Vantagens do affaire Equador e mais coisas que me aconteceram desde ontem: por causa do Equador, África etc, encontrei o meu «Impressions d'Afrique» de Raymond Roussel. Reli umas páginas, li o meu nome escrito numa letra que já não tenho, a dos meus dezoito anos, que foram há muito. É uma edição da Livres de Poche, comprada ou na Bertrand ou na Buchholz, com aquelas palavras do Cocteau. Nessa altura lia surrealismo, algumas coisas da Internacional Situacionista e lanchava amiúde na ci-devant Caravela whiskies quádrupulos (os empregados eram meus amigos ou irmãos de amigas, ou amigos de amigos) e panquecas. A generosidade do serviço obrigou-me a apurar um modo de cumprimentar estilizado, de facto subrepticiamente acrobático - e se era um entrar constante de gente a cumprimentar! - o que acabei por conseguir o qual foi, com o andar razoavelmente de bicicleta, um dos poucos achievements da minha vida. A par com estas lembranças rassurantes lamentei-me, ao ver uma fotografia de Roussell (que inveja daquele Rolls visitado por um Papa - e pensei nos outros dois, recostados a pensarem na missão), ao ver uma fotografia de Roussel, dizia, da falta que me faz um carré de poche num tom castanho escuro, quase negro, e resolvi, ainda ontem, que iria amanhã a Lisboa fazer compras, pelo menos essa compra. Mas, hoje, agora, que faltam parcas horas para o começo da execução dessa decisão hesito, hesito por preguiça - que ontem, já quase a dormir, descobri não apenas que tem base fisiológica quanto serve, afinal, para nos preservar da mesmice. Tivesse eu ondas mu (sim, sic) a funcionar como deve ser e não teria um blog. As ondas mu, umas das muitas ondas cerebrais, deixam de ser produzidas quando fazemos um gesto voluntário (abrir e fechar a mão, por exemplo). Mas - eis o importante! -, também cessam quando meramente vemos alguém fazê-lo, alguém fazer um movimento voluntário!... Poupa-nos à repetição do trabalho feito, avisa-nos da presença de uma voluntas nas cercanias. Evita-nos a condição de condenados à repetição, ao já feito. Eis o que não soube evitar, quando sucumbi à moda dos blogs. Outra coisa, agora, se não for a Lisboa, que lenço ponho?
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