Resolvi pôr-me a caminho do Chile. Não para assistir ao enterro do antigo ditador, mas para ver como está aquela gente. Democracia, têm. Liberdade de expressão, idem - li vários jornais de opiniões diferentes e divergentes. Crescimento económico, também, e num grau que, confesso, me deixou um pouco invejoso ou, pelo menos, entristecido por aqui não ser asssim. Santiago do Chile pareceu-me uma cidade moderna, próspera, cosmopolita, elegante, com aquele ar de quem está bem na vida e que a mim, nado em Lisboa, me fez pensar na cidade suja e avelhentada, quase maltrapilha, que é hoje a capital portuguesa.
Depois deste primeiro olhar sobre o Chile espreitei os blogs chilenos: muitos e diversos. Conclui que os chilenos não estão mal.
Fui ainda ao site da Amnistia Internacional. E aí, fiquei estupefacto: aquela organização, reconhecendo que o Chile não tem problemas de direitos humanos de maior aconselhava, no entanto e energicamente, o governo da democracia chilena a incentivar os demais direitos para além dos já existentes e que são os comuns das democracias. Pareceu-me que se imiscuia em assuntos internos de um povo soberano, mas enfim... A preocupação principal era com uma greve de fome de quatro condenados por terrorismo e que tinham sido alimentados à força num hospital. Ah, e indignava-se muito por o Supremo Tribunal do Chile democrático ter considerado que as investigações devem ter prazos... Bem, mas não fora aquele indisfarçável e inimitável ar de prosperidade que tinha acabado de ver à direita e à esquerda no Chile pensaria que me tinha enganado no relatório. Mas não, era mesmo à democracia chilena que eram dirigidos aqueles remoques.
Resolvi ir ver o que diriam então de Cuba... Ah, lá estava, 72 presos de consciência, ou seja, presos políticos, e que sim, que havia problemas com a liberdade de expressão em Cuba. Parece que a AI não considera que Cuba seja uma ditadura e que manter um regime ditatorial não é, por si só, um crime nojento contra os direitos humanos. E para que não haja muitas perguntas é adiantado que "the embargo by the USA against Cuba continued to contribute to a climate in which fundamental rights were denied". Assim mesmo. Fiquei elucidado.
Depois disto, esperavam-me ainda as declarações do juiz Garzón que afirmou que os processos contra Pinochet não seriam encerrados. Tinha aprendido que a responsabilidade criminal terminava com a morte. Mas não, segundo Garzón. Já que assim pensa, o melhor, no entanto, é começar por casa: à esquerda e á direita e já que a morte não é obstáculo, não faltam motivos para inquéritos. É evidente que isso pode não ser muito conveniente, mas onde estão em causa princípios... Querendo continuar a fazer justiça no estrangeiro tem Cuba. Estão ainda todos vivos, ou quase. Quer nomes? Basta ler o diário oficial da ditadura cubana.
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