sexta-feira, outubro 27, 2006

Do aborto ao abrupto

Do aborto já disse aqui considerar que a vida humana é inviolável e que começa com a concepção.
Mais terei dito, se a memória não falha, que da discussão logo ressalta que o aborto é visto, afinal, como aquilo que os seus defensores negam que deva ser: um método de contracepção. Num tempo em que há uma panóplia de métodos para evitar a gravidez, é o prémio da desresponsabilização e da mais leviana licença. Mais terei dito que tendo em consideração o leque de métodos para evitar uma gravidez indesejada, a discussão sobre o aborto pertence ao puro excesso onde hoje em dia se inscreve o rocaille hedonista reinante. Mas, já que concomitante a este cultivo luxuoso de direitos há, mais ou menos sincero, o das boas intenções, o aborto está condenado pelo mero avanço da consciência da sua ilicitude que, nestas questões do termo inicial da vida humana se situava, ainda há pouco mais de um século, nas primeiras semanas, senão meses, depois do nascimento do pimpolho: nesses tempos, era o infanticídio o alvo das apaixonadas controvérsias que hoje se repetem a propósito do aborto... - o mero avanço da medicina se encarregará de fazer com que a todos pareça hediondo que se faça a um feto de algumas semanas o que essas almas sensíveis pró-aborto considerariam um inqualificável crime quando feito, hoje em dia, a um recém-nascido, independente de todas "as condições socio- eocnómicas e culturais envolventes"

O cão de guardo do Abrupto provoca em mim os piores sentimentos que um cão de guarda pode provocar a um passeante descuidado. Desta vez insurgia-se contra uma notícia do Expresso sobre o "casal Sócrates". A notícia em si, era tudo o que JPP diz dela. O que já não é despicienda, todavia, é a questão das vidas privadas da figuras públicas. E até pela pequenina questão da despesa: imaginemos um primeiro-ministro com dez relações amorosas (reparar na discreta alusão multiculturalista). Nos tempos que correm, de ameaças terroristas, as senhoras - ou os senhoras, se o cargo fosse exercido por uma senhora devassa (reparar no discreto sexismo, aqui) - teriam de ser protegidos. E todo esse alforge de amores seria motivo de preocupação e despesa (pública) para os serviços secretos, como o foi, por exemplo a bastarda de Mitterrand, com direito a segurança e que os franceses pagaram durante anos, sem saberem, através dos seus impostos. Se alguém quer ter uma vida privada inviolável nao se candidate a cargos públicos. Sobre o artiguinho, neste caso e naquela ocasião e sob aquele pretexto, já se deixou escrito acima.

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