O Abrupto indigna-se com o facto de uma jornalista da RTP ter ido entrevistar o embaixador do Irão disfarçada com um traje de camponesa muçulmana.
A mim também me parece uma leviandade, mas sou mais tolerante: para além das crendices em voga (multiculturalismo, politicamentes correctos, etc.) creio que a jornalista simplesmente se divertiu, reagindo ao mesmíssimo impulso que levava as senhoras da roda da Rainha Maria Antonieta a «fazerem Arcádia» vestidas de pastoras no Petit Trianon: o gosto - tão europeu (e um pouco cansativo...) - pelo diferente.
Então, como agora, celebra-se na nossa cultura o distante, o exótico; por outro lado, helàs, a total permissividade e a traumatizante privação da punição contribuiu para que se instalasse neste insosso Ocidente um tédio terrrífico e bocejante que justamente produz, como antídoto, o gosto por estas bizarrias. Uma qualquer jornalista que não hesitaria em considerar ultrajante o Vaticano sugerir-lhe, timidamente que fosse, uma vestimenta de discreto e neutral bom gosto para entrevistar um Núncio ou um Cardeal, vestirá com volúpia - sim, turva e boa volúpia - um traje de um mundo onde as mulheres são apedrejadas até à morte por actos que no Ocidente são habituais e inofensivos. Ao contrário, nesse eterno Oriente, à transgressão dos interditos não falta o medo, o temor bom e saboroso da consequência.
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