Referendo Europeu
Queria manter o Impensavel longe das coisas do dia a dia. Impossível, porém, ignorar a questão.
O que se passa seria um escândalo se não fora previsível.
A "classe política" portuguesa nutre pelas decisões do "povo" a maior das desconfianças. Ao pessimismo paternalista do anterior regime que, em parte, aliás, adoptou e faz parte do seu "hidden curriculae" mental, veio juntar-se o actual, filiado próxima ou remotamente no marxismo, que considerava o "povo" - ou parte dele - , incapaz de se libertar, por si, dos grilhões que o subjugavam (veja-se, sobre o assunto, Sir Isaiah Berlin, "Realism in Politics" ) e de, por isso, escolher o seu destino sem o auxílio mais ou menos organizado de luminárias benfazejas.
O desconhecimento do que "realmente está em jogo", as complexidades da política europeia ou o desinteresse do "povo" (ou seja, o medo de que o "povo" decida "mal") são as desculpas que os membros da "classe política" - os que não querem o referendo e os que fingem que o querem - dão para que o novo tratado europeu não seja submetido a votos (os melhores deles pensarão, talvez, que um eleitorado "bem informado" votaria "bem", mas que com "este" - connosco - é um risco).
Uns e outros comungam, ainda, sob a capa do "realismo político" na mesma crença, na inevitabilidade, no sentido único e, por isso, afligem-se com isto de poder a vontade popular vir atrapalhar a capitulação provinciana perante as potências, perante um inelutável "estado das coisas" que eles há muito decidiram.
Para consumo interno arranjam-se desculpas e pretextos que nos entretenham. Irrelevantes, mesmo os mais bem tecidos.
Os pecados do passado, dizia alguém, projectam longas sombras.
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