quinta-feira, setembro 06, 2007

Mais livros.

Depois dos livros de contos, vieram os de aventuras: primeiro, Enid Blyton, Dumas depois. Tanto e tantos que sabia de cor os reis de França, e por via de outras leituras de petit histoire as eras da revolução francesa: chegava a Luis XVI, o bondoso Luís XVI, o Rei assassinado, e continuava pelos Estados Gerais até ao Directório, ao Consulado, ao Império, à Monarquia restaurada... A coisa acabava depois da Comuna, com a 3ª República (estas habilidades com a história alheia auguravam-me uma vida desinteressante, o que se tem verificado).
Desta época ainda, dois livros por recomendação materna, o primeiro com o objectivo piedoso e declarado de me ensinar a dar valor às pequenas coisas quotidianas com que nos esquecemos de encantar ("Atribulações de um chinês na China"); o segundo, também de Verne, a "Viagem à volta do mundo em 80 dias" meramente por ser divertido, embora pense agora que se destinava, talvez, a combater Blyton, uma novidade que não seria muito apreciada: Jules Verne era o bom e são caminho a partir dos 10 ou 11 anos.

A seguir a Dumas, lido durante anos, Balzac por volta dos 14, segundo julgo. Dele li o que pude e li muito e por muito tempo, muito para além do necessário para despachar, ao desafio e alegremente, os autores que era preciso conhecer: de "Eugene Grandet" - várias vezes relida ao longo da vida - aos "Insurrectos da Bretanha" (há anos que não me lembrava deste título!), dezenas e dezenas de títulos da Comédie Humaine. O grande Honoré foi a minha primeira admiração literária: admirava-lhe o poder criativo e as dívidas, os desgostos amorosos, o roupão, a máscara mortuária e o busto de Rodin e, em geral, o sofrimento imposto ao seu génio pela vulgaridade ignara.
Acompanhando esta festividade cívica dedicada ao Francesismo, continuava a ler Blyton e livros de aventuras ingleses, onde os franceses constavam como inimigos e eram sempre ruidosamente batidos. Por entre os três mosqueteiros e restante celebração da glória gaulesa, o mero afundamento de uma chata francesa por Horatio Hornblower tinha um sabor a blasfémia, agradável e terrível. Por essa altura a minha lealdade dividia-se, atormentada, entre Calais e as falésias brancas de Dover.

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