sexta-feira, março 31, 2006

O gene lusíada:
Ora esta! Esqueci-me de uma assembleia geral! É um bocado desagradável!
Bem... o que não tem remédio, remediado está!
Logo telefono a lamentar não ter estado, o que é verdade. Se não fora verdade, não seria lusitano o gene.

quinta-feira, março 30, 2006

Para quem vive sob um estado autoritário e abusador ( o português, sim) não deixa de ter algum encanto - abstraindo do sofrimento real das pessoas envolvidas - ver como esta gente (políticos, altos funcionários) fica reduzida à sua enorme insignificância perante a realidade e de como reagem pateticamente.
É a vida a sério, diga-se isso ao Ministro, não aquela em que se propõem desafios de futebol para resolver problemas magnos. Quer propôr um jogo?
E ele lá foi, apressado, fazer não sei o quê.
Como o Coelho de Alice.
A ilustração de Alice é de Sir John Tenniel que ilustrou a primeira edição dos livros de Carroll.
Li as "Alices" com sete anos, creio.
`Must a name mean something?' Alice asked doubtfully.
`Of course it must,' Humpty Dumpty said with a short laugh: `my name means the shape I am -- and a good handsome shape it is, too. With a name like yours, you might be any shape, almost.'
Prossigamos com o confessionalismo.
Lembro-me muito bem do Humpty Dumpty e de achar que aquele nome era, de facto, um nome de ovo, um nome dado por causa da forma de ovo e que era preciso ser mesmo uma menina para não perceber isso.
De igual modo, achava verosímil que o destino de alguns ovos - pelo menos em tempos distantes e noutros países - fosse o de se tornarem ovos adultos e não minúsculos pintainhos.
Creio, hoje em dia, que li a Alice muito desacompanhado.

quarta-feira, março 29, 2006

"(...).............Só nas trevas,
Se ilumina a expressão das criaturas,
Como um céu nocturno, Ó lua nova,
O teu perfil de prata que me lembra
O perfil de Virgílio a revelar-se
Na morta escuridão de dois mil anos.

É nas trevas que as almas aparecem.
E a sua face externa, dimanando
Este ar humano a arder em luz divina
Ou toldado de fumo enegrecido:
O relevo mais alto
Dum rosto que se anima, aquele traço
Que melhor o define, aquele modo
De olhar e de falar, aquele riso
Ou de anjo ou de demónio;
Este ar inconfundível e perpétuo
Que trouxemos do ventre maternal.
Fulgura na beleza amanhecente
E conserva acendida, entre as ruínas
Da trágica velhice,
A monótona lâmpada soturna,
Em melancólicos lampejos frios.
E inalterável paira sobre a face
Gelada dos cadáveres.. .
E dela se desprende; e, já liberto,
Em vulto de fantasma,
Fica, por todo o sempre, a divagar
Entre o luar e a noite, o Céu e a Terra."

Teixeira de Pascoaes, "Semelhança" em noite
de lua nova
Curiosidade entomológica:
Creio ter visto uma melga.
Em Março?

terça-feira, março 28, 2006

Facto curioso
Hoje recebi quatro cartas,uma da Grã-Bretanha que me prevenia de estar a findar a minha assinatura, outra do Brasil com o recibo de uma compra on line e duas de cá, contas correntes. Em que reside a curiosidade? Todas elas estavam cuidadosamente coladas, ferozmente, ciosamente coladas. Deve ser um modo de passar o tempo lá no emprego, fechar as cartas desinteressantes com muita cola.

P.S. A tela do Spilliaert e a de Chirico, são amistosa e arbitrariamente simétricas. Por abritrariamente quero dizer que calhou assim.

Isto não é uma ilustração para o post anterior. Isto é Nuit de Léon Spilliaert e é um quadro de que gosto muito.
É num romance da Agustina: há um personagem dos anos vinte que, vestido de flanela branca numa praia do norte de Portugal, se crê, por interposto algibebe, uma personagem de Proust... Lembro-me de ter pasmado. Foi só trinta anos depois, em 1950, diz Vasco Pulido Valente, que o seu célebre Avô apresentou Aquilino Ribeiro - o grande escritor português da altura - à obra de Proust que aquele por completo desconhecia...
Proust em Portugal, nos anos 20?... Proust em Afife ou similares?

segunda-feira, março 27, 2006

Li ontem mais alguma da correspondência de Proust, da colectânea feita a partir da edição de Kolb.
Numa das cartas, a sua Mãe - ou a Mme Strauss - Proust dizia que tinha pegado num jornal e o lera sem se aperceber que era de dois anos antes. É a mesma coisa, dizia, acrescentando que o sucedido fazia-o convencer de que tinha razão sobre o que pensava em relação ao tempo.

domingo, março 26, 2006

Je hais les dimanches!

Tous les jours de la semaine
Sont vides et sonnent le creux
Bien pire que la semaine
Y a le dimanche prétentieux
Qui veut paraître rose
Et jouer les généreux
Le dimanche qui s'impose
Comme un jour bienheureux

Je hais les dimanches !
Je hais les dimanches !

Dans la rue y a la foule
Des millions de passants
Cette foule qui coule
D'un air indifférent
Cette foule qui marche
Comme à un enterrement
L'enterrement d'un dimanche
Qui est mort depuis longtemps.

Je hais les dimanches !
Je hais les dimanches !

Tu travailles toute la semaine et le dimanche aussi
C'est peut-être pour ça que je suis de parti-pris
Chéri, si simplement tu étais près de moi
Je serais prête à aimer tout ce que je n'aime pas.

Les dimanches de printemps
Tout flanqués de soleil
Qui effacent en brillant
Les soucis de la veille
Dimanche plein de ciel bleu
Et de rires d'enfants
De promenades d'amoureux
Aux timides serments

Et de fleurs aux branches
Et de fleurs aux branches

Et parmi la cohue
Des gens, qui, sans se presser,
Vont à travers les rues
Nous irions nous glisser
Tous deux, main dans la main
Sans chercher à savoir
Ce qu'il y aura demain
N'ayant pour tout espoir

Que d'autres dimanches
Que d'autres dimanches

Et tous les honnêtes gens
Que l'on dit bien-pensants
Et ceux qui ne le sont pas
Et qui veulent qu'on le croie
Et qui vont à l'église
Parce que c'est la coutume
Qui changent de chemise
Et mettent un beau costume
Ceux qui dorment vingt heures
Car rien ne les en empêche
Ceux qui se lèvent de bonne heure
Pour aller à la pêche
Ceux pour qui c'est le jour
D'aller au cimetière
Et ceux qui font l'amour
Parce qu'ils n'ont rien à faire
Envieraient notre bonheur
Tout comme j'envie le leur
D'avoir des dimanches
De croire aux dimanches
D'aimer les dimanches
Quand je hais les dimanches ...

Charles Aznavour

sexta-feira, março 24, 2006

Singin' in the Rain
I'm singin' in the rain,
Just singin' in the rain,
What a glorious feeling,
I'm happy again!
I'm laughing at clouds,
So dark, up above,
The sun's in my heart
And I'm ready for love.
Let the stormy clouds chase
Ev'ryone form the place,
Come on with the rain,
I've a smile on my face.
I'll walk down the lane
With a happy refrain,
And singin', just singin'
In the rain.

quinta-feira, março 23, 2006

Voltei de combóio. Santa Apolónia vazia entristece. O combóio, idem.
Antes, a seguir à reunião, tive ainda tempo para alguma quase enfastiada, tristonha dissipação.
Lisboa está desagradável, não há nada para fazer à tarde, a minha geração, creio, ainda não convalesceu do choque provocado pela falta de empregadas e não foi capaz de criar um modus vivendi que reproduzisse, se bem que em termos mais sensatos, concedo, a boa disposição do dia-a-dia de outros tempos, quando as pessoas mais azafamadas tinham tempo para irem lanchar, ou ao cinema ou meramente passar pelo Chiado e dar dois dedos de conversa.
Entretanto, quem sai à tarde, não encontra ninguém, o que é lastimável: calculo que lá estejam todos e todas a serem úteis - ou a pensar que são, os bem intencionados.
Que grande surpresa vão ter...

quarta-feira, março 22, 2006

«...a Justiça, particularmente a Justiça penal, é facilmente "levada ao engano" por arguidos ágeis de imaginação e de escrúpulos e com meios para pagar a advogados que espiolhem o CPP à cata de empecilhos capazes de fazer tropeçar o bicho.»
Isto é uma afirmação de um jornalista, no Jornal de notícias transcrita pela Grande Loja
Ora vejamos: em Portugal, até uma decisão que conta a tenra idade de dois anos, do Tribunal Constitucional, proferida no caso Casa Pia, e em sentido contrário, era considerado lícito e era prática corrente estar o arguido preso sem que se lhe dissesse porquê, podendo tal situação prolongar-se por um ano... Isto era o que se passava até "ontem", aqui onde vivemos sem que os senhores juizes (e os senhores legisladorees e os senhores do governo) se mostrassem incomodados com tal facto.
A decisão do Tribunal Constitucional que acabou com esta ignomínia foi possível porque os advogados recorreram e espiolharam a Constituição "à cata de empecilhos" e lá encontraram o que nenhum juiz até então encontrara: que quem é preso deve saber de que o acusam.
Seria interessante que as senhoras e senhores leitores deste blog se informassem das diferenças entre a o processo penal português e o dos países europeus - podendo-se começar já aqui pela vizinha Espanha - e que tirassem as conclusões devidas das - espantosas, assevero - diferenças.

terça-feira, março 21, 2006

Morreu, neste dia de Primavera, Fernando Gil.
Tinha lido dele, há pouco tempo, a admirável meditação sobre a má fé contida no "Impasses".
Fica aqui um excerto:

"O que é importante aqui, e que tem interesse para o que se segue, é que não se pode identificar a má fé com a mentira pura e simples ou o logro. O vigarista que nos burla não está de má fé: quer simplesmente, profissionalmente, vigarizar-nos, ao passo que a má fé é algo mais profundo, é uma estrutura dotada de uma constância apreciável e com conotações afectivas fortes. Este ponto importa: a má fé é passional. Designa o estado de consciência de um indivíduo, que certamente determina a sua relação com outros indivíduos, mas que, na sua essência é pré-relacional. A expressão "má fé" não descreve uma relação: descreve um estado da consciência. Para o homem de má fé, dada a paixão que o anima, a atitude do outro não pode nunca modificar a sua atitude em relação a ele , enquanto que o vigarista (cuja atitude é impecavelmente não passional) calcula a sua acção em função do nosso cepticismo ou da nossa credulidade."
Já me ocorreu pensar quando oiço ou leio algumas afirmações:" se ao menos fosses apenas vigarista"...
Há uma questão interessante e central na definição da má fé: quem está de má fé, acredita na sua interpretação o que distingue, sempre segundo Fernando Gil, a má fé da ironia ou do cinismo a distinguir daquela, já que: "quanto mais não seja porque os estados de má fé nunca exibem (ou apenas exibem de forma fruste e caricatural) as virtudes da ironia ou se dão ao luxo do cinismo."
Cézanne, Printemps

segunda-feira, março 20, 2006

NTAJ*

Dia razoável, mesmo contando com o bizarro episódio do ovo partido na secadora de roupa.

* nota trivial antes de jantar
"Este mundo já acabou" diz o Abrupto a propósito do ocorrido entre um general alemão e o oficial inglês que o aprisiona, em que o segundo acaba, em latim, a estrofe de Horácio que o primeiro, também no original, começara a recitar.
Este mundo de perdidas virtudes, em Portugal (e em muitos outros lados...) nunca começou. Lá fora, entre um inglês e um alemão, não sei se não se poderia repetir: creio que o General inglês Sir Michael Rose que chefiou as forças inrernacionais na Bosnia tem uma formação clássica de Oxford (e também da Sorbonne, onde terá ido desaprender...) e na Alemanha a coisa não está tão má como aqui.
Aqui, até na faculdade de letras seria difícil tal cena.
3 anos, faz o Contra a Corrente ! Como o tempo passa...
Muitos Parabéns!

domingo, março 19, 2006

Dediquei a tarde aos jornais locais e descobri estragos do laicismo: o jornal da minha paróquia declara-se, no seu estatuto editorial, totalmente independente perante quaisquer forças, sejam elas politícos ou... religiosas. Mais diz que se rege pelo respeito dos direitos dos cidadãos consagrados na Constituição da República.
Pasmei!
Se é independente, não o deve ser. O que se espera de um jornal propriedade de uma paróquia é que seja dependente desta. Quanto aos direitos dos citoyens, já foram estabelecidos há muito, muito antes do jacobinismo e da "nossa Constituição".
Isto não é maldade, ou rebeldia, estes furores de independência: é palermice e insuficiência.

sexta-feira, março 17, 2006

Nada como umas desordens em Paris para me levantar o moral.
Tenho andado meditabundo mas quando vi as rapaziadas francesas - a ululância fez-me lembrar os palestinos, esse fétiche da esquerda -, quando vi a ausência de "de Villepin" - essa ausência faz-me lembrar a de dirigentes capitulacionistas que se evolam no pó da catastrófe... - quando, enfim, se torna patente a desgraça a que o Estatismo conduziu o povo francês... parece que, com tudo isso, me sinto mais animado.
Ou, então, foi por ter chovido.
Nas jacqueries francesas, herança e persistência de ruralidade, a ululância, a incapacidade de ver no Parlamento (sic) a sede da cidadania e da Lei - as manifestações não têm sequer destino certo, ensaia-se a "recriação" do caos, de um cosmos enragé, a rua, o grito, a desordem - a velha desordem em que o romantismo se comprazia encontrar adubo para criatividades embotadas. Entretanto, na televisão, o dono francês de um quiosque parisiense incendiado pela multidão de energúmenos, declarava, com um ar cansado, querer emigrar. Há anos que não via uma declaração tão terrível de desalento e uma acusação tão acutilante a um modelo de governo, a um modo de ser.

quarta-feira, março 15, 2006

Berlim, "Bonjour tristesse", Siza Vieira

Com este tempo sorridente, o ar perfumado, a luz, o pipilar e o chilreio dos passarinhos, creio que começou a estação das neuras, das depressões primaveris.

Nos idos de Março.
Na noite Anne Queffelec toca as Gymnopedies de Satie.
Descubro que as árvores que tenho aqui à frente são ameixoeiras.
Descobri no Dias com árvores

terça-feira, março 14, 2006

Vou ao Bomba, e clico aventureiramente no segundo link (Jorge Asís). Em terreno desconhecido, penso. Não! Logo encontro Mujica Lainez, um autor que gostei muito de ler e que li sem que ninguém - mesmo por recensão ou interposto artigo ou crónica - me tenha recomendado. Vi o livro, numa livraria soturna, em Badajoz, onde tinha ido comprar charutos, e comprei o "Escarabajo".
Hoje, pelo Technorati, vi que o Viagem tinha linkado este blog. Fui ver de que tratava e acabei por o ler todo. Escrito em 1976, apercebemo-nos por ele de um país que esquecemos, o Portugal de há 30 anos, de antes dos fundos comunitários.
O narrador é quintessencialmente português, metido consigo e de falas difíceis malgrado as suas boas intenções. Conta à distância, quase impessoal, mesmo quando se queixa dos seus cansaços e maleitas. A prosa, se não é contemporânea da viagem, conserva uma simplicidade agradável.
Ferido pelo pitoresco não morri, mas vacilei: "The butcher's shop have a rustic, rose-embowered veranda, a truly musical-comedy shop"
Isto foi ontem, adormeci a ler coisas destas.

segunda-feira, março 13, 2006

Maravilhas do progresso
Vi e decidi comprar na quarta-feira à noite, foi posto no correio, em Inglaterra, na sexta-feira e hoje chegou cá a casa o livro que encomendei e que daqui e pouco irei ler com alguma gula.
Há desilusões, contudo: a "Padeia", de Jaeger, encomendada na "amazon.uk" em Janeiro não chegou ainda e dizem-me que só lá para fins de Abril: não há royal air mail que me valha!
Acabou o Espectro! E acabou porque, segundo os seus autores, CCS e VPV, não dispunham de "tempo para o fazer como ele deveria ser feito". Assim, como era feito, era o blog mais visitado da "blogosfera" portuguesa!Enfim... eram livres de não darem qualquer explicação. Quiseram dar: impunha-se uma mais convincente e irrespondível ("não nos apetece"; "estamos fartos"; "chega").
Espero que o remorso comece o seu bom trabalho e os transforme de novo em bloguistas compulsivos.

domingo, março 12, 2006

Agradável este prenúncio de primavera, a tarde já com cores de saloia sadia*.
É só para dizer que o quadro da minha bagagem de volta à monotonia europeia é de Nadine Le Prince, uma pintora que não conhecia - mas que me parece muito ciosa dos seus copyright. Pinta murais em tromp d'oeil e, também, décoration d'intérieur.

* Ainda fui criado na crença "XIX siècle", aqui mantida pelo tardo naturalismo da pintura portuguesa do séc. XX, de que o povo gozava de uma saúde de ferro e que tinha umas cores que só Malhoa, só ele verdadeiramente sabia captar. A crença ainda subsiste já que, ainda há pouco tempo, a filha pequena de uma amiga minha, de saúde de ferro e condizentes boas cores, era apodada, um pouco depreciativamente, de "Maria Papoila" pelo resto da família. A mãe tentava, em vão, convencer-nos de que a criança passava a vida com anginas, mas sem qualquer sucesso.

sábado, março 11, 2006


Nao caio no erro de tentar explicar o inexplicável e se Charlotte persiste em querer ver neste bloguinho longínquas indias, que fazer senão obedecer-lhe e agir em conformidade confessando que assim é, que lá estive, que este blog foi escrito enquanto via as bátegas fortes da monção a fustigar as árvores em frente à casa ou quando me refugiava do calor na sala obscurecida, a olhar para a velha ventoínha do tecto, avariada desde 1935...
Lá estive, de facto. Regresso agora (via Port Said) como se pode verificar pela observação da malle des indes. Trago alguns presentes.

quinta-feira, março 09, 2006

Ouvi há bocado, pela primeira vez, "o Presidente da República, Cavaco Silva" e confesso que senti um calafrio.
Depois, agora mesmo, vi-o: lá estava ele, ufano. Bem, compreende-se que esteja, é normal e humano estar orgulhoso e bem disposto. É como há uns tempos: ficavam assim quando eram feitos regedores, a honra do cargo arredondava-os, impavam e se bem que este não tenha sido feito regedor é presidente, que é, afinal, quase a mesma coisa.

quarta-feira, março 08, 2006















Eu gosto da Dorothy Parker. Uma das frases dela: "I'm never going to be famous. My name will never be writ large on the roster of Those Who Do Things. I don't do any thing. Not one single thing. I used to bite my nails, but I don't even do that any more."

segunda-feira, março 06, 2006

A propósito de generosidade, também ontem, George Clooney num tom de quem dá lições generosas falava nos "presentes" de Hollywood ao "povo". Sem contestar que houve filmes que fizeram a propaganda de temas importantes, lembro o que Hitchcock disse a Cary Grant numa ocasião em que este se confessou preocupado com uma cena: "Não esteja nervoso, isto é só um divertimento. Se eu quisesse ocupar-me de coisas sérias teria ido para medicina!".
Dizia hoje o primeiro-ministro, a propósito da defunta "constituição europeia" que dela se podia retirar muito, para que se não perdesse o trabalho de gente generosa. Por "gente generosa" o Eng. Sócrates entende uma mão-cheia de políticos pouco escrupulosos e burocratas autoritários que, sem que ninguém lhes houvesse encomendado tal sermão e usando métodos próximo do ditatorial, resolveram dar tal presente à Europa. E Sócrates quer-nos pôr, a nós, no papel de mal-agradecidos (no caso, pobres e...) a quem "fica mal" não aceitar o presente. Felizmente, já Churchill notava que os grandes povos são ingratos.
Mais, nos tempos que correm, em que se a democracia está submetida a um enorme desgaste, têm o dever de o serem.

sábado, março 04, 2006

Detesto casas estanques, mas as corrente de ar desta casa, hoje, eram pesadas e lamentosas. Encontrei refúgio num canto de cadeirão e ali estive, quase o dia todo, a salvo, mas desanimado.
Resolvi sair agora, é a opção pelo ar livre.
Lembrei-me logo deste poema, ao lê-lo agora. É do "Campo de Flores" de João de Deus, e está no "Livro da Capa Verde": lia-o na infantil e muito me afligia lê-lo.
Miséria

Era já noite cerrada,
Diz o filho: "Oh minha mãe,
Debaixo d'aquella arcada
Passava-se a noite bem!"

A cega, que todo o dia
Tinha levado a andar,
A taes palavras do guia
Sentiu-se reanimar.

Mas saltam dois cães de gado,
Que eram como dois leões:
Tinha-os à porta o morgado
Para o guardar dos ladrões.

Tornam os pobres à estrada,
E aonde haviam de ir dar?
Ao palácio da tapada
Onde el-rei ia caçar.

À ceguinha meia morta
Torna o filho: "Oh minha mãe,
Ali no vão de uma porta
Passava-se a noite bem!"

- Se os cães deixarem... (diz ella,
A triste n'um riso amargo),
Com effeito a sentinela:
- "Quem vem lá?... Passe de largo!"

Então ceguinha e filhinho,
Vendo a sua esperança vã,
Deitaram-se no caminho
Até romper a manhã!...

João de Deus

quinta-feira, março 02, 2006

Ganso

O caso do 24 horas - Sabia que quando verdadeiramente incomodasse, não uma ou outra pessoa, mas o estado das coisas - de que tantos dependem -, a liberdade de imprensa por si, ou as suas condições (a protecção das fontes, no caso) seriam postas de lado sem hesitações e na parte que se mostrar necessária ao "bom senso".