Lembro-me de ler história do séc. XIX e dos inícios do séc. XX e interrogar-me (era novo e ingénuo) como era possível tamanha barafunda, tão completa balbúrdia. Acreditava que tudo - o atraso, em suma - se devia à pobreza, à falta de cultura (assim mesmo), ao afastamento dos grandes centros europeus, ao isolamento.
De algum modo, pensava, esse estado infantil da nossa vida política, dos nossos assuntos de estado, tinha passado e a ditadura, com a sua encenação de gravitas estatal teria servido de armário (camisa de forças seria mais apropriado) para a adolescência da nossa vida pública moderna. Com o fim dela e a instauração da democracia, e após alguma loucura desculpável, acreditava eu, teeen optimista, entraríamos na fase adulta, e seríamos como "lá fora".
Quando a AD ganhou as eleições regozijei-me com o rumo das coisas e com o acerto das minhas análises. Estava, claro, redondamente enganado.
E desde há bastante tempo, ferido no meu amor próprio de analista e castigado enquanto indígena, vivo como se aqui estivesse exilado: não sigo as notícias, ignoro os casos da vida pública e apenas quando o burburinho se torna mais ensurdecedor viro a cabeça para ver o que se passa. Nunca valeu a pena o esforço.
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