sábado, fevereiro 27, 2010

Tornou-se de leitura diária. Fez hoje 5 anos. Parabéns ao Insurgente.
Temporais, frio, cheias, a situação da Madeira; lá fora, terramotos. A crise económica e as finanças gregas. Sobre tudo isto, o eczema em que aqui se transformou o governo.
É demais!
A leitura deste entendimento do Prof. Doutor Pinto de Albuquerque no DN é de enorme importância.
Se o que se seguir na questão TVI não for o que aqui se ensina, será de temer que Portugal deixe de ser sequer um estado de direito formal: a democracia, o estado de direito, serão meros pro formas, formalismos descartáveis consoante os desejos do tiranete da altura.

Leiam-se estes extractos:

«Com efeito, há indícios de factos que subvertem a liberdade de imprensa como pilar do Estado de direito quando se diz, por exemplo, que "O Sócrates perguntou-me se não era melhor correr com o Moniz antes de a PT entrar". Se a conduta indiciada não tiver relevância criminal, então os jornalistas portugueses ficam inteiramente à mercê das "interferências" do poder político, pois ela poderá repetir-se impunemente. Se esta conduta não põe em causa o Estado de direito, então Portugal vive num Estado de direito formal. Se esta conduta é tolerável em Portugal, então a garantia constitucional da liberdade de imprensa é meramente formal.

Aqui chegados, o procurador-geral deve abrir um processo criminal, para investigar toda a matéria de facto que se encontra por esclarecer. Em face de indícios de crime público, o Ministério Público não tem qualquer discricionariedade. Tem de abrir um processo. E a sua anterior decisão de não abertura não tem qualquer força de caso decidido. Se o procurador-geral não abrir um processo criminal, os ofendidos têm ainda um caminho. Devem apresentar queixa sobre os factos indiciados com arguição simultânea da inconstitucionalidade da interpretação do procurador-geral do artigo 262, n.º 2, do CPP, o que obrigará à abertura de um inquérito e à apresentação dos autos a um juiz de instrução. O Estado português não tem apenas uma obrigação substantiva de não violar a liberdade de imprensa, mas tem também uma obrigação processual de investigar qualquer violação da liberdade de imprensa. Se o despacho de arquivamento da notícia do crime for a última palavra do Estado português neste caso, então estão exauridos os meios internos de tutela da liberdade de imprensa e fica o caminho aberto para suscitar a tutela do Tribunal de Estrasburgo.

Esta análise é estritamente jurídica, como foram todas as que tenho feito sobre este assunto. Não faço imputações de segundas intenções aos magistrados envolvidos. Aliás, repudio terminantemente quaisquer extrapolações que ponham em causa a lisura de procedimentos e a idoneidade profissional de todos os magistrados envolvidos. Porque defendo e confio na independência dos tribunais e na autonomia do Ministério Público. »

Realces do blog.
Chegado a casa, abri a televisão e ao sabor do comando fui ter a um programa que percebi chamar-se «Conversas com elas». Uma senhora loira fala de Eduardo Prado Coelho, do chico-espertismo português, e de Sócrates, do filósofo. E diz "haviam livros".

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

“I can't explain myself, I'm afraid, because I'm not myself, you see”

Lewis Carroll
Creio que, mesmo depois de uma mudança de governo para outro mais decente, os estragos provocados por esta gente demorarão anos a ser reparados - se o forem. Os optimistas verão talvez uma oportunidade nesse processo. Eu vejo apenas um caminho difícil, sem qualquer garantia de que venhamos a ficar melhor - por mais inconcebível que isso nos possa parecer.

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Morreu, aos 42 anos, Orlando Zapata Tamayo, prisioneiro de consciência do regime de Cuba.
Era pouco conhecido e tem sido pouco lastimada a sua morte. A causa imediata foi a greve de fome. A verdadeira, mediata, a atitude criminosa dos assassinos comunistas cubanos.
Tamayo, um operário, não terá filmes de Hollywood a comemorá-lo, nem suscitará repúdios bem-pensantes do criminoso regime responsável pela sua desgraça. Nada, ou muito pouco se fará, passados alguns dias. Mas a sua dignidade inteira, pura, incorrupta, reduzirá permamentemente à dimensão da triste farsa as declarações e os silêncios dos seus carrascos, da corja que oprime e extorque o povo cubano.
Orlando Zapata Tamayo não é uma vítima convenable.
Para sabermos mais sobre nós: Pordata
Muitos aplausos para a Fundação Francisco Manuel dos Santos e António Barreto - que, no mundo dos blogs, é o autor do Jacarandá.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Pergunta não retórica sobre uma entrevista desinteressante e quase amadora na parte da economia: a questão do endividamento externo foi abordada? A que atribui o primeiro-ministro a desconfiança dos investidores internacionais sobre as finanças e a economia portuguesa? A uma campanha negra?
Chuva, granizo, trovoada e ventania.

domingo, fevereiro 21, 2010

Se algums das consequências dos invernos rigorosos são tristes e aflitivas situações como agora a da Madeira, não é menos verdade que estava já um pouco farto dos invernos sem frio e sem chuva - e que a seu modo contribuiam para a ligeireza naciona. Ao menos, a metereologia não obedece a campanhas eleitorais e serve para nos lembrar dos tremendos erros que se cometem em nome do tudo está bem.

sábado, fevereiro 20, 2010

Portugal na ergoesfera*

*Ao redor do buraco negro, tenha ele rotação ou não, existe uma superfície imaginária chamada de horizonte dos acontecimentos, que delimita a região de não regresso [...] a ergosfera. Trata-se de uma região distorcida, exterior ao horizonte dos acontecimentos, em que tudo o que nela entrar é "forçado" a girar no sentido da rotação do buraco negro, porém não é uma zona de não regresso. A ergosfera é exteriormente delimitada pelo chamado "limite estático".
Uma pergunta que me tem atormentado: Is the theatrical scandal dead?

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Depois daquela do quase pornográfico, esta. Começo a gostar do Penedos: «Pronto, faz-te de novas que o nome vai-te aparecer, só que o apoiante espontâneo e fervoroso primeiro deve querer assinar o contrato, não é?»
Isto é de quem se tornou céptico a ler Camilo.



Marguerite Yourcenar interroga-se (em O Tempo, esse grande escultor) sobre como seria o falar do dia-a-dia de outros tempos, o que não chega à literatura, nem quando esta o procura transcrever. Tenta encontrá-lo nas actas das sessões de tortura sofridas por Campanella e outros, incluídas no processo daquele. As palavras que lemos hoje, proferidas sob a dor, levam a crer que os translatos são fiéis - talvez involuntariamente - e a partir delas podemos conjecturar o tom e as palavras do que seriam as conversas quotidianas.
Daqui a anos, os vindouros saberão como falavam entre si na intimidade os próximos do poder político de Portugal, e que palavras da rotina da ignomínia.
Ao contrário dos torturados na sua agonia, a linguagem que usam é profundamente reles e ofensiva.
Que se saiba, ao menos, que esta gente desprezível morreu pela boca. Cada hora que esse tal Prestrelo continua no cargo que ocupa, é uma afronta intolerável ao povo português.
Tempos de crise.
Há quem os ache interessantes.
Podem ser.
Aqui, em Portugal, e agora, as crises são enfadonhas e cansativas.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Concordo com o que se escreve aqui, salvo no que ao destino do primeiro-ministro diz respeito: Sócrates, sem o poder do estado não existe. E não tendo presente desejável e muito menos um futuro ridente (que a sua boa estrela providenciaria) a oferecer ao bom povo, no momento em que deixar S. Bento será devolvido ao nada de onde veio - e o seu destino será apenas esse nada.
E é isso que ele (e quem o cerca) sabe muito bem.

A única novidade virá da imensa gente que se perguntará como e porquê não viu mais cedo a vacuidade do «animal feroz». E deles, novos conversos quanto dos velhos crentes na medíocridade de Sócrates, se soltará um imenso suspiro de alívio.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Quarta-feira de Cinzas

Memento, homo, quod pulvis es, et in pulverem reverteris.
Pareceu-me ouvir há pouco José Manuel Fernandes dizer que houve ameaças aos jornalistas do Público. "Tenha cuidado", teria dito José Sócrates, por diversas vezes. Mas devo ter ouvido mal. Em qualquer país que não seja tenazmente reles, quem ficaria em apuros seria o polítiquete que se atrevesse a dizer uma coisa dessas.
Não, ouvi mal, de certeza.

sábado, fevereiro 13, 2010

Sexta-feira de Carnaval

A arte da entrevista, no i (jornal que usa o português estropiado, que, por isso, não leio e onde fui parar inadvertidamente)
Está convencido da razão de Sócrates?
- Absolutamente convencido. [De que outro modo poderia responder o advogado - sem incorrer imediatamente e desde logo em responsabilidade disciplinar? E o jornalista que vai entrevistar um advogado não tem obrigação de saber isso e não fazer perguntas demasiado palermas?]

[...]
Aliás vejo com mágoa que tantas personalidades neste país estejam tão preocupadas com o direito à liberdade de expressão ou pensamento. (sic)
Que também é um direito inscrito na Constituição
- Sim, mas dizia, é uma coisa que me faz rir porque ninguém está preocupado com o valor da honra, do bom nome, da reputação, dos valores individuais – que são da maior importância. O que é mais importante? Pôr em causa isso é pormo-nos numa situação de brutal fragilidade perante filhos, netos, comunidade onde vivo, é uma situação de vergonha.

Daniel Proença de Carvalho, advogado do dito.

Haverá algum site de apoio aos traumatizados familiares de Nixon, ou familiares de políticos em geral? A graça desta parte da entrevista consiste em considerar que o estatuto de um político se rege, nestas questões, pelos mesmos princípios aplicáveis aos particulares que se ocupam meramente a cultiver son jardin. O uso de tais argumentos, de gargalhada em qualquer país do primeiro mundo - ao qual não pertencemos -, serve para aferir do nosso atraso. O jornalista não percebe a diferença?
Em pouco tempo li escrito "atual" e "projeto".

Agradecia que pensassem bem - mas bem - a que propósito iríamos começar a escrever de tal modo; porquê afastarmo-nos do actuel/actual/aktuell que é como se escreve «actual» também em francês, inglês e alemão - as línguas em que é pensado e veiculado 98,9% do que é relevante a nível mundial em qualquer ramo do saber -, para adoptar a grafia do Brasil, um país analfabeto que, mesmo sem consoantes duplas, não deixa de continuar a cair nos resultados do Pisa, em matérias como leitura e matemática (ocupa os penúltimos lugares, atrás de países africanos muito menos ricos).
Que, ainda por cima, alguém tenha o topete e a falta de vergonha de vir crismar como "evolução" esta saloiice que seria considerada um coisa de doidos em qualquer país culto é algo que diz o que somos mais cruamente do que as agências de rating.
Infelizmente, quero crer que esta paixão pela lorpa «novidade» é a mesmo que nos leva a acarinhas as mais descabeladas mentirolas sobre a nossa realidade, quase que estabelecendo um padrão de comportamento psicótico, uma opção pelo delírio.
Se há alguma coisa que quase me fascina nesta gente que é ser o exacto contrário do que devia ser numa altura de crise.
Queríamos um guia seguro que nos levasse por caminho firme e somos obrigados a fazer jornada com uma quadrilha de má catadura; e é de coração apertado e mão no bolso que lá vamos andando, desalentados, sem saber se chegaremos ao destino, sempre em sobressalto, aturdidos por mil peripécias, à espera que apareça gente, algum socorro.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Atrasado para a manifestação...
13, 30 é uma hora péssima para quem não vive em Lisboa.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Que fazer, quando centenas de anos de subdesenvolvimento e desmazelo desabam sobre nós?
Cansativo, tudo isto.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Qualquer despacho judicial que se ocupe de indícios de actividade passível de integrar um crime contra o estado de direito por parte de um primeiro-ministro deve ser, não apenas público, mas difusamente publicitado, salvo se da publicação possa resultar dano para a investigação - o que não é o caso.
Qualquer outra interpretação e qualquer outra prática não é compatível com o estado de direito tal como existe nas nações civilizadas.

domingo, fevereiro 07, 2010

Agora mesmo na televisão, a sensatez de Marcelo Rebelo de Sousa.
Ah, sim, não é conveniente agora. Olha lá o estrangeiro.
Pois é. Nunca é. Pena que o resultado de tanto respeito pelas conveniências e de tanta sensatez seja esta miséria vil, mesquinha, catitinha.
Alguns, menos preocupados com as conveniências, vão fazendo os seus negócios.
Em paz, a salvo, certos do sossego.
Para não alarmar os mercados.
Só um louco não perceberia que tem de ser assim.
Se não tívessemos cuidado até podíamos acabar no 1º mundo.
E depois, hein?
Desvantagens de não ter votado em Cavaco:

Não poder dizer que nunca mais voto Cavaco.

O Presidente da República, que fala de inversões de rumo na economia, não percebe que precisamos de outra alma, que o país não pode viver nesta crispação, dividido, a sofrer um primeiro-ministro que grande parte execra e questiona a idoneidade moral para exercer o cargo. Não é este o perfil de um leader para os tempos difíceis e Cavaco parece não perceber isso...
O tempo do destino - ananké e agnórise.
Escreve Vasco Pulido Valente:

«A única hipótese plausível é a de que o primeiro-ministro vive doentiamente no mundo imaginário da propaganda. Ou melhor, de que, para ele, a propaganda substituiu a vida: Sócrates já não partilha ou nunca partilhou connosco, cidadãos comuns, a mesma percepção de Portugal »
Sim, uma evidência. Ele e uma parte da classe média que vive dos subsídios e favores da ilusão.
Mas o que verdadeiramente me assusta é perceber que alguém assim se prepara para continuar no cargo.

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Será que alguém pensa que esta gente (Sócrates e Cia.) saiam pelo seu próprio pé do poder?
Ao contrário dos seus opositores e dos «comentadores» eles sabem como funciona o país.
O mercado da dívida dará a Portugal a calamidade salvadora em que pensava Eça quando escreveu a Catástrofe? É de crer que não. O poder salvífico da miséria tem sido grandemente exagerado e pode pouco ao pé do metal imediato e sonante. E mesmo em tempo de dificuldades há sempre um fundo de gaveta explorável.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Quem diz que a literatura portuguesa - tão reduzida que anda ao recontar de estados de alma à solta e namoricos em andares da EPUL - me havia de dar um bom momento?
Sim, foi ontem, quando o nosso primeiro-ministro tratou por Como é que tu te chamas ? Jorge? o José Luís Peixoto que é um escritor e poeta conhecido, de reputação firmada e que de que eu não li senão dois ou três poemas, devido ao meu péssimo gosto em questões literárias.
O escritor e poeta, que participava num encontro entre o primeiro-ministro e alguns jovens, para um balanço comemorativo dos 100 dias deste governo, quando entrevistado sobre o ocorrido, manifestou na breve e contida declaração, proferida sem «tempestades de medo nos lábios» e «sem gritos desesperados sob conversas», algum descoroçoamento pelo facto do primeiro-ministro parecer não o conhecer de parte nenhuma.
O episódio, com o que tem de lamentável, não deixa de ser sinal dos tempos: há dois ou três anos, o jovem Peixoto talvez se tivesse limitado a um alegre "gosto que me chamem Jorge" e o primeiro-ministro afirmado que confundira o jovem escritor e poeta com a ressurreição de Sena, o Jorge.
A bolsa de Lisboa continua a cair. A maior queda de todo o mundo. Por uma vez, de novo grandes.
O tempo está cinzento, um dia bonito de tempo de Inverno.
Estou a ler The Moon is a Baloon, de David Niven, a bem disposta autobiografia dele e que aconselho a vários títulos.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

As acções do Banco Espírito Santo caíram 6,98% na Bolsa, o que constitui, por si, uma crise política.
O que a Comissão Europeia disse sobre a nossa situação: já sabia que era assim, condiz com o que a Dra. Manuela Ferreira Leite tinha dito na campanha eleitoral.
Entretanto, percebendo que o episódio Mário Crespo correu mal, e como a economia não vai melhor (principalmente porque as declarações da Comissão não permitem mentirolas) aparece a proposta de publicação dos rendimentos de todos os portugueses on line - enquanto a transperência estatal recua.
Mas, não percebo é algumas reacções: o socialismo é isto mesmo. Estando já praticamente assegurada pelo governo a parte que diz respeito à miséria, faltava a parte da devassa e controlo da vida de cada um.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Neste triste Caso Mário Crespo ninguém se compadeceu ainda do Maître d'Hotel que vê o seu restaurante invadido por gente sem modos que incomoda os outros clientes.
Os modos de agir para significar aos clientes-problema que são indesejáveis estarão padronizados, mas serão difíceis de pôr em prática num país onde os limiares da decência em uso no 1º mundo foram há muito abandonados.
A minha total solidariedade com o digno profissional e com os restantes clientes envolvidos malgré eux na triste cena.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

O primeiro-ministro afirma que o défice foi um resultado desejado pelo governo.
Considerando que o ministro das finanças se mostrou surpreendido com os números do défice, é de crer que o acaso e o deus-dará desempenham um papel considerável nos resultados obtidos pelas políticas do actual governo.
1º de Fevereiro 1908
Enquanto vivemos as alegrias e os esplendores desta virtuosa república, lembremos que passa hoje mais um aniversário sobre o assassinato d'El-Rei D. Carlos I e do Príncipe Herdeiro, D. Luís Filipe.
ONDE ESTÁ ESTE ARTIGO???
O Fim da Linha
Mário Crespo
Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.
Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010) na imprensa.