terça-feira, abril 27, 2004

O advogado cubano Juan Carlos Gonzalez Leyva foi condenado a 4 anos de prisão - está preso, preventivamente, já há dois - por ultraje ao presidente cubano, o ditador Castro, por resistência à polícia e perturbação da ordem pública.
Espero que o ilustre advogado tenha mesmo ultrajado o ditador, é uma honra que poucos podem almejar; espero, de igual modo, que tenha conseguido perturbar a ordem pública que, na barbárie totalitarista é tarefa a um tempo fácil e quase impossível. Duvido, no entanto, que tenha conseguido resistir à polícia, já que é cego.

Note-se a linguagem "ordeira", própria dos regimes totalitários de destino único. Sob ela se esconde a violência, nela vive a barbárie das certezas.




segunda-feira, abril 26, 2004

terça-feira, abril 20, 2004

Este meu blog tem meia dúzia - literalmente - de "posts" que acho bem escritinhos, pretensiosos, embora, alguns deles. A maioria é indiferente. Mas hoje, tarde livre em que reli grande parte deles - corei pelas pobres frases "in distress" ante situações "pósticas" confrangedoras. Acudir-lhes? Como?
"Fuja-se ao agreste, etc.": é difícil não "verdurinar" de quando em vez. O uso deste "imperativo" - que é um conjuntivo... - de cumplicidade muito paternalista é irritante, subjaz-lhe o convite dificilmente declinável e levemente histérico a todos aqueles - e espera-se que "todos" sejam os poucos - que não podem ser muitos - que comungam da nossa sensibilidade, ou estética, portadores de idiossincrasias ou sinestesias assemelhadas - a que atribuimos, por aquelas falazes razões, um mesmo desconforto.
Destesto essa pastorícia da solidariedade, ou da "eleição" mas o certo é que caí nela.


Nota: Fez muito bem em ler as notas de Yourcenar. Não me lembro já do texto, nem o vou reler para confirmar impressões. Mas que má disposição contra Marguerite Yourcenar! Eu entendo, com mais ou menos erupções ou eructações, o que ela quer dizer, como julgo perceber o que Sena quer dizer quando afirma que o melhor confessionalismo da poesia portuguesa é requintadamente intelectual.
Parti pris, é o que é...

segunda-feira, abril 19, 2004

quinta-feira, abril 15, 2004

Aqui há dias deixei cruelmente subentendido o mau receber reinante nas lojas de Lisboa por comparação às de Coimbra. Ontem à tarde, cumpridas as obrigações que me levaram à capital, fui fazer compras. E dado o modo como tudo correu, tenho de deixar aqui a declaração honesta de que há lojas em Lisboa onde ainda é um gosto ir. Numa delas, uma camisaria, fui recebido como um filho pródigo, dada a minha longa ausência. Conversa simpática, divertida, desarrumação imensa do balcão, encomenda (modesta) feita. Encorajado pelo sucedido, visitei outras. Comprasse ou não comprasse, sempre um ar solícíto e atento. Entre as visitas às lojas, os táxis. Embora com greve, não esperei mais de três minutos por um táxi! A explicação para o fenómeno, que ouvi atentamente, relevava das férias escolares e da crise. A crise é cruel, sei-o, mas faz maravilhas no que respeita ao atendimento e ao passear à tarde em Lisboa.

Notículas: a) recebi um mail recomendando-me muito o filme do Gibson, que "era lindo". O autor do mail era um bom católico - ao contrário de mim que sou um mau católico, preguiçoso e desleixado, ou seja, tradicional - mas "lindo" parece-me um adjectivo muito impróprio e de mau gosto. Não vou nada ver o filme.
b) Num programa na Antena 2 - não sei se para a "juventude" - falam de música com "giríssimos!" e outros adjectivos exclamativos semelhantes. Os adjectivos, mesmo mais habituais abundam. Os substantivos, não sendo mal usados, rareiam.
c) Chegou a minha encomenda de Curzon Street e, de cá, os livros que tinha encomendado. Ambas com algum atraso. Eu, que sou impaciente, tenho usado estes atrasos habituais como disciplinas, e insisto em encomendas por telefone, correio, e "on line". Estou, todavia, longe de conseguir resultados: se não as esqueço, às encomendas, mirro-me com a espera, devo confessar



quinta-feira, abril 08, 2004

"E então, as feriazinhas? Para onde? Lá para baixo? Estrangeiro?" - isto dito com um ar afirmativo - o tom interrogativo é de mera retórica, antes convidativo a um assentimento cúmplice - deixa-me desarmado. Difícil explicar que fico em casa a arrumar papelada, pôr umas leituras em dia, preguiçar e gozar a ausência dos amigos, queridos amigos sejam eles - e que, este ano, diasporaram com um assombroso zelo. Uns na Índia, outros a caminho do círculo polar ártico après investigação ao Hermitage, outros, menos imaginativos, para o sol da Bahia.
Eu vou, daqui a pouco, ao supermercado, sem deixar de considerar que não é dia para se ir passear por entre as áleas dos produtos de limpeza, e onde felizmente, não espero encontrar ninguém.
E amanhã e depois, e talvez no Domingo, não tenciono sair de casa, espero, senão para as cerimónias da Semana Santa.
Daqui a pouco, à tardinha, relerei a sequência de Páscoa da Marguerite Yourcenar - tenho dúvidas se é este o título correcto - um roteiro para o essencial destes dias.

quarta-feira, abril 07, 2004

No portal Sapo noticia-se que o Santo Padre convidou os fiéis a meditarem sobre "o mal".
Noto as aspas e pergunto-me em nome de que negro optimismo - ou de que mera negligente ingenuidade - o jornalista de serviço "tentou resolver o assunto" tão pouco consentâneo com alegres preparativos de idas para algarves, brasis, caraíbas ou balis.

O Ser Português(Ter que) linkou o Impensável, que agradece.

terça-feira, abril 06, 2004

Ontem, dia passado em Coimbra. Compras. Feitas elas, as programadas, rumo à Baixa, pedir por mim e pelo País em Santa Cruz. Depois, tomando como base o Nicola, incursões pelas ruas vizinhas. Visita de devoção à Almedina e fúria compradora que me provocou problemas logísticos: as compras tiveram de ser levadas por um funcionário até ao Montanha que serviu de interface - gostei desta do interface Montanha - onde esperei que outra pessoa transportasse a livralhada toda até ao carro. Todas estas dificuldades se tornam mais compreensíveis se disser que entre os livros que comprei estava o Houaiss. Mais tarde, em casa, regozijei-me com a compra do dicionário, embora pense ter encontrado um erro na palavra "entrevista" que é dada como aparecida na língua em 1908 tendo eu quase a certeza que Eça a usou.
Em Coimbra ainda: que beleza de dia, que cor magnífica! De menos agradável, apenas o branco da pedra que usaram nos pavimentos das ruas e que, nalguns casos, pela intensidade luminosa, prejudica a riqueza cromática (também gostei desta).
E as pessoas? As pessoas das lojas (livrarias, lojas de roupa, de som e ourivesarias são amáveis, simpáticas, sabedoras e prestáveis, como tenho a vaga lembrança de terem sido as de Lisboa, anos atrás, muitos anos atrás. Numa dessas lojas entrei a fumar e, tendo-me apercebido disso, dispunha-me a apagar o cigarro quando me trouxeram, com ar simpático e solícito, um cinzeiro: podia-se fumar! Em sinal de gratidão, comprei uma caixa de dvds que, nos meus planos de compras, estava reservada para o depois de verão e, ainda uns Wagners e Mahlers dirigidos pelo Boulez.

Voltarei, assim possa.

sábado, abril 03, 2004

Tarde passada a deitar para o lixo papéis velhos, actividade mecânico-contemplativa.

quinta-feira, abril 01, 2004

Mais facilmente do que supunha, estou a conseguir refazer os links dos blogs. Não sei se estão todos os que blogs que estavam antes da "petite catastrophe". Tentarei repor.

À tarde, cansado, desalentado, recolhi ao sofá e peguei no primeiro da rima que está ao lado e muito irrita a empregada. Era "A Velhice" - De Senectude - de Cícero (em tradução francesa). A última frase que li: "Si, comme le pensent certains philosophes, il n'y a rien après la mort, alors je n'ai pas a craindre les railleries des philosophes disparus".