Eu vivo aqui neste campo calmo, mas não descansado, à espera que estou sempre de receber uma carta do teor daquela que Casais Monteiro recebeu anos atrás de Fernando Pessoa e na qual JPP me dirá quem eu sou, onde nasci, o meu horóscopo, que pais e família me atribuiu e porquê, os meus defeitos de redacção, os meus vícios de raciocínio e limites que me contêm, ou o porquê do meu gosto pelo tempo frio; enfim e para abreviar, em que me explicará que, heterónimo dele eu e os outros todos somos, dos muito conseguidos aos que são meros apontamentos, aos brevíssimos esboços delineados em dois posts indecisos; em que me advertirá de que as minhas birras e algumas convicções, que me são, por vezes, tão duramente inexplicáveis, são discutíveis apenas enquanto meros recursos narrativos que afinal são; que, em suma, bloggers portugueses e alguns lá de fora, todos somos ele, nascidos de diferentes horas dos seus dias ou alturas da semana ou do mês, da posição em que se encontre, de onde se encoste para tomar uma nota, do que tenha acabado de ler, ou da necessidade de ilustrar um ponto mais difícil de um raciocínio.
Um dia receberei essa carta desagradável que, explicando tanto, explicará afinal a latere e pouco...
Uma coisa lhe agradeço, porém, desde já: que me tenha criado como um dos preferidíssimos de Charlotte, em tão boa companhia de tantos outros poucos happy few (s)eus.
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