Muitas vezes começo a escrever e, a meio, percebo que “tenho de ir primeiro por ali e ainda acolá” o que me leva tempo e castigará as minhas pobres falanges e “corto caminho”. Resulta dessa preguiça o ficar o que escrevo uma outra coisa, muito longe do que pretendia dizer aquando acometido da fúria blogante.
Hoje, por exemplo, quereria expressar a minha admiração pelo tom catastrófico, ou a para lá caminhar, usado por comentadores quando de referem ao actual governo e sei que a tarefa demoria. Fico pelo essencial: concedo a legitimidade de alguma inquietação. De resto, porém, parece-me que o governo não será muito pior do que o habitual; e o habitual é mau, ou muito fraquinho, o que condiz, afinal, connosco.
Que uma parte da classe média antiga (grande parte a viver nas cidades maiores do litoral) se esqueça, de vez em quando, do que somos (um pobre país que foi até há bem pouco tempo um pobríssimo país, com índices de terceiro mundo) e se imagine e à paisagem, a viver na média europeia, é coisa de que não tenho culpa alguma.
Nem este governo.
O que nele incomoda mais é, parece-me, o tornar essa doce ilusão do “Portugal moderno e europeu” mais difícil, já que não vem “legitimado” e afiançado para descanso do indígena, nem pela gravitas universitária, nem pelo carácter distante e sombrio do mandarim (necessidade que, em si, atesta o nosso subdesenvolvimento democrático e mental). Pondo as coisas “carrément”: “são gajos como nós” e alguns deles serão piores que nós (outros, melhores, lembraremos menos) gente que conhecemos, que sabemos onde mora, com quem já jantámos, que não nos surpreende que se tenha envolvido em conflitos pela posse de gabinetes, ou qualquer outra infantilidade, aliás simpática. Somos nós, são iguais a nós.
E “nós” somos isto. E por “isto”, pela realidade, tanta gente assustada....
Não se aflijam: há cem anos era pior.
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