Escreve, a propósito de D. Duarte, Oliveira Martins n'"Os filhos de D. João I": "A literatura tem este defeito inerente; toma a nuvem por
Juno, confundindo as obras com as palavras. E o literato medíocre apresenta esta agravante: dar valor de ensino às banalidades que lhe passam pelo cérebro, como passam pela ideia de qualquer outro que, todavia, não pratica o vício de as comunicar ao próximo"
Senti-me ligeiramente ofendido, primeiro, mas a crítica, que li, repetida, em Maria Filomena Mónica a propósito dos blogs, parece-me ultrapassada tanto pela abominação romântica da banalidade, quanto por radicar numa visão ultrapassada: a de que "pôr em escrito" ou "pôr por escrito" é uma actividade nobre a que não devem aceder todas as ideias, todos os assuntos, todos os autores.
Ora, parece-me, a moderna abundância e facilidade editorial, perdida a conversa de soleira de porta, de café, de club, de serão velho de província que o século XX se encarregou de liquidar, limita-se a restituiu-nos à nossa condição de autores. Que seja de banalidades e por escrito, quanto, noutros tempos todos o eram oralmente, não me parece constituir um mal.
Mera questão de suporte.
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