segunda-feira, dezembro 15, 2003

Adormeci ontem cedo, acordei há uma hora, com calor, mas sem sono.
Resolvi madrugar.
O que me levou a Sá de Miranda, não sei.
Fica aqui, presente destas horas, este soneto lindíssimo:


«O sol é grande, caem co'a calma as aves,
do tempo em tal sazão, que sói ser fria;
esta água que d'alto cai acordar-m'-ia
do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
qual é tal coração qu'em vós confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,
vi tantas águas, vi tanta verdura,
as aves todas cantavam d'amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mestura,
também mudando-m'eu, fiz doutras cores:
e tudo o mais renova, isto é sem cura!»

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