O capítulo desta semana do curioso folhetim auto-hagiográfico do Dr. José Hermano Saraiva acolhe e publicita, no caso do diplomata de carreira, aristocrata, monárquico e católico Dr. Aristides de Sousa Mendes, a versão das Necessidades, que teria sido contada ao santificando por um Prof. Leite Pinto... Cada um faz a escolha das suas fontes: ou, entre outras, as autoridades do Estado de Israel, pouco dadas a ingenuidades ou atreitas a ceder a crendices (os comboios do volfrâmio selados, etc, versão sem o mínimo suporte documental ou testemunhal de qualquer um dos perto de 30 000 daquele modo supostamente salvos - e isto no país da Círcular 14...) , dizia eu, ou as autoridades Israelitas que homenagearam e homenageiam, após investigação dos factos, o diplomata Dr. Aristides de Sousa Mendes como um dos «gentios justos» que ajudaram os judeus aquando do horror do genocídio, ou a historieta indocumentada que o hagiografado quis tomar como boa.
Entre o rigor de quem teve de verificar quem foi quem no Holocausto dos seus e sentiu a horrível tragédia que dizimou milhares de famílias inteiras, as suas famílias, isto é, as autoridades do Estado de Israel e não sei quem que vivia o remanso de Lisboa, a escolha não me parece difícil.
O corajoso Dr. Aristides Sousa Mendes não salvou apenas judeus, mas pessoas perseguidas pelas mais variadas razões. Entre aquelas a que o Ilustre Português concedeu o visto, encontrava-se Sua Alteza Imperial Real, o Arquiduque Otão de Habsburgo, herdeiro do trono austríaco e que os nazis detestavam. O Arquiduque entregou, também, ao Dr. Sousa Mendes centenas de passaportes de outros austríacos para que fossem visados e assim pudessem fugir dos nazis. Não sei se foi já pedida a Sua Alteza qualquer declaração sobre o assunto, mas teria muito interesse ouvir o que tem a dizer.
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