A história é conhecida: durante decénios - a “coisa” começou com a 1ª república - o estado dedicou-se a brincar com os imóveis dos outros com o resultado que está à vista: as cidades estão cheias de prédios a cair, alguns caem mesmo e, pior ainda, em sítios por onde passam membros do governo, colegas deles de governos estrangeiros e turistas(os nacionais não contam). Em suma: a coisa dá um terrível mau aspecto, é capaz de já ter provocado graçolas em Bruxelas, e o governo, brioso, parece ter resolvido atamancar a situação, para pôr “isto” mais moderno e com um ar de 1º Mundo.
Pensariam os mais ingénuos que, copiando o que se passa lá fora onde costuma ir pedir perdões, mendigar e receber ordens, o governo tentasse, talvez, criar as primeiras condições para a existência do mercado de arrendamento.
Puro engano! Querendo-se talvez vingar das humilhações e vexames que sofre com a gente crescida, em casa gosta de mandar com a prepotência que lhe sobrou dos tempos do Senhor D. José I e de Sebastião. E prepara-se para confiscar os prédios que os seus proprietários, vis mentirosos, dizendo-se totalmente descapitalizados por décadas de rendas de alguns mil réis, juram não conseguir recuperar. Para dizer isso mesmo aos infames, estava há pouco na televisão já não sei quem, a atirar para o género "executiva americana anos 70-80", que explicava como ia ser. Melhor, tentava explicar por que tinha de ser... e tinha de ser por que os proprietários dos prédios, segundo ela, e por motivos desconhecidos - capricho, maldade, adesão a estéticas expressionistas, ou pelo gosto pitoresco da ruína, os não reparam...
Primeiro, rude saloio, pensei que a explicação era desonesta intelectualmente. Depois, reflecti, pensei melhor, que o governo, que é pai, é quem sabe e eu nada sou nem sei. Assim, tomo por boas as explicaçõe governamentais.
Creio, contudo, embora pouco saiba, que posso pedir ao meu governo coerência ( sim, sim, eu sei, estou só a pôr uma hipótese) e pensamento largo: tratando-se de evitar a degradação, porque parar nos imóveis? Comece o governo, que tem prática em desmoronamentos, por se confiscar e vender-se a si e à sua produção legislativa em hasta pública. Eu, que gosto de bric-à-brac, talvez me tente a comprar um despacho, um decreto-lei. Talvez este que se prepara e que é ilustrado com uma desusada e raríssima falta de princípios, de boa fé e bom-senso.
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