O Chiado perdeu o ar abandonado de há uns anos atrás, mas está morto, como morta está toda a Baixa. Muito egoisticamente penso no que mais directamente me afecta, a perda da Baixa como ponto de encontro. Não foi só a incrível demora na reconstrução depois do fogo que finou a Baixa. A minha geração, a primeira sem ter empregadas, perdeu o hábito de sair. Quando os filhos cresceram - e já cresceram - a Baixa não voltou aos seus roteiros de tardes e o «sair» não foi reinventado em termos actuais. Pacóvia, bacocamente, faz-se a imitação néscia do estar até tarde no emprego - em vão, dados os nossos índices de produtividade - mas não se tenta imitar o encontro de fim de tarde que anima as grandes capitais europeias onde, realmente se produz - veja-se Madrid ou Londres.
Lisboa está menos civilizada, e aquele travo estranho que se sente no deserto Chiado é o da ausência do savoir vivre, é a vitória da vida de subúrbio, de arrebalde inóspito, e da longínqua lembrança do trabalho rural de sol a sol que -escondido e negado - levaram do interior os migrantes do post-25 de Abril.
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