Noite passada nos Pavilhões da França e da Roménia. Poulenc e Cioran. Os franceses sofreram, como é hábito.
Sobre este poema de Boileau,
Rien n’est beau que le vrai : le vrai seul est aimable ;
Il doit régner partout, et même dans la fable :
De toute fiction l’adroite fausseté
Ne tend qu’à faire aux yeux briller la vérité.
Sais-tu pourquoi mes vers sont lus dans les provinces,
Sont recherchés du peuple, et reçus chez les princes ?
Ce n’est pas que leurs sons, agréables, nombreux,
Soient toujours à l’oreille également heureux ;
Qu’en plus d’un lieu le sens n’y gêne la mesure,
Et qu’un mot quelquefois n’y brave la césure :
Mais c’est qu’en eux le vrai, du mensonge vainqueur,
Partout se montre aux yeux et va saisir le cœur ;
Que le bien et le mal y sont prisés au juste ;
Que jamais un faquin n’y tint un rang auguste ;
Et que mon cœur, toujours conduisant mon esprit,
Ne dit rien aux lecteurs qu’à soi-même il n’ait dit.
Ma pensée au grand jour partout s’offre et s’expose,
Et mon vers, bien ou mal, dit toujours quelque chose.
Diz o romeno, certeiro: "«...le vrai seule est aimable.» - C'est de là que proviennent les lacunes de la France, son refus du Flou et du Fumeaux, son anti-poésie, son anti-métaphisique."
Já Eça tinha reparado nessa falta - e no que sobre ela de bom e de mau se constrói - quando nos relata, através nas Cartas de Paris, nos Ecos, nas Cartas Familiares e Bilhetes de Paris, nas Notas Contemporâneas, etc, o que foi a superação da sua angústia de influência da França.
Que calor que está! Iremos ter outro Setembro quente?
sábado, agosto 30, 2008
sexta-feira, agosto 29, 2008
quinta-feira, agosto 28, 2008
Isto cansa muito. A mediocridade possidónia do primeiro-ministro, as mentirolas, a economia que resiste à propaganda e continua a definhar quanto a americana resiste aos prognósticos e continua a crescer. A manipulação, ridícula, canhestra, por semi-analfabetos, de realidades semi. «O que é» admitido com maus modos e logo medidas salvadoras: a de hoje, mudanças no código de processo penal - já mau, tributário de um pensamento que une vários estatismos (do pombalino ao leninista) - e que ameaça tornar-se péssimo e será péssimo em vão. Um pensamento mitómano, do acordo ortográfico à «repetência» e por todo o lado, a alastrar, o cada vez menos de tudo, salvo no delírio. Cansa.
Devemos encarar os últimos acontecimentos - os assaltos, os assassinatos - como um sinal de grande vitalidade, da grande vivacidade expressiva da sociedade portuguesa, a agradecer ao nosso governo - e a todos nós (não sejamos demasiado modestos).
Eu, por mim, tenho andado num pasmo e o assalto à carrinha blindada, modernaço, com C4 - que só tinha visto em filme - fez-me começar a respeitar o plano tecnológico do primeiro-ministro.
terça-feira, agosto 26, 2008
quinta-feira, agosto 21, 2008
sexta-feira, agosto 08, 2008
quinta-feira, agosto 07, 2008
quarta-feira, agosto 06, 2008
«[...] não compensa sair de casa para ir à praia, costume um pouco desconcertante se o compararmos com a verdadeira estação calmosa, com refrescos e boa mesa, e a persiana a meio correr. Em Coimbra regava-se o soalho; na Régua, bebia-se água da mina; em Amarante, faziam-se versos. Isto sim, eram férias.»
In Agustina Bessa Luís, Dicionário Imperfeito, pg. 292, Guimarães Editores, Lisboa, 2008
Enquanto copiava o Turismo de Verão do Dicionário, recebi um telefonema muito agradável, não esperado e, enquanto ia clicando pelos blogs, reparei que Bomba Inteligente tinha destacado este.
Começo de fim de tarde de uma agradável e agradecida bonomia.
In Agustina Bessa Luís, Dicionário Imperfeito, pg. 292, Guimarães Editores, Lisboa, 2008
Enquanto copiava o Turismo de Verão do Dicionário, recebi um telefonema muito agradável, não esperado e, enquanto ia clicando pelos blogs, reparei que Bomba Inteligente tinha destacado este.
Começo de fim de tarde de uma agradável e agradecida bonomia.
domingo, agosto 03, 2008
Morreu Aleksandre Solzhenitsyn.
Vivia longe da leveza presente.
Vivia longe da leveza presente.
Há uns tempos, quando recebeu o Prémio do Estado Russo, declarou desejar que o material histórico que coligiu entrasse nas consciências e na memória dos seus compatriotas.
Que faça parte também das nossas, das de todos, para que, como também desejou, nos protejamos, em tempos de crise, das soluções políticas que condenou. Solzhenitsyn é um escritor para o futuro.
Em pouco tempo, várias coisas me impressionaram. A primeira foi ontem, quando verifiquei que podia clicar num post com uma hiperligação e ver e ouvir com bom som os videos do youtube, isto tudo no meu gadget novo. Vi e ouvi o By the sea - e como não está ninguém posso dizer que tive grandes admirações e acho que acenos de cabeça a condizer. Tenho feito mais descobertas e já para lá despejei muitos megas de Bach, Mozart e os quartetos finais do Beethoven. Mais alegrias: chegou e detectou logo a rede sem fio e pediu a palavra-chave. Gostei do desenxovalho. Foi difícil, mas acabei por encontrá-la e funcionou. O informático, a quem contei isto a pretexto de saber se o sistema de segurança da rede era o melhor (há dois e um deles é um mau) ficou um pouco ofendido por eu ter descoberto a pass e que tinha tido sorte em não desconfigurar. Alegrei-me que também ele provasse da inutilidade que tanto afligiu os Bourbons, mas de boa vontade assenti na minha imensa e imerecida sorte.
Tenho meditado muito sobre como teria sido a minha vida se tivesse uma coisa destas aos 15 anos, aquela idade tão desagradável, até para La Boétie, de quem muito me lembrei numa volta a pé que resolvi dar antes de chamar o táxi (já com o novo device, o Keith Jarrett deixa de tocar automaticamente quando fazemos a chamada e retoma depois) e vim para casa para a primeira desilusão: a sincronização dos contactos não funciona bem porque não uso o Outlook. Em compensação, é fácil e divertido encontrar as casas de amigos espalhadas pelos campos, sempre situadas em estrada desconhecida e ficar espantadamente grato pela previsão do tempo abranger esta cidadezinha. Senti um arrepio de optimismo que tinha - juro - qualquer coisa de pré-PS, de momento Magalhães. Estremeci com estas petites servitudes agradecidas. Mas, agora o que queria era falar do bife. O bife, grelhado, em sangue, muito tenro, muito saboroso, era holandês. O feijão-verde era de cá, e estava com aquele excesso de cozedura que faz lembrar que também a eles, legumes, cabe a fornalha ardente. O arroz estava mau: embora seco, espapaçado. Semi queixei-me com bonomia. Disseram-me, muito simpaticamente, vendo em mim um companheiro de infortúnio, que a culpa era do hábito nacional. Ele, filho do dono, gostava, como eu, dos vegetais al dente (eu não tinha dito tal coisa). Os legumes servidos em side dish (à parte? duvido que seja a melhor tradução. Dantes não havia essas coisas e os quartos-minguantes ficavam - e ficam - lotados com 3 folhas de alface e mantê-las lá é um bom exercício para dias chuvosos)
Agora vou acabar de preencher os contactos, com as novas funcionalidades.
No caminho, há pouco, casas e casas abandonadas, uma delas habitada ainda num dos extremos - um gato numa janela, o som da televisão - enquanto que no outro as janelas já estão desfeitas e é quase ruína.
Isto não é um daqueles fins.
sexta-feira, agosto 01, 2008
Esta noite fechava, noutros tempos, o primeiro ciclo das férias grandes - que começava com o fim das aulas, em 11 de Junho. Amanhã (logo) era a ida para a praia, a volta à casa de férias. Tinha um sótão grande, objecto de expedições para aventureiros corajosos, um pára-raios (o cabo, vindo do telhado, passava perto das escadas e as empregadas fingiam medos de fulminações) e a casa de banho cá de baixo, grande e inóspita, que albergava um sistema de aquecimento de águas muito estranho, entre o primitivo e o arrebicado - neogótico niquelado? - fulgente e temperamental, em perpétua ameaça de explosão. Na sala, numa estante, muito Júlio Verne vindo de outras gerações, uma espreguiçadeira confortável, sempre a jeito, e - seria lá? - um pick-up não menos singular, no cimo de uma telefonia perfeitamente cúbica.. Em baixo, depois da escada, na porta alta e estreita, de dois batentes, começava, muito saltitado, o caminho para a praia.
Um dia, porém, colidida por uma galáxia brilhante com um buraco negro no centro, como se diz a nossa galáxia ter, a casa e as suas excêntricidades amavéis tornou-se uma coisa longínqua, a vogar no horizonte dos acontecimentos - e, com ela, as minhas coisas de praia (o balde, o ancinho, um moinho, um avião de lançar ao ar) e os verões absolutamente perfeitos.
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