terça-feira, fevereiro 28, 2006

Ouvi em dois noticiários Fernando Lopes queixar-se da ministra da cultura: que não deixa, a ministra, de ser muito estimável, mas que de cinema pouco sabe, o cinema não são só imagens, isto é tudo muito paroquial, muito paroquial. Espero que a ministra saiba resistir a esta lamúria - feita num tom de grande deste mundo a quem o abnegado amor à pátria leva a incomodar-se por questões menores - e que não escorregue com algum subsídio da paróquia a favor de tão universal paroquiano - se for esse o caso. Fernando Lopes, a quem não faltarão convites para realizar filmes lá fora, no vasto mundo, que faça o sacrifício - hoje em dia pequeno, dadas a facilidade das viagens e a comodidade das comunicações - e aceite trabalhar lá fora (itália? Suécia? Estados Unidos?). Prometo aplaudir a obra-prima, ir aplaudir o insígne criador em Cannes, Berlim, Veneza, Hollywood, onde o seu talento receberá o prémio merecido. Prometo ver e rever no cinema, comprar o DVD, ler entrevistas, comprar jornais para ler as críticas.
Dinheiro dos meus impostos é que não estou interessado em dar, que há outras obras da paróquia a fazer e enquanto Fernando Lopes tem todo o vasto mundo expectante, nós, paroquianos, não temos outro remédio senão viver aqui, com as obras da paróquia a arrastarem-se por falta de dinheiro.

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Afinal não veio tempestade: choveu tristemente, no sábado - que foi, por isso, um bom sábado de inverno, frio e chuvoso, dos que se passam em casa entre leituras preguiçosas, chá, zapping e tudo o que se tinha para fazer adiado para sábado que vem.

sábado, fevereiro 25, 2006


Durante quase dois meses não consegui pôr imagens no blog. Não foram dois meses seguidos, isto é, não pensava todos os dias e de uma foram consistente "na treta que é não poder enviar imagens para o blog". Pensava apenas de vez em quando, ao modo de um remorso incerto e deixava invadir-me por uma tristeza vaga e conformada que, por isso, não me incomodava demasiado (se tenho de ser português, que seja para estas coisas boas de ser português). Há uns dias disse de mim para mim que precisava resolver "aquela maçada, dá um jeitão, punha lá um desenho e já estava o post feito". Comecei a tentar: ver a firewall, ver a configuração do ftp, ver... delineei o problema, resolvi-o "em tese" (uma desastrosa antecipação que nos tira a força adjuvante da curiosidade) e há pouco lá cheguei a Calecut.
Agora tenciono pôr-me aqui à sombra e viver dos rendimentos do empreendimento.
Lá fora a tempestade espreita (vide pintura, também do Homer, Coming Storm - e à mão de semear).
Mas estou em terra.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Leio no Sapo que "Portugal é um dos países da União Europeia onde os cidadãos se revelam mais pessimistas com a vida que têm actualmente, sendo apenas ultrapassados pelos húngaros".

Pessimismo injustificado! Por exemplo: ainda há pouco saiu uma lei de arrendamento nova que tem uma fórmula muita avançada - embora complexa - para que o senhorio saiba a renda exacta que pode pedir ao inquilino, seja ele pessoa ou sociedade. Consta que, dos Estados Unidos ao Japão - onde a coisa é deixada ao critério do dono da casa e do inquilino - o mundo nos olha com espanto e inveja.
Pessimistas? Tsc, tsc... já é má vontade!

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

O que a Comissão Europeia disse foi que as medidas adoptadas pelo governo português são insuficientes e que é preciso fazer mais cortes na despesa etomar mais medidas restritivas da despesa, mormente para o ano. Acontece, porém, que grande parte dessa despesa se destina por vias mais ou menos directas a manter uma grande parte da classe média a viver como tem vivido até aqui - e não quer deixar de viver: acima das suas possibilidades.
A coisa vai doer. Ou antes, não vai: aposto que o governo não vai atacar os problemas essenciais.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Li algures que o furor condecoratório do presidente laico e socialista Dr. Sampaio obrigou a firma que fabrica as grão-cruzes a admitir pessoal eventual.
Perante isto, não pude deixar de pensar que os laicistas querem retirar as cruzes das escolas para as usarem ao peito.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Muito obrigado, Charlotte.
Porém, fiquei sem post para hoje. É que eu ia mandar dizer
que Não tô
Não tô... não vou

E agora?
Se fizer bom tempo...

P.S. Todos os dias? Não vale intimidar!

sábado, fevereiro 18, 2006

"Aí... piorou
Nem tô... nem vou
..........................................
Se fizer bom tempo amanhã
Eu vou "

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Se fizer bom tempo amanhã
Eu vou
Mas se por exemplo chover
Não vou
Diga a Maricotinha que eu
Mandei dizer que eu
Não tô
Não tô... não vou
Se fizer bom tempo amanhã
Eu vou
Mas se por exemplo chover
Não vou
Uma chuvinha, redinha, cotinha
Aí... piorou
Nem tô... nem vou
Se fizer bom tempo...

Dorival Caymmi

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Li esta no Abrupto: «A blogosfera é um lugar de fronteira, o Wild West, onde impera a "lei da selva" e o darwinismo social. Não é um local aprazível para os espíritos amáveis» e pasmei. Achava eu que os blogs eram o resultado uma actividade maioritariamente de adolescentes, donas de casa e alguns desocupados - ou ocupados - compulsivos palradores, como é o meu caso. E creio que assim é um pouco por esse vasto mundo fora. Em Portugal, todavia, a "blogosfera" é, parece, e segundo JPP, um assunto sério. De facto, temos de conceder: em Portugal, tudo oscila entre a pura farsa e o peso das coisas densas e pesadas (somos macambúzios, tememos o riso e temos a gravidade da gente pobre que espera a esmola)e logo essa característica propiciaria que a blogosfera portuguesa fosse um local pouco amável. E mais agrava tal clima de "cousa grave" a presença na blogosfera lusitana de tanta gente do mundo da política, do jornalismo, da cultura, até VPV meu maître à penser! Creio que isto será inédito e não sei a que atribuí-lo senão ao hábito português de cada um ter como profissão uma actividade de que não gosta e que opinar e criticar é a verdadeira vocação nacional - mas pouco exercida nos locais de trabalho: isso faz dos blogs sítios incríveis onde se "desabafa" e se "diz tudo" ("eu disse-lhe tudo" como os aspirantes a adúlteros de outrora)
E que se desabafem de modo caótico coisas sérias, é coisa que não pode agradar a JPP, ser disciplinado que não quer tanto desabafo e estado de alma a estorvar as linhas com que, do alto do abrupto delineia o futuro de Portugal e nos alerta para os perigos presentes. Compreende-se.
Mas, afinal, é esse palrar das gentes comuns grave além de maçador para as grandes almas? Excepto duas ou três pessoas que podem dizer o que pensam veramente em qualquer jornal e as vertem também nos seus blogs, o que se grita nos outros não passa, creio, o tom das controvérsias dos clubes literários das aldeias inglesas...

Tinha acabado de escrever isto e vi a troca de amabilidades entre o Abrupto e o Queijo Limiano, acusado de boateiro. Uhm. estou inclinado a dar razão ao último.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

De vez em quando passeio pelos blogs e lembro-me, nessa viagem que inicio por este meu, daquele gastrónomo que dizia haver mil e tal receitas de bacalhau que se podiam resumir a três.
Mas persisto, sem emenda.
Um dos meus heróis de pré-adolescente foi o General Gordon, que mal distinguia de uma personagem de Jules Verne. Hoje, a existência em demasia de consciências - dispensáveis, afinal, como afirmava Lord Bertrand Russell - tornariam Gordon e o seu sacrifício discutíveis,longe do "a uma só voz". Em nome de quê se pode - ou deve - prescindir do paternalismo que permitiu a quase unanimidade dos sentimentos de pesar pela morte do General?
A minha visita diária à Bomba trouxe-me Mae West. Parti em busca de.
Num outro qualquer sítio leio que West era uma "femme fatale". Nada mais errado. De Mae West seria de esperar risco, desafio e alguns maus conselhos, não o perigo sinistro das ciladas que matam.
Um deles, dos maus conselhos: «between two evils, I always pick the one I never tried before»

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Em dois dias deparei com duas asneiras. A primeira delas num texto publicitário destinado à classe média em que se escrevia "ascenção" por ascensão: a segunda consistiu em vários "intervimos" por interviemos num documentário com qualidade e que merecia mais atenção.
A questão que subjaz é a do nosso atraso.
Adormeço no cadeirão, profundamente, como um mineiro esgotado pela profundidade e sonho negrumes baços ou coisas enredadas e rígidas como as não produzia a indústria pesada búlgara nos idos de 50. Depois, por esta hora, desperto. Vou ler um bocado do "Portugal Contemporâneo" que encontrei há bocado naquela rima de livros ao pé da mesa de cabeceira que tantos engulhos provoca na empregada.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Penso na cor do mar pelo começo desta tarde, na baía, na barca que a ela aporta e o que naquela chegada teria de ser diferente, por ser a primeira.
Dizem-me que a poligamia está legalizada na Holanda. Não sendo de crer que sejam feitas discriminações em termos de orientações sexuais, temos que Hans pode ser casado com Thomas e Cokkie que, por sua vez, pode ter uma união lesbienne com Femke ao mesmo tempo que também é mulher de Ernst que, entre as suas 4 mulheres e três "maridos" conta Hilda, mulher, também, de...
Enfim, uma família feliz!

P.S. É de crer que venha a seguir, na agenda política, a legalização do incesto, esse tabú da sociedade capitalista e do ocidente decrépito. Acho que, ao menos neste ponto, poderá haver alguma justiça: os activistas poderão deixar de encontrar escapatória na lei e poderão ser obrigados a casar com as suas irmazinhas e vice-versa. Para não falar das mãezinhas e dos paizinhos deles. Ah, sim, justiça, enfim!

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Que fazer àqueles empregados e meninas de loja que, com ar pesaroso ou prazenteiro, conforme os feitios, nos dizem que aquilo por que perguntámos já não existe por ter sido "descontinuado"?
Alguns e algumas acrescentam a isto um ar de leve desprezo que nos põe ao lado das coisas "so last year" que se apressaram a deitar fora. "Descontinuado" seria, ao que suponho, um miserável anglicismo, ou mais veramente, um cretinismo correcto, mas, suponho, o termo encerra, também, um eufemismo de mau gosto: não se diz que acabou, que já não há, e supõe-se a mera pausa ao invés do definitivo. O medo e o desconforto da morte é tamanho que a "cosmética pompa fúnebre" chegou aos objectos.
Guardo uma reserva de princípio, de método, perante o que se lê no Globo e no blog citado. Mas a ser verdade o que diz o bloguista Sandmonkey podemos todos rir - e chorar - pela ingenuidade e cobardias ocidentais.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Dá sempre gosto ler VPV mas em especial os posts sobre a questão das caricaturas de Maomé em que são desancados, de uma penada - e feliz - o Dr. Sampaio, e os Prof. Cavaco e Freitas do Amaral.
Não é mau feitio de VPV, eles é que por omissão e acção se puseram a jeito.
Enfim uma notícia, esta da compra da PT pela Sonae.
E terá o mérito de revelar até onde foram os governos na sua arquitectura de protecções. Vamos ver mais nítido.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Um eterno Janeiro não me assusta senão por me aborrecerem todas as eternidades, mas esta manhã de Fevereiro, este sol, este azul, o ameno que se pressente por detrás da aspereza do vento têm o encanto das coisas confiantemente pressentidas.

domingo, fevereiro 05, 2006

Que fique claro: os energúmenos têm os seus direitos, entre os quais os de exprimirem o que lhes vai lá por dentro. O que tem faltado é a indignação. O desinteresse com que se "deixa andar" é uma face daquela mesma moeda com que se tenta, agora, apaziguar os furores islâmicos.
Oiço as notícias destes desmandos contra os nórdicos (e já contra os franceses) e sinto a falta de qualquer coisa. Ao longo dos dias que já leva este episódio tenho sentido a falta de não sei bem o quê. Percebi agora: das manifestações de protesto. Muito caladas estão as esquerdas, os anti globalistas, os multiculturalistas, os... toda essa gente...
Dos media: "Dezenas de manifestantes em protesto pela publicação das caricaturas do profeta Maomé na imprensa europeia entraram nas embaixadas da Dinamarca e Noruega, saquearam-nas e lançaram-lhes fogo em seguida."
À atenção dos senhores multiculturalistas: gente de outras culturas, nomeadamente das do Próximo Oriente não consideram que todas as culturas se equivalam. Pelo contrário, acham a deles muito superior à nossa, que vêem como decadente e "frouxa".
A gente a ver estas coisas de gente furiosa por uns desenhos de Maomé - e, ia dizer ao modo da cultura europeia intolerante e sem sentido de humor - quando ontem, num intervalo de zapping vi uma Cruz, o símbolo da religião cristã (a tal que não contribuiu para a formação europeia, segundo a defunta constituição europeia), o símbolo do martírio de Cristo, nas mãos de um energúmeno que contava em linguagem de carroceiro, anedotas soezes e alarves no que deve ser o mais abjecto programa da televisão europeia, o ri-te não sei quê, da Sic.
E sabem? Dei por mim a pensar sei lá o quê e em vergonha na cara e sei lá que mais.
Constava do catálogo, preto no branco, que os pés do cadeirão eram quinane. Havia possibilidades de escolhas de outros pés, mas tudo apontava para o quinane. É isso: Queen Anne.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Li, de manhã, no teletexto da TV5, a notícia de que o director do France Soir, Jacques Lefranc tinha sido despedido por ter permitido a publicação das caricaturas de Maomé.
A razão invocada para pôr o homem na rua foi a de ser necessário dar "um sinal forte de respeito pelas crenças e convicções íntimas de cada indivíduo".
Logo pensei no que aconteceria se os católicos franceses exigissem, com igual falta de "fair play" - e pode existir, em matéria de religião? - igual respeito pelas suas convicções...
A bem-pensância (sic) europeia, que tem alimentado, com a sua benevolência pelo extremismo muçulmano, a possibilidade da existência de situações como esta, que venha agora explicar em que pé estamos. Quanto a mim, já os perdemos (o pé e o tino).
VPV diz mais aqui

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

No 1º de Fevereiro de 1908 foi assassinado El-Rei D. Carlos I e o Princípe Herdeiro, D. Luís Filipe.
O Monarca e a restante Família Real eram alvo de uma campanha de calúnias soezes, difícil de conceber hoje em dia.
À corja caluniadora pertencia gente grada das letras. Alguns penitenciaram-se da sua conduta vergonhosa e pediram, anos depois, desculpas à Rainha, Senhora Dona Amélia que as terá aceitado.
Quem não os desculpou foi o tempo: são hoje geralmente desconhecidos ou ignorados.