quinta-feira, junho 24, 2010

Esquecia-me de responder: claro que valeu a pena: ficámos todos cientes da extrema fragilidade das nossas instituições, de como se desfaz até a aparência mesma de um estado de direito, percebemos que tratar o governo como um inimigo ou, pelo menos, como uma entidade perigosa é um princípio de que se não deve abdicar, por mais que assim nos digam que assim não devesse ser; vimos o funcionamento da corrupção em interstícios da administração que pensávamos - tolamente - a salvo. Apercebemo-nos da pusilanimidade dos políticos, e da indiferença das élites (das mais circunspectas e reservadas, das que podem fazer seguir as suas palavras de actos eficazes para originar mudanças) e isto perante uma desgraça objectiva que se traduziu, para além dos estragos na organização política, no empobrecimento do país.
Serviu ainda para vermos o que somos, afastada que está do poder a geração que se forjou na luta pela democracia, que era ainda uma luta de élites. Sócrates, não: é o cidadão comum, a face vitoriosa do Zé Povinho suplicante.
Valeu a pena? Valeu, como tudo, se aprendemos alguma coisa.
Conviria fazer outra pergunta: isto tudo, a quem aproveitou? A quem aproveita?

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