sábado, dezembro 03, 2005

Ontem decidi dar um passeio higiénico ao fim da tarde. A segunda paragem foi numa das duas livrarias da terra. "Que havia livros novos, aí nessa prateleira ao fundo, ainda estão por arrumar, é ir vendo, se faz favor" e eu vi as "Memórias da Marquesa de Rio Maior" que há anos tencionava ler. Comprei logo e era meu intuito vir para casa lê-las, o que teria feito, não fora entrar num dos poucos cafezinhos e lá encontrar duas amigas. A uma achei-a pálida e disse-lho, atribuindo aquela brancura à mistura de sangues flamengos, inglês e francês e à outra com ar cansado. Em resposta, consideraram que eu, sim, estava pálido e cansativo de secante que me tornara. Decidiram as senhoras que o remedeio das minhas inconveniências não se faria sem um convite de penitência para jantar, que me pareceu adequado e lá fui eu com as duas que, bem dispostas, me desculparam os desconchavos. Chovia quando saímos, levei cada uma a casa, passei pela minha e parti para casa de outros amigos, seroar. Depois de me censurarem não ter levado as senhoras a quem, por distracção "cortara" a noite, lá estive, com alguma indolência. O irmão da dona da casa, bloguista ilustre, analisava a noite de Lisboa, tal como a tinha conhecido há 12 ou 13 anos e com alguma má lingua de permeio, que todos acolitávamos com o entusiasmo que o tédio inspira. A propósito de antiguidades, lembrámos expressões e frases que hoje em dia correm o risco de se tornarem de difícil compreensão, isto a propósito do verdadeiro martírio que para algumas senhoras constituía o destinar (caíram-me no goto as palavras de outros tempos e hoje, logo ao acordar, me senti neurasténico - uma palavra das gerações mais acima aqui em casa - e já aqui não dispensei o "seroar" (creio que vou iniciar um rubrica no blog com palavras e expressões em vias de extinção, mas não me prometo nada, irritado por acabar de me lembrar que a ideia não é nova, teve-a não sei quem em França, uns tempos atrás).
Enfim, passava das 4 quando entrei em casa e me resolvi a dar uma vista de olhos pelas "Memórias", divertidas e inteligentes (uma das fontes para a história do nosso séc. XIX) . Eram oito da manhã quando, finalmente, me deitei.

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