A convalescer das impressões da véspera, com a melancolia baça das lonjuras do começo novo e esplêndido e encontra-se isto.
Não é, propriamente, um consolo.
sexta-feira, novembro 30, 2007
Relia na quarta-feira à noite n'Os Pescadores a evocação da infância do narrador e sobre algumas das coisas lembradas dizia ele serem nada que farão sorrir os outros [...] É a própria vida com um encanto que não torna, é o abrir dos olhos para uma manhã deliciosa [...] Tudo é novo e esplêndido. «Tudo é novo e esplêndido».
Pensei , com uma certeza tristonha, que hoje em dia pouca coisa me é nova - e muito menos esplêndida.
Talvez a cozinha de fusão, quem sabe, me restitua esse sabor da novidade: é a minha única esperança. Mas levará anos até que produza alguma coisa consumível ao pequeno almoço.
Pensei , com uma certeza tristonha, que hoje em dia pouca coisa me é nova - e muito menos esplêndida.
Talvez a cozinha de fusão, quem sabe, me restitua esse sabor da novidade: é a minha única esperança. Mas levará anos até que produza alguma coisa consumível ao pequeno almoço.
quinta-feira, novembro 29, 2007
O acordo ortográfico, produto de burocratas provincianos, não deve ser assinado e nunca é tarde para evitar cometer uma asneira. No entanto, a ir avante, vai em bom tempo: Portugal e Brasil falharam abjectamente na educação e, deste lado do oceano, pela primeira vez desde há pelo menos dois séculos - de Bocage - não há um grande poeta maior (há alguns bons poetas - alguns contra o acordo - mas um grande poeta maior não existe, depois de Sophia) e a assinatura do acordo (quem sabe se por alguém que dá o seu errozito ortográfico ) é um bom monumento a esta ausência de grandeza.
Por mim, continuarei a escrever como escrevo, eu que tenho saudades dos lyrios que já não vi, dos lyrios que, lamentou Pascoaes, os lírios não dizem
Por mim, continuarei a escrever como escrevo, eu que tenho saudades dos lyrios que já não vi, dos lyrios que, lamentou Pascoaes, os lírios não dizem
quarta-feira, novembro 28, 2007
Nada mais ridículo (e insípido e tristemente inútil) do que tentar dizer* o indizível, qualquer palavra* se torna num desastrado e incompreensível epitáfio. É o silêncio que resta, dizia Wittgenstein** e, antes dele, Psamenite**, rei do Egipto, prisioneiro de Cambeses, rei dos persas, coisa que soube, ainda novinho, através de Montaigne.
* Cabem aqui os «pequenos gestos, humildes porém sentidos que... e equivalentes, em coreografias actuais.»
** Embora não se trata bem dos mesmos indizíveis. Mas quase.
* Cabem aqui os «pequenos gestos, humildes porém sentidos que... e equivalentes, em coreografias actuais.»
** Embora não se trata bem dos mesmos indizíveis. Mas quase.
terça-feira, novembro 27, 2007
Ça m'agace:
Cada vez que pego no Discours de la servitude volontaire acabar sempre, mas sempre, por ir fazer melhor as contas e chegar depois, também sempre, à mesma conclusão irritante - e vexatória e deprimente: sim, Étienne de La Boetie começou a escrever os Discours com 16 anos (e, sim, nos intervalos conversava com o seu amigo Montaigne).
Porém, por outro lado... sim, ajuda a manter a noção das coisas.
Cada vez que pego no Discours de la servitude volontaire acabar sempre, mas sempre, por ir fazer melhor as contas e chegar depois, também sempre, à mesma conclusão irritante - e vexatória e deprimente: sim, Étienne de La Boetie começou a escrever os Discours com 16 anos (e, sim, nos intervalos conversava com o seu amigo Montaigne).
Porém, por outro lado... sim, ajuda a manter a noção das coisas.
segunda-feira, novembro 26, 2007
sábado, novembro 24, 2007
Acabei agora de ler a crítica que, no Público, Vasco Pulido Valente fez ao livro de Miguel Sousa Tavares.
Deve este último ficar imensamente grato ao ilustre historiador: se daqui a 100 ou 150 anos (a eternidade) alguém ler um livro ou souber de MST será por causa destas desandas de VPV, tal como hoje sabemos de Pinheiro Chagas pelas razias de Eça.
Deve este último ficar imensamente grato ao ilustre historiador: se daqui a 100 ou 150 anos (a eternidade) alguém ler um livro ou souber de MST será por causa destas desandas de VPV, tal como hoje sabemos de Pinheiro Chagas pelas razias de Eça.
quinta-feira, novembro 22, 2007
Estava a ver umas coisas da Vivienne Westwood - estamos a um mês do Natal e há uma amiga que merece uma surpresa quase letal e mal comportada - e percebi que apenas em Inglaterra a eccentricity «cockney» é tão genuína e divertida quanto a da upper crust (ao contrário, nos outros sítios, as classes chamadas baixas acabam por adoptar imitações pobres, baças e empaturradas da descontraída boa disposição da crosta de cima. Westwood não se aristocratizou, nem é uma grande senhora da moda como por aqui se diria, mas uma turbulenta e demolidora boa alma cockney, com um irrepreensível sentido de humor que a virtude e honorabilidades próprias da idade, da fama e da fortuna todas juntas não conseguiram corromper.
quarta-feira, novembro 21, 2007
Várias vezes ao mês sou acometido de doenças que podem exigir transplantes (bem sei que o médico diverge sempre do meu duagnóstico, quando lho comunico e me chama hipocondríaco: em compensação, chamo-lhe incompetente, um ser bafejado pela sorte (até agora, tenho recuperado, por mim e à minha própria custa dos meus achaques).
Bem, mas nesta coisa de transplantes, ter a família biológica ao lado é essencial: não há afecto de pai ou mãe do coração que valha um rim, um pedaço de fígado, uma xícara de medula. A minha simpatia está, por isso, com o possível dador, com o pai biológico - isto sem falar que não se pode legitimar a filiação por usucapião, também possível de ocorrer em casos de raptos, etc, e o que levaria a que, quem agora brame pela verdade afectiva pudesse ver-se afastado de um filho raptado em favor dos raptores, principalmente se estes forem partidários dos ensinamentos das primeiras e permissivas edições do Dr. Spock.
Aqui no fim, porque me perdi entretanto, deixo o argumento da falta de paciência (que era para pôr já não sei onde - o post estava para ser maior), que consiste em, como se deduz, não haver paciência para os sentimentais psicólogos e outros peritos em estados de alma que temem pela saúde mental da criança quando for devolvida ao seu verdadeiro pai. Muitas criancinhas são, pelos mais variados motivos, afastadas de com quem sempre conviveram para irem viver com outras pessoas que não conhecem bem sem que isso acarrete dramas insuportáveis.
Creio que, dos mercados de petróleo aos plúmbeos brinquedos chineses e destes aos pedopsiquiatras portuguesas, uma imensa onda de histeria percorre o mundo.
Bem, mas nesta coisa de transplantes, ter a família biológica ao lado é essencial: não há afecto de pai ou mãe do coração que valha um rim, um pedaço de fígado, uma xícara de medula. A minha simpatia está, por isso, com o possível dador, com o pai biológico - isto sem falar que não se pode legitimar a filiação por usucapião, também possível de ocorrer em casos de raptos, etc, e o que levaria a que, quem agora brame pela verdade afectiva pudesse ver-se afastado de um filho raptado em favor dos raptores, principalmente se estes forem partidários dos ensinamentos das primeiras e permissivas edições do Dr. Spock.
Aqui no fim, porque me perdi entretanto, deixo o argumento da falta de paciência (que era para pôr já não sei onde - o post estava para ser maior), que consiste em, como se deduz, não haver paciência para os sentimentais psicólogos e outros peritos em estados de alma que temem pela saúde mental da criança quando for devolvida ao seu verdadeiro pai. Muitas criancinhas são, pelos mais variados motivos, afastadas de com quem sempre conviveram para irem viver com outras pessoas que não conhecem bem sem que isso acarrete dramas insuportáveis.
Creio que, dos mercados de petróleo aos plúmbeos brinquedos chineses e destes aos pedopsiquiatras portuguesas, uma imensa onda de histeria percorre o mundo.
Momento de humilhação em directo: sigo um debate no Parlamento - no Parlamento britânico - entre o Primeiro-ministro e o Leader da Oposição. Afirmação, contestação, réplica. etc, tudo aquilo é vivo e rápido, pertinente, capaz e não posso deixar de pensar no que se passa para as bandas de S. Bento: uma coisa mortiça, vagarosa, pesadona, provinciana, lorpa. E depois, leio com espanto nos jornais que A triunfou, que B esteve bem...
Que miséria, que tristeza!
Eu sei que já me devo contado por aqui estes mesmos espantos e lamentos, mas que querem? A carne é fraca.
Que miséria, que tristeza!
Eu sei que já me devo contado por aqui estes mesmos espantos e lamentos, mas que querem? A carne é fraca.
terça-feira, novembro 20, 2007
Franco achava os portugueses cobardes. Não creio que sejam: suportaram a guerra em África durante 13 anos, muito para além do razoável (e antes, daquela, muitas outras).
Acabada essa guerra e consumado o fim do império ficámos, como dizia o outro, sem emprego. E pelas coisinhas daqui, os ganhos, sejamos francos, não o justificam, não valem zangas, desconchavos, muito menos derramamentos de sangue. Há coisas que, já se sabe, acabam por mudar de mãos de tempos a tempos, mas é com recato, de forma ordeira, por decreto-lei e tudo feito por bem.
Por isso, se não há guerras, não é cobardia: é por não ser preciso (e ficava mal, podia ser ridículo, e o medo do ridículo, do que dirão, leva-nos a evitar os excessos que os espanhóis, ao contrário de nós, adoram).
E lido isto, quer passar V. Exia. aos outros posts? Ora, é favor, por obséquio, ora se faz favor, por obséquio...
Acabada essa guerra e consumado o fim do império ficámos, como dizia o outro, sem emprego. E pelas coisinhas daqui, os ganhos, sejamos francos, não o justificam, não valem zangas, desconchavos, muito menos derramamentos de sangue. Há coisas que, já se sabe, acabam por mudar de mãos de tempos a tempos, mas é com recato, de forma ordeira, por decreto-lei e tudo feito por bem.
Por isso, se não há guerras, não é cobardia: é por não ser preciso (e ficava mal, podia ser ridículo, e o medo do ridículo, do que dirão, leva-nos a evitar os excessos que os espanhóis, ao contrário de nós, adoram).
E lido isto, quer passar V. Exia. aos outros posts? Ora, é favor, por obséquio, ora se faz favor, por obséquio...
segunda-feira, novembro 19, 2007
domingo, novembro 18, 2007
sábado, novembro 17, 2007
Oiço na Sic a locutora, a expender comentários de uma falta de gosto sem nome sobre o Príncipe de Gales e sua Mulher - que é comparada a uma múmia. A alarvidade do tom faria do Chavez um príncipe de elegância
A questão é tão mais insólita quanto aquelas baixezas não estavam a ser bolçadas num daqueles «programas-horror» de «humor» aptos a fazer corar um cocheiro de outrora, mas no telejornal... o que diz do ambiente reles em que vivemos neste país.
Entretanto, em rodapé, passavam notícias, onde se viam as habituais calinadas de português («interviram» por intervieram..).
Tudo a condizer, e a letra a dar com a careta, a boçalidade e a ignorância, mas que desmoraliza qualquer um, isso desmoraliza.
A questão é tão mais insólita quanto aquelas baixezas não estavam a ser bolçadas num daqueles «programas-horror» de «humor» aptos a fazer corar um cocheiro de outrora, mas no telejornal... o que diz do ambiente reles em que vivemos neste país.
Entretanto, em rodapé, passavam notícias, onde se viam as habituais calinadas de português («interviram» por intervieram..).
Tudo a condizer, e a letra a dar com a careta, a boçalidade e a ignorância, mas que desmoraliza qualquer um, isso desmoraliza.
quinta-feira, novembro 15, 2007
O país já é, ou será em breve, o mais pobre da Europa dizia-se há uns anos neste impensável e os dados continuam a não desmentir, antes reforçam o que era perceptível já então ir acontecer. Os últimos dados dão-nos já como mais pobres que a Estónia: «Estudo da Ernst & Young revela que 20% dos empresários têm a intenção de deslocalizar a produção. Dados de Bruxelas mostram que Portugal já é mais pobre do que a Estónia»
quarta-feira, novembro 14, 2007
O primeiro-ministro Sousa fala com o ar ufano que lhe conhecemos num crescimento de 2% do PIB no próximo ano. Di-lo no dia em que se soube que a economia portuguesa estagnou no 3º trimestre - estagnar significa que não cresceu (nos tempos que correm todos os cuidados são poucos). E os 2%, número acima das previsões do próprio governo do Sousa está longe, muito longe, do que seria necessário para sairmos do atoleiro.
Entretanto, o tempo continua muito bonito, valha-nos isso.
Entretanto, o tempo continua muito bonito, valha-nos isso.
terça-feira, novembro 13, 2007
Os juízes têm uma associação sindical, fazem greves (direito específico dos assalariados, dos trabalhadores ou funcionários de outrém) e depois admiram-se que lhes queiram aplicar o regime dos funcionários públicos...
E para fazerem valer a sua indignação vêm, pela pena do presidente (ou secretário-geral) da tal associação sindical escrever ao primeiro Sousa, reivindicando.
Os juízes portugueses transitaram, sem incómodo, do antes 25 de Abril para o depois. Se o antes do 25 de Abril era uma ditadura (o que, entre outras coisas, quer dizer que há uma confusão dos poderes do estado...) isso não obstou a que muitos, agora nos lugares cimeiros do poder judicial tivessem ingressado na carreira no tempo em que o Presidente do Conselho era o Prof. Doutor Marcello Caetano, o que, a ser o regime anterior ao 25 de Abril, de facto uma ditadura fascista, faria deles cúmplices dela... Não sei se terão pensado muito nisto... Mas enfim, por mim penso que o regime era atípico e que havia mesmo separação de poderes, talvez até mais do que agora, de uma e outra parte. E se os juízes associados-sindicalizados e grevistas em geral - o que quer dizer, em suma, que não perceberam o que é um juiz numa democracia - não mereceriam, talvez, por eles, o nosso incómodo, não podemos, por nós, enquanto cidadãos, deixar que ocorra tal funcionalização - se é que, verdadeiramente, existe esse perigo (não vi a proposta de lei).
E para fazerem valer a sua indignação vêm, pela pena do presidente (ou secretário-geral) da tal associação sindical escrever ao primeiro Sousa, reivindicando.
Os juízes portugueses transitaram, sem incómodo, do antes 25 de Abril para o depois. Se o antes do 25 de Abril era uma ditadura (o que, entre outras coisas, quer dizer que há uma confusão dos poderes do estado...) isso não obstou a que muitos, agora nos lugares cimeiros do poder judicial tivessem ingressado na carreira no tempo em que o Presidente do Conselho era o Prof. Doutor Marcello Caetano, o que, a ser o regime anterior ao 25 de Abril, de facto uma ditadura fascista, faria deles cúmplices dela... Não sei se terão pensado muito nisto... Mas enfim, por mim penso que o regime era atípico e que havia mesmo separação de poderes, talvez até mais do que agora, de uma e outra parte. E se os juízes associados-sindicalizados e grevistas em geral - o que quer dizer, em suma, que não perceberam o que é um juiz numa democracia - não mereceriam, talvez, por eles, o nosso incómodo, não podemos, por nós, enquanto cidadãos, deixar que ocorra tal funcionalização - se é que, verdadeiramente, existe esse perigo (não vi a proposta de lei).
segunda-feira, novembro 12, 2007
Viver longe, ter saudades, eis um modo agradável de ser português.
Aqui, a coisa é desagradável.
Mas, enquanto cá estamos, aproveite-se.
De nos verem os outros mais lá de fora nascem situações interessantes e, se é certo que 20 anos de CEE e de UE não mudaram, no essencial, uma sociedade arcaica, rígida, autoritária, burocrática, que cultua os formalismos, o adjectivo em detretimento do substancial, começa-se a sentir, vinda de fora, alguma exasperação pela mesmice. Isto a propósito do puxão de orelhas dado pelo Santo Padre Bento XVI à Igreja portuguesa que padece de muito dos vícios que abundam no resto do país. Francamente, não vejo que o ralhete seja pelas causas apontadas por JPP (basta a formação do actual Papa para fazer do que JPP diz uma verdade, mas não suficiente, por si, para justificar a dimensão e a publicidade da coisa). Também o que se alega aqui, embora mais perto do que penso ter constituído por si a admoestação não justificaria, creio, o inédito gesto, apesar do escândalo de conformismo que presidiu à posição da Igreja no caso do referendo do aborto,
Uma e outra coisa são sintomas do que, a um atento observador não passará despercebido: a pecha, típica dos totalitarismo burocráticos (tão totalitários que neles cabem as boas intenções e propósitos firmes de reforma) de erigir realidades à parte do mundo. É assim o Estado português, é assim a Igreja Católica portuguesa e Bento XVI não está disposto a tolerar essa mansa esquizofrenia (tão mais indesculpável quanto é certo a Igreja conhecer o país melhor do que ninguém). Esperemos que de tudo isto contribua para uma Igreja melhor e, através dela, de um país mais dissonante. Por enquanto, os sinais são maus: o que li parece desvalorizar as advertências solenes do Papa. Esperemos que seja do choque e que a criatividade burocrática de que é exemplo a surpreendentemente muito clerical e autoritária carta do Cardeal-Patriarca Lisboa aos presbíteros do patriarcado de Lisboa e que tem o efeito - na prática - de derrogar o motu proprium «Summorum Pontificum Cura» do Santo Padre sobre a missa em latim seja substituída pelo esforço de evangelizar.
Aqui, a coisa é desagradável.
Mas, enquanto cá estamos, aproveite-se.
De nos verem os outros mais lá de fora nascem situações interessantes e, se é certo que 20 anos de CEE e de UE não mudaram, no essencial, uma sociedade arcaica, rígida, autoritária, burocrática, que cultua os formalismos, o adjectivo em detretimento do substancial, começa-se a sentir, vinda de fora, alguma exasperação pela mesmice. Isto a propósito do puxão de orelhas dado pelo Santo Padre Bento XVI à Igreja portuguesa que padece de muito dos vícios que abundam no resto do país. Francamente, não vejo que o ralhete seja pelas causas apontadas por JPP (basta a formação do actual Papa para fazer do que JPP diz uma verdade, mas não suficiente, por si, para justificar a dimensão e a publicidade da coisa). Também o que se alega aqui, embora mais perto do que penso ter constituído por si a admoestação não justificaria, creio, o inédito gesto, apesar do escândalo de conformismo que presidiu à posição da Igreja no caso do referendo do aborto,
Uma e outra coisa são sintomas do que, a um atento observador não passará despercebido: a pecha, típica dos totalitarismo burocráticos (tão totalitários que neles cabem as boas intenções e propósitos firmes de reforma) de erigir realidades à parte do mundo. É assim o Estado português, é assim a Igreja Católica portuguesa e Bento XVI não está disposto a tolerar essa mansa esquizofrenia (tão mais indesculpável quanto é certo a Igreja conhecer o país melhor do que ninguém). Esperemos que de tudo isto contribua para uma Igreja melhor e, através dela, de um país mais dissonante. Por enquanto, os sinais são maus: o que li parece desvalorizar as advertências solenes do Papa. Esperemos que seja do choque e que a criatividade burocrática de que é exemplo a surpreendentemente muito clerical e autoritária carta do Cardeal-Patriarca Lisboa aos presbíteros do patriarcado de Lisboa e que tem o efeito - na prática - de derrogar o motu proprium «Summorum Pontificum Cura» do Santo Padre sobre a missa em latim seja substituída pelo esforço de evangelizar.
domingo, novembro 11, 2007
Nas legendas traduziram little rock por calhau. (Eu traduziria, naquela frase, por pedra ou pedrinha, era uma mãe que explicava a um filho pequeno como fazer ressaltar uma pedra na superfície da água). Foi o último calhau. Creio que, quem me estivesse a ver (mas estava sozinho) notaria na minha expressão embaciada um esgar de desagrado, ou do desanimado cansaço com que cobardemente vejo afluir, de todo o lado e sem tropeços, uma arrogante e triunfante boçalidade que faz de mim um aindaporcádico, um retardatário, um desgraçado viciado em ficar.
Hábito, inércia, preguiça de fazer as malas (detesto fazer malas), apegos pequenos e pegajosos. Mas já não demoro muito, já vou, também já decidi ir, podia responder.
Hábito, inércia, preguiça de fazer as malas (detesto fazer malas), apegos pequenos e pegajosos. Mas já não demoro muito, já vou, também já decidi ir, podia responder.
'¿Por qué no te callas?'
Disse o Rei de Espanha ao ditador Chavez.
OLÉ!
Fica em roda-pé, post-scriptum e letra pequenina, mas a verdade é que o &$"#%$/=#! Zapatero também esteve bem.
Disse o Rei de Espanha ao ditador Chavez.
OLÉ!
Fica em roda-pé, post-scriptum e letra pequenina, mas a verdade é que o &$"#%$/=#! Zapatero também esteve bem.
sábado, novembro 10, 2007
ENCONTREI!
Isto, as arrumações, não há que ter dúvidas, proporcionam assombrosas epifanias. Todos se lembrarão do meu desgosto por não saber do paradeiro do dicionario da mitologia. Chorei-me do desaparecimento dele aqui.
Encontrei-o hoje, há meia hora!
É, afinal, oDiccionario
Abreviado
da Fábula,
para intelligencia
dos
Poetas, Paineis, E Estatuas,
cujos argumentos são tirados
da
HISTORIA POETICA
POR MR. CHOMPRÉ
LICENCIADO EM DIREITO.
AGORA TRADUZIDO DO FRANCEZ EM PORTUGUEZ.
__
LISBOA,
TYP. DE MARIA DA MADRE DE DEUS, RUA DA VINHA Nº 38 (AO BAIRRO ALTO).
__
1858
______________________________________________
Vende-se no armazém de livros de Borel, Borel & C.ª
rua de S. Julião (vulgo dos Algibebes), Nº 23.
sexta-feira, novembro 09, 2007
A LER
Vasco Pulido Valente no «Público» de hoje:
(os realces e itálicos são do blog)
"Quando a imprensa inglesa e americana anuncia que a proibição de fumar em restaurantes não teve efeitos visíveis na saúde pública, em Portugal essa mesma proibição entrará em vigor a 1 de Janeiro de 2008. O que me espanta nisto não é a extravagância do acto em si. Duas coisas me parecem muito piores. Em primeiro lugar, a facilidade com que em todo o Ocidente o Estado resolveu intervir na vida privada de cada um e negar radicalmente o direito de propriedade (impedindo, por exemplo, que se criem restaurantes de fumadores), sem um protesto sério em parte alguma. Em segundo lugar, a rapidez com que o fumador foi socialmente estigmatizado e o vício de fumar (há 20 anos, normal e aceitável) se tornou quase o que era antigamente uma blasfémia, uma profanação ou uma heresia. Isto não anuncia nada de bom. Por um lado, porque fatalmente à campanha contra quem fuma se vai seguir a campanha contra quem bebe e a campanha contra quem come o que não deve ou come demais. E talvez, mais tarde, a campanha contra o "sedentarismo" e a falta de exercício. Não custa nada argumentar com as doenças que o álcool e a gordura provocam (tantas como o tabaco), ou retirar do mercado "produtos de risco", ou vigiar o que os restaurantes servem. Por outro lado, já se viu que o poder do Estado para converter a populaça ao objectivo tenebroso de "melhorar o homem" é hoje ilimitado. A metamorfose das democracias do Ocidente em totalitarismos de uma nova espécie não incomoda ninguém. Não uso a palavra descuidadamente (não uso, de resto, nenhuma palavra descuidadamente): para Hitler (que não fumava, nem bebia), o alemão perfeito não andava muito longe do perfeito espécime do Ocidente contemporâneo.
Imagino muitas vezes quem, de facto, quererá este mundo sufocante e asséptico, obcecado com a "saúde"? Gente, como é óbvio, com pouca imaginação. Por mais forte que seja o culto e a idolatria do corpo, a velhice chega. E, com ela, a irrelevância, a obsolescência, a solidão. Esta sociedade de velhos trata muito mal os velhos. A ideia (e a propaganda) de uma adaptação contínua é uma grande e cruel mentira. Os velhos são um embaraço. Um peso que se atura, que se arruma num canto, que se mete num "lar". Setenta anos de esforço para durar acabam num limbo à margem da verdadeira vida, quando não acabam no sofrimento e na miséria. O Ocidente está a criar um inferno. Por bondade, claro."
Vasco Pulido Valente no «Público» de hoje:
(os realces e itálicos são do blog)
"Quando a imprensa inglesa e americana anuncia que a proibição de fumar em restaurantes não teve efeitos visíveis na saúde pública, em Portugal essa mesma proibição entrará em vigor a 1 de Janeiro de 2008. O que me espanta nisto não é a extravagância do acto em si. Duas coisas me parecem muito piores. Em primeiro lugar, a facilidade com que em todo o Ocidente o Estado resolveu intervir na vida privada de cada um e negar radicalmente o direito de propriedade (impedindo, por exemplo, que se criem restaurantes de fumadores), sem um protesto sério em parte alguma. Em segundo lugar, a rapidez com que o fumador foi socialmente estigmatizado e o vício de fumar (há 20 anos, normal e aceitável) se tornou quase o que era antigamente uma blasfémia, uma profanação ou uma heresia. Isto não anuncia nada de bom. Por um lado, porque fatalmente à campanha contra quem fuma se vai seguir a campanha contra quem bebe e a campanha contra quem come o que não deve ou come demais. E talvez, mais tarde, a campanha contra o "sedentarismo" e a falta de exercício. Não custa nada argumentar com as doenças que o álcool e a gordura provocam (tantas como o tabaco), ou retirar do mercado "produtos de risco", ou vigiar o que os restaurantes servem. Por outro lado, já se viu que o poder do Estado para converter a populaça ao objectivo tenebroso de "melhorar o homem" é hoje ilimitado. A metamorfose das democracias do Ocidente em totalitarismos de uma nova espécie não incomoda ninguém. Não uso a palavra descuidadamente (não uso, de resto, nenhuma palavra descuidadamente): para Hitler (que não fumava, nem bebia), o alemão perfeito não andava muito longe do perfeito espécime do Ocidente contemporâneo.
Imagino muitas vezes quem, de facto, quererá este mundo sufocante e asséptico, obcecado com a "saúde"? Gente, como é óbvio, com pouca imaginação. Por mais forte que seja o culto e a idolatria do corpo, a velhice chega. E, com ela, a irrelevância, a obsolescência, a solidão. Esta sociedade de velhos trata muito mal os velhos. A ideia (e a propaganda) de uma adaptação contínua é uma grande e cruel mentira. Os velhos são um embaraço. Um peso que se atura, que se arruma num canto, que se mete num "lar". Setenta anos de esforço para durar acabam num limbo à margem da verdadeira vida, quando não acabam no sofrimento e na miséria. O Ocidente está a criar um inferno. Por bondade, claro."
quinta-feira, novembro 08, 2007
Usando o livro do Santo Padre «A Igreja e a Nova Europa», Editorial Verbo, matei agora uma aranha que vinha a descer a estante . É a terceira aranha que vejo em poucas horas e isto serve-me para preparar uma admoestação para de manhã, que comece, a título de ilustração, com o episódio da aranha letrada e daí me leve a conversas severas sobre poeira em geral.
quarta-feira, novembro 07, 2007
Um quarto dos portugueses não lava as mãos antes das refeições («antes das refeições» que epxressão!).
Apenas posso dizer que não fico admirado.
Péssimo, no entanto, é saber que há quem não as lave depois de ir à casa de banho: um em cada dez lusitanos!
Mas, ainda pior do que isso é quando, vindos de mãos para lavar das casas de banho - que imagino repletas de fungos -, se sentam depois ao computador a escreverem os seus blogs...
A escrita ressente-se.
Apenas posso dizer que não fico admirado.
Péssimo, no entanto, é saber que há quem não as lave depois de ir à casa de banho: um em cada dez lusitanos!
Mas, ainda pior do que isso é quando, vindos de mãos para lavar das casas de banho - que imagino repletas de fungos -, se sentam depois ao computador a escreverem os seus blogs...
A escrita ressente-se.
terça-feira, novembro 06, 2007
No Cinco Dias insurgem-se contra esta coisa de se dizer que agora não se vive tão bem como há uns anos.
Sem duvida que há melhorias materiais, pelo que esta percepção não deixa de ser inquietante. O que leva alguém a dizer que há 40 anos se vivia melhor do que hoje?
Primeiro que tudo, a idade: quem tiver hoje 65 anos lembra-se saudosa e selectivamente dos seus 25...
Mas adiante: nos anos 60, sob o governo de Salazar, Portugal cresceu espectacularmente, foi um dos países do mundo que mais se desenvolveu. A classe média existente consolidou-se e a ela afluía gente nova. O regime, visto como um obstáculo, mas percebido como perto do fim, iria com o seu desparecimento, julgava-se, propiciar um desenvolvimento ainda maior. Por outro lado, a ruralidade fornecia a estabilidade e o sossego a quem vivia ainda nesse país agrícola e, ao mesmo tempo, o ponto de apoio a quem protagonizava as primeiras mudanças (a fuga para as cidades, a emigração para a Europa). Por aqui e por ali, havia a esperança de melhores dias.
E é essa esperança que não existe agora: o fim da ditadura e do Império não trouxe desenvolvimento. As esmolas da UE - porque disso, essencialmente se trata - permitiram, a par com um aumento assustador de impostos, a proliferação do alcatrão e o welfare state mas, sem verdadeiras reformas, com a continuação da atitude de aguda descrença no sector privado e nas capacidades de cada um, proliferou a burocracia e uma nova espécie de devorismo de que se alimentou ainda outra camada de classe média.
Hoje, as esmolas estão a acabar e a realidade veio cobrar os juros da ilusão. E, de repente, esta gente habituada a viver de lugares supérfluos, percebe que à sua frente não tem nada de bom porque espere. E, em volta, vêem, e se não eles, os demais, um pais semi-desértico, megalómano, semi-destruído, imensamente medíocre e assaloiado, um reino do fake - até em coisas tão simples quanto a qualificação profissional dos ministros. E pior desesperantemente se sente, a classe média cada vez mais esquálida, obrigada a equilibrar-se entre os abismos de uma das maiores disparidades económicas e sociais do mundo ocidental, às vezes já na real pobreza, quando vai aqui ao lado, a Espanha, e vê a enorme diferença desse mundo próspero e verdadeiramente moderno. E é lá que vão, em viagens cada vez mais raras, não ao Portugal de 60. Desse Portugal, longe, intocado de há 40 anos, lembram-se, no entanto, da esperança, de quando tudo ainda era possível e eram novos. Viviam materialmente melhor? Bem, talvez não... Viviam mais esperançados.
Sem duvida que há melhorias materiais, pelo que esta percepção não deixa de ser inquietante. O que leva alguém a dizer que há 40 anos se vivia melhor do que hoje?
Primeiro que tudo, a idade: quem tiver hoje 65 anos lembra-se saudosa e selectivamente dos seus 25...
Mas adiante: nos anos 60, sob o governo de Salazar, Portugal cresceu espectacularmente, foi um dos países do mundo que mais se desenvolveu. A classe média existente consolidou-se e a ela afluía gente nova. O regime, visto como um obstáculo, mas percebido como perto do fim, iria com o seu desparecimento, julgava-se, propiciar um desenvolvimento ainda maior. Por outro lado, a ruralidade fornecia a estabilidade e o sossego a quem vivia ainda nesse país agrícola e, ao mesmo tempo, o ponto de apoio a quem protagonizava as primeiras mudanças (a fuga para as cidades, a emigração para a Europa). Por aqui e por ali, havia a esperança de melhores dias.
E é essa esperança que não existe agora: o fim da ditadura e do Império não trouxe desenvolvimento. As esmolas da UE - porque disso, essencialmente se trata - permitiram, a par com um aumento assustador de impostos, a proliferação do alcatrão e o welfare state mas, sem verdadeiras reformas, com a continuação da atitude de aguda descrença no sector privado e nas capacidades de cada um, proliferou a burocracia e uma nova espécie de devorismo de que se alimentou ainda outra camada de classe média.
Hoje, as esmolas estão a acabar e a realidade veio cobrar os juros da ilusão. E, de repente, esta gente habituada a viver de lugares supérfluos, percebe que à sua frente não tem nada de bom porque espere. E, em volta, vêem, e se não eles, os demais, um pais semi-desértico, megalómano, semi-destruído, imensamente medíocre e assaloiado, um reino do fake - até em coisas tão simples quanto a qualificação profissional dos ministros. E pior desesperantemente se sente, a classe média cada vez mais esquálida, obrigada a equilibrar-se entre os abismos de uma das maiores disparidades económicas e sociais do mundo ocidental, às vezes já na real pobreza, quando vai aqui ao lado, a Espanha, e vê a enorme diferença desse mundo próspero e verdadeiramente moderno. E é lá que vão, em viagens cada vez mais raras, não ao Portugal de 60. Desse Portugal, longe, intocado de há 40 anos, lembram-se, no entanto, da esperança, de quando tudo ainda era possível e eram novos. Viviam materialmente melhor? Bem, talvez não... Viviam mais esperançados.
segunda-feira, novembro 05, 2007
Sentence relative...
Entretanto, os esforços de reformas do nosso código de processo penal dão os seus frutos: talvez por tanto pensarem e meditarem e reflectirem sobre a nossa realidade e em legislar para ela, na rectificação (sim, há já uma) publicada no Diário da República do dia 26 de Outubro pode-se ler o que será uma réstea desse labor imenso: um parte de frase ainda no original, digo, em francês, digo, no original não, é que o legislador pensa em francês, não foi esquecimento, é esta coisa terrível do copy and paste, traiçoeira como tudo... gato escondido, queue en dehors...
Que miséria!
O artigo de VPV ontem no Público? Não é a exposição exacta do problema e da ausência de soluções, dadas a cobardia, a pavorosa mediocridade nossa e dos políticos que elegemos?
Entretanto, os esforços de reformas do nosso código de processo penal dão os seus frutos: talvez por tanto pensarem e meditarem e reflectirem sobre a nossa realidade e em legislar para ela, na rectificação (sim, há já uma) publicada no Diário da República do dia 26 de Outubro pode-se ler o que será uma réstea desse labor imenso: um parte de frase ainda no original, digo, em francês, digo, no original não, é que o legislador pensa em francês, não foi esquecimento, é esta coisa terrível do copy and paste, traiçoeira como tudo... gato escondido, queue en dehors...
Que miséria!
O artigo de VPV ontem no Público? Não é a exposição exacta do problema e da ausência de soluções, dadas a cobardia, a pavorosa mediocridade nossa e dos políticos que elegemos?
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