sábado, novembro 08, 2003

Encontrei aqui excertos do Diário de António Ribeiro Saraiva - este senhor. Do que escreveu conhecia um ou dois fragmentos de texto; do homem, menos: do seu longo exílio e da muita idade com que em Inglaterra morreu. Quando hoje à  tarde - que foi uma suave tarde de Novembro - lia as suas memórias - organizadas em entradas numeradas e alíneas - encontrei um romântico - não no incapaz sentido em que se usa a palavra corriqueiramente, mas no de alguém que aderiu ao ideário do romantismo: leiam-se as "anotações inglesas" do Diário e, nelas, atente-se ao seu quotidiano londrino, a alguns assuntos sentimentais, tudo inventariado com uma espantosa modernidade romântica - que o Garrett, de que ele desdenha, por seu turno não desdenharia.
Miguelista e romântico, eis uma "avis rara".

As suas anotações portuguesas fazem dele, "malgré lui", um estrangeirado peculiar, um estrangeirado "inglês" que não quer, ao contrário dos propriamente ditos, "educar-nos" mas corrigir a administração caótica...
E, na entrada 23 a) encontro, implícito na comparação que faz do morgado mau administrador com o "homem lavrador, ou doutra profissão das médias da sociedade" - e não com um qualquer morgado bom administrador... - o explícito programa d' Os Fidalgos da Casa Mourisca - um "inconsciente" gosto pelo "fomento" - perdõe-se-me tanta aspa.
Talvez sem dar por isso, pequeno aristocrata de província, filho de desembargador, intérprete do mal-estar classe média citadina e rural, esmagada entre o povo e a aristocracia de corte que domina na administração e nos cargos palatinos, é, a um tempo, um homem dos grandes ressentimentos futuros quanto do passado que quis preservar.
Estado Novo avant la lettre?




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