segunda-feira, janeiro 03, 2005

A falta de confiança que os portugueses têm neles mesmos tem um estranho, perverso reverso: a confiança no estado e uma crença quase infantil no poder da lei para moldar a realidade ou, pelo menos, para a escamotear, para ir adiando a débacle e ir compondo o que já não tem arranjo.
Por isso, estranho quando se fala agora em políticos incompetentes. Eles têm sido extremamente competentes no tornar possível o "status quo" desejado. Não falam de medidas concretas nem, senão platonicamnte, de reformas? É isso que toda a gente quer, já que, gostando embora da ilusão, a fazem coexistir com um agudo sentido da realidade. Somos assim. E os nossos políticos, percebem bem isso. Grande parte da classe média sabe, pelo que vai lendo nos jornais e ouvindo aqui e ali, o sentido das reformas: menos estado, mais realidade (e mais incerteza). E isso significa perigos na "arrumação" dos filhos, principalmente dos mais incapazes e deles mesmos...
Por isso, falar da incompetência dos políticos é uma falsa questão... Certo que existem leaders, pessoas que conseguem congregar em torno de uma ideia, e sem omitir as suas consequências mais desagradáveis,formar uma "base de apoio" e em torno dela fazer avançar o barco. Foi o caso de Margaret Thatcher que, em 11 anos, modificou a Grã-Bretanha. Em Portugal, não conheço ninguém que se aproxime... É que o nosso problema não é apenas a falta de qualidade dos "maus" políticos. O problema é a falta de qualidade daqueles que, quase unanimemente, são aplaudidos como bons políticos.
Entretanto, esperemos que saia algum decreto salvador.
Ou uma portaria.

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