Antes de adormecer, quando já estou com muito sono, consigo ainda dizer-me que podia ler umas linhas. E para essas poucas linhas soltas tenho um montículo de livros na mesa de cabeceira. Um deles é uma recolha da correspondência trocada entre uma senhora inglesa e a sua prima canadiana que, durante a II Guerra e tempos atribulados e escassos que se seguiram, lhe enviava generosas encomendas de pequenas coisas que no Reino Unido estavam racionadas ou não havia ( sabonetes, lenços, passas de uvas, fiambre em lata, alguns produtos instântaneos; e presentes mais substanciais e fantastásticos: perús no Natal, via Royal Air Mail). As cartas são quase apenas o agradecimento bem humorado e sentido dessas encomendas. Acabei por ficar intrigado com a minha fidelidade àquele livro, àquele reler, mesmo que seja, as mais das vezes, de literais meia dúzia de linhas e sabendo que é por mera preguiça que repego ainda uma vez no livro, por lá estar, por ser o mais à mão e o fácil de segurar.
No outro dia, porém, descobri o que realmente e principalmente me seduz: a exiguidade do assunto aliada aos mágicos efeitos da repetição, a matéria prima sobre que se edificou tudo o que é na nossa civilização.
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