Os miguelistas tinham códigos pouco subtis: aos inimigos, as forças liberais chamavam bestas. Quando as tropas adversárias se movimentavam ou, ao invés, bivacavam, avisavam-se por meio de mensagem das "bestas em movimento" ou "desinquietas" ou das "bestas paradas".
Muito ri quando li este código de tão fácil decifração. Até ontem.
Ontem, quando soube do resultado da votação, lembrei-me da velha cifra e dei comigo a pensar que era mais subtil e inteligente do que apressadamente julguei: é que as bestas são sempre os outros! O autor deste «blog», por exemplo, foi uma besta em nada ter feito, na parte que a si competia, para evitar a existência, em Portugal, de uma classe política que tem o mais completo desprezo pela vontade popular e decide a seu bel-prazer em matérias que deviam estar acima da saloiice canalha. Foi uma besta, mas só o descobriu em toda a extensão da desgraça, há horas, ontem, dia de luto para a cultura portuguesa.
Neste país suícida onde tudo morre, a paisagem, a história, a esperança, a boa fé, cometeu-se sem vergonha, sem rebuço, sem o menor escrúpulo, um acto inqualificável, imoral, criminoso e impolítico (como disse Pessoa), na sua desnecessidade e abuso.
1 comentário:
Estou de acordo. Tenho pena desta geração que vai estar cá, a ler e a escrever, antes e depois do acordo. Eu vou resistir enquanto puder ( tenho 62 anos) e depois, se calhar, vou escrever com "erros" só para chatear.Mas não vou deixar de escrever e, se calhar, vou deixar para mais tarde os livros que estão na estante e ainda não li ... Ou talvez daqui a um tempo se escreva de qualquer maneira desde que se leia igual e nem interesse a ortografia antes e depois do acordo.
Os interesses - políticos e ainda mais económicos ditam cada vez mais os princípios deste tipo de acordos pseudoculturais. Podemos viver com estas hipocrisias ou ir resistindo ... Se ainda é novo, ânimo para resistir.
Também colaboro num blog sem pretensões - www.marquesices.blogspot.com
Enviar um comentário