Há horas, hoje à tarde, tinha lido um artigo que levantava a hipótese de todos os recentes acidentes clínicos de Pinochet serem um expediente para se livrar da justiça. Não eram, morreu. Talvez com o fito único de contrariar esta análise arguta, mas morreu.
Eu detesto ditadores e ditaduras e lamento que Pinochet não tenha prestado contas ao seu povo.
O que logo me irritou quando soube da morte, devo confessar, é que muitos daqueles que nos próximos dias lamentarão que Pinochet tenha morrido sem ter comparecido perante um tribunal, sejam os mesmos que se permitirão, sem qualquer pejo, com aquela desonestidade intelectual que lhes é tão peculiar quanto a impunidade em que se julgam investidos, chorar a morte doutro ditador, o octagenário e sanguinário Castro que, ao contrário de Pinochet, não se afastou do poder para permitir a transição para a democracia, é responsável por milhares de mortes, prisões e torturas, instrumentos ainda agora habituais num regime tão cruel que até o stalinista Saramago se sentiu no dever de se demarcar daquele horror, do que é feito diariamente àquele Povo oprimido, dividido, postrado na pobreza, enquanto os chilenos vivem numa democracia cada dia mais forte e constituem o mais rico país da América do Sul.
E já agora, se bem que não seja muito vulgar formular desejos nestas ocasiões, que Castro, pelo menos Castro, ainda venha a ser julgado pelos seus crimes e os do seu regime.
Porque nao há boas e más vítimas.
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