Fui parar aqui, ao Ladrões de Bicicletas, (via Arrastão - um blog que visito, religiosamente, uma vez por semestre) e li isto: "O fascismo foi um dos produtos da crise do capitalismo no período entre as duas guerras. Serviu a certas fracções da burguesia como arma de arremesso contra o movimento operário. Por isso quando os fascistas reivindicam «justiça social e combate ao capitalismo selvagem e à luta de classes». (...)» o que pretendem é invocar a ideia de que é preciso criar estruturas que esmaguem e/ou disciplinem as classes trabalhadoras e os seus movimentos autónomos."
É a tese oficial do marximo sobre os regimes - não comunistas - dos anos 30. É interessante, por não explicar absolutamente nada, por ser, na interpretação mais benévola, um subtil convite à preguiça. A uma falsa preguiça, no entanto, já que se torna necessário um violento esforço de contenção de toda e qualquer curiosidade intelectual.
Em contraste, este In praise of Idleness do Conde Russell, de 1932, todo ele convida a pensar muito, a pôr na sua leitura aquele tipo de esforço abençoado com que nos espreguiçamos num dia em que acordamos bem dispostos, de bem connosco e com o mundo.
Leia-se - claro que não traduzo: «In the new creed which controls the government of Russia, while there is much that is very different from the traditional teaching of the West, there are some things that are quite unchanged. The attitude of the governing classes, and especially of those who conduct educational propaganda, on the subject of the dignity of labor, is almost exactly that which the governing classes of the world have always preached to what were called the "honest poor." Industry, sobriety, willingness to work long hours for distant advantages, even submissiveness to authority, all these reappear; moreover authority still represents the will of the Ruler of the Universe, who, however, is now called by a new name, Dialectical Materialism.» (itálicos meus)
2 comentários:
Andar a chamar nomes uns ao outros nao avanca discussao.
O fascismo tem uma origem historica na crise dos estados de nacoes na viragem do seculo (a unificacao do estado italiano e alemao, e as guerras de fronteira que geraram) e sobre esse manto de crise de legiitimidade politica caia ainda um recrudescimento das lutas sociais e obreristas (impelidas pela crise economica mundial de 29, reparacoes de guerra e pela nova organizacao do movimento socialista bolchevisado). A doutrina social do fascismo (com raizes catolicas) e' explicitamente um esforco de encontrar um meio termo entre o modernismo selvagem da "industrializacao" e o modernismo selvagem dos SOCIALISTAS. E' portanto textualmente uma resposta ao projecto social do movimento operario social democrata e bolchevique.
O que chamas de tese marxista e' talvez uma caricatura/abreviatura da tese vinda da historia social, que ve as ideias como produtos das suas sociedades. A alternativa e' a historia intelectual pura e o passeio por geneologias filosoficas do fascismo. Acho essa historia intelectual meramente retorica tanto que jamais gerou consensos empiricos.
Caro Senhor A. Cabral,
Ignoro se é um dos «bloggers» do Ladrões. Se é um deles (vai-me desculpar não retribuir o tu que, todavia, agradeço e me rejuvenesce) se é um colaborador, dizia, quero deixar claro que não pretendia chamar nada a quem quer que seja, embora a ideia de ser ligeiramente desagradável não estivesse - confesso - totalmente arredada dos meus intentos.
Quanto à coisa em si, o que afirmo é ser o que naquele «post» se expende a conhecida tese do «fascismo» enquanto resposta terrorista da «burguesia» perante a crise do «capitalismo», isto é, que põe a questão nos termos comummente usados pelos ideólogos e historiadores que se reclamavam do materialismo histórico. Podia-se, sobre essa posição, dizer milhentas coisas que a preguiça me impede sequer de elencar (tenuamente: se a coisa tem ou não um carácter necessário - e o porquê desta ou daquela característica das ideias ou na acção política nesses ideários e regimes - sobre a existência de uma crise do «capitalismo», sobre a natureza mesma do estado, essa «vexatio questio» para os marxistas, etc., etc.)
Mas o que queria deixar claro é o que Lord Russell expõe: a similitude de métodos do regime totalitário soviético com outros regimes totalitários ou autoritários (que, creio, não ficaria por aí: o ideário de todos esses regimes tinha outras similitudes, onde avulta, desde logo o relativismo).
Ouf... E era mais ou menos isto... Já que como fala da genealogia das ideias, atrevo-mo a lembrar-lhe, se por acaso não leu
ainda, o ensaio sobre Maîstre e as origens do fascismo de Sir Isaiah Berlin.
Resta-me ainda agradecer-lhe o seu comentário que foi feito, creio, com veras intenções esclarecedores. Discordo com quase tudo o nele diz, e até com o tom, às vezes «de cartilha» - mas conta a intenção.
P.S. A falta que «aqui» fazem os itálicos, nos comentários, local de itálicos por natureza...
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