo para dizer que continuo a visitar sites franceses... e que neste se passam bons momentos.
(1) O Almocreve, num exercício de ingenuidade tocante considera do conhecimento geral a polémica Eça-Camilo. Eu considero que a notíca mesma da existência de Eça e Camilo o não é...
Aproveito para agradecer a evocação da I.S. que me levou a folhear algumas páginas da "Arte de viver" do Raoul Vaneigem
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