quinta-feira, maio 31, 2007

O Arrastão - que já visitei duas ou mesmo três vezes (!) este semestre - insurge-se contra um (in)concebível programa de televisão holandês. Fá-lo com uma frase de efeito digna de suscitar a inveja do defunto Sr. Conde de Abranhos (sim, essa mesma, a do coração).
O show em si é, além de chocante, popularucho (com concorrência de donatários) mas creio que há equivalentes em formato «Canal Arte» para gente arejada, requintada, sofisticada, culta, sensibilíssima, moderníssima, produzidos na Holanda ou em qualquer outro local também moderníssimo, com muito laicismo, muito aborto e muita eutanásia.
Mas, não era expectável? Não é a situação descrita uma decorrência da cultura da morte que o Papa João Paulo II denunciou?

quarta-feira, maio 30, 2007

A greve geral não me incomodou: houve pão, correio, o habitual. Já o tempo está desagradável.

Enquanto isto, os pobres venezuelanos ficaram sem o principal canal de televisão. A argumentação para tal facto ainda é jurídica (o decurso do prazo da concessão). Estou, calmamente, à espera do primeiro acto que nem a mais servil e torpe interpretação da lei permita classificar como legal e se possa começar a falar de ditadura.
Será então muito interessante ver quem defende Chavez. Haverá quem, não duvido; alguns deles pertencerão àquela falange que afirma, quando são lembrados do terror soviético - e já perante a impossibilidade de o desmentirem -, que aquilo não era o verdadeiro socialismo. Convirá confrontá-los, depois, com o regime ditatorial chavista em construção e indagar se é desta vez que estamos perante o produto original e autêntico.

terça-feira, maio 29, 2007

O Almocreve fez anos, 4. Acabrunhado pelos acontecimentos, não dei fé. Ficam aqui, agora, os muitos parabéns.
Bem sei que elogio em boca própria é vituperio, mas devo dizer que me espanta o aborrecido e baço que está este meu blog: um convite ao bocejo, ao velho e fiel bocejo de província, bom, manso, dormitado com vagar em escritórios de tremidos e torcidos.

segunda-feira, maio 28, 2007

Por momentos pensei que o feriado de hoje em Inglaterra fosse o do dia do Venerável Beda - um dos Santos da minha devoção e que sei ter o seu dia por esta altura - mas é o de Segunda-Feira de Pentecostes, dia que cá não é tão comemorado quanto nos restantes países europeus, pelos menos nos mais a norte. Aqui, em Portugal o dia passa sem se dar por ele e apenas nos Açores, onde a devoção do Espírito Santo é grande, é feriado nalgumas ilhas. Não percebo esta indiferença, porque é que é assim no continente e uma volta breve pela net não me elucidou sobre o assunto.
Não queria estar a dizer asneiras - mais do que as costumadas - e a ser injusto, mas parece-me que em Portugal se percebe mal o Espírito Santo e o nosso Deus verdadeiro é, como já dizia não sei quem, o Menino Jesus nas palhinhas, o do nosso Natal, doce, terno e salvo do frio pelos bafos da vaca e do burrinho e dos nossos ingénuos protestos pelo desconcerto do mundo, nascidos da nossa pena d'Ele, pena comovida, devota, verdadeira e sincera - até há pouco tempo, pelo menos. Mas, mesmo em alturas de mais atentas devoções, com os dias maiores e os calores esquecemos - e esquecíamos - um pouco o Menino Jesus (já para não falar de Deus-Pai...) e nem Santo António, S. João e S.Pedro nos salvam do paganismo solsticial.

quinta-feira, maio 24, 2007

Desopilantes, as vociferações - tão sentidas e eruditas - do Capitão Haddock!
Vou manter o quadradinho visível, faz-me bem ao fígado.

terça-feira, maio 22, 2007

Deparei com uma breve carta aberta ao actual primeiro-ministro subscrita por Francisco José Viegas*. Ainda não me recompus.... É uma carta que, se bem que não timorata constitui, toda ela, um apelo sentimental ao Sousa, a propósito do escandaloso e intolerável caso do professor afastado por ter gozado com os estudos do dito. Eu, no desconhecimento das subtilezas ora em uso em Lisboa, pensei, por momentos, que a missiva fosse um exercício de ironia, dado o tom suplicante - inexplicável numa democracia - onde não faltam apelos aos presumidos ou conhecidos bons fígados e benigna disposição do ofendido Sousa, nos termos em que noutros tempos se imprecava, prostrado, à Real Clemência que mais dispusesse um coração já de si disposto a perdoar, etc., etc.: era o formulário dos condenados, dos perseguidos, dos injustiçados o que faz - fazia, para mim - da breve carta um pastiche das súplicas dos desgraçados de outrora e, por isso, toda ela uma dura condenação do episódio. Preparava-me para me rir a contento quando, depois de um releitura, julguei perceber tratar-se de um pedido a sério!

Ora vejamos: o Sousa usou títulos académicos que não possuía e a que bem sabia não ter qualquer direito - e teve a desfaçatez de os usar no diário da república e no "site" do governo. Até hoje, que seja do meu conhecimento, não pediu desculpa por essa mentira - que lhe valeria sérias consequências num qualquer país do 1º mundo e que aqui meramente o constituiu - embora com uma intensidade que há muito se não via - em alvo de chacota geral, da mofa desta gente que, pobre e farta de tristezas (e sem os empregos que o Sousa lhe prometeu), gosta de se rir destes ridículos, filhos de tão lorpas toleimas.

Mas, por isso, não podemos ser nós que, por interposta carta* (já que as cartas abertas, por mais pessoais e singulares que sejam, sempre se constituem um efeito plural, congregador e representativo) lhe peçamos, seja o que for. O que é necessário é bem diverso: é que a verdadeira vítima deste lamentável episódio - o professor - use os tribunais para exigir que quem teve o atrevimento de fazer o que fez e todos os que, por acção e omissão em tal convieram e continuam a convir sofram as consequências. Todas. E como não se pode pôr de lado a atribuição de alguma indemnizaçao, arbitrada pelos nossos tribunais - ou pelos europeus - aproveito já para suplicar ao professor prejudicado - o único destinatário possível em matéria de pedidos de desculpas - para ser magnânimo: que não esqueça que tudo sai, afinal, dos nossos bolsos: por isso peço, não exija uma indemnização grande!

*É certo, porém, que FJV tem todo o direito de dirigir a quem quiser as cartas que entender e redigi-las nos moldes que deseje.

segunda-feira, maio 21, 2007

Relembro de tempos a tempos os meses terríveis que Jorge de Sena passou depois de vir aqui pela primeira vez depois do 25 de Abril - aqui, onde ninguém dos milhares de bem intencionados libertos pela revolução se lembrara de lhe oferecer um lugar que lhe permitisse o regresso... Depois dessa viagem, Sena esteve doente, de cama, exangue, doente de puro desgosto. Creio que tinha visto ainda mais claramente do que soía ver: creio que nos viu, que nos viu já sem as roupagens de mártires da ditadura, já à luz do dia da liberdade, que viu quem verdadeiramente éramos - e o que nos aprestávamos para ser - e que era isto que hoje somos.

domingo, maio 20, 2007


Ou, se não uma limonada, que o tempo mudou, um plaid para preguiçar num sofá a salvo das agruras repentinas de Maio?
Se quiser resistir a estas molezas de cashmira e se sentir fadado a fazer alguma coisa de útil, veja o que se passa aqui, no Voluntariado Nova Geração.
O Domingo, pelo menos por aqui, está desagradável. Não vasculhei a televisão, mas não creio que esteja irresistível. Livros novos? Há sempre alguns, por isso não sei a que atribuir este silêncio que vai pelos blogs sobre aquilo a que o Doutor Vasco Pulido Valente designa - e bem - por crime político. Refiro-me ao caso do professor a quem foi levantado um processo disciplinar por ter gozado com a licenciatura do Sousa.
Convirá que se leia o artigo e se medite neste triste e repugnante caso que é uma torpeza e um crime.
Convirá que esta infâmia tenha a resposta que merece. Para nosso bem.

Alguns blogs tratam a coisa como se fora um episódio engraçado e minimizam-no. Não é algo de menor: para já, um funcionario publico viu a sua vida afectada por se rir do que é risível e isto sem que, até agora, ninguém haja explicado à autora da graça que estamos em democracia. Quando souber que a Ministra da Educação agiu como lhe competia, pondo fim imediato à situação e punindo a autora do inconcebível acto prepotente também rirei. Até lá...

quarta-feira, maio 16, 2007

31º, 32º C previstos para amanhã.

Com esta temperatura não se pensa. Ou, pelo menos, não se pensa seriamente. E nada há a fazer (este mesmo fatalismo é próprio do sol forte).

Apresso-me a passar o award a alguns dos meus blogs pensativos:

Mar Salgado
Almocreve das Petas
João Pereira Coutinho
Pastoral Portuguesa
e, como seria de esperar,
Bomba Inteligente

terça-feira, maio 15, 2007

Caro JAC,

Muito obrigado pelo award - nunca pensei na minha vida receber um award e, menos ainda, um thinking award, eu que tanto quero conseguir «pensar sem pensamentos» como escrevia o outro.
Vir pedir o divórcio-birra, mais célere (e com menos consequências) do que a mudança do operador de telemóvel eis um bom achado, agora que tudo vai de vento em popa e não há motivo para uma discussão animada que nos salve dos ennuies du bonheur nesta abençoada obra do senhor engenheiro.

En passant: são aqueles que querem "simplificar" o divórcio que exigem a complicação e burocratização das uniões de facto.
Não, não são loucos - embora gostem de o parecer.

segunda-feira, maio 14, 2007

A propósito dos livros das vida deles, uma coisa se fica a saber: não há fiados na Casa do pobre Fernando Pessoa (que não tem, também, ao que me parece, um site a funcionar - não consigo aceder ao www.casafernandopessoa.com )
Depois destas verificações, deu-me para estar para aqui a magicar quanto ganhará aquela gente que por lá anda e a gente que lá vai. Não é que tenha sido acometido de miserabilismo provinciano. O que eu tenho é medo que haja os habituais cosmopolitismos devoristas, daqueles que dão (e com diferenças de dezenas de milhares de euros a favor dos funcionários portugueses mesmo quando a comparação é com congéneres de países infinitamente mais ricos) ordenados de puro escândalo - facto que, claro está, é considerado de falta de gosto estar sempre a lembrar.

Fiquei a saber destas coisas dos livros pelo Abrupto e pelo Da Literatura. Neste último, verifico - com surpresa - que se atribui aos portugueses a ingenuidade de pensarem que as coisas das letras devem ser pro bono. Ora, se há coisa aqui geralmente bem sabida é de que as letras não somente não são grátis quanto, no geral, são muito bem remuneradas: de folhetim em folhetim se chega a S. Bento escrevia Eça, isto na altura em que naquele convento residia o poder. Mas, já em tempo do autor do Conde de Abranhos, em poemetos, novelas ou crónicas se chegava também às rendosas administrações que asseguravam, para além da mera celebridade, os pingues rendimentos, tal como agora acontece hoje (com grande diversificação de cargos, atentos os descobertos pelo oitocentismo e tal aperfeiçoamento deles que alguns, de tão perfeitamente delineados, chegam quase a parecer úteis, se não mesmo sensata a sua existência).

sábado, maio 12, 2007



A 10 de Maio de 1940, fez anteontem 67 anos, Sir Winston Churchill tornava-se Primeiro-Ministro.

quinta-feira, maio 10, 2007

Leve

Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.

Alberto Caeiro

quarta-feira, maio 09, 2007

Lembro-me de um programa de televisão sobre crianças desaparecidas e do tom de desesperado e contido desalento com que o Pai de uma dessas crianças, a final, afirmava - cito de memória: "em Portugal a vida humana pouco vale". E antes desta frase terrível, tinha explicado que, embora se saiba, desde há muito, ser essencial para o sucesso de uma investigação que esta comece o mais depressa possível após a descoberta do desaparecimento, em Portugal a Polícia Judiciária estava fechada ao fim-de-semana e os casos que entravam à tarde de sexta-feira, ficavam para serem tratados quando entrasse de serviço o novo turno, segunda-feira de manhã. Isto não foi na longa noite fascista. Foi em 1991, mas a boa ou má consciência sobre estes casos ainda não estava na moda.

Fazem, por isso, muito bem os ingleses em enviarem o seus investigadores e detectives.
E boa sorte para a criança desaparecida.
A lembrar:

Dados da Comissão Europeia: Portugal vai continuar a afastar-se da média europeia e os maus tempos persistirão.
O governo ficou muito agastado com esta realidade - como é hábito, aliás - mas a zanga em nada contribui para alterar as coisas - que são o que são.

terça-feira, maio 08, 2007

Aqui pelos meus sítios, 30º C à sombra. O perigo da insolação espreita.
Pelo sim, pelo não, à cautela, andei todo o dia sombrio.

segunda-feira, maio 07, 2007

O cosmopolismo familar - do lado paterno é de origem húngara e do lado materno pertence a uma família de judeus de Salónica - ainda poderá alguma coisa perante a rasa monotonia e o culto da mediana necessários à sobrevivência a 30 anos de vida política francesa? Je m'en doute...
Mas poderá ter alguma graça ver o filho do aristocrata húngaro fugido para a Alemanha em 1944 para escapar aos exércitos comunistas e, depois, emigrado - não emigrante - em França, perdidos o castelo (queimado pelas tropas soviéticas) e os domínios da família, ver Nicolas Paul Stéphane Sarközy de Nagy-Bocsao no palácio do Eliseu.

Um presidente da república senhor de Nagy-Bocsao... e meio-irmão de um banqueiro de Nova York, essa exclusivissima nova aristocracia, e tudo celebrado com alegria pelos aldeões do senhorio, lá na longínqua Hungria, é um compromisso feliz entre, uhmmm, uma ária campestre de Gluck, um ballet de Lully e uma peça de Cage.
Tem o seu chic.... Tem chic a valer, como diria Salcede. Estes franceses! Do goulash ao panache, acabam sempre por nec mergitur.

sábado, maio 05, 2007

Atente-se no que diz FNV, no Mar Salgado:

A Liga da Temperança ainda não conseguiu explicar por que motivo proibir o sr. Zé de abrir um bar só para fumadores ( ao lado de dezenas de outros que cumprirão a lei) desprotege os não-fumadores. E como não conseguem explicar, lá vão, entediados, dizendo que isto é uma discussão estúpida. Têm toda a razão: quando assumirem que o que se pretende é acabar com o hábito de fumar, a discussão termina.

Acrescentaria apenas que, parece-me, a finalidade da proibição não se detém no acabar com o hábito de fumar per se - mesmo considerando a existência de um genuíno gosto de proibir nascido das incomodidades tabágicas - mas preenche a necessidade de vexar, vergar e, de um modo geral , ir semeando interditos, ameaças, medos, tudo o que faça temer o uso, o gosto, o vício da liberdade.

sexta-feira, maio 04, 2007

Não posso dizer que me sinta mal, mas sinto-me, de uma forma cordata e sossegada, pessimamente. Os meus desesperos, medos e dispesias sempre tiveram este ar de crianças bem educadas - o que não contribui, todavia, para me atenuar os queixumes.

quarta-feira, maio 02, 2007

A lei do inquilinato em Portugal é importante para se aferir do vero pensamento de quem nos governa: é o nosso estado à solta, pesadão, medíocre, boçal, canhestro, nutrido de ressentimento igualitarista pombalino, inveja e ignorância.
A situação é esta: as rendas estão condicionadas na negociação ou aumento do seu valor desde a 1ª Guerra Mundial. Foram, depois, congeladas em Lisboa e Porto pelo governo salazarista, no 25 de Abril no país inteiro e só em 1981, timidamente, o governo da Aliança Democrática tentou modificar a situação. Melhorou alguma coisa: de catastrófica passou a péssima. Há meses, um decreto do governo do «engenheiro» Sousa pretendia modificar a situação: a lei cria verdadeiras situações de confisco, como não as imaginaria um qualquer secretário de Estado d'El-Rei D. João V, Rei Absoluto, sem títulos falsos e que não dependia do dinheiro da Europa. De facto, a nova lei é, no seu melhor, um embuste que, a troco de umas parcas actualizações pretende arrancar aos senhorios o dinheiro para obras, dinheiro que as rendas lhes não proporcionam, e enredá-los em processos perigosos que podiam acarretar a perda da propriedade. Os senhorios, que são tão empresários quanto aqueles que o governo gosta de apaparicar na esperança de uma esmola, fizeram as suas contas e não caíram no logro, mesmo sendo patente a inconstitucionalidade de algumas das normas mais descaradamente de ponta e mola. E, por isso, apenas mil e poucos processos de obras e actualização de renda foram solicitados. Seria hilariante se não desse vontade de chorar. Perante este fracasso, o secretario de estado Cabrita, desvaloriza a atitude dos senhorios (temos estadista!).
A leitura da referida lei - até no que meramente se prende com a qualidade literária - e a observaçõo das reacções do governo Sousa - dizem mais sobre o nosso actual subdesenvolvimento (tão sustentado, tão firme e, aliás, tão aplaudido) do que muitas centenas de páginas. É que o pensamento da coisa assenta numa verdade simples: «as casas daqui não podem sair, »eles» daqui não as podem levar, é aguentar e cara alegre» e, inchado com essa pristina certeza, o legislador obrou brutalidades de uma complicação tosca que reflectem uma absoluta - e inútil... - falta de principios quanto de agilidade e engenho.
Ora, soluções rombas não funcionam. Estas não funcionarão, não funcionaram já e a degradação continuará.
Seria de esperar que tivesse saído outra coisa?
Infelizmente, não.
Entretanto, chegará o dia em que os leitores dos jornais aos pequenos-almoços por essa Europa fora, incomodados com as constantes notícias das derrocadas, pressionarão para que alguém escreva, traduza em português e aqui dê recado para que se cumpra, uma daquelas leis com meia dúzia de linhas baseadas no respeito pela propriedade privada, livre inciativa e liberdade contratual que regem estas questões nos países do 1º mundo e nas suas grandes cidades, limpas, cuidadas e sem ruínas.

terça-feira, maio 01, 2007

Com esta mudança - temporária, ou mais para ficar - do clima torna-se necessário criar novos ditados populares. Hoje acordei com frio! Sei que há um ditado popular que menciona frios inesperados de Maio mas já não me lembro dele. Tentei este, que aqui deixo, obra aberta: "Até ao Camões não tires os camisolões", mas parece-me excessivo.