sábado, julho 12, 2008

Ontem ou anteontem estive durante uns minutos a ver um programa (na Sic?) com Nicolau Santos, que conheço das fotografias do Expresso e Ricardo Costa que não conheço senão da televisão. A discussão girava, ao que suponho, sobre o "estado da nação". A certa altura, com aquele ar grave com que se sopesam as questões graves, Costa afirmou que Manuela Ferreira Leite seria esmagada num frente-a-frente com Sócrates, como eles dizem. Esmagada. A coisa nem sequer faz muito sentido, e não conheço, na política, nos dias que correm, nenhum orador, nem alguém que se distinga pela solidez ou originalidade dos argumentos. E dentro do que há, Manuela Ferreira Leite, com um curso universitário tirando em tempos de exigência, parece-me que sairia facilmente «ganhadora». Parecia-me tudo aquilo (os juízos do Costa e o ar gravíssimo do Costa) um absurdo, só possível para quem os factos - que não me parecem demasiado favoráveis ao Pinto de Sousa - não contem.
Hoje, deparo com o artigo de Vasco Pulido Valente e estava lá tudo: «Para os participantes neste ritual [o debate do Estado da Nação], a substância de uma questão ou de um argumento não contam. "Ganhar" é a afirmação de uma simples superioridade teatral ou da "esperteza" bronca e bruta, que "apanha" o próximo e que o indígena tanto estima.»

1 comentário:

Anónimo disse...

Um exercício fascinante, ler actas de sessões parlamentares. Por exemplo:

«O Sr. Borges Carneiro: - Sobre este objecto he indispensavel tomar alguma medida, e determinar-se que aquelles Senhores Deputados que não vierem às Cortes, a não ser por molestia que os impossibilite de sair de casa, não venção a sua diária. Po contrario dão as Cortes máo exemplo aos mais empregados públicos, pois he bem escandaloso á Nação estarem recebendo diarias sem assistirem ás sessões, e andarem passeando ou tratando de seus negócios particulares. Se as autoridades superiores derem máo exemplo, ás outras fica autorizada a relaxão, pois Regis ad exemplum totus componitur orbis. Por tanto sou de parecer e proponho que passados os dias das licenças que o Sr. Presidente agora tiver concedido aos que estão fora de Lisboa, se não concedão mais licenças, nem venção diarias os que faltarem, salvo se constar que se a chão doentes na cama, sem sairem de casa: no que se deve estar pelas suas palavras sem dependencia de attestação de medico, porque se algum Deputado fosse capaz de servir-se destas attestações sem doença effectiva, teria quantas quizesse, pois são attestações graciosas que na actual relaxação não merecem credito. Ponha-se attenção nisto, porque a nação deve-se escandalizar de se estarem gastando tantas moedas de ouro por dia por quem não assiste, e em uma legislatura que dura pouco tempo.»
Câmara dos Senhores Deputados, 30 de Dezembro de 1822

As coisas não mudaram grande coisa, não é? E já naquele tempo havia outros VPV, e dos bons (Eça, também por exemplo).