"Aproveitar o bom tempo" escrevi há pouco. É mais complicado do que parece, exige disposição, tempo, esforço. Um passeata pelo jardim a horas de expediente transforma-me em criado grave da culpa, num seu mero acompanhante: "devia era estar a trabalhar" ou "não fiquei de enviar um fax ao outro?". É nisto que consiste - para quem não é uma alma superior - aproveitar o bom tempo: sentir-se culpado, acabrunhar-se a gente por estar de grenha à brisa cálida. Quem acaba por gozar o passeio e o bom tempo é a culpa, "herself", não a gente. Eu acabo prostrado, no sofá, à noite, aflito pelo que não fiz. E tudo isto por causa de um céu Alma Tadema, quase kitsch, de três magras florinhas no relvado mal aparado e de um ar morno e mole, dolente.
O bom tempo, aquele de que eu sempre gostei é o do Inverno, estático e cinzento azulado, ou azul mas muito frio. A gente espreita do gabinete, ouve rugir o vento nordeste, aumenta o aquecimento e continua a trabalhar. E se não fazemos nada, não temos culpa, é do frio, a electricidade está fraca, o aquecimento uma miséria, "tenho a impressão que estou com febre, vou mas é beber um chá quente". Totalmente indolor.
Este entusiamo deste ano por esta proto-primavera, pfff... estou é com um acesso grave de mau gosto, alguma forma rara de de febre-dos-fenos.
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