O Natal...
Creio que, mesmo antes de ser uma festa cristã, já poderia ser perturbador: instalado no "recolhimento do Inverno" de que falava Rilke, pode ter havido sempre quem achasse o festim prematuro, uma janela aberta de repente que ofusca a escuridão calma, este tempo do passado que o Outono inaugurou.
Feito natal de Cristo, ocasião de júbilo, a ambiguidade acentuou-se, nunca perdida a sua natureza dúplice, fúnebre e de exorcístico desejo de vida. Tradições embutidas no dia-a-dia e hoje perdidas, ajudavam a suportar a luz súbita. Hoje, à falta delas, sobressai a grosseria, o regabofe, na proximidade do insuportável - ou edificado sobre ele.
Por isso, aqueles que suspiram, anseiam, bradam por calma, por paz e não têm medo dos mortos - que, também esses, cada vez mais os há menos - e a quem o destino libertou dalgumas das tiranias do presente, passam o Natal em casa, descansados, abençoadamente sós, ou o mais possível longe da tribu, na paz do Menino Jesus que dorme e sossega do cansaço de ter nascido.
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