quarta-feira, dezembro 31, 2008

Creio que, noutros tempos, menos ambiciosos, se desejava somente um feliz Dia de Ano Bom, o primeiro do novo ano. E parece de grande sensatez não cair no exagero de pedir ou desejar um ano inteiro de felicidade (quase um insuportável castigo dos deuses!), já que deles, «as imortalidades que fingia/A antiguidade, que os Ilustres ama» e que tratam destas matérias votivas, não convém escarnecer - por muito que não existam.
Feliz Dia de Ano Bom de 2009!

terça-feira, dezembro 30, 2008

E o livro do ano é, também como sempre, "A Cidade e as Serras".
Gostava muito que lessem.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Torna-se insuportável a pressão para fabricar listas dos blogs isto e aquilo.
Impossível não ceder. Cedo: em 2008, tal como em 2006 e 2007 o Pastoral Portuguesa foi a grande surpresa.

sábado, dezembro 27, 2008

Telefonei a dar as Boas-Festas a uma amiga de meus Pais,. Acabou por se falar disto, do estado lamentável de Portugal. «É uma gente que não gosta de crianças, nem de velhos; e também não gosta de flores», disse-me.
Tenho-me perguntado porque senti que muito dificilmente seria vítima de uma burla do género Madoff que, à primeira e a posteriores vistas, parecia ser um investimento seguro. Descobri há pouco: o «factor tempo». Nestas coisas de dinheiros - como de muitas de que depende a nossa liberdade, a prova do tempo é fundamental. Poderia ter milhões que, todos eles, estariam longe das mãos do neófito Mr. Madoff.
On a fine morning

Whence comes Solace?--Not from seeing
What is doing, suffering, being,
Not from noting Life's conditions,
Nor from heeding Time's monitions;
But in cleaving to the Dream,
And in gazing at the gleam
Whereby gray things golden seem.

II

Thus do I this heyday, holding
Shadows but as lights unfolding,
As no specious show this moment
With its irised embowment;
But as nothing other than
Part of a benignant plan;
Proof that earth was made for man.

Thomas Hardy

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Hoje é dia de Santo Estevão, 1º Mártir, que a Igreja festeja logo após o Natal.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Uma boa, afável, consoladora notícia:

Um professor de Física britânico inventou um par de óculos que podem mudar o mundo. Josh Silver, de seu nome, conseguiu uma forma simples de corrigir a visão de milhões de pessoas, a baixo custo.

Do Expresso

domingo, dezembro 21, 2008

O primeiro dia de Inverno esteve muito azul e plácido, um dia muito bonito.
Entretanto, as primeiras inquietações de Inverno:

«O crédito do país - de que depende o pão nosso de cada dia - foi ilustrado pelo falhanço do empréstimo (com aval do Estado) da Caixa Geral de Depósitos, que é um banco do Estado. E, se não há crédito para o Estado, para quem há crédito? Para ninguém. Milhares de empresas fecham ou ameaçam fechar. O desemprego aumenta. Os salários diminuem. A pobreza, envergonhada ou não, começa a parecer intolerável. E gente normalmente sensata prevê um protesto social violento. Se por acaso não se enganar, o que vai acontecer a uma sociedade com instituições políticas degradadas, com uma economia obsoleta e uma classe dirigente irresponsável? Uma vida comatosa e resignada? O colapso do regime? Qualquer coisa nova que não conhecemos e que, portanto, estupidamente, não nos preocupa?»

Vasco Pulido Valente, in Público
Lembro-me muito bem dos meus calendarios do Advento. Eram ingleses ou alemães - acho eu - e tinham muitos prateados e neve. Tentei encontrar um semelhante, mas o estilizado das figuras é diferente. Este aí em baixo foi o que me pareceu mais neutro, sem as diferenças feitas pelo tempo - que toma sempre partido a nosso desfavor.

Advent Calendar aqui

sábado, dezembro 20, 2008

Entro no Público e leio o artigo de Pacheco Pereira: é refrescante ver alguma coisa escrita sem o acompanhamento desta ignorância do Portugal de hoje, que encontramos por todo o lado, desde os  preâmbulos de algumas leis até aos blogs - para não falar já dos «jornalistas». 
Esta gente não leu.

À saída do Público, vi fotografias do novo museu do Douro. O retrato - ou a reprodução - daquele que Lawrence fez da Rainha D. Maria II. A Rainha tem ligações ao Douro, muito deveu aos portuenses, mas a soberana que mandou fazer obras de real  importância para a navegabilidade do Rio Douro foi a bisavó, a Rainha D. Maria I, em finais do Séc. XVIII.  Por isso mesmo, a Ponte Dona Maria no Porto é Dona Maria I e não, creio, Dona Maria Pia, que apenas a inaugurou*. Será que confundiram tudo? Seria congruente com o resto, este clima de sketch falhado que vivemos.

*Estas coisas  iam-se aprendendo, sem esforços, enquanto se esperava o lanche ou naquela meia hora morta antes do jantar.  Será que agora não lancham e se janta mais cedo?

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Compras em Lisboa. Gente apática e tristonha. Há muito de quaresma neste Advento e o Rossio, ornado com as cores do Senhor dos Passos, confirma o desânimo.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

O problema destas fases de crises e atabalhoamentos é ser impossível fugir à vozearia, deixar de ouvir.
Ontem soube que Pacheco Pereira iria para a Europa e que Santana se candidata a Lisboa.
(Do que Pacheco fez na Europa, nada sei, nem me consta que ele alguma vez o tivesse dito e enquanto se mantiver mudo e calado a respeito dessas minudências, com o meu voto não volta para lá).
Santana fez o túnel, aquilo do Gehry teve graça (megalomania por magalomania, antes a de qualidade - isto para quem não achar a obra de Gehry demasiado escultórica) e o pior que possa ter feito não é - nem muito de longe - comparável com a dádiva ribeirinha que Costa fez à lura de Coelho.
Se, depois disto, alguém acha o Santana mau, agradeço o envio para este blog da lista de génios ( edis e estadistas) disponíveis.

terça-feira, dezembro 16, 2008

O Público pergunta-se se o jornalista ( o Público omite pudicamente a profissão) que atirou os sapatos ao Presidente Bush é culpado ou herói.
Podemos escolher este caminho da ingenuidade, aduzir que nestas coisas há sempre duas versões e que o que a uns parece um excesso é, para outros, um razoável modo de expressão.
Assim, vejamos, se o director do público levasse com duas sapatadas como classificaria o acto?
E se fosse o Eng. Belmiro? Ou o 1º-ministro, ou o presidente da república, ou Santo Obama, e o... poder-se-ia prosseguir longamente.
Ou deixar o casuísmo e achar, chãmente, que é um acto ilegal e reprovável.

P.S. Gostei dos bons reflexos e sentido de humor de George W. Bush.
Quem, por aqui, reagiria com a mesma presença de espírito e boa disposição, exceptuado, talvez, Berlusconi?

Constable, Golding Constable’s Flower Garden, 1815

Entre a tarde soalheira, as decisões do FED e a ekphrasis em Eça.
A esse atraso atribuo eu a ausência de menções a Ruskin, às vezes em completo e triste despropósito na universidade, ensaística e blogs portugueses.
....mas é que, de facto, não se percebe - ou não se quer perceber - que o nosso atraso existe -e a geografia não deixa de tomar nele uma parte importante - que não é conjuntural, ou produto de uma visão desfocada de estrangeirados e que temos sempre de contar com ele, tal como alguns cálculos exigem uma constante ou um valor corrigido para serem fiáveis.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Em Portugal e nos USA dois casos ilícitos (ambos ajudados por erros de supervisão): o caso BPN e o Madoff. O primeiro é um caso local, o segundo pode atingir o mundo inteiro. Em ambos, os supostos responsáveis compareceram perante um juiz. Nos USA, Madoff, já acusado, espera o julgamento em liberdade, mediante o pagamento de caução, enquanto os técnicos do SEC trabalham 14 horas por dia nos escritórios da companhia. É o sistema judicial de uma democracia a funcionar. Em Portugal, uma modorra autoritária e abusadora com um bigode postiço de estado de direito, há um preso sem qualquer acusação e nem valerá a pena perguntar quantas horas diárias estarão a trabalhar realmente no caso.
Vamos ver por quantos meses - ou anos - o julgamento do caso dos USA baterá uma decisão da justiça portuguesa.
There still are kindly things for me to know,
Who am afraid to dream, afraid to feel-
This little chair of scrubbed and sturdy deal,
This easy book, this fire, sedate and slow.
And I shall stay with them, nor cry the woe
Of wounds across my breast that do not heal;
Nor wish that Beauty drew a duller steel,
Since I am sworn to meet her as a foe.

It may be, when the devil's own time is done,
That I shall hear the dropping of the rain
At midnight, and lie quiet in my bed;
Or stretch and straighten to the yellow sun;
Or face the turning tree, and have no pain;
So shall I learn at last my heart is dead.

Dorothy Parker

domingo, dezembro 14, 2008

O frio, a neve, os ventos gelados, são algumas das mais graves consequências do aquecimento golobal.

A Castafiore, en grande diva, nunca se lembrava bem (a precisão é inimiga da grandeza) do nome do Capitão Haddock e isso irritava-o; e conseguia encontrar sempre pretextos para lhe cantar a ária das joias, uma tortura para o lobo do mar. Sempre pensei que tal ária fosse tão pouco real quanto o Rossignol Milanais e quando um dia contava aos crescidos das torturas do pobre Capitão e ouvi um «sim, a ária das jóias, do Fausto do Gounod» tive uma surpresa que hoje penso ser comparável à de Eça quando descobriu que o mel existia realmente, que não era uma pegajosa alegoria dos clássicos.

Tudo isto parece hoje bem pequenino, mas, naqueles tempos, não havia as facilidades que há hoje, não havia o disco cá em casa - nem na terra - e passei anos sem ouvir a air des bijoux. Um dia, ouvia a 2 e, de repente, percebi que estava a ouvir a célebre ária. Ouvi e senti-me um traidor ao Capitão - de quem sou um indefectível - por gostar de uma coisa que tanto o mortificava.

Hoje, a propósito de umas buscas, encontrei várias Margaridas - o que são os tempos! - e escolhi esta, a ária completa, por Montserrat Caballé, para todas as leitoras e leitores de Tintin que nunca ouviram a ária de Castafiore.


Interpretação campal.

sábado, dezembro 13, 2008

O Cristo-Rei Samsung e o Terreiro do Paço TMN e outras malfeitorias.
Sinto alguma vergonha, mas é um sentimento a que a me fui de um modo ou outro habituando -como todos nós - nos últimos tempos. Seria pior se tivesse sido sem aviso.
O conselho é que se tomem o Cristo Samsung e a Praça TMN como precussores de outras aleivosias.
Há ainda degraus a descer.
Por vergonhas: aquele haverão da ministra da.... Educação e que condiz tão bem com as iluminações.
Em que outro país da Europa se encontrarão ministros da educação capazes de calinadas de tal quilate, tão reveladoras da falta dos mais elementares hábitos de higiene cultural?
Será possível isto?
É descer mais baixo do que o habitual. E sem qualquer proveito.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Pacheco Pereira deixou um pouco aquele ar de aristocrata tripeiro blasé e conveio em que o tremendismo do Dr. Medina Carreira será, talvez, a forma mas eficaz de acordar o porco (ele não usou este termo ramalhal-eciano, mas a isso se referia).

Também concordo. Apenas não acho que o Dr. Medina Carreira seja tremendista. Não há contra-factos ou outros números que contradigam aqueles em que ele se baseia para dizer que não nos espera nada de bom.
Tremendos, portanto, são esses factos e esses números, não o Dr. Medina Carreira.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Os portugueses perderam poder de compra entre 2005 e 2007 e Portugal está na cauda dos países da zona euro.
O INE diz, contudo, ser preciso prudência na interpretação dos resultados.
O engraçado é que, nas vezes - raríssimas - em que os dados são menos negativos nunca nos recomendam cuidados interpretativos.

Isto depois da entrevista de Medina Carreira....
.....................................................
Speaking strictly for me we both couldve died then and there
[...]
Now youre telling me youre not nostalgic
Then give me another word for it
You were so good with words
And at keeping things vague
............................................

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Às vezes, quando leio os posts num monitor grande, reparo em frases desarrumadas, trôpegas, espalhadas e perdidas, ou atafulhadas (de ques, de de factos, emboras e todavias, que são as minhas rugas de leitor de autos de notícia).
E corrijo, corrijo tudo com um fervor e uma pressa tão injustificáveis que acabo por sorrir com esse ser um pouco aborrecido e meticuloso que vai fazendo as suas aparições em mim e em quem reconheço, bem à contre coeur, o velho que começo a ser.
Atenção: saiu um prefácio novo do Miguel Esteves Cardoso.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Ontem vi, com surpresa, a notícia da morte do Alçada Baptista. Apenas estive com ele uma vez, em casa dos pais de amigos meus.
Gostei de o conhecer, era um bom conversador - como, creio, já não há muitos - a mulher não lhe ficava atrás e foi uma noite divertida.
Lembro-me de se falar sobre aquilo a que é uso chamar a singularidade portuguesa, de como ele dizia ser possível ter nascido na idade feudal e no decurso da sua vida ter passado pelas outras eras até à actual e do difícil que era explicar isso à gente mais nova (pensei, para comigo, que muita gente da minha geração, que é a dos filhos dele, ainda pode dizer o mesmo).
Creio que foi para ilustrar os costumes antigos, de que todos fôramos ainda testemunhas, que alguém terá falado nos pobres cá de casa, aqueles que pediam esmola em dias e horas certos, habitualidade que partilhavam com os outros fornecedores. Decerto já não havia desses pobres (de que, mais uma vez, ainda me lembrava, aqui de casa) mas, informaram os anfitriões, eles tinham - e diziam-no com algum conformado e quase bem disposto desânimo, um ladrão certo e quase privativo, de que eram as vítimas leais. E contaram as conversações trabalhosas para reaverem os bens deles roubados, algumas acções directas mais audaciosas, e os bons conselhos e auxílio que não conseguiam deixavam de dar ao seu ladrão quando este optava pela via mais legal do pedido.
Alçada ficou maravilhado com a história e fez disso o assunto de uma das suas crónicas, então muito lidas; achei simpático esse modo de agradecer a pousada, mas não deixei de lastimar que a conversa não tivesse decorrido sobre os tempos heróicos da Moraes e do Tempo e o Modo - embora soubesse muito bem que alguém como Alçada Baptista nunca contaria - mesmo se usasse um generosos tom de confidência - qualquer episódio que não pudesse, como aquela noite, conter-se numa prosa aprazível e publicável.
E isso é que, com a morte de pessoas como Alçada, porque tinham verdadeiramente o seu quê de outros tempos, se vai irremediavelmente perdendo: a perícia dificil do amável.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Lucas 1,26-38.

Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Sá Carneiro, há 28 anos. E Amaro da Costa.
Não duvido: estaríamos hoje bem melhor se o seu assassinato se tivesse frustrado e ambos tivessem podido continuar a sua carreira.
As declarações do 1º-ministro sobre o bom ano de 2009 para os portugueses, quase uma troça tal o impudor e a falta de vergonha revelados, são uma afronta inqualificável.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Mais uma vez o irritante alarme de gelo - que eu não sei desligar - voltou a irromper pela noite.
Quando voltei a deitar-me, depois de ter selvaticamente tirado as pilhas ao termómetro, pensei quanto o Aquecimento Global participa dos caprichos das outras divindades, de como imperscrutáveis são, também, os seus caminhos.

terça-feira, dezembro 02, 2008

A realidade explicada
Não há qualquer motivo económico ou ético confessável para que o estado resolva salvar o Banco Privado Português.
Porque o faz, então, este governo? Um dos motivos será o de aumentar um pouco mais a influência no mundo da alta finança, onde as gentes do PS, salvo alguns happy fews, não tinham entrada. Mas, sobretudo, por esse desejo de não inscrição de que falava José Gil no "Portugal de hoje: o medo de existir".
Este governo partilha com o Prof. Salazar o gosto pela habitualidade, pelo formigueiro ordeiro das coisas de todos os dia, onde poderão caber algumas obras públicas - melhoramentos silênciosos, passado o foguetório da inauguração (v.g. os dez estádios) - mas onde nada, feliz e verdadeiramente acontece. Ao contrário, a bancarrota de um banco, mesmo de um que seja um mero club, para além do estrondo do momento, é algo que se perpetua em exemplos morais, advertências, memórias temerosas, ressentimentos dos membros do club e famílias, tudo um acontecer excessivo e assustador que nos perturbaria a alma.
Um pouco mentiroso o post anterior. Hoje, quando acordei, estava um sol esplendoroso, um céu azulíssimo, e assim foi por todo este dia quieto e bom.
............................
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!

E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
..........................
AG

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Vasco Pulido Valente escrevia ontem no Público que «A força de Sócrates vem da eficácia com que conseguiu meter o PS na ordem, da autoridade prussiana com que trata o Governo e do grande zelo com que policia os portugueses. Numa época ameaçadora e turva, o país prefere, como sempre preferiu, um "homem de pulso", mesmo gasto e pouco amado, a qualquer herói de circunstância, com um exército em revolta atrás de si.»
Por seu lado, também no Público, António Barreto chama a atenção para alguns factos: segundo «os trabalhos de rotina do INE e da União Europeia, o "clima económico" em Portugal nunca esteve, desde há 18 anos, tão baixo como agora. Trabalhos semelhantes sugerem que as expectativas dos consumidores atingiram o mais baixo ponto desde há cinco anos.O crescimento da economia e do produto tem vindo a diminuir todos os dias. Diminui na realidade dos factos, assim como nas estatísticas. O Governo (o mais optimista...), o Banco de Portugal, a União Europeia, a OCDE e o FMI publicam regularmente as suas previsões para 2008 e 2009, baixando sempre as taxas estimadas. Em princípio, Portugal aproxima-se do zero e de taxas negativas (menos 0,2 por cento em 2009, por enquanto...). Há praticamente oito anos que o país tem visto aumentar o atraso relativamente às médias europeias. O desemprego a subir e a atingir níveis desconhecidos há anos. A prometer ainda mais nos próximos tempos. Mais uma vez, os números são controversos: Governo, INE, Banco de Portugal, OCDE, UE e CGTP oferecem estimativas diferentes. Mas num só sentido: desemprego a aumentar.O endividamento público líquido é de mais de 140 mil milhões de euros, muito perto dos 100 por cento do produto. Só os juros anuais pagos por essa dívida serão de cerca de oito mil milhões de euros. Talvez seis por cento do produto.O défice orçamental ultrapassou as previsões, assim como as metas nacionais e europeias, tendo agora o Governo de, ao contrário do que sempre afirmou, recorrer a receitas extraordinárias, no valor de mil milhões de euros, para respeitar o patamar imposto de 2,2 por cento. O défice da Caixa Geral de Aposentações (funcionários públicos e equiparados) será, em 2008, superior a três mil milhões de euros, cerca de dois por cento do produto. Era, em 2005, de 1,5 mil milhões. OOs últimos números disponíveis revelam que a emigração portuguesa retomou e faz agora lembrar alguns anos da década de sessenta. Nessa altura, a emigração era muita, mas o crescimento económico também. Hoje, a emigração é grande, mas o crescimento económico estagna. Calcula-se em cerca de 60 mil a 70 mil o número de portugueses que vão trabalhar para Espanha todos os dias ou todas as semanas, além de dezenas de milhares que já se estabeleceram definitivamente no país do lado. Com a crise económica espanhola, esperam-se tempos difíceis.O número de imigrantes estrangeiros em Portugal está a diminuir e muitos dos que aqui viveram uns anos já se foram embora. O problema é que não são substituídos: ou não deixam postos de trabalho vagos, porque estes são extintos, ou não há portugueses que queiram ocupá-los.As estatísticas demográficas continuam a revelar números que nos obrigariam a reflectir, mas essa não parece ser uma inclinação das autoridades. O número de óbitos já é superior ao número de nascimentos. O envelhecimento é muito rápido. A esperança de vida cresce. O número de pessoas com mais de 65 anos já é muito superior ao de jovens. E não se trata apenas de um problema de força de trabalho. Os gastos com as reformas e pensões aumentam na vertical. Mais: os custos da saúde e dos cuidados com idosos em dependência, nos últimos três ou quatro anos de vida, são iguais a toda a despesa verificada durante os 60 ou 70 anos de vida. É lógico, natural e assim terá de ser, mas a pressão criada sobre as finanças da segurança social é enorme.»
E quanto à formação das novas gerações? De acordo com o relatório da OCDE, «o abandono escolar na União Europeia foi, em 2007, de cerca de 15 por cento. Portugal, com 36,3 por cento, tem a taxa mais alta. Mais de um terço da população entre 18 e 24 anos não completou a escola e não frequenta cursos de formação profissional. Só 13 por cento da população activa adulta completou o ensino secundário e perto de 57 por cento apenas terminaram o primeiro ciclo do básico. Ainda segundo a OCDE e um estudo de Susana Jesus Santos (do banco BPI), a distribuição dos tempos de aulas nas escolas, para alunos de nove a 11 anos, mostra como a juventude portuguesa está orientada. Em Portugal, a leitura (e o Português) ocupa 11 por cento do tempo de aulas. Na União Europeia, 25. Em Portugal, a Matemática ocupa 12 por cento. Na União Europeia, 17»
Tudo visto, o autoritarismo prussinano e a actividade policial do actual primeiro-ministro não se traduzem em qualquer benefício para o país. Não há nele nem lucidez nem inteligência: bem pelo contrário, o primeiro-ministro e o governo demonstram, diariamente, a sua incapacidade e a sua inépcia, já que a política não é uma actividade que se esgote em si mesma: prossegue fins, tem objectivos e deve traduzir-se em resultados.
E os resultados deste governo são maus. A ordem de que fala Vasco Pulido Valente é estéril: parece até conduzir, muito directamente, à pobreza e ao atraso (de que, aliás, o amor pela ordem é um seguro sintoma...): vivemos pior - e não mais alegres - do que há 4 anos.
Por isso, tudo se resume em saber - se o tal amor pela ordem, pela polícia e pela humilhação - sem qualquer contrapartida, sem qualquer melhoria, isto é, em vão - se sobrepõe, nos portugueses, ao desejo de não viver tão pobre e tristemente como vivemos.
Há 368 anos, os portugueses arriscaram.

domingo, novembro 30, 2008

Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.


Fernando Pessoa
(que morreu em Lisboa há 73 anos).

sábado, novembro 29, 2008


Quando doentes - sim, ainda estou - é preciso Accentuate the Positive e não esmorecer.

quinta-feira, novembro 27, 2008

«Portugueses estão entre os europeus que mais desconfiam do próximo, revela inquérito »
também no Público
E com razão, já que a reserva mental é a atitude nacional de um povo pobre e, geralmente, pouco seguro de si. Nasceu como forma de resistência contra o poder que lhe queria cobrar o imposto e não lhe respeitava as ideias, foi impregnando o nosso modo de ser e persiste hoje, resto putrefacto das antigas cautelas campónias.
Há dias, um português com uns copos falava com um castelhano borracho. As frases do português continham uma facada por palavra, rasteira, invejosa, golpe baixo a que não faltava um humor afadistado - ao qual, valha-me a santa indulgência, não deixo de achar alguma graça .
O espanhol, não vendo motivos para estar a ser insultado, respondia com naturalidade e franqueza às canalhices afadistadas, não percebia os subentendidos, que estava a ser desfeiteado, e o outro tirava daquela franqueza desarmada um prazer suplementar. Português e castelhano, os dois com trajes regionais de montar - a conversa decorria entre bestas - pareceu-me o retrato dos nossos países, do nosso bisonho, retorcido e invejoso modo de ser, agora ainda mais aguçado pelos falhanços recentes.
Terei percebido tudo mal? Eu estava um pouco afastado, comia castanhas e as castanhas sempre me causaram alegorias, mas creio que sim, que a imagem não é arbitrária.
Enquanto tento resolver o problema do post anterior, senti-me melhorzinho com a leitura do óptimo artigo de Constança Cunha e Sá no Público.
A não perder, a não perder.
«Até que a voz me doa». Já está - ou pelo menos dói-me quando falo.
O que se faz agora?
Sem febre, mas péssimo. A minha fraca - e mesquinha e vingativa - consolação é o país estar bastante pior.

quarta-feira, novembro 26, 2008

Não tive febre, mas continuo péssimo, uma espécie de estação de vilegiatura, um Baden-Baden para os germes de toda a Europa.
Constipação severíssima: espilros, olhos lacrimejantes, incapacidade de síntese, lembranças de canções francesas douteuses (era cantada pelo Aznavour, mas não achei), a garganta definitavemente afectada, tudo convida ao colapso ou, pelo menos, a dois ou três dias miseráveis.
Ou mais: Se um não posso ainda dizer que estou com um febrão, temo que esteja a preparar-me para isso: 36,9ºC a esta hora não prognostica nada de bom.

terça-feira, novembro 25, 2008

Jornal amável, o Público.
Hoje, a OCDE publicou um relatório que transforma as previsões do governo português em algo de justificável apenas por um ocasional abuso de bebidas espirituosas. Ao contrário das previsões de crescimento, a OCDE prevê a recessão - a tal palavra censurada - e o aumento para níveis alarmantes do desemprego e do défit público, que poderá ultrapassar os 2,9%, colocando-nos, de novo, em situação de infracção às regras da UE.
A mesma organização aponta o decréscimo das nossas exportações como um dos responsáveis por este triste destino (e a melhoria delas não depende do tão amado investimento público, mas de ganhos de produtividade).
Mas, no meio destas declarações sombrias da OCDE, o que diz o amável Público? Isto: que será uma recessão menos acentuada do que na zona euro (sic). O mesmo diz o Sr. Sousa, que aponta a Alemanha como estando com piores perspectivas do que Portugal.
Dito isto, só nos resta esperar pelos imigrantes alemães.

Uma página de Eça de Queiroz
Uma enchente, este 25 de Novembro.

À cabeça, o aniversário do nascimento de Eça de Queiroz, que foi em 1845.

Depois, a lembrança de onde estava no 25 de Novembro. Contei tudo aqui.
Na actualidade: aparece na televisão um senhor psiquiatra a queixar-se que foi perseguido pelo PS, por ter dito que as testemunhas do caso Casa Pia não mentiam; mais: que estaria numa lista de gente a não nomear para cargos políticos. Não me admiro, mas o que faz um psiquiatra em cargos de nomeação política?
No meio de tudo isto, tenho alguma admiração pelo facultativo, que leva a ingenuidade ao ponto de achar que as pessoas normais não mentem. Terá algum cargo no Banco de Portugal?
Espero que os inocentes do caso Casa Pia sejam absolvidos e os culpados condenados. Faltaria demitir - com reforma mínima - aqueles (dezenas?) que lá trabalhavam e que, ao longo de anos, não julgaram conveniente pegar no telefone e ligar para a Polícia (sim, eu sei, é aquela mesma que também não sabia que havia prostituição no Parque Eduardo VII. Também trabalhará para o Banco de Portugal?)
Em sentido contrário, impõe-se condecorar uma das poucas pessoas que pareceu genuinamente preocupar-se com os pobres casapianos e que tentou, ao longo de anos, acabar com a situação: Mestre Américo.
Outra indignação - nada como o frio para realçar a fibra moral - : o dr. Constâncio diz-se vítima de uma perseguiçãoo que nem nos países onde há escândalos muito maiores. Talvez os escândalos envolvam quantias maiores, lá fora, mas os colegas do dr. Constâncio (o norte americano Bernanke, por exemplo) ganham bastante menos do que ele, Victor. Por isso, não se justifica o espanto do ilustre bonzo, não há qualquer desproporção.
Peço desculpa a Eça de Queiroz de o meter no meio deste salmis d'horreurs, como prometia os seus livros das scénas seriam, numa carta célebre a Ramalho.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Frio e vento, mas ainda noroeste. Depois roda para nordeste.

Obama apresentou a sua - usou muito mine e my - equipe económica - e falou na possibilidade de milhões (sic) de desempregados no ano que vem.
A bolsa manteve-se em alta.
Mais vale cair em graça do que ser engraçado.

domingo, novembro 23, 2008

Citação obrigatória

«Uma pessoa abre o jornal ou liga a televisão e revê, pasmado, a velha propaganda antidemocrática de 1930. Umas vezes, subtil; outras vezes, muito taxativa e franca. Umas vezes, melancólica, outras vezes, quase triunfante. A miséria geral e perspectiva de uma miséria maior, a fraqueza do regime e uma irritação crescente anunciam o caos. Manifestamente, a bota deixou de rimar com a perdigota.»

Vasco Pulido Valente,no Público

sábado, novembro 22, 2008

Há 45 anos foi assassinado John Kennedy. Também eu me lembro onde estava quando soube a notícia: já andava e articulava algumas palavras e brincava, presumo que sossegadamente, a pouco metros de onde escrevo agora; pediram-me que fosse lá abaixo dizer que o Presidente Kennedy tinha sido morto.
Do depois, lembro-me vagamente de ver fotografias no Paris Match, não sei se devidamente autorizado.

O viandante a braços com as inclemências do tempo e de Heathliff é o narrador.

Vai ouvindo a história que depois nos conta da velha criada, quando, ainda de cama, convalescente da pneumonia que sobrevém a esta aventura, ela lhe faz companhia.

sexta-feira, novembro 21, 2008

Medito, matutino, nas pequenezas que nos protegem dos piores desbragamentos da virtude. A apatia labrega, para falar na mais à mão, é um sorvedouro eficaz de boas e más intenções, tão nefastas umas e outras.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Comprar Citigroup? Caiu 23% ontem e 80% num ano.
Uma queda tão convicta possui uma eficácia e um preço - nada de gratuito, aqui - que em vão procuraríamo nas melhores metáforas sobre o destino humano e convoca as piedades gananciosas que o desastre sempre desperta.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Uma ideia boa: Padrinhos de Portugal. E há um blog aqui.
O país está num estado miserável, o governo é o espelho do ministro das finanças - o pior da UE, segundo o FT - mas sobra a má fé necessária para tentar que a discussão seja sobre uma frase da leader da Oposição que apenas um cretino não entenderia.
É de meter medo.

segunda-feira, novembro 17, 2008

As imagens de Obama fazem-me lembrar sempre aquelas campanhas publicitárias mais requintadas, aquelas que não dizem logo ao que vêm e fazem de conta que não são publicidade.

domingo, novembro 16, 2008

Continuo a ver pelas televisões grandes galhofas sobre Sarah Palin - e também sobre Manuela Ferreira Leite. Os galhofeiros que, penso, se consideram pessoas sofisticadas, falam depois, com ar sério, do primeiro-ministro português e das ideias dele para Portugal, o país que recentemente foi ultrapassado por Chipre e Malta, Eslovénia e Eslováquia nos rankings europeus e está resolutamente a caminho do fundo em diversos outros índices, o dos cuidados de saúde, por exemplo, em que, só neste último ano descemos vários lugares e já competimos com a Roménia e a dinâmica Bulgária.
Fico um pouco vexado: devem, seguramente, saber alguma coisa que eu não sei.
Algum fair play e digam o que me está a escapar.
Vou inistir até saber.

sexta-feira, novembro 14, 2008

A fotografia a que se refere o post anterior

Questões nunca resolvidas e sempre pertinentes

Onde colocar as notas de texto? No pé da página ou no fim do livro? E, se no fim, por capítulos, ou sem fazer menção deles? E, se por capítulos, recomeçar a contagem ou continuar a ordem das notas?
Todas estas variedades de arrumação têm méritos e deméritos.
Eu prefiro as notas no pé da página, em letras muito pequena e incómoda, com algarismos árabes, usando-se ainda as letras para notas de tradução ou explicações de tradutor ou responsável da edição. Umas e outras devem manter no original as notas que contenham transcrições em grego, latim, francês, italiano (gosto muito das notas em italiano), qualquer língua românica e ainda inglês, alemão; tudo sem qualquer tradução, regra que deve reinar também no texto. Notas em alfabeto cirílico, tamil ou árabe acho um pouco pedante.
Se as notas forem pequenas, parece-me esta questão de arrumação resolvida.
Se são mais volumosas já a coisa muda um pouco e acabo por preferir as notas no fim do livro. E na questão da numeração? Parece-me que uma única ordem, sem recomeçar em cada capítulo é mais cómoda, porque nos podemos orientar com mais facilidade quando folheamos lá no fim, a tentar encontrar, passse a familiariedade, mas, para textos com muitas notas e em papel bíblia não se consegue distinguir pelo volume sobrante de páginas se aquela nota 33 é a referente ao 4º, ou 6º, ou 8º capítulos. E aqui não posso deixar de comunicar um dado curioso: geralmente, quando leio a nota errada, a 33 do artigo 7º quando é certo que estou ainda no capítulo 5º, parece-me aquela referir-se a uma questão tão interessante que não deixo de ir ver o ponto a que diz respeito. Depois de invulgares dificuldades (apenas alguns livros contém a página do livro a que se refere a nota) verifico que, no seu contexto, não apenas é desinteressante quanto fútil, característica que parece partilhar com a grande generalidade das notas de texto.
Lembrei-me, no Inverno passado, de como seria benéfico o lançamento de uma associação dinâmica que combatesse junto dos editores o hábito das notas inúteis ou apenas mais dispensáveis, mas é tal a decadência dos hábitos de leitura que não achei o número de pessoas necessário para fundar a associação e fazer face às despesas notariais e de registo da mesma.
Fico hoje por aqui. A fotografia - que tirei e tem, por isso, os defeitos próprios das obras de amadores - é de um sistema de notas que proporciona uma leitura muito agradável e simples e embora a numeração seja feita por capítulos, a referência da página da nota facilita a consulta.

quinta-feira, novembro 13, 2008

O meu lado james oliver, isto é, cockney, guloso e arruaceiro tem rejubilado com as recentes gemadas de protesto.
Madame de Sévigné não achava muito interessante a história de Roma porque não conhecia lá ninguém. Rio sempre quando me lembro do bon mot da Marquesa (que é uma grande escritora) mas, ontem à noite, num serão de província, enquanto falávamos de um amigo nosso, elogiando-lhe alguns defeitos que lhe estimamos, apercebi-me que eram os mesmos que o Marquês de Fronteira já referia como pertença do ilustre D. de L. - antepassado do involuntário assunto da noite - e que, verifica-se, os não guardou para si; mas, acima de tudo, apercebi-me da justeza da observação de Mme. de Sevigné: é agradável ir por esses livros de história fora e encontrar gente que sabemos muito bem quem é, por lhe conhecermos os netos que, amiúde, são réplicas quase fractais dos seus antepassados, ou de parte deles: de temperamentos, ou de meros gestos e é interessante que aquela tibieza que estudamos a propósito da ida da corte para o Brasil ou a firmeza serena que precedeu a batalha de Valverde nos faça lembrar o modo quase aflito com que fomos perguntados, às vezes poucas horas antes, sobre se valerá a pena ou não aquela compra, ou o modo firme e amigo como nos aconselharam, definitivamente, o vinho que acharam numa prateleira de hipermercado.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Que se faz a esta gente?
Em declarações esta manhã à TSF, Isabel Jonet, presidente da Federação de Bancos Alimentares, afirmou que, para que estas instituições possam distribuir frutas e legumes que os agricultores não podem vender, porque não cumprem os parâmetros de qualidade da UE, o Ministério da Agricultura tem de fazer um pedido de autorização à UE. "O nosso pedido foi feito ao senhor ministro mas ainda está sem resposta", afirmou Isabel Jonet.

Do "Público"

terça-feira, novembro 11, 2008

Foi há 90 anos, no 11º dia, do 11º mês, à 11ª hora que as armas se calaram. Tinha acabado a I Guerra Mundial.
Não sei de nenhuma cerimónia em Portugal - embora tenham morrido milhares de soldados portugueses no conflito.
Não sei quando, mas foi há muito tempo que ouvi falar pela primeira vez da Ultramarina, do José Maria Costa e Silva (Almarjão) e não foi há muito menos a primeira vez que lá fui. Ainda me lembro porquê: queria umas coisas do António Ennes sobre Moçambique, que teriam influenciado o pensamento de Eça de Queiroz sobre o império português por alturas da concepção d'A Ilustre Casa. E lá estava, fazendo jus ao que me haviam dito: «aí encontra-se tudo, ou ele arranja, ou sabe onde está» e muitas vezes depois, ouvi o seu nome por ocasião de achamentos miraculosos de obras que se julgavam há muito perdidas. E, também, sempre, do seu amor dos livros, pelo papel velho.
Está de luto a gente da livralhada que ele há-de estar já na primeira antevisão de uma eternidade de velhas edições por encontrar, que é o céu dos que amaram de todo o coração os velhos livros.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Depois do sol...

Fez-se noite com tal mistério,
Tão sem rumor, tão devagar,
Que o crepúsculo é como um luar
Iluminando um cemitério . . .

Tudo imóvel . . . Serenidades . . .
Que tristeza, nos sonhos meus!
E quanto choro e quanto adeus
Neste mar de infelicidades!

Oh! Paisagens minhas de antanho . . .
Velhas, velhas . . . Nem vivem mais . . .
— As nuvens passam desiguais,
Com sonolência de rebanho . . .

Seres e coisas vão-se embora . . .
E, na auréola triste do luar,
Anda a lua, tão devagar,
Que parece Nossa Senhora

Pelos silêncios a sonhar . . .

Cecília Meireles
Das minhas hierofanias de Novembro, Moby Dick, algumas linhas abaixo. Virão agora as serenidades, que relembrei quando as encontrei ontem em Cecília Meirelles - fazia anos que morreu. Falta Emily Brönte, o frio no meu quarto, e meia dúzia de outros assombros diáfanos.

sábado, novembro 08, 2008

Todo o universo se compunha do mesmo, aventa o físico.
E deve ser verdade: o ruído de fundo do universo é muito semelhante ao bocejo.


E a propósito de Beckford, agradeço ao acaso amável que me pôs a sua prosa debaixo do meu nariz, anteontem. O meu exemplar do Diário em Portugal tinha desaparecido há uns anos, vítima de uma deficiente política de empréstimos de livros, que demorei anos a definir em termos menos ruinosos.

sexta-feira, novembro 07, 2008

Um dos problemas de viver num país pobre e atrasado, para quem não confunda subdesenvolvimento com Arcadia, é a incomodidade geral, que começa pelas pequenas coisas: William Beckford fala, em 1794, do horrível ladrar e uivar dos cães. Duzentos e alguns anos depois, a coisa não melhorou muito e qualquer viajante do mundo civilizado não excessivamente afortunado pode enviar para o seu jornal saborosas crónicas sobre os estranhos, bárbaros e pitorescos hábitos dos indígenas lusos. E, em relação ao mundo civilizado, longínquos. Sobretudo longínquos.
Ronda nocturna
Sempre, mas sempre, suspeitei que as senhoras se divertem muito mais do que os homens. E há quem se divirta a confirmar a minha suposição de um modo revoltante. A vexante descoberta foi feita via Miss Pearls.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Li agora um artigo sobre a tarefa ciclópica que espera Barack na Casa Branca e pensei para mim que não seria nada mau que ele tentasse e conseguisse repor os USA no estado de prosperidade em que se encontravam no já mentalmente longínquo ano de 2006, quando a economia - não apenas as finanças - estava próspera e ainda não havia maioria democrática no Congresso.
Não seria nada mau.
P.S. Não pude deixar de apreciar devidamente a referência feita pelo presidente eleito a sua mulher, a future first-lady of the nation. Da nação! Estes ridículos tão republicanos dos USA deliciam qualquer monárquico.
O momento mais digno da noite de ontem, como bem se refere aqui.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Não gosto do Obama. A minha única consolação pela sua eleição é... ter sido eleito e vir aí o tempo dos actos.

Por aqui... por aqui, sabe-se que o governo depositou 500 milhões de euros num banco em situação difícil, suspeito de ilegalidades e o ministro das finanças ladeia a pergunta feita no Parlamento por um deputado (Louçã) usando o sigilo bancário como desculpa! Este tipo de resposta papalva põe-me fora de mim, pela mera possibilidade da sua existência. Se estivessemos num pais, não direi já do 1º mundo europeu mas, vá lá, de 2ª linha, diga-se, ao nível do Paraguai, um ministro não proferiria uma boutade destas e, se quisesse fugir à pergunta, fá-lo-ia de um modo se não verosímil, com alguma graça, usando um daqueles artifícios retóricos que nos fazem vacilar no gosto pela honestidade.
Aqui é isto... Toda a gente sabe que o sigilo bancário protege o cliente, o depositante. Se escrever neste blog que tenho 1000 euros depositados no Banco X, na conta Y não estou a violar nenhum sigilo bancário, porque sou eu o titular e o destinatário do direito ao sigilo. Por isso, o estado, depositante dos milhões, pode muito licitamente - e deve - dizer quanto e onde depositou. Ou seja, a resposta do ministro é, não apenas um atropelo à democracia, mas uma tolice que conta com uma ignorância ainda maior que a dele. Que tais infantilidades apalermadas sejam ainda possíveis eis a tragédia.

P.S. O pedido para que a oração fosse ouvida, de Purcell, em nada se relacionava com a eleição norte-americana.

terça-feira, novembro 04, 2008

Purcell, Hear my prayer
[...] Circumambulate the city of a dreamy Sabbath afternoon. Go from Corlears Hook to Coenties Slip, and from thence, by Whitehall northward. What do you see? - Posted like silent sentinels all around the town, stand thousands upon thousands of mortal men fixed in ocean reveries. Some leaning against the spiles; some seated upon the pier-heads; some looking over the bulwarks
of ships from China; some high aloft in the rigging, as if striving to get a still better seaward peep. But these are all landsmen; of week days pent up in lath and plaster - tied to counters, nailed to benches, clinched to desks. How then is this? Are the green fields gone? What do they here?
But look! here come more crowds, pacing straight for the water, and seemingly bound for a dive. Strange! Nothing will content them but the extremest limit of the land; loitering under the shady lee of yonder warehouses will not suffice. No. They must get just as nigh the water as they possibly can without falling in. And there they stand - miles of them - leagues. Inlanders all, they come from lanes and alleys, streets and avenues, - north, east, south, and west. Yet here they all unite. Tell me, does the magnetic virtue of the needles of the compasses of all those ships attract them thither?
Melville, Moby Dick, logo após o mais espantoso início de um livro que até agora li. O Moby Dick veio juntar-se ao Monte dos Vendavais nas minhas leituras dos novembros de outros tempos. Mas continuo a ler uns excertos por estas alturas, ou Whenever I find myself growing grim about the mouth; whenever it is a damp, drizzly November in my soul.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Vejo esta gente a falar da Dra. Manuela Ferreira Leite com uns desdéns tais que a diríamos a viver no gozo de um governo presidido por um génio político, num país próspero e bem sucedido, requintado, numa democracia sólida, profunda, profícua.
Agora, das duas uma: ou eu me perdi dessa realidade radiante e, por culpa minha, vim parar a um beco de amargura, onde vivo um pesadelo triste e alucinado com um país em crise, que empobrece diariamente, paralisado, sem ideias nem vitalidade e que, segundo todas as estatísticas fiáveis, tem regredido e apenas progride no ranking da corrupção, num país onde se decidem assuntos de milhões e que afectam milhões sem critérios claros, num país regido pelas saloiíces de um primeiro-ministro diplomado a um domingo e que consegue cobrir-se de ridículo no continente dos generais alcazares, num país que...
Fui eu que ensandeci, aqui perdido num beco?

quinta-feira, outubro 30, 2008

Receita infalível, levemente misantropa e misógina.
Na livraria da casa, num dia à noite, escolher, acender e fumar um bom charuto cubano, o que não deve demorar menos de 50 minutos, evitando-se a presença de senhoras ou amigos tagarelas.
Deixe-se passar a noite. Ao outro dia, entre as 5 e as 6 da tarde, depois da casa arejada mas não mais de meia hora nas limpezas da manhã (a que nunca se deve assistir), tomar um chá, de preferência com pouco açúcar e acompanhado apenas de torradas - de pão de forma - com manteiga e sem doce.
Sendo época delas, se podem lançar numa boa taça de faiança antiga, porcelana ou prata, 4 ou 5 romãs inteiras.
Do 25 de Abril nasceu um nacionalismo novo, não heróico, que não celebra grandes feitos passados - mais ou menos acontecidos - mas que começou a exaltar e a comover-se como que se era - e não se era. E, como se era pouco e não se era muito, a auto-complacência e a celebração do de menos passou a virtude. A crítica e a dúvida, até algum desdém - por vezes salvífico - foram substituídas, graças a um construtivismo saloio e perverso, pelo contentamento balofo, pela tautologia, pela alucinação kitsch. A consequência - que já procriou ninhadas de causas - é este sonho monstruoso, este país de licenciaturas domingueiras, de logros estéreis, de secretários de estado da educação - mas podia ser de outra coisa? - que dizem calinadas em português e se ocupam do futuro dos portugueses.
Nas minhas orações, já peço sempre que não confunda, que o Tejo não é o Nilo. E quase percebo que sou compreendido no meu pedido: do acordo ortográfico a este dislate, passando pelo súbito jeito para a matemática, esta gente porta-se como em país conquistado, saqueia, devasta mais do as sete pragas do Egipto!

Entretanto, assine.
Muito obrigado.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Pequena arqueologia. No itinerário desta manhã descubro, sobrepostos, vestígios de rotinas desaparecidas. Na escavação reencontro, em mau estado de conservação, vontades, entusiasmos, actos, que hoje me são hoje quase estranhos.
Sem demasiada pena ou entusiasmo recolho tudo para inventário.

terça-feira, outubro 28, 2008

Numa telenovela por onde passei agora punha-se a hipótese de um de cuius que não sei quem foi ter deixado um testamento que teria desaparecido... Tal dúvida não tem cabimento em Portugal, porque o notário deve intervir sempre, sob pena de nulidade, e comunica obrigatoriamente a feitura de um testamento aos registos centrais. Em Portugal podem existir testamentos desaparecidos - os cerrados, que os autores podem guardar depois de aprovados pelo notário - mas não dúvidas sobre se foram ou não feitos.
Gosto destas coisas um pouco desleixadas, têm um agradável ar caseiro que o país vai tão em vão e ingloriamente perdendo.
Ontem vi na televisão um programa sobre habitação. Um dos intervenientes, arq. Manuel Salgado, considerava que o novo regime do arrendamento demorará anos a produzir efeitos. Creio mesmo que falou - ou deu a entender - em mais de 10 ou 15 anos. Esse espaço de tempo dá para o aparecer e firmar de uma grande potência económica... e a afirmação só vale por ser a ilustração, em todo o seu calmo esplendor, dos vagares atávicos, do nosso atraso em relação ao mundo a que queremos - e alguns julgam - pertencer.
A verdade é esta: se o governo tivesse querido fazer uma verdadeira reforma, restaurando a liberdade contratual, e não um expediente de uma boçal esperteza saloia, a lei teria tido efeito em minutos: como todos já aprendemos nestes tempos, tudo começa pela confiança - e pela boa fé.

segunda-feira, outubro 27, 2008

Não há sólida formação moral, fora do estoicismo, que nos prepare para dois meses comos estes últimos na Bolsa. Pacato, prefiro verificar do fundo do sofá o regular andamento dos mercados, com subidas minuciosas e sólidas e pequenas descidas morais (assim, com este gosto novo, acompanho os tempos). Mas à exaltação da grandeza e queda, tão do agrado romântico, prefiro a solidez da Caterpillar Inc. e do JP Morgan por quem nutro um daqueles respeitos de pré-adolescência, imunes a qualquer desmentido posterior, e que se formou quando li algures que o banqueiro tinha financiado a Grande Guerra. Por isso, o Morgan treme e a Caterpillar desce USD $ 30, desanimo de um modo tão forte que não vejo, para usar uma expressão infelizmente caída em desuso neste Outono, que vá aliviar dos mínimos tão cedo.
Isto foi de manhã. Depois, a chilreada dos pássaros, o sol, e uma colónia rigorosa, com um forte travo de pimenta preta, conseguiram dotar-me de coragem para enfrentar, com um mínimo de compostura, se não o futuro, o depois de almoço.

sábado, outubro 25, 2008

Diz o presidente da república: «(...) entende-se, isso sim, que o novo regime jurídico do divórcio irá conduzir na prática a situações de profunda injustiça, sobretudo para aqueles que se encontram em posição de maior vulnerabilidade, ou seja, como é mais frequente, as mulheres de mais fracos recursos e os filhos menores» Mais: «Na verdade, num tempo em que se torna necessário promover a efectiva igualdade entre homens e mulheres e em que é premente intensificar o combate à violência doméstica, o novo regime jurídico do divórcio não só poderá afectar seriamente a consecução desses objectivos como poderá ter efeitos extremamente nefastos para a situação dos menores» E ainda: «A profunda injustiça da lei emerge igualmente no caso de o casamento ter sido celebrado no regime da comunhão geral de bens, podendo o cônjuge que não provocou o divórcio ser, na partilha, duramente prejudicado em termos patrimoniais.» E «Para mais, o diploma em causa, incluindo a alteração agora introduzida no artigo 1676º do Código Civil, padece de graves deficiências técnico-jurídicas e recorre a conceitos indeterminados que suscitam fundadas dúvidas interpretativas, dificultando a sua aplicação pelos tribunais e, pior ainda, aprofundando situações de tensão e conflito na sociedade portuguesa.»
E promulga a lei...
É de entremez, embora não deixe de constituir um documento de extrema importância para a história geral da mediocridade lusa e da falta de coragem política em particular.
(
Entretanto, os bispos portugueses, que se mantiveram calados, parecem empenhados em fazer-nos perceber a justeza da grande reprimenda que Bento XVI lhes fez publicamente. É de louvar o empenho no esclarecimento.)

quinta-feira, outubro 23, 2008

"Infelizmente, os países não são todos iguais, têm reputações diferentes nos mercados e Portugal não tem a melhor reputação"

Teixeira dos Santos, Ministro das finanças português.

Pior do que isto, não sei o que um ministro possa dizer do seu país.
Mesmo assim, talvez convenha agradecer-lhe: ao menos, agora sabemos.
Antes humilhados que enganados.
É muito amável. Se eu conseguisse chamar tugúrio ao blog, diria que o meu tugúrio não merece nem as palavras amáveis que, muito grato, agradeço - nem a expropriação.
Bolsas: tudo começa a assemelhar-se a um perverso potlach.

quarta-feira, outubro 22, 2008

“Neste momento todas as famílias precisam da ajuda do Estado”, disse o actual primeiro-ministro.
Confissão, ameaça ou jactância, é altura de Pinto de Sousa voltar ao que fazia: às casinhas da Covilhã, aos negócios com Fátima Felgueiras e demais sócios, aos programas de televisão.
Os resultados do governo foram maus, a situação do país piorou, a persistência desta gente no governo apenas se pode justificar por um condenável apego ao queixume e à desgraça, luxos rurais a que não nos podemos dar.



Noites de outros tempos.
Lembro-me muito, muito nebulosamente, desta série, «Os Aldrabões», The Rogues. De facto, apenas me lembro de me lembrar. E da música. A série era muito divertida - de facto, é uma preciosidade - e deixavam-ma ver, não sei se até ao fim (devia acabar tardíssimo, talvez às onze da noite).
O título do episódio que encontrei - «Money is for burning» - mantém-se actual.

1ª noite de alguma chuva.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Qaundo soube da saída do Dr. Paulo Cunha Porto e de D. João Távora do Corta-fitas, um blog familiar e bem comportado, sussurrei-me: «Ainda bem que os celerados foram apanhados!» De há muito desconfiava que o Dr. Paulo Cunha Porto se servia do amável blog para recrutar inocentes jovenzinhas que, insidiosamente, conseguia se perdessem para sempre no seu Parc aux Cerfs apostólico. Não fiquei surpreendido: quem passasse pela imediações dos seus posts, logo ouvia os suspiros que, entrecortados por horrendos urros e mesmo algum riso (!!!) são sinal indesmentível da leitura de Agostinho de Macedo ou da correspondência de Ribeiro Saraiva, de que o celerado se servia para quebrar o natural pudor democrático das vítimas, ao ponto das desgraçadas, já engolfadas na corrente da corrupção, acabarem por se entregar à pecaminosa leitura do Essai sur la pensée réactionnaire de Cioran e darem vivas ao Senhor Dom João VI, Rei Absoluto.
De conde de Matosinhos já me tinha perguntado porque estaria ele incógnito, usando o nome civil: «Não está a fazê-la boa!», respondi-me. Tão celerado quanto o primeiro, foi agora revelado que tentava arrebanhar incautos para a causa do Absolutismo através de uma prosa falsamente agradável e amável e com um propalado amor à família. Um biltre!
Havia ainda um terceiro comparsa que parece já ter fugido para Espanha.
O primeiro deles está instalado com cautela aqui, tendo ficado com a obrigação de apresentação diária de 1 post.
Há quem sugira medidas fortes para os outros dois, caso não continuem a escrever, havendo quem fale em condená-los a um outro blog.
Antes de ir dormir passei pelo Bloomberg e fiquei com a impressão de que as oscilações da bolsa estão mais contidas.
Se o crédito começar a fluir, talvez se evite o pior na «economia real».
Restará ainda convencer disso todos aqueles que, desde há 15 anos, falam da recessão que aí vem. E os franceses - e os alemães - que os ingleses já resolveram a questão sensatamente - as always.
Mas é difícil: foram dias de excitação que o febril Sarkozy e outros cultores da desmesura adoraram.
Enfim, como dizia Miss Prism: That would be delightful. Cecily, you will read your Political Economy in my absence. The chapter on the Fall of the Rupee you may omit. It is somewhat too sensational. Even these metallic problems have their melodramatic side.
Oscar Wilde, «The importante of being Earnest», Act II, Part I.
P.S. La Rochefoucauld, Miss Prism e a Rainha de Copas têm sido ajudas preciosas nestes dias difíceis. Agradeço-lhes muito obrigado e grato.

domingo, outubro 19, 2008

quinta-feira, outubro 16, 2008

Aquele Prof. Salpico, que nos tuteia e diz que o IM é um laboratório de estado que vigia o estado do tempo, pareceu-me um pouco sinistro.
215º aniversário do assassinato pelos republicanos da Rainha Maria Antonieta de França, que seguiu a sorte de seu Marido, o Rei Luis XVI.
Os julgamentos dos soberanos foram fraudes judiciárias, trágicos prenúncio do destino de milhões de pessoas desde então.
Aquando do segundo centenário, a república - e Paris - quiseram apropriar-se da imagem da Rainha, proclamando-a como precursora da nova afectividade e do moderno conceito de intimidade. O «Petit Trianon» contra os «Grands Appartements».
Um bom debate, ganho por McCain, em óptima forma.
Interessante ver a reacção dos jornalistas e já depois do debate alguns pequenos truques para que Obama fosse considerado o «vencedor».
Continuo convencido de que McCain será o próximo presidente dos USA, embora sempre tivesse pensado que, por esta altura, já estaria próximo da vantagem - ou mesmo a ganhar por pequena margem. É a crise.
Boa noite.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Orçamento Geral do Estado: o governo cria um «fundo de investimento imobiliário em arrendamento», de que o ministro das finanças pouco sabia.
Não será estulto pensar que, no geral, servirá para manter em boa ordem o endividamento dos portugueses provocado - todos em voz alta! - «pelo intervencionismo e demagogia estatais no mercado de arrendamento» - muito bem! - continuando o dinheiro a correr para os bancos e construtoras, actividade tão mais necessária quanto parece ser a nossa verdadeira e única vocação.

A tarde de hoje está muito calma e suave.

terça-feira, outubro 14, 2008

O estatismo português parece-me de vento em popa: vi ontem o que creio tratar-se de um resumo de um programa dedicado à crise, com quatro banqueiros.
Fiquei com a noção de que, a pretexto dos subprime foi encontrado um entendimento que assegurará a mediocridade e a estagnação feliz - e muda - do país por mais alguns anos.
Mas, afinal, e sem graças: quem é que ganhou o nobel da literatura este ano?

segunda-feira, outubro 13, 2008

Para os investidores, especuladores da bolsa e apaixonados em geral: les sanglots de soulagement não são isentos de perigos.

domingo, outubro 12, 2008

Em tempos de preocupação, um jantar animado, com a velha graça portuguesa, a um tempo ingénua, inteligente e súbtil, o seu quê de tímida, o seu tanto de desbocada, explorando o absurdo e o non sense - que o há por aqui e desde há muito.

sábado, outubro 11, 2008

Coisas verdadeiramente assustadoras desta semana: o semi crash de Wall Street; e olhar para um canal de televisão para seguir, preocupado, a bolsa e julgar ser um amigo nosso quem está a premir o botão da campaínha no início de uma das sessões aziagas de Wall Street, com um ar divertido e com gente à volta a batar palmas, e perceber que é mesmo o amigo que se tinha julgado ver; que não se trata de não uma alucinação devida a troca de pastilhas; demorar duas - não uma, mas duas - fracções de segundo para perceber que é tudo, afinal, muito razoável, apenas inesperado.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Händel, Eternal Source Of Light Divine

Eternal source of light divine,
With double warmth Thy beams display,
And with distinguished glory shine,
To add a lustre to this day.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Não sei se mesquinhamente já tenho dito de como acho graça ao facto de a demagogia governamental na questão do arrendamento ter tido como efeito o retirar quase totalmente da alçada do estado o problema da habitação, hoje dependente da evolução da euribor - sobre a qual o governo português não qualquer controlo.
Fui ver: já tinha dito, sim. Por diversas vezes e sempre em frases de sintaxe duvidosa.
Tenho a impressão que confundo muitas vezes a minha preguiça e a Divina Providência, isto a propósito desta tarde.

terça-feira, outubro 07, 2008

Um céptico sabe que não há apoio seguro mas sobrevive.
O problema das crises vem da desilusão vingativa, do rancor dos que perderam a fé.
A Islândia? Uma terra rica em ice glass, que tem sempre metade do problema de como conseguir uma bebida decente resolvido! Quem diria!
Os meus medos

Já tenho falado aqui daquela duquesa que La Rochefoucauld dizia sofrer horrivelmente com as infidelidades do amante. A pobre duquesa não dormia, não comia, chorava. E, diz o duque, assim evitava o tédio.

E eu tenho medo que com a crise seja a mesma coisa.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Bom escândalo em qualquer país europeu, este.
Boa oposição.
Bolsas a descer 5% [mas desceram aos 10%] em toda a Europa, em parte devido à enorme subtileza dos alemães, que resolveram garantir todos os depósitos...

Aproveite a crise dela (ou nela) para reler o posfácio de Fernando Gil n'«O processo da crença» (Gradiva).

Fica a epígrafe escolhida pelo Autor, uns versos de Sá de Miranda:

Já não confio nem creo
Já confiei e cri:
mal assi, e mal assi.

Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
Que é tal o coração qu'em vós confia?

domingo, outubro 05, 2008

O discurso do presidente da república transformou o Pinto de Sousa em algo de caduco, num pelotiqueiro despedido. O tempo dele, o tempo do ilusionismo, acabou.
O espectáculo vai ser outro - ou nenhum, mas, nesse caso, as cortinas vão estar fechadas: não vai ser possível estar no palco a fingir que o espectáculo continua.
Digam as sondagens o que disserem.
Comemorações do 5 de Outubro

Conversas patrióticas: as virtudes cívicas da república:

"Fiquei com uma boa relação com o seu accionista [Paulo Azevedo] e vamos ver se isso não se altera."

Palavras atribuídas ao sr. Pinto Sousa, 1º ministro da república portuguesa, em conversa com o Director do Jornal "Público", a propósito da publicação de notícias relacionadas com a licenciatura do dito.

sábado, outubro 04, 2008

E dia de S. Francisco de Assis.
Intimations of Imortality


THERE was a time when meadow, grove, and stream,

The earth, and every common sight,

To me did seem

Apparell'd in celestial light,

The glory and the freshness of a dream.

It is not now as it hath been of yore;—

Turn wheresoe'er I may,

By night or day,

The things which I have seen I now can see no more.
............................................................................

Wordsworth
Reparo na data do casamento de uma parenta que conheci muito bem e de quem gostava muito: 4 de Outubro de 1909.
(Se conheci ainda bem quem se casou há 99 anos, então tudo é normal: tenho perscrutado disfarçadamente amigos e amigas e a única conclusão animadora é que o pavor é geral e que declarações de princípios enfáticas sobre a desnecessidade de objectos tais como óculos de ver ao pé não vão melhorar a situação)
O casamento durou quase 50 anos, creio que foi feliz, a união entre um afável doudo wagneriano e uma menina sensata, inteligente e com uma boa disposição indestrutível que ia até à genialidade (ou à santidade).

sexta-feira, outubro 03, 2008

Por causa de Bush, de Wall Street, de tudo o que não é francês, a França entrou em recessão.
Pelos mesmos motivos (nem outros são imagináveis) , as famílias portuguesas estão endividadas e o FMI revê seis décimas em baixa o crescimento português.
Tive de ir à baixa local à tarde. As portas fechadas, a rua deserta de gerações de velhos que lá se aqueceram ao sol faz-me crer num triste destino para os outonos.

quinta-feira, outubro 02, 2008

A ida ao Parlamento de uma signatária de uma petição assinada por perto de 100 000 pessoas mereceu a ausência de todos os deputados convidados a comparecerem, exceptuada uma senhora deputada.
Onde estariam aquelas ilustrações? A discutir o futebol?
Ler e pasmar com este post de Maria Alzira Seixo.
Uma importante entrevista com o Dr. João Salgueiro: ausência de definição do país, e consequente ausência de qualquer plano, endividamento provocado pela ausência do mercado de arrendamento (alegremente tratado durante anos como um assunto um pouco caricato e onde se gastou toda a demagogia e toda a cobardia possíveis). Chegou a altura de pagar a factura neste país de proprietários.
E por factura, com c, porque assim, exactamente, é em latim, Malaca Casteleiro está muito preocupado com o atraso na adopção da ortografia deformada que impingiu aos nossos habéis estadistas (a muitos já ouvi alarvidades) e quer que as crianças comecem a aprender o português corrompido, nem sequer se apercebendo do ridículo das crianças irem encontrar no tão falado inglês no ensino básico todos os cês e pês que os brasileiros não querem que escrevamos.
Dá gosto viver num país assim.

quarta-feira, outubro 01, 2008

Ah, fontes geralmente bem informadas afirmam que - e contra a corrente - este blog vai ser privatizado.
Dia 1. Lembro muito vagamente de, uma ou outra vez, estar ainda na praia por esta altura. O chapéu de sol era o único em todo o areal e não sei como é que o concessionário se prestava ao trabalho. Eu era muito pequeno, não me lembro de estar aborrecido por estar lá, como mais tarde ficava logo nos inícios de Setembro, e gosto da vaga lembrança da praia vazia, com os dias muito calmos, o mar perfeito, chão. Era uma pequena excentricidade este ficar até tão tarde, com a casa de todo o ano já aberta e tudo como de costume, que instaurava na da praia, já quase sem pessoal, um quotidiano efémero, ténue, com regras estivais já sem muito sentido, um regime de excepção.

terça-feira, setembro 30, 2008

Há pouco no telejornal, aperitivos para o jantar: o primeiro Sousa falava com gravidade aos USA - na certeza de que ninguém o ouvirá: o que diz o "eng" Sousa tem tanto peso no caso quanto as últimas cogitações de um teen no recreio da escola.
O comentador Metello também estava façanhudo em relação aos USA. Para Metello, tudo a que assistimos no Congresso dos USA é mera demagogia. Os outros não têm direito a ter convicções ou virtudes, que vão todas, inteiras, para o "eng" Sousa, Pinhos, etc., objecto de escutas reverentes. Haja paciência.
(Gosto deste ar de lamento do séc. XIX)
Vou jantar, que tudo isto me abriu o apetite.
Ah, o Sousa recusou comentar as afirmações do Prof. Campos e Cunha que preconiza a suspensão dos grandes projectos do acéfalismo megalómano nacional (TGV's, aeroportos, etc).
E tenho gostado de ver um parlamento livre a funcionar, tão vivo, tão diferente, tão longe da repartição tristonha que por cá responde pelo nome de assembleia da república.
Lá, os argumentos tecnocráticos, o é preciso grave de quem sabe, detém-se onde se deve deter: perante a liberdade de decidir e o dever de decidir conforme a vontade dos eleitores. É a democracia e é a política em democracia. Coisa que, afinal, nos é estranha.

A propósito, gostei de ler isto.
O clima está melhor e não deixo de me congratular com aquele nay.
Pode ter as mais cínicas e cruéis explicações, mas pode, também, revelar respeito - ou medo - pelo eleitor a par de legítimas interrogações éticas (e a política faz parte da ética) num país que cultiva o gosto por pensar e discutir.
Os futuros continuam a subir!
Algumas imagens da Câmara dos Representantes. Fico com a impressão que aquela gente se está a divertir como há muito não fazia. Não há como os anglo-saxões para uns bons momentos bem passados com alguma algazarra! Em França, Sarközy de Nagy-Bocsa, de despeitado, não se conteve e anunciou, de imediato, uma Reforma suprema de todo o sistema financeiro universal que, espera-se, seja lembrado ainda amanhã. De qualquer modo estava radiante no seu anúncio e fez-me a mim rir bastante (papel a que os grandes se não podem furtar, isto de fazer rir pequena gente). E ri porque tinha recebido há 3 ou 4 dias, por mail, várias fotografias de Nicholas em que este estava em bicos de pés, para parecer mais alto, numa postura pouco natural. Ao ouvir a reforma de hoje, não pude deixar de pensar que é um raro caso em que as palavras se seguiam aos actos, o que não deixa de ser uma forma de ser original.
P.S. Ao contrário dos futuros, o Nikkei abriu a descer quase 5%. Será que é por uma questão de educação? Será pânico, medo? Neste caso, porque me mentiram em criança e me disseram que os orientais eram indiferentes ao sofrimento?
A esta hora alguns futuros estão positivos! E sem deliberação alguma dos Congressistas!
A questão, parece-me, é que já toda a gente está farta da crise. Não da crise em si, mas da anunciada com ansiedade desde há mais de 12 ou 13 anos: crise, depressão, depressão técnica, tudo foi ululado em anos seguidos de crescimento e algum dele, suprema afronta, crescimento calmo e são. A crise chegou, finalmente. Creio que ninguém a gozará muito: de antecipada que foi, um pouco do tédio manchou a novidade. Já vejo gente de olhar brilhante e guloso a falar no futuro, da recuperação, dos bons tempos, da próxima moda enfim.

segunda-feira, setembro 29, 2008

Mesmo que seja uma teima de prima donna - e é mais do que isso, estou em crer - o nay dos congressistas norte-americanos não deixa de ser revigorante e revigorador para quem, como o autor deste blog resolveu ver no que sucedeu hoje uma vitória das questões de princípio políticas - e não me importo muito que isso seja levado à conta de uma excessiva ingenuidade.
Encontrei hoje o blog sobre o centenário republicano. A ir lendo, como tratamento de desintoxicação da versão oficial. Está aqui.

Esta descoberta foi a notícia boa de hoje. A má, a das bolsas e as finanças mundiais, que estão negras.
Por um lado as amenidades, aqui as de concessão de casas, resquícios de bonomia ancien régime, por outro, a rispidez, o autoritarismo, a falta de hábitos de discussão, de flexibilidade, a brutalidade, por vezes mesmo a pura crueldade como hábitos no relacionamento com os administrados. Um lado e outro acabam, porém, por mostrar a inexistência de critérios, a opção pelo casuístico, mais, pelo capricho. Ambas elucidam aquilo para que VPV chamava a nossa atenção: o atraso português. E eu não excluíria, de alguma demência. Senil.

domingo, setembro 28, 2008

As nossas casas
De qualquer maneira, o que principalmente espanta neste episódio é inocência da autoridade. Uma inocência genuína e profunda. Que um funcionário (eleito ou não eleito) distribua como quem distribui uma mercê propriedade da câmara, ou seja, do contribuinte, não perturba a cabeça de ninguém. Então um favorzinho, que não custa nada, é agora um crime? Os portugueses sempre se trataram assim: com um "jeitinho" aqui em troca de um "jeitinho" ali. E a administração do Estado fervilha de grupinhos de influência e de pressão que promovem, despromovem, transferem e demitem - e vão, muito respeitosamente, ganhando o seu dinheirinho por fora, com uma assinatura e um carimbo. Ética de serviço? Quem ouviu falar nisso?

Vasco Pulido Valente in «Público»

sábado, setembro 27, 2008

Morreu Paul Newman, um grande actor, desportista e filantropo, a very decent fellow.
Há pouco, passeio da noite, no jardim: rememorações e divagações. Poulenc, Cesar Franck e Satie.
Se me lembrar que tenho lido o Câmara Clara do Barthes e que refecti sobre a alquimia da felicidade de Baudelaire (que é, afinal a alquimia sensata e densamente burguesa* dos petits malheurs e petitesses quotidianas) ando muito francês.
* por preguiça de ir buscar, debaixo da língua - ou das falanges - le mot juste, algo que designe a gravidade dos casais pequeno burgueses de Paris. Cunhado no francês do século XIX e levemente pejorativo.

sexta-feira, setembro 26, 2008

Tenho a vaga impressão que o PS procura dar da Dra. Ferreira Leite a ideia de pessoa retrógada e ultrapassada, pouco moderna.
Ora, basta ler o currículum de MFL para perceber que esta tem do que se passa no mundo uma ideia mais profunda e sobretudo mais sofisticada e nítida da que alguma vez terá o «eng» Sousa, o das casas da Covilhã, com um curriculum que se situa entre a farsa e a tragédia.
A coisa faria rir se não desse vontade de chorar: é que o «eng» Sousa é, por si só, em versão videirinha, a encarnação do atraso português.

quinta-feira, setembro 25, 2008

O progresso é ameaçador

O director do PÚBLICO chegou a relatar, a título de exemplo, parte de uma conversa que teve, nessa altura, com o primeiro-ministro, citando, entre aspas, este significativo "aviso": "Fiquei com uma boa relação com o seu accionista [Paulo Azevedo] e vamos ver se isso não se altera." Para a ERC, que se recusa a utilizar termos com uma "conotação negativa", isto está longe de ser uma ameaça inaceitável por parte de um primeiro-ministro que é capaz de utilizar, junto do director de um jornal, a "boa relação" que tem com o seu accionista, jogando com as tais oportunidades de negócios de que a dra. Ferreira Leite falava. Em qualquer país civilizado uma situação como esta seria rigorosamente investigada e, caso se confirmasse, levaria inevitavelmente à demissão do primeiro-ministro. Em Portugal é uma démarche considerada "normal" que se encaixa serenamente "num certo grau de tensão" que existe nas "relações entre o poder político e os jornalistas".
Constança Cunha e Sá, in Público

quarta-feira, setembro 24, 2008

Chegou o livro do Miguel Esteves Cardoso; crónicas sobre comida. Ler gente inteligente - em que a self-indulgence é ainda um exercício de ironia, bom humor e, por vezes, de no sense é coisa que consola, por momentos, desta geração dos 30s e do contentamento contente com que se festejam na supercondutividade da complacência e da mediocridade, eliminada qualquer rugosidade, qualquer suspeita de atrito sensato, até ao extremo gelado da absoluta infatigabilidade deles próprios.
(Isto é um pouco a propósito do destino pátrio, de mais uma geração que falhou e, também, da cozinha de fusão e dos admiradores acríticos dela. Que eu gosto de cozinha de fusão, note-se))

segunda-feira, setembro 22, 2008

Outono.
Há cinco anos comecei este blog. Vi agora a data exacta e li meia dúzia de linhas da altura: aqueles primeiros posts começam a ser-me quase estranhos - e o autor que invocava com gestos comedidos a divindidade dos Inícios não me o é menos.

domingo, setembro 21, 2008

Sexta-feira andei pela primeira vez de cacilheiro: tinha de fazer no tribunal de Almada e resolvi aproveitar para saber como era.
A viagem começou com a descida da rua do Alecrim, com visitas aos antiquários, a pretexto de umas vacas que trago apalavradas para a casa de jantar; mas de cortar o fôlego, mais que três inesperados Silva Porto, foi a campainha e a luz angustiantes que precedem a abertura de uma porta-cortina encarnada que dá acesso às passadeiras do cais - que coisa dramática, aquela! Depois, a volta, Lisboa ao fundo - lembrei-me das vues e views em gravura e de bloggers da outra banda. Por entre uma primeira visita às lojas (livros, gadjets e vestimentaria - com conversa extensa sobre as cores deste ano - Lilás? Não, obrigado - e algumas compras desnecessárias), dois jantares animados, em boa companhia e ambos inesperados -não me resta senão declarar este blog fechado para fim-de-semana.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Um amigo meu - de honestidade duvidosa -, com vários inquilinos com rendas obscenamente baixas, confidenciou-me o seu desgosto pelo não do Partido Socialista ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Dado o novo regime do divórcio, tencionava ir casando com os inquilinos para, divorciando-se depois - coisa muito mais mais fácil de obter que um despejo -, conseguir a desocupação dos prédios.
A única coisa em que Charlotte se repete: faz anos.
Mas, mesmo assim, nunca faz os mesmos - ao contrário do que acontece com algumas senhoras menos imaginativas - e são de diversas ordens de grandeza. Este ano fez milhares.
A condizer, o Impensavel deseja-lhe muitos mais milhares de posts.
Numa série da televisão vejo uma inverosímil Viúva Ferreirinha que, em 1861, considera o genro um inútil, por não trabalhar. Ora, Dona Antónia Ferreira, sabia muito bem que os gentlemen não trabalhavam (nem ninguém pretenderia que o fizessem). E o Conde de Azambuja, embora não trabalhasse (a expressão não faz, aliás, muito sentido) era filho do Duque de Loulé - um poderoso do regime político, várias vezes primeiro-ministro, tio legítimo do soberano reinante, El-Rei D. Luís, por ser casado com uma filha de D. João VI - o que fazia do genro da Ferreirinha além de filho de um primeiro-ministro quase crónico, primo muito legítimo do monarca e seu valido, deputado da nação na data mesma em que o vemos depreciado pela sogra e apresentado quase como um valdevinos, e, por isso valendo o que todos imaginamos que pudesse valer - mesmo sem ilegalidades nem tráfico de influências.
Não seria de espantar que o autor deste despautério demagógico, pago por todos nós - e que não deixa de constituir uma difamação gratuita - se ache uma pessoa de bem.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Estou farto de espilrar. Não sei se é constipação ou sell-off.
Esta coisa das crises é uma maçada grande, mas parece que o melhor é não tentar fazer mais do que lhes acudir.
Gostava, um dia, de ver dissipadas algumas dúvidas que tenho sobre o porquê de vivermos tão mal em Portugal: é por ignorância, por incapacidade ou, no fundo, gostamos?
Preocupação de antes de deitar:

Só contava com a supremacia de McCain nas sondagens para meados de Outubro.

Sensação de antes de deitar:

Sinto-me como se sentiria um rude ibero perante as lutas de poder na Roma imperial.

terça-feira, setembro 16, 2008

Há gente muito indignada com Mário Soares a propósito das afirmações que fez sobre a a visita de Sua Santidade, o Papa, a França.
Tenham piedade: Mário Soares é alguém sem o mínimo prestígio - já há anos atrás foi reduzido à sua insignificância por uma senhora deputada do Parlamento Europeu (de que ele acalentava o atoleimado desejo de vir a ser presidente).
O certo é que, como esse triste episódio provou, fora de Portugal nada é - e aqui vai-se aproximando de nada ser.
Com estas diatribes de botica de província de há cem anos em que agora se ocupa vingar-se-à da idade que chegou sem lhe trazer o prestígio, principalmente o internacional, que tanto quis. Nada veio: nem Nóbeis da Paz - que, suspeito, seria a ambição máxima - nem qualquer outro cargo honroso.
Deixemo-lo, por isso, a falar desde a sua insignificância, do já quase esquecimento, aos grandes deste mundo.
Ontem, naquele programa de televisão da não sei quantas Lopes ou se não é Lopes, outra coisa, o Prof. Adriano Moreira falava - outra vez - da mudança das fronteiras lusitanas, das imperiais para as novas, às portas da Ásia. Valha o bom senso a toda esta gente que o problema não é a fronteira ser no leste da Polónia, nem a nossa preocupação se havemos de ter uma estratégia planetária ou apenas europeia, mas ser a fronteira exactamente onde costumava ser, no Caia, ou em Vilar Formoso e a estratégia mais assisada e necessária aquela que nos permita viver melhorzinho, assim mais ou menos como se vive em Fuentes de Oñoro e, quem sabe, um dia como em Badajoz.
O resto são delírios de gente pobre.