segunda-feira, maio 07, 2012

Quem leu Eça - as reflexões de Eça sobre a França - perceberá melhor a eleição de Hollande no que ela é para além de justa reacção à  vã agitação de Sarkozy.

Com o socialista é o regresso à normalidade no que se refere a  amantes e estado, dois aspectos essenciais da vida pública francesa.
Ao contrário do vencido, que no começo do seu mandato corria atrás de uma mulher visivelmente farta dele e que o deixou (sim, Sarkozy era um quitté - uma das situações mais humilhantes para um francês, a ponto de, segundo Stendhal,  serem escassas as palavras para designar tal situação),  Hollande tem uma amante  que escondeu do público durante a campanha eleitoral da sua maitresse en titre, Ségolène Royal e que hoje é a oficial, Valérie Massonneau, divorcée Trierweiler.
Por aqui aqui se pode ver que a vitória de Hollande é a da França séria, cordata, que dizer?, habitual, onde "les grandes passions sont si rares que les grands hommes" e as amantes desempenham um papel determinante no exercício do poder  ("De l'amour" de Stendhal  - com relevância, capítulos XL,  XLI e XLII)

Por aqui, tudo bem, dir-me-ão. mas e o estado: "As medidas propostas por Hollande? Não revelam imprudência, não são nefastas?"
Creio que deverão ser tidas como declarações não sérias, não no sentido de serem desonestas, mas no de serem jocosas, uma plaisanterie, une guignolade, bonne á rigoler:  há mesmo promessas de gastar rios de dinheiro, o que, nas presentes condições, desempenha o papel dos apartes das comédias de Moliére: um modo jovial e rassurant de assegurar  que nada se vai, afinal, passar como julgam.

Não, de verdadeiramente tenebroso em Hollande e que, devo confessar,  me inquieta, apenas sua mãe, assistente social e católica de esquerda.

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