segunda-feira, maio 03, 2004

Ontem, Domingo, vi, por acaso, parte de uma entrevista dada pelo Dr. João Salgueiro a duas senhoras mal humoradas. O problema, contudo, não é o mau humor das senhoras, mas a inépcia e mediocridade reveladas.
O Dr. João Salgueiro bem tentava falar de problemas graves: a questão do déficit - o estado gasta mais 5% do que arrecada - a questão da falta de estratégia de desenvolvimento económico do país a médio e a longo prazo (e igual falta de estratégia europeia), o problema de um país que tem tantos empregados quanto imigrantes, a necessidade de gerir a Justiça, de reformar a administração pública. Isto é, o Dr. João Salgueiro tentava falar dos problemas nacionais. E eu bem o queria ouvir discorrer sobre eles... As senhoras, contudo, estavam mais interessadas em saber do discurso do Presidente da República e se ele era uma advertência ao governo, ou se, em si, continha contradições.
Talvez em consequência do que lhe estava a acontecer, do total desinteresse das senhoras pelas questões que tentava expor, o Dr. João Salgueiro levantou a questão da responsabilidade do nosso jornalismo pela falta de debate de tais problemas no país. O tempo escoou-se, as senhoras deram por terminada a entrevista.
Eu, por mim, no remanso do sofá, pensava que ficariam ambas muito bem no desemprego.
Infelizmente, porém, atendendo às preocupações de ambas por questões tão tormentosas e facilidade de discernir o essencial do acessório, auguro-lhes um futuro brilhante entre os seus pares.

O TLS tem chegado às segundas-feiras. É muito agradável ler artigos com mais substantivos do que adjectivos, escritos por quem domina o assunto sobre que escreve e não meramente se "desenrasca" sobre ele, por haver lido meia dúzia de artigos.
A propósito, tenho dado por mim a pensar que, com duas ou três assinaturas, cabo, abstenção da imprensa e televisão indígenas - e da grande maioria dos assuntos locais, em geral - e internet, a amazon (fr e uk) e as poupanças bem empregues em fundos internacionais, já disponíveis para qualquer aforrador, não é totalmente doloroso viver aqui. Poderá haver alguma coisa de paternalismo fradiquista nesta minha opinião mas, para quem a natureza não dotou generosamente com o dom do entusiasmo, esta condição de "neo-estrangeirado" é uma solução muito praticável.

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