quinta-feira, julho 31, 2008

Aqui entre nós, não se vem à hora do último gin tonic falar do estatuto das ilhas quando o país está tão mal que já nem se toma o último gin tonic tão descansadamente como dantes.
Sim, houve um tom agastado em relação ao PS, mas nada que justifique dolorosamente suspender a meio a mão que segura mais um gelo.
Mais tarde: que Cavaco prepararia terreno para dissolver a assembleia, li. E? Alguém preparado para tomar as medidas necessárias, todas elas de pequenos pormenores? Creio que, de um modo ou de outro, todos sonham ainda grandezas, a favor ou contra.
Tenho de confessar que Sócrates fora de S. Bento é um aliciante e, em notícia súbita, far-me-ia entornar qualquer bebida.
Ainda mais tarde: que perdi a ocasião de ficar calado? Que não compreendo o alcance e subtileza do gesto de Cavaco? Talvez.
Tinha passado na televisão o Mutiny of the Bounty e lembro-me de alguém, inteligente e sábio, por uma noite de Verão, depois de um feroz croquet nocturno no jardim ou enquanto estava morto ao bridge me ter perguntado porque se revoltaram os tripulantes do Bounty. Não queria os motivos imediatos mas um, mediato, que originara todos a situação. Quando me preparava lhe falar da indisciplina, ou das belezas locais, respondeu ele mesmo: «Bligh não era um gentleman». Ser um gentleman é ter, no poder, a arte da excepção sem jamais ser arbitrário e usá-lo como se se estivesse seguro de ter a adesão ou um consentimento jamais solicitados.

Hoje não temos qualquer gentleman - ou quem se possa confundir com - em cargos de estado. Não vai haver uma revolta, mas tudo se torna mais difícil.

quarta-feira, julho 30, 2008

Boa Notícia!

Se for assim, ainda bem!
Seria necessário saber o nome de quem votou não e salvou o Largo do Rato, por terem sabido respeitar o compromisso que os liga a quem os elegeu (e os de quem votou sim).

MAS, atenção!, é preciso continuar atento, diria mesmo mais: muito atento!

O trabalho que dá ser conservador em Portugal... as canseiras, os sobressaltos, os desgostos, as pouquíssimas alegrias.

By the sea

segunda-feira, julho 28, 2008

Ainda A.J. (antes de jantar): na televisão passa em roda-pé o aviso de que as novas regras do segredo de justiça podem pôr em causa vários processos.
Eis o subdesenvolvimento. E não lhes ocorre perguntar como será nos países onde não há segredo de justiça - nem nada que se assemelhe a esta disformidade burocrática que inventaram por cá? Não se perguntam como é que são investigados os casos de corrupção - ou seja do que for - em Inglaterra ou nos Estados Unidos ou... na Finlândia?
É muito cansativo viver por aqui. É muito cansativo viver num sítio de onde a evidência mais foi expulsa pelo concurso de várias crendices, da rural - a menos danosa - à mais modernaça, a superstição positivista.
A frase parece-me sem sentido, mas há, claro que há. Vejam-se Cuba, a Coreia do Norte, a URSS dos anos 30, dos anos 40, dos anos 50, dos anos 60, dos anos 70, dos anos 80. Foram saudadas - e por gente a que se não pode chamar estupida ou ingénua - como alternativas ao capitalismo (que, creio, incluía a democracia burguesa e as liberdades burguesas).

domingo, julho 27, 2008

Também li aquela do dr. Jardim ter considerado um insulto Portugal ser governado por Sócrates (nome próprio do Pinto de Sousa). Também acho que é um insulto, embora o ache um insulto merecido.
Ou parcialmente merecido. Ter gente com o curriculum académico do Pinto de Sousa ou o advogado de Berardo a decidir sobre a Língua Portuguesa é uma afronta que, apesar de tudo, Portugal não mereceu.
Fiquei em casa e vi o "Eixo do mal". Uma Clara Ferreira Alves, sempre muito definitiva, apregoava a ingovernabilidade do país se Pinto de Sousa não ganhasse as próximas eleições. E o espantoso é que diz isto sem rir e parece que considerando o Sousa - que eu, com V. licença, julgo um político medíocre e limitadíssimo - um grande estadista.
Acabo de ler o que escreve Vasco Pulido Valente no Público. Então e não é que tinha pensado exactamente o mesmo? Que não é função do governo ser uma direcção comercial (de luxe ou standard) que tal actividade, roubada aos particulares, era nefasta? Já tenho motivos de orgulho para o Agosto todo que aí vem.
Assim é. É um desassossego ser conservador em Portugal.

sexta-feira, julho 25, 2008

As tolices do governo começam a assustar. Como não tem dinheiro, desforra-se na língua, que é grátis. Agora quer aproveitar para ir empurrando os africanos para a grafia brasileira. O ensino é miserável, ainda há fome e miséria nos oito países do cplp (coincidência?), venha daí a lingua. Só língua. Do estômago esquecem-se - que não do deles.
O que fez o idioma de Camões, Vieira e Pessoa para ser o brinquedo desta gente?
A mesma impressão de artes dramáticas de high school nas "Aventuras de Obama no Velho Continente" - mesmo quando aproveita (porque, sendo de plástico, é de plástico made in USA) para, não prometendo nada, pedir mais empenhamento - tradução local: mais $$$ e sangue - da Europa.
Choveu e ainda está nublado, agradável para descansar os olhos do excesso de luz.

(Interessante verificar como esta gente gosta do sol, do calor, da demasia, não deixando de ser partidários ferrrenhos da mesmice e cultivando ritualismos vários de celebração do lugar comum - do politicamente correcto ao politicamente correcto)
Há um silêncio absoluto lá fora. Uma noite magnífica e muda.

Na televisão vi uma série - suponho que seja - sobre Henrique VIII. Má, podia ser a produção de luxo de artes dramáticas da high school de uma daquelas cidades afortunadas da costa da Califórnia.
Quando passei por lá - fiquei depois a ver uns 10 minutos, para conferir a péssima primeira impressão - Catarina de Aragão morria, a sua vasta cabeleira negra em... Como? Negra? Catarina de Aragão era loira, uma cor vulgar e comum para quem reunia em si o sangue de toda a Europa, de Teresa Lourenço, a Elizabeth de Wittelsbach e o muito inglês de Joan, the fair Maid of Kent - que compartilhava com o seu truculento marido.
Os cabelos escuros da tia de Carlos V não são produto da falta de documentação, mas da ideia feita, e da ilustração didáctica da tenebrosidade castelhana e católica.

quinta-feira, julho 24, 2008

Compreendo agora, com a assinatura do Manifesto pela Lingua Portuguesa e a Petição pelo Rato, os prazeres da militância. Sentia-me capaz de ir tomar café a qualquer sede partidária, de transportar uma bandeira, de ir a uma manif (em tempo fresco).

quarta-feira, julho 23, 2008

Nós não sabemos de nada, nem entendemos nada. Enquanto vivemos aqui, tristemente, o nosso quotidiano mesquinho, creio que o nosso governo e grande parte da população do poder vive já no mando efectivo do futuro quintimpérico do mundo, na qualidade de plurais sogros da Grandeza Universal, com que o filial Brasil tem núpcias contratadas, sendo de supor que Angola, essa demoiselle prendada, faça parte do cortejo nupcial.
O nosso papel é, por isso, o dos criados broncos que nada percebem das cogitações geniais do patrão talentoso. Façamo-lo bem, para que a audiência ria da nossa atarantação grotesca e demos graças por, depois de 400 anos de ressaca épica, entrarmos na fase picaresca.
A questão da ortografia - e as outras - que canhestramente colocamos é um desses asssuntos em que se enreda a nossa insuficiência e com que incomodamos quem se ocupa já do futuro do mundo. Em palco, estamos de papel na mão, a tartamudear razões de aldeia enquanto o príncipe deste novo mundo preguiça num salão minimal, ouve Das Märchen de Emmanuel Nunes, e se ocupa do traçado das órbitas (sempre direi que mais adequada seria a Música das Esferas).
A seus pés, representantes das nações do mundo, esperam.

terça-feira, julho 22, 2008

Homenagem ao estadista desconhecido.
No século XIX sofremos alguns vexames, uns sem muita culpa (caso do Charles et George informe-se aqui), outros por ambição e falta de realismo (caso do Ultimatum inglês que não indico por ser geralmente conhecido).
Aquando deste último, houve grandes manifestações patrióticas e a estátua de Camões foi coberta com crepes negros, ridicularia que muito caiu no goto a Eça.
Ontem, o presidente Silva (não o «Lula») num episódio que ficará na história como um ponto alto na arte do auto-aviltamento e abjecção, assinou, sem dúvidas, um «acordo» que se resume a fazer escrever os portugueses do modo como uma potência estrangeira quer que escrevam.
Em matéria de falta de respeito próprio e de falta de vergonha na cara creio que atingimos um novo cume, dificilmente igualável.
Tenho, por isso, o direito à minha quota-parte de imbecis puerilidades e vou deslinkar, de modo simbólico e sentido, os blogs brasileiros e proclamar os brasucas como gente non grata neste blog.

segunda-feira, julho 21, 2008

Entretanto, a anos de o "acordo" vir a entrar em vigor (o que espero nunca aconteça), já há gente a dizer que é preciso estudar «as novas normas».
Se isto não é um país talhado para a ditadura - como notava Eça...
Anibal Cavaco Silva promulgou o acordo ortográfico, segundo notícia do Público. Nunca teve o meu voto - nem terá - e nesse aspecto, estou feliz por não ter contribuído para um crime contra a cultura portuguesa.
De resto, Cavaco, produto de um país pobre e atrasado, limita-se a ser o que é.
Entretanto, se perdesse o 2º mandato e de modo visível por causa desta promulgação, isso seria uma grande, uma enorme contribuição para a democracia em Portugal.
Esteve aqui uma sonata, pois esteve, não completa, mas o primeiro andamemento na nº 1 para violino do Gabriel Fauré. É uma possível contribuinte para a de Proust, mas fica para depois da silly season

Um recado abrupto: não seria mau que a Dra. Manuela Ferreira Leite dissesse o que tenciona fazer do acordo ortográfico (de que o governo de Cavaco Silva, com a sua crença frustre no progresso e gosto pela novidade grátis, criada por via legislativa, é tão culpado). Eis um ponto que decidirá o meu voto - que agora está no ficar em casa.
Sim, pois é, parte da classe média já decide o voto por estas questões. Pode ser ainda uma percentagem mínima, mas é um começo.
*Incrível: escrevi o post antes de saber que o Cavaco Silva tinha promulgado o acordo.

domingo, julho 20, 2008

Será que já assinou?
E, se sim, quantos atormentou para assinarem a petição para salvar o Largo do Rato?
Aqui, esta, sim.

Há pouco lia o elogio que Dalrymple (acho que no Our Culture, what's left of it?) faz do inteligente conservadorismo dos italianos, que, da direita à esquerda, nos municípios, tem preservado a herança do passado e dei comigo a pensar que, com esta gente que por cá há, Roma, Florença, Veneza, desapareceriam num ápice, sobre o entulho da falta de gosto.

sábado, julho 19, 2008

Acredito que os elogios que Pinto Sousa fez ao governo angolano fossem sentidos. Via-se que eram.
E porque não seriam?

sexta-feira, julho 18, 2008

O FMI atribui a culpa da crise portuguesa aos... portugueses, ao sobreendividamento, etc. Os jornalistas interrogam o Pinto Sousa mas, perante as evasivas - primárias - ninguém lhe pergunta se ele acha que o FMI está errado e em quê proporção. Os jornalistas reproduzem a pouca competitividade do país que o FMI lamenta.
«Numa sociedade miserável, o que se redistribui é sempre a miséria. Em 30 anos, Portugal chegou até onde a realidade e a "Europa" lhe permitiram chegar. Embora com erros, com desperdício, com ineficácia, a Segurança Social, o Serviço de Saúde e mesmo o "sistema educativo" redistribuem mais do que nunca se redistribuiu em toda a nossa a história. Se a desigualdade continua é porque os 20 por cento de pobres não ganham o que deviam ganhar e não porque os 20 por cento de portugueses mais ricos paguem ao Estado menos do que deviam pagar. A desigualdade continua porque o país não produz, não exporta, não investe e não poupa; porque se endivida; e porque o Estado o desorganiza, corrompe e abafa. Isto é a evidência. Infelizmente, de quando em quando, convém repetir a evidência.»

Vasco Pulido Valente, in Público
Falta de senso.
Dar a Saramago a Casa dos Bicos, que foi pertença do filho de Afonso de Albuquerque, repleta de história, um ícone nacional, património de todos, e fazer com que passe a ser apenas de alguns, dada a antipatia que existe por Saramago (parte pelo seu stalinismo e perseguições que moveu no DN) é criar crispações e irritações evitáveis - e muito de evitar numa altura em que nada está melhor.

quinta-feira, julho 17, 2008

Se quer que lhe diga, acho inqualificável, uma coisa republicana, ou pior - se houver pior - este ir embora.
Mas enfim, vou imaginar que o faz coagido.
Pequeno e ocioso mistério:

Porque não vou para a praia já, ao invés de ficar aqui a aguentar este calor medonho? Porque marquei só para dia 8 de Agosto, sendo certo que desde há anos proclamo aos quatro ventos que o tempo mais quente é a segunda quinzena de Julho? Mistério da natureza humana; se os decifrasse vivia melhor, com menos calor.
2515 assinaturas na petição para impedir a destruição do Largo do Rato.
2515 assinaturas que seriam, já ali em Badajoz, desnecessárias, por não haver ninguém que se atrevesse a fazer um projecto daqueles, que mutila uma obra de arte, faz desaparecer um jardim histórico, enterra viva uma praça de Lisboa, e destrói a memória de todos.
2515 assinaturas que aqui, somadas às que têm de chegar -porque não podemos ser tão maus quanto isso - não bastam ainda para parar esta capitulação ante a força obtusa e boçal do dinheiro.
Porque disso e de asinina falta de gosto e de respeito pelos lisboetas e pelos portugueses se trata. De mais nada.
Assinar AQUI

quarta-feira, julho 16, 2008


Algumas cigarras - e um castelhano com pigarro - num dia de vento em Espanha, no ano passado.
Encontro livros que não me lembro de ter comprado - ou sequer de ter. Terrível diferença daqueles primeiros de que continuo a saber tudo, empoeirados ainda de torrões de lembranças: onde comprei, com quem estava, onde tinha ido antes, onde comecei a lê-los.
Alguns, destes, anónimos - tenho de lhes criar uma designação -, são monumentos a leituras, comprados anos depois de ter lido e às vezes relido a obra, raramente na mesma edição. Com uns, verdadeiros ex-votos, relembrei leituras felizes, outros apenas folheei, outros estão novos, lombadas brilhantes e lisas, com o seu quê de cenotáfios.
Caloraça medonha, já. Cigarras em grande actividade lá fora. Não se pensa com este tempo, matuta-se num modo de preguiçar.

segunda-feira, julho 14, 2008

O ministro Pereira do Interior diz que em Portugal não há rua onde a polícia não entre. Era o que nos faltava, que assim não fosse!... Essa não é a questão. A questão põe-se para o cidadão comum: há vias públicas em Portugal onde uma pessoa média, nem aventureira nem medrosa, não pode entrar, por correr perigo? E parece que há, que há ruas onde apenas um louco entraria: aquelas da Quinta da Fonte, que parecem tão desafogadas e normais, apenas podem ser passeadas por quem tenha perdido o juízo ou o gosto pela vida.
Da revolução francesa de que hoje se comemora a tomada de uma velha prisão caduca e semideserta gosto da sua agradável fase filosófica, como dizia Eça, e menos das carnificinas que se lhe seguiram.
Relembro que os droit de l'homme foram produto do iluminismo, mas anglo-saxão (Mr. Thomas Paine). Ainda hoje a França não tem o instituto do habeas corpus - pelo simples motivo de acreditar que a République é infalível e a France é mais république do que democracia. Os grandes intitutos da democracia vêm de Inglaterra (Bill of Rights 1689), não das ululâncias serôdias das ruas de Paris ou do sangue derramado pelos diversos imperialismos que 1789 gerou.

domingo, julho 13, 2008

A verdade revelada aos portugueses: novos desenvolvimentos (como é uso ouvir. Ambiciono ouvir, uma vez que seja, um velho desenvolvimento).
Alguém andou a ser perigosamente irresponsável, desde a educação e das políticas de integração ao simples policiamento e a realidade é aquilo, que depois, de supetão, se vê nos noticiários, tão pouco politicamente correcto e tão chocante para as almas simples - em que me incluo - que não acreditavam que por cá já houvesse «coisas daquelas como nos filmes».

Parte dos habitantes do bairro tentam sair de lá há anos (anos)! Como eu os compreendo e o que me apetece perguntar o que foi feito ao longo desses anos para melhorar a situação...

sábado, julho 12, 2008

Ontem ou anteontem estive durante uns minutos a ver um programa (na Sic?) com Nicolau Santos, que conheço das fotografias do Expresso e Ricardo Costa que não conheço senão da televisão. A discussão girava, ao que suponho, sobre o "estado da nação". A certa altura, com aquele ar grave com que se sopesam as questões graves, Costa afirmou que Manuela Ferreira Leite seria esmagada num frente-a-frente com Sócrates, como eles dizem. Esmagada. A coisa nem sequer faz muito sentido, e não conheço, na política, nos dias que correm, nenhum orador, nem alguém que se distinga pela solidez ou originalidade dos argumentos. E dentro do que há, Manuela Ferreira Leite, com um curso universitário tirando em tempos de exigência, parece-me que sairia facilmente «ganhadora». Parecia-me tudo aquilo (os juízos do Costa e o ar gravíssimo do Costa) um absurdo, só possível para quem os factos - que não me parecem demasiado favoráveis ao Pinto de Sousa - não contem.
Hoje, deparo com o artigo de Vasco Pulido Valente e estava lá tudo: «Para os participantes neste ritual [o debate do Estado da Nação], a substância de uma questão ou de um argumento não contam. "Ganhar" é a afirmação de uma simples superioridade teatral ou da "esperteza" bronca e bruta, que "apanha" o próximo e que o indígena tanto estima.»

sexta-feira, julho 11, 2008

Os mercados caem quase 2%.
Leio e oiço sobre «a crise» e conheço as explicações dadas, desde o subprime à subida do petróleo, baixa do dólar, etc., mas pressinto que o cerne da questão é político.
Escreve Vasco Pulido Valente hoje no Público:
«O que me espanta é a tranquilidade ou, se preferirem, a passividade. Houve manifestações, meia dúzia com muita gente, mas pacata e "ordeira"; e alguma violência, mas limitada e ocasional. E há dia a dia na televisão a tristeza do país, que chora resignadamente a sua vida e fala em emigrar. O pessimismo português não degenerou numa visão apocalíptica da Pátria, nem sequer, como é costume, numa subespécie de messianismo. Ninguém espera do futuro nada de bom? Ninguém. E o medo voltou? Voltou. Só que não se manifesta. Portugal não reage às desgraças que lhe anunciam ou que já sofre. Parece que deixou de se interessar por si e que aceitará, inerme, o que vier.[...]»
Mas o porquê de tanta tranquilidade já o tinha fornecido o mesmo Historiador:
«Voltámos, como de costume, a uma "inferioridade", que desta vez não é atribuível a qualquer demónio externo ou azar histórico. E não existe no saco dos milagres outro 25 de Abril para nos "salvar". » in Público, 26/4/2008, «O 25 de Abril».
Li um post sobre as congestões - uma palavra que era muito cá de casa quando eu era pequeno, usada para designar o que hoje se chama trombose - suponho. Não se acreditava nas congestões depois do almoço ou do lanche (sim, do lanche): o pediatra - um prof - , perguntado sobre o que se achava ser uma modernice para gente excessivamente meticulosa e chata (tinham tomado sempre banho de mar sem fazer as contas às horas e não houvera baixas na familia ou amigos) confirmara que não havia perigo e eu lá ia para o mar, munido do assentimento materno. Só tinha de arrefecer à sombra, se tivesse estado a apanhar sol; não sei se já se sabia isso do choque térmico - ou se apenas lhe chamavam outra coisa; creio que era apenas o medo muito genuíno às mudanças bruscas.

quinta-feira, julho 10, 2008

Negativas na prova de Matemática do nono ano caem quase 40 por cento num ano noticia o Público.
Se não fosse o meu medo de ofender o espírito laico e republicano diria que tal melhoria é um milagre.
Um Rodrigo Tavares, que não sei quem é, escreve sobre Ingrid Bettancourt: Também Ingrid já foi acusada de ter agido intencionalmente para alavancar as suas ambições políticas - visto ela saber que a zona de San Vicente del Caguán, onde foi raptada, era bastião das FARC. Foi o que fez novamente esta semana o famoso escritor colombiano Fernando Vallejo, autor da A Virgem dos Sicários durante uma palestra na VI Festa Literária Internacional de Paraty, no Brasil.
Só falta dizer que as FARC foram a vítima inocente das ambições conjuntas de Ingrid, de Uribe, da política externa francesa e, como não podia deixar de ser, do Presidente Bush.
Nem sei se não é de aconselhar aquela benemérita organização de esquerda a pôr toda esta gente em tribunal, começando, claro está, por Ingrid Bettancourt. Por fraude, ou burla.
Afinal, não é nada que a esquerda não tenha já feito.
Os concertos para piano de Beethoven (agora, o nº 3, op 37) e Les Nuits de Paris do La Bretonne (com a pesquisas no google map sobre os itinerários, ou de como a internet pode alimentar o meu gosto pela bugiganga intelectual).
O jacobinismo grassa na minha noite calma e aprazível de província.

quarta-feira, julho 09, 2008

Relembrado aqui

O riso de Muttley, puro desdém, é capaz de desempedernir o coração do mais estrénuo filantropo*.

*Filantropo, sic.
Rui Ramos no Público escreve sobre a incapacidade portuguesa de viver com a realidade e da facilidade deste estado de coisas se perpertuar já que, pensaríamos "até aqui chegámos e afinal foi sempre assim". Acontece, porém, que não foi sempre assim: a demasia de irrealismo faz mal e em 1580, exangues pelas quimeras e delírios, falecemos e entregámo-nos nas mãos de Espanha - por mera renúncia à realidade- e à vida dela.
E o regresso à soberania foi lento, doloroso e, creio, vão (embora goste da história do Portugal Restaurado).
A ratazana cinzenta, enorme, que não devia lá estar ou sequer pensar em para lá ir - assedia o pobre Rato que a todos pede ajuda. É preciso exterminá-la.
Estão a tratar disso, o Lesma Morta, o Cidadania Lx e O Carmo e a Trindade, entre outros.

Deixa-se aqui, novamente, o endereço electrónico da petição.

terça-feira, julho 08, 2008


Os pores-do-sol têm sido bonitos, mas sobre o ouro. Poucos rubros e escarlates, este Verão.
A todos os que gostam de Lisboa. «Leiam, e se acharem bem assinem. Da autoria de Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus, este enorme edifício entre o Largo do Rato, Rua Alexandre Herculano e Rua do Salitre, teve agora luz verde dada pela autarquia lisboeta aos projectos de especialidade. Composto por 7 pisos acima do solo e 5 de estacionamento, com fachadas entre os 19 e os 22 metros , 10.000 metros quadrados em gaveto com apartamentos T0 e T2, trata-se de uma construção que pela volumetria rebenta totalmente com a escala do Largo. O projecto a construir prepara-se para descaracterizar definitivamente esta zona lisboeta e onde para servir tais propósitos o novo prédio obrigará à demolição de alguns imóveis, nomeadamente a centenária Associação Escolar de São Mamede e o Chafariz do Largo do Rato. Já a Sinagoga de Lisboa ficará quase tapada. Esther Mucznik, vice-presidente da comunidade judaica, evoca o cenário um dia discutido quando Jorge Sampaio presidia à Câmara: rasgar um jardim em direcção ao Rato , de modo a abrir a Sinagoga à cidade. Um sonho que passou "Agora estamos encurralados. Mais ficaremos"»
Vejam bem
E assinem a petição:

segunda-feira, julho 07, 2008

Lembrete

Se daqui a 15 ou 20 anos, nalguma falta ou aflição, me pedirem para ser ministro da cultura e eu, por distracção, aceitar: não esquecer de demitir o Bénard que, com 94 anos, bem pode deixar o lugar a outro.
E abrir o não sei do Porto. E por Porto, deve haver uns livros com umas reflexões e até, quem sabe?, de ideias para resolver a questão de um serviço pago por todos ser mais acessível - desde logo por questões de geografia - a uns poucos. Quantas óperas do São Carlos transmite a RTP2 por temporada?
Enquanto isto, mais um atentado a Lisboa: outro fogo.
Ainda artigos sobre as entrevistas. Alguns falam da inteligência do Pinto Sousa. Não consigo perceber onde e em quê a vêem. A mim parece-me um político extremamente limitado, muito inculto e supersticioso - parece que no livro se faz a si mesmo uma análise psicológica com base no signo astrológico - que decorou meia dúzia de frases ou ideias que se repete, que acredita que se não olhar o problema não está lá e que tudo faz com a teimosia, obstinação e rigidez muito típicas das pessoas não muito dotadas.
Li a frase no "Público": Pilar del Rio (que, descobri agora, é a mulher de Saramago e presidente de uma fundação com o mesmo nome) quer que lhe chamem presidenta e não presidente. Diz ela que «A palavra não existia porque não havia a função, agora que existe a função há a palavra que denomina a função. As línguas estão aí para mostrar a realidade e não para a esconder de acordo com a ideologia dominante, como aconteceu até agora. Presidenta, porque sou mulher e sou presidenta.» Não sabe o que são substantivos e adjectivos uniformes! Parece-me ignoranta e sentenciosa! Não acho que seja competenta.
Se fosse portuguesa creio que seria uma boa apoianta do acordo ortográfico, com este gosto pelo dislate. Ou será dislata?

domingo, julho 06, 2008

sábado, julho 05, 2008


As minhas muito reprováveis noites de verão
Vivi já, ai de mim, sob muitos governos, e com alguns deles sobremodo antipatizei (o último de Cavaco Silva) mas nunca tive antes esta noção de viver em pais ocupado, nem de me perguntar «quando é que esta gente tão estranha se vai embora».

sexta-feira, julho 04, 2008

...e outra garfada de écume épicée au Sauternes.

Entretanto, esta semana o Prémio Adorei adorei adorei vai para ... e ... ex-aequo

quinta-feira, julho 03, 2008

Fatalidades e fatalismo

O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, afirmou que «havia presença policial massiva» e os agentes «tiveram um comportamento exemplar» no incidente de Santa Maria da Feira, quando dois juízes foram agredidos em plena sala de audiência.
«Dentro da sala de audiência estavam três membros das forças de segurança, só não estavam mais por não caberem, e estavam mais lá fora. Queria dizer aqui com muita clareza que estavam presentes, não estavam em número insuficiente e tiveram uma atitude proficiente», afirmou Rui Pereira, à saída do Seminário Internacional «A Polícia e os Media», que decorreu na Escola Superior de Polícia, em Lisboa


Imagine-se o que teria acontecido se não estivesse tanta polícia e não tivesse agido tão proficientemente (o Ministro diria, talvez, que o mesmo: assim o teria querido o destino. Fatalismos laicos).
É uma vitória para a democracia a libertação de Ingrid Bettancourt e de muitos outros, conseguida por tropas do exército colombiano, depois de um rapto de seis anos pela organização terrorista de esquerda Farc.
Uma boa notícia, no meio de tantas más.
Parábens conservadores a todos os libertados e ao presidente da Colômbia, o muito corajoso Álvaro Uribe.

quarta-feira, julho 02, 2008

Ontem, a chefe da oposição acusou o actual governo de dilatar o pagamento dos investimentos a fazer em obras públicas durante 5 anos, isto é, acusa-o de adiar esse tempo os pagamentos por parte do estado português, com os consequentes encargos financeiras para o país.
Há pouco, quando a questão lhe foi posta - quase em surdina - o primeiro-ministro respondeu como se esse período de «carência» fosse o do não pagamento ao estado por parte dos concessionários de serviços públicos.
Era - e é - uma das grandes questões introduzidas ontem na discussão pública pela Dra. Manuela Ferreira Leite.
Esta «confusão» tão conveniente não foi corrigida nem por Judite de Sousa nem por José Alberto de Carvalho, conseguindo o primeiro-ministro fugir a esclarecer o mistério - que é, com toda a certeza, amargo para as nossas bolsas...
Palavras para quê? São dois entrevistadores portugueses.
Entretanto e enquanto se queixava da falta de civismo, o Sousa tratava os entrevistadores por vocês. "Vocês não vêem" dizia ele. E assim parece que é.
Mas o importante é notar que é já Manuela Ferreira Leite que traz o aliás pouco súbtil Sousa pela arreata.
Interesso-me tanto por futebol como por macramé - que julgo ser um hobby hippie.
Mas interesso-me pelo nosso sistema judicial.
Ontem foi conhecido o despacho que rejeitou a acusação deduzida pelo M.P. num caso de corrupção de árbitros. Com base em elementos que constavam do processo, o Juiz verifica que a testemunha Carolina Salgado está a mentir por, não sendo crível que possua o dom da ubiquidade, não poder ter escutado uma conversa telefónica que afirmou ter ouvido por estar na sala ao lado, quando, afinal, se encontrava, àquela mesma hora, a alguns kilómetros do sítio onde afirmara estar, como limpidamente se retira da análise das escutas feitas - que também indicam a localização da antena que recebe as chamadas.
Uma evidência para qualquer pessoa que olhasse para o processo e reflectisse no que lá está, tirando as respectivas ilações...
Nos Estados Unidos uma destas custaria, quase de certeza, a carreira ao acusador público.
Aqui, a incompetência e o amadorismo, embora provados, preto no branco, em documentos oficiais, custam-nos milhares de contos a nós.
E vai ser interposto recurso. São um exemplo de subdesenvolvimento estes recursos contra e evidência e ao arrepio da sensatez, ou melhor dizendo, esta demora burra em perceber - ou a fingir que se não percebe.
Sim, já todos - ou quase todos - sabemos que "isto" está mal e que o governo socialista não recuará perante uns milhões de custos adicionais para prender o pessimismo e o desânimo português num cofre de betão.
Por isso, qualquer atitude que ameace estes desígnios sinistros é bem-vinda e ver Manuela Ferreira Leite a exigir contas de modo competente e que não admite grandes escapatórias é, de certo modo, calmante.
Mas... o que pensa Manuela Ferreira Leite do acordo ortográfico (vai sendo altura de não deixar estas «pequenas» coisas esquecidas): é que, se o diário de bordo vier a registar o afundamento de grande parte do que é hoje Portugal, que o seja num português não aviltado. Mas, se for um registo de chegada a bom porto, que nada ofusque essa memória.

terça-feira, julho 01, 2008

Hoje sou polaco
(e esperando continuar a poder dizê-lo com a mesma simpatia muitos mais dias)



Esta música faz parte das minhas lembranças de férias, quando era muito pequeno. Suponho que já na altura seria velha, mas continuava a ouvir-se na praia e na piscina.

Quando vi as imagens da gravação (?) do tema do «A Summer place» achei possível que fosse esta versão a que ouvia nos anos 60.