terça-feira, março 29, 2005

Insónia. Passeios ingleses pela net: a batalha de Hastings, mapas da dita, testemunhos de quem vive perto do campo onde se travou, dezenas de sites de trivialidades locais, típicas de países alfabetizados.
Parabéns indesculpavelmente atrasados ao Contra a Corrente por mais um aniversário.
Embora a falta seja indesculpável, não se deixa de enviar, lampeiro, um pedido de desculpas...

segunda-feira, março 28, 2005

Neblina. Depois de três meses de impossível nitidez descanso os olhos, os nervos, a alma, na tarde que se dissolve.

quarta-feira, março 23, 2005

Boa Páscoa!
Para distinguir o essencial do secundário deste tempo volto a recomendar Marguerite Yourcenar, "Sequência de Páscoa" (cito de memória).

terça-feira, março 22, 2005

A propósito do "Medo de Existir" de Gil, leia-se Pascoaes "O bom senso nacional conciliou o culto divino e o maléfico. Deus e o Demónio são incompatíveis em toda a parte, excepto em Portugal.(...) Este bom senso deriva do nosso carácter espiritual e sensual. E eis a nossa comédia que se opõe, retemperando-o, ao trágico aspecto da nossa alma, dominada pelo Medo misterioso... Ao Medo, que é também o Demónio, prestamos um culto corruptor. No seu altar fantástico retine o cobre da nossa esmola..."
Linkaram este blog o Berra Boi, o Demonpoet, o Ávido e o Reflections, Reflections. A todos o Impensavel agradece, muito oobrigado.
From Invisible, Hidden Corners of the Earth... thank you for the quote.

segunda-feira, março 21, 2005

Folheei o "Portugal hoje, O medo de existir" de José Gil que tinha encomendado há mais de um mês e recebi hoje.
Entre observações sagazes, generalizações do provincianismo de Paris e arredores sobre o provincianismo de Lisboa e arredores (algumas delas, válidas para quaisquer outros arredores, a gente fica a pensar no porquê da sua atribuição a Portugal).
Mas lerei com atenção.

sábado, março 19, 2005

Algumas gotas de chuva e o artigo de VPV sobre a direita em Portugal. É, de facto, difícil ser conservador. E - isto é um supôr - volvendo ao século XIX parlamentar, não creio que lá haja nada de particularmente inspirador.

sexta-feira, março 18, 2005

O vento virou para noroeste e o dia, que estava de um cinza denso e opressivo tornou-se mais alegre.
No regresso a casa o silêncio incompleto e intacto de tudo estar como tinha deixado quando saí.
Logo, não, amanhã, telefono a saber de melhoras, como quem não quer a coisa.
A empregada telefonou há bocado a dizer que amanhã (hoje, sexta) não pode vir, que está com gripe, "que não se tem de pé". A voz pareceu-me deliberadamente débil, estudada para desencorajar qualquer tentativa entusiastica de a animar - "não nos devemos deixar ir a baixo por nadas. E até amanhã há-de melhorar! Cá a espero, não venha é tão cedo". Pode ser que sim, que esteja de facto engripada, mas não ponho de lado a possibilidade de uma ida ao noroeste brasileiro. De um modo ou outro, amanhã, roupa da cama para mudar. Uma seca!

quinta-feira, março 17, 2005

Ontem, uns senhores muito irritados a propósito das declarações do Doutor Victor Constâncio sobre as Scuts (acho que se escreve assim). Não percebo a irritação: ele é socialista e socialista é a maioria tão abundantemente eleita. E os socialistas sobem impostos. Esperavam outra coisa?

Por socialistas: o Dr. Mário Soares recebeu uma delegação do Herri Batasuma, o braço legal da ETA, organização terrorista. Houve protestos do partido popular europeu que, entre outras coisas, achou o acto pouco digno de um ex-presidente. Mas o Dr. Soares, quando era presidente , não resolveu visitar um foragido da justiça italiana, o ex-primeiro-ministro socialista Craxi, a meio de uma viagem oficial e usando para isso um avião ao serviço do estado português? As pessoas esquecem...
Apenas a mim tudo parece estar proíbido, mesmo o prazer triste de ler maus livros: confessei aqui ter passado os olhos pelo "Código Da Vinci" e logo o Vaticano, que até aqui tinha estado calado, achou ser chegada a altura de desaconselhar a leitura por o livro ser um "château de mésonges" li a notícia - poderia dizer, a admoestação - em francês. Percebi, de imediato, que a crítica me era dirigida e, escusada por tardia, apenas para me fazer sentir mal. Contrito, prometo não ler outros em iguais circunstâncias.
A reacção paterna do Vaticano se bem que algo assustadora, confirmou o que há tempos eu suspeitava: que tinha leitores - pelo menos um - na Cúria.
Muito agradeço, e sempre direi, Eminência, que "château de mésonges" é por demais majestoso para a obra a questão: pardieiro de vulgaridades seria mais adequado.

P.S.Para ralhos futuros lembro a Vª Eminência o uso do meu e-mail. Que não se alvoroce o mundo pelos meus pecadilhos, pelas minhas leviandades.

quarta-feira, março 16, 2005

De um bilhete de Proust e Paulo Morand:

"Tudo quanto posso dizer-lhe é que amanhã, sábado, irei provavelmente levantar-me, ou então depois de amanhã, domingo. Se eu me levantar amanhã, sábado, mandar-lhe-ei dizer que não poderei certamente levantar-me no domingo. Se amanhã, sábado, eu não me levantar (o que não quer dizer que não venha a fazê-lo, com certeza no domingo) ignoro se estarei em condições de me levantar no domingo..."

segunda-feira, março 14, 2005

Ontem tinha colocado aqui umas impressões sobre o "Código da Vinci" que resolvi ler para saber o que faz o sucesso, hoje em dia. Acabei por apagar.
Tão cedo não repetirei a graça de ler um best-seller.

Dia péssimo e irritante, o cinzento sem chuva torna-se desagradável. Aliás, além do tempo, todo o país está desagradável. Compreendo bem todos os que esperam a Páscoa para se precipitarem para fora "disto", mesmo com o regresso da recessão.

domingo, março 13, 2005

Linkaram este blog o "A vida é larga", o "Inoportunus" e o "Pé de Meia".
Muito obrigado, o Impensavel agradece.
De igual modo, se agradece, com igual reconhecimento, ao Posto de Escuta a referência de um post.

sexta-feira, março 11, 2005

Quarta-Feira estive em Lisboa para tratar de assuntos - fúteis, todos eles.
Saído do alfaiate, fui almoçar à Bénard. À saída, uma manifestação anti-Benetton. Subi e desci a ladeira com algum cansaço, entre o Silvas e a Fnac: as poses de dedicada acrobacia em frente às estantes levaram-me a algumas meditações sobre os limites, se não da curiosidade literária, do esqueleto humano; agora pratico com os
livros o que estabeleci para compras de supermercado: compro o que está à vista, à altura dos olhos.
Rumei para outras paragens a ver se a colónia já tinha chegado: que não, o "parfum" ainda não viera. Não é "parfum" nenhum, mas uma colónia,inglesa e sensata, empírica como a estética de Jane Austen (vd. último TLS), raios partam a possidonice que campeia em má e pretensiosa pronúncia. Depois daquela, precisava de um banho de sensibilidade e bom senso e resolvi que, com Abril à porta, se impunha escolher algumas camisas. Decidi-me por umas tantas, alegres e bem dispostas e o único momento desagradável foi o decidir se sem ou quem bolso e o formato do colarinho, em que hesito sempre para além do razoável.
A viagem para cá foi agradável, sobretudo rápida, e mergulhei até cair de sono na leitura dos "Diários" de Jorge de Sena. Ontem, fiquei todo o dia na contemplação feliz de, em princípio, nada ter para fazer em Lisboa nos próximos tempos.
Esqueci-me de ver se tinha já saído a edição do D. Quixote traduzida pelo Miguel Serras Pereira. A que tenho é a do Aquilino e as criticas que a ela fez Castelo Branco Chaves pareceram-me sempre certeiras.

terça-feira, março 08, 2005


Eis as "cerejeiras" de que tenho falado.

Ontem, acabei por preterir São Francisco em favor da História de Portugal do O.M. Adormeci tarde, no reinado de D. Sancho I, mas fiz uma incursão ao sarau em casa do Marquês de Marialva, no tempo de D. Maria I e que Eça usa para atazanar o Pinheiro Chagas. Aconselho a leitura - do O.M e da polémica de Eça.

segunda-feira, março 07, 2005

As cerejeiras - não são, em boa verdade, cerejeiras, mas parentas próximas - estão em flor. O efeito é bonito, embora quase um pouco kitsch, fazendo lembrar algumas capas mais optimistas das edições paulistas, os ramos carregados de branco recortados no céu muito azul.
Vou aproveitar a tarde para continuar a ler uma Vida de S. Francisco de Assis que comprei há uns tempos.

domingo, março 06, 2005

Tornei-me desajeitado na arte de passar a salvo (digo isto por dizer) as tarde descampadas e ermas dos domingos de província, perco-me em macambúzias contagens de coisas perdidas. Mas perder coisas é tão natural, que é, convenço-me, um bom modo, afinal, de passar tardes de domingo.

Elizabeth Bishop:

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.


- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

sexta-feira, março 04, 2005

Le coeur dans la main, Le goût du malheur (da suite para piano de Poulenc) e, quando a tarde caía, verde e dourada, Bach. O livro era o de ontem à tarde mas, já no seu lugar, relembreio-o, um modo de folhear. Esgotei nestas lentidões a irritação pelas obras no supermercado tornado, por via delas, terra ignota (e por isso, inóspita).

terça-feira, março 01, 2005

O que sentimos

O que sentimos, não o que é sentido,
É o que temos.
Claro, o inverno triste
Como à sorte o acolhamos.
Haja inverno na terra, não na mente.
E, amor a amor, ou livro a livro, amemos
Nossa caveira breve.

Ricardo Reis
- Ainda fica?
- Não, não, creio que vou para casa.
- Ah, ainda bem que também vem.