quinta-feira, janeiro 27, 2011

Ainda sobre a questão da adopção da ortografia brasileira (vulgo «acordo ortográfico») tentei encontrar o mail do meu deputado - é verdade, aqui em Portugal usamos pouco a expressão, já que os deputados são, salvo no que diz respeito a ordenados, pouco nossos e muito dos chefes dos partidos. Mas a verdade é que cada um de nós tem um deputado (ou mais de um deputado), que nos representa no Parlamento. Residindo a soberania no povo, é exactamente por serem nossos representantes que os deputados podem exercer funções soberanas, como, por exemplo, legislar.
Ora bem, ao contrário dos deputados britânicos que, todos eles, têm uma página na internet onde se pode encontrar telefones, fax e, claro, as moradas electrónicas, em Portugal serão 20 os deputados que têm página, tendo os outros um ficheiro onde não consta qualquer informação de contacto.
Isto tudo, que prova a pouquidão da nossa democracia, tem alguma graça quando o deputado a contactar, o tal meu deputado, embora se ocupe amiúde a palestar sobre a democracia, nada tem que permita aos seus representados contactarem-no.
Enviei ontem o mail. Vou esperar. Entretanto, pensei em fazer uns testes que, por enquanto mantenho secretos...
Mas de tudo darei aqui conhecimento.

terça-feira, janeiro 25, 2011


Ignorar ostensivamente o sentimento do povo português prova que o falhanço de Portugal não é apenas de modelo económico, mas da própria democracia.
Para além de fantasiosos e provincianos sonhos de grandeza alheia, que impele os políticos portugueses a portarem-se tão vergonhosamente e tão à revelia da vontade popular?
Será que perderam definitivamente a última réstea de decência?
Vidal responde ao questionário de Proust da The AnOther:

Where do you feel the most at home?
In sleep.

Where are you right now?
Close to sleep.

What’s the best advice you’ve been given?
I was not listening.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Este artigo tem um defeito: dá por adquirida a mutilação do nosso português.
Creio que, apesar do nosso pendor para a asneira - que nos trouxe a este lugar triste onde estamos - será possível evitar essa desgraça.
Língua moribunda
Vejo um programa da RTP transmitido em “direto” e sinto um arrepio por altura das vértebras cervicais. Não graças ao programa, de que nem me lembro, mas graças ao “direto”: pois é, o Acordo Ortográfico já contaminou a televisão do Estado. Em breve, ameaça contaminar tudo. E o resultado é ainda pior do que se podia imaginar.
Segundo as sumidades que o conceberam, o Acordo Ortográfico serve, cito, para “aumentar o prestígio da língua portuguesa”. Não sei bem em que consiste o “prestígio” de uma língua. Talvez estes defensores do português não o dominem devidamente e pretendam referir-se à sua importância, influência e disseminação. Se é isso, é fácil. Basta que um, ou preferencialmente mais do que um, dos países “lusófonos” possua uma literatura canónica, universidades invejáveis, centros científicos de primeira linha, tecnologia indispensável e universal, capacidade industrial, pujança comercial, peso político e, se não for maçada, uma cultura popular omnipresente através da música, do cinema e do que calha. Basta, enfim, que um dos países “lusófonos” seja a América. Ou, se formos modestos, a França ou a Espanha.
Na impossibilidade de se alcançar tais ninharias, é garantido que o “prestígio” da língua de Camões e de Jorge Jesus não se obtém mediante brincadeiras imberbes em volta dos “c”, “p” e hífenes. O que se obtém é uma mistela concebida em laboratório, tão desagradável para quem a escreve como para quem a lê. Desagradável e ineficaz.
Daqui em diante, será complicado presumir que um funcionário até agora diligente obedeça ao “diretor”. Ou acreditar nas dioptrias recomendadas pela “ótica”. Ou esperar que as senhoras “deem” o devido valor a uma “joia”. Isto em teoria, claro.
Na prática, os hábitos da contemporaneidade e a tortura infligida durante décadas ao sistema educativo levam a que uma impressionante quantidade de portugueses (e, suponho, de brasileiros, angolanos, etc.) desconheça suficientemente o português pré- -Acordo para conseguir adoptar o português do Acordo. O que se constata por aí, na rua, na imprensa, nos livros, na internet, nas televisões, nas SMS e no Parlamento, em “direto” ou diferido, não é uma língua candidata ao prestígio internacional, mas uma coisa a caminhar para a extinção nacional. Quase um dialecto, que dispensava a acrescida humilhação do “dialeto”.
Alberto Gonçalves, in DN 18 de Janeiro

domingo, janeiro 23, 2011

As eleições presidenciais (opinião oficial do Impensável): óptimas derrotas, vitória menos boa.
Não, não estou acordado, programei o «post» para esta hora.
Eu estou na cama a abster-me.

sábado, janeiro 22, 2011

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Votei em todas a eleições desde o dia 25 de Abril de 1975. Em todas : presidenciais, legislativas, locais, referendos.

A disciplicência criminosa com que esta gente, presidentes da república incluídos, tratou matérias como o "acordo" ortográfico, as leis da família e o modo arrogante e anti-democrático como, em geral, se ocupam dos assuntos públicos, com total menosprezo pelos eleitores - fonte única da sua legitimidade - não permite outra atitude.

Já que o não respeitam, RESPEITE-SE a si próprio e fique em casa.
Os dias de Janeiro, frios e solarengos e as noites de um luar muito bonito.

Ontem li Scruton ao fim da tarde e adormeci a ler The memory chalet do Judt.

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Estamos a viver uma tragicomédia rasteira
(e esperemos que o final seja mesmo de comédia, como estipula a forma canónica do género)

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Entretanto, Cavaco Silva fala da política da Família - isto depois de complacentemente - com ténues protestos na alteração da lei do divórcio - ter assistido ao desfazer do direito de família...
I'm the first european first- minister to use a electric car
(citado de memória)
Como é que alguém tão medíocre foi (seja ainda) primeiro ministro? E como é que uma nação inteira continua a sofrer os desvastadores resultados da obstinação tão típica dos estúpidos?

sexta-feira, janeiro 14, 2011

«Ora a abstenção não é ilegítima. É um acto de recusa total do regime que um cidadão está no direito de não legitimar pelo seu voto (mesmo com um voto em branco). E confessemos que um regime que propõe, como alternativa para a Presidência da República, Alegre ou Cavaco merece amplamente uma recusa total. Chegou a altura de não pactuar em nada com a miséria estabelecida da política portuguesa.»
Vasco Pulido Valente
in Público, 14 Janeiro

terça-feira, janeiro 11, 2011

A ceia, ontem, sobre a égide inesperada de Proust.
Os espargos meramente salteados em manteiga da Normandia (1º momento proustiano: no pastiche* dos Goncourt incluído no En recherche sobre os jantares chez Verdurin, os irmãos referem a manteiga da Normandia, de que não esquecem o preço) levaram-me depois à botte d'asperges de Monet e à graça da Duquesa de Guermantes (e estes foram o 2º e 3º e último momentos proustianos).

segunda-feira, janeiro 10, 2011

A morte do cronista trouxe a público a existência de uma pequena multidão de bem sucedidos portugueses em Times Square, Nova Iorque, na passagem de ano.
Na rua, a ver a passagem de ano, tal um grupo de adolescentes, ou um casal dos subúrbios, eis o destino dos labores na terrinha.

sábado, janeiro 08, 2011

Às 5 da madrugada, vendaval e chuva. Às 7, uma trovoada com relâmpagos a caírem a poucas dezenas de metros.
Quando acordei, já a manhã ia alta, o silêncio era bonançoso, ao contrário do de ontem, tristonho.
A vinda do FMI

Será que Angel Merkel vai ter de levantar a voz? Ou será que prefere segredar ao ouvido alguns factos da vida?

quinta-feira, janeiro 06, 2011

O Comendador Belchior nasceu há 178 anos. Só me lembrei agora, depois de ter passado grande parte da noite a ler coisas ímpias.
Bom Dia de Reis - que todos em Portugal, menos a Igreja - mantiveram a 6 de Janeiro.

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Creio que vou quebrar o pacto que há muito fiz comigo próprio: o de que votaria sempre, de que nunca me absteria. E tenho cumprido. Até esta eleição. Em branco seria sempre. Mas iria lá, pôr o voto. Não vale a pena, porém. E não me digam que assim é que «eles fazem o que querem», porque eles já fazem o que querem sem o mínimo pudor.
E sobre Cavaco e os investimentos bancários num banco de que sempre ouvi rumores: quem quer ser presidente da república num país em que o estado é intervencionista não faz negócios daqueles. Não que haja nele qualquer ilegalidade. Não há. Mas a legalidade é um minus que, no caso do cargo presidencial está abaixo do exigível.
Político que quer investir em acções compre-as e venda-as na bolsa.

Entretanto, Alegre viu o seu investimento na lama dar-lhe os respectivos dividendos e pior do que ter violado o estatuto de deputado é aquela prosa de suplemento para novos-ricos assentar-lhe tão bem.